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domingo, 30 de outubro de 2011




O homem sem cuecas
o trabalho é maldição, Saturno

Mas talvez um amor sublime, que atinja o mais alto
nível de ardor, seja incompatível com a vida.
Luis Buñuel


Nunca mais repito aquela frase curta para o início, falo para mim e ninguém tem nada a ver aqui neste momento com essa pura e lisa descida para meu próprio umbigo. Me interessa muito o ponto, mas aí vem a fórmula e coloca esta curta frase sozinha dilatada do seu texto que conseguiria se estender até o fundo do poço. Cinema é cachoeira. Hoje é sexta feira, não tem futebol, então antes de ver ANO PASSADO EM MARIENBAD, continuo arengando enquanto posso para não perder a altivez. Tudo está perdido, menos a altivez. Ainda resta. A tergiversação que linda. A palavra. Aquela jovem mulher também. Ela nua então. Não sei porque escrevi essa palavra, sem dúvidas me atrapalhou mas continuo gostando dela. La premiére, agora eu é que tenho que acertar esta incisão. Antes que seja tarde. Quantos quês. Que estranha esta construção, não sei de onde veio. Sonhos e devaneios. Um soluço me persegue durante todo esse chuvoso sábado, vou comer para me esquivar dele. Alguém lá em baixo grita: olha isto, eu sei voar. Uma tremenda bobagem, provavelmente deve ter se estabacado mais embaixo ainda. Take Five. Deu tudo certo sem precisar mais sair. Hoje só volto amanhã direto para o Rio. Copacabana de novo, e por hora não tenho do que reclamar. Necessito ver por quantas anda o Leme. Ainda chove e como gosto desta chuva nesta hora com essa música. Se eu começar a falar do Dom Lope pode ser pior, deveremos ser mais sucintos? Pelo que sei ninguém está comigo, no entanto estou falando no plural. Enfim ela apagou a luz agora não me controlo mais. Começo a tocar guitarra solo, nunca soube que tocava embora sempre imaginei. E toco bem, fácil. Como sabê-la se não tê-la. Está tudo dominado ao que parece. As fotografias em preto e branco do Thomas Merton desapareceram. O grande poeta inglês rei dos aforismas dizia que quanto mais você for esculhambado melhor. Uma prateleira acima. Devemos enfrentar o medo como se fosse bom, vai ver até que é. Aqueles olhos sorrindo. Parece um convite para o fim.Vamos acreditar que é bonito. Fim. Nada além de uma ilusão. De uns tempos pra cá tenho me sentido muito estoicista, isto me põe meio cabreiro, acredito também que pode ser algum tipo de sinal, não sei se é bom ou ruim. Se bem que um sinal sempre é bom. Uma vai ser finalizada para começar outra. Este é o andamento. Se não me engano. Uma vocalização de alarme. O maestro Otávio III me ensinou que as vogais são mais importantes, as consoantes também são importantes, só que em segundo plano. Vamos nos dedicar às vogais. De novo no plural, não sei o que é isto. Deve ter alguma significação, vamos seguir a intuição. É apenas um convite. Não sei agir de outra maneira. Preciso aprender, é só o que tenho a fazer ao que parece. Me fascina ela, a aliteração e ela a música, vou atrás da imagem, da figura. Estou ferrado, tenho consciência disto. Sempre detestei as vírgulas, mudei. Já fui outros. Ainda revi e ouvi o maestro Trinca, tudo em Copacabana e vi a pedra do corte do Cantagalo em várias luzes do décimo terceiro andar, da janela só pra mim. Tenho a esperança de te ver nas linhas aéreas, aeróbicas, sem bilhete marcado ao acaso na alvorada. Loco Abreu, camisa treze. Não moro nesta comunidade, mas admiro muito. São exatamente nove e meia da noite. Voltei ao Rei do Omelete, novamente na Avenida Brasil. Vou dormir na sala do som, me encontrar e beber com os músicos e depois com a cantora. Esse é o filme.


Fábio Carvalho - cineasta

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