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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

VIVA 2013









FELIZ 2013 COM MUITO TRABALHO



TUDO QUE TEMOS É A VIDA
D.H.Lawrence

Tudo o que temos, enquanto vivemos, é a vida;
Se você não vive durante sua vida, você é um pedaço de merda.
E trabalho é vida, e vida é vivida no trabalho
a menos que você seja um escravo do salário.
Enquanto um escravo do salário trabalha, deixa a vida de lado
e fica lá, um pedaço de merda.
Os homens deveriam recusar-se a ser sem vida no trabalho.
Homens deveriam recusar-se a ser montes de assalariados de merda.
Homens deveriam recusar-se a trabalhar, como escravos assalariados.
Os homens deveriam exigir trabalhar para si mesmos, por si mesmos,
e investir sua vida nisso.
Pois se um homem não tem vida no seu trabalho, ele é basicamente um monte de merda.

Tradução: Mário Alves Coutinho

sábado, 29 de dezembro de 2012

VARIADAS DE FIM DE ANO

Minhas homenagens ao imortal poeta Ledo Ivo que nos deu um belo depoimento para o meu documentário “EU E OS ANJOS” que está publicado na minha página do Youtube.


"A QUEIMADA"

Ledo Ivo

“Queime tudo o que puder:                                                                                                            as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arteriosclerose
                                                                                                           os recortes antigos e as fotografias amareladas.
                                                                                                                                                                     Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
                                                                                                            Seja como os lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.                                                                          
Destrua os poemas inacabados,os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita.                                       
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LIXO COM CARA DE LUXO
Para informação dos músicos abaixo algumas das verbas pagas pela Prefeitura de Cabo Frio para shows de música
 
Strike - R$ 40.000,00


Latindo - R$ 120.000,00


Jamil - R$ 121.500,00


CPM 22 – R$ 100.000,00


Netinho - R$ 132.000,00


Karametade - R$ 77.000,00


Só Pra Contrariar - R$ 80.000,00


Pimenta Nativa - R$ 92.000,00
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Uma Reflexão socialista

Existem muitos partidos políticos que afirmam defender o socialismo. Como todo Partido que defende o socialismo, é obrigatório seguir a linha marxista de Lênin. Eles dizem defender a linha marxista de Lênin, mas se eles realmente seguem é outra história.
No Brasil, tanto os partidos que dizem defender Lênin e Trotsky acabam entrando no jogo das eleições dentro do sistema capitalista .
Para uma organização que se diz ‘’leninista’’, isso é um erro grave.
As criticas ás eleições burguesas não saíram da boca de Stalin e tampouco da de Trotsky. Vieram da do próprio Vladimir Lênin.
Os seguintes trechos veem de um artigo de Lênin escrito em 1919 –
‘’Saudações aos comunistas italianos, franceses e alemães’’:
‘’Só os velhacos e patetas podem acreditar que o proletariado deve primeiro conquistar a maioria nas votações realizadas sob o jugo da burguesia, sob o jugo da escravidão assalariada, e que só depois deve conquistar o poder. Isto é o cúmulo da imbecilidade ou da hipocrisia, isto é substituir a luta de classes e a revolução por votações sob o velho regime, sob o velho poder.’’
‘’O proletariado desencadeia a sua luta de classes sem esperar por uma votação para começar uma greve, embora para o êxito completo da greve seja necessário contar com as simpatias da maioria dos trabalhadores (e, por conseguinte, da maioria da população). O proletariado desencadeia a sua luta de classe, derrubando a burguesia, sem esperar para isso por uma votação prévia (organizada pela burguesia e sob o seu jugo opressor), pois o proletariado sabe muito bem que para o êxito da sua revolução, para o derrubamento com êxito da burguesia é absolutamente necessário contar com as simpatias da maioria dos trabalhadores (e, por conseguinte, da maioria da população).’’
‘’Os estúpidos parlamentares e os Luís Blanc dos nossos dias "exigem" obrigatoriamente votações, organizadas sem falta pela burguesia, para comprovar de que lado estão as simpatias da maioria dos trabalhadores. Mas este é um ponto de vista próprio de fantoches, de cadáveres insepultos ou de hábeis trapaceiros.’’
‘’A revolução proletária é impossível sem a simpatia e o apoio da imensa maioria dos trabalhadores à sua vanguarda: o proletariado. Mas esta simpatia e este apoio não se obtêm subitamente, não se decidem em votações, mas conquistam-se numa demorada, difícil e dura luta de classes. A luta de classe do proletariado para ganhar a simpatia e o apoio da maioria dos trabalhadores não termina com a conquista do poder política pelo proletariado. Depois da conquista do poder, esta luta continua, mas sob outras formas. ‘’
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De um cineasta sobre a velha e batida luta política cinematográfica brasileira:

Catatonia significa  perda de identidade. Por que será que as sinopses dos filmes exibidos nas televisões brasileiras ignoram o país de origem das produções? Isto atinge o país inteiro e é uma forma de escamotear que 99% das produções são de origem norte-americanas. Talvez isto ajude a explicar
a catatonia que não é só do cineasta brasileiro mas todo povo brasileiro que está sendo colonizado. É preciso corrigir esta omissão para fortalecer a consciência do que se assiste e poder enfrentar a catatonia.
Quando vão entender que o Brasil é enorme, diverso, multicultural,interessante,e que dando oportunidade a todas as regiões do NOSSO PAÍS é que podemos saber se o publico gosta ou não? Porque por enquanto o publico está formatado para gostar de filmes semelhantes aos programas de TV. Estamos com todas estas comedias, e mesmo assim apenas com 9% de filmes brasileiros nas salas. Não é culpa dos "herméticos". Porque não aumentar este percentual?
Porque cineastas entenderem,somos seres criativos e não obrigatoriamente formatados.
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                                                                        Do blog da Tribuna da Imprensa
NESTES TEMPOS DE FIM DO MUNDO A CRENÇA EM UM DEUS, UM SER ABSOLUTO E SUPREMO, SE FAZ NECESSÁRIO?
Carlos Newton
Todos sabemos que não existe prova material da existência de Deus. Recentemente, o maior físico da atualidade, o britânico Stephen Hawking, produziu um documentário sobre a criação do Universo, e ao final chegou à conclusão de que Deus não existiria.
 Hawking sorri, apesar do sofrimento…
O genial físico que antecedeu a ele, o alemão Albert Einstein, teria criado a sensacional frase “Deus não se importa de ser chamado de coincidência”. Mas, no final da vida, Einstein também se mostrou contrário às religiões e dizia não acreditar num “Deus pessoal”.
Em uma carta escrita em 24 de março de 1954 ao filósofo judeu Eric B. Gutkind, ele fez a seguinte revelação: “Foi, é claro, uma mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que foi repetida de forma sistemática. Eu não acredito em um Deus pessoal, nunca neguei isso, mas expressei de forma clara. Se algo em mim pode ser chamado de religioso, é minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo que nossa ciência é capaz de revelar”.
Na carta a Gutkind, Einstein disse também que a palavra “Deus” nada mais era do que “a expressão e produto da fraqueza humana, e a Bíblia, uma coleção de lenda honoráveis, porém primitivas, que eram bastante infantis”.
EM BUSCA DE DEUS
Mais de 55 anos depois da morte de Einstein, os pesquisadores da chamada Ciência Noética continuam buscando a existência de Deus e estudando fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida, a partir de um ponto de vista rigorosamente científico.
A Noética não é nenhuma novidade. Pelo contrário, era estudada muito antes de Cristo. O Brasil, embora poucos percebam, desenvolve experiências bastante avançadas, porque é um país riquíssimo em fenômenos paranormais

REENCARNAÇÃO
Outros fenômenos interessantíssimos são a reencarnação e o “dejá vu”. Há um caso extraordinário, de uma mulher americana, chamada Jenny Cockell, que lembrava ter vivido na Irlanda, onde teve vários filhos.  Sabia os nomes deles, suas peripécias de infância, recordava tudo, uma coisa impressionante.
Intrigada, resolveu pesquisar e descobriu que os pseudos filhos estavam vivos e moravam no interior da Irlanda. Conseguiu o endereço e se comunicou com eles. Foi ridicularizada, é claro. Mas não teve dúvidas. Pegou um avião e foi ao encontro dos pseudos filhos (bem mais velhos do que ela), relatou tudo que lembrava sobre a infância deles e enfim os convenceu.
Essa história, é claro, ficou famosa e acabou virando um emocionante filme em Hollywood, “Yesterday’s Children” (Minha Vida na Outra Vida), dirigido por Marcus Cole, com Jane Seymour no papel principal. O filme está disponivel na internet.
Em termos de Ciência Noética, esse fenômeno real vivido por Jenny Cockell só pode ter uma das seguintes explicações: ou trata-se realmente de reencarnação, ou a mulher americana é uma médium que incorpora o espírito da irlandesa. Não há uma terceira justificativa, pensem bem se pode existir alguma outra explicação.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FIM DE ANO


Ponto de Vista
Fico ouvindo nas mesas dos cafés que eu frequento, desta pequena cidade litorânea, geralmente de amigos - pessoas educadas com formação acadêmica, professores, empresários - exaltações de coisas e desejos culturais embutidos em frases de pensamentos político-filosófico, tidos e ditos como definitivos no processo civilizatório da sociedade brasileira e confesso que fico, às vezes, assustado.
Digo com isso que artistas, intelectuais e políticos, envolvidos com o sistema capitalista que domina o país, não possuem a visão necessária à percepção de um mundo novo que se descortina a sua frente. Um mundo de ideias transformadoras, revolucionária, que se quer mostrar como parte exclusiva de homens escolhidos e selecionados entre tantos outros de uma mesma espécie, criaturas que me fazem gemer o estômago triturando meus próprios dentes. Durante a ditadura militar no Brasil, alguns artistas viraram colaboradores do regime – seja por simpatizarem com os governos militares ou por pura covardia – passando informações sobre o que acontecia no meio artístico e participando de atos realizados nos quartéis. E os documentos da ditadura revelam, além do massacrado Simonal, alguns nomes de colaboradores do regime no meio artístico. É citado Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo, entre outros,
Por exemplo, leiam as sandices ditas hoje pelo cantor e compositor Lobão:  ”... Essa Comissão da Verdade que tem agora. Por que é isso? Que loucura que é isso? Aí tem que ter anistia pros caras de esquerda que sequestraram o embaixador, e pros caras que torturavam, arrancavam umas unhazinhas, não [risos]. Essa foi horrível [risos]. Mas é, é bem isso. Quem é que vai falar isso? Quem é que vai ter o colhão de achar que bunda de pinto não é escovinha? Porque não é. Não é. Então é o seguinte: a gente viveu uma guerra. As pessoas não estavam lutando por uma democracia, as pessoas estavam lutando por uma ditadura de proletariado. As pessoas queriam botar um Cuba no Brasil, ia ser uma merda pra gente. Enquanto os militares foram lá e defenderam nossa soberania. ” Esse Lobão é um merda que sempre detestei. Muitos apoiaram a ditadura, o cinema brasileiro com a Embrafilmes; os jornais: O Globo, A Folha de São Paulo, O Estadão, e ninguém fala disso, todos permanecem calados enquanto um colunista medíocre como o Nelson Motta que não tem a inteligência do Jabor escreve absurdos em sua coluna do Globo. Essa é a exaltada inteligência nacional?  O Brasil se esqueceu, muito rápido, de suas mazelas e é sempre bom lembrar o que aqui aconteceu há 48 anos.

Esse documentário vale como alerta de um tempo que não pode ser esquecido.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

FIM DE ANO - VIVA 2014!!!

ISTO QUE É AMOR - O RESTO É BOBAGEM
          Foto tirada por jose sette na rua do leme em Copacabana na data de hoje

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

LEMBRANÇAS DE 2012


O CINEMA E OS MILITARES
Aqui está o acontecido que envolveu o cineasta Silvio Tender e os militares que comemoravam em seu clube o golpe militar de 1964. É preciso lembrar que foram os militares que criaram juntamente com alguns cineastas a famigerada Embrafilme com o apoio de todo cinema-novo comandados pelo diretor Caca Diegues e seus asseclas.Quando o Collor chegou ao poder foram os mesmos que sucatearam o cinema fechando a empresa brasileira de filmes juntamente com o seu órgão fiscalizador o Concine.
NO CLUBE MILITAR - 29 de Março de 2012.
DO LADO DOS MANIFESTANTES CONTRA A COMEMORAÇÃO, do lado de fora 
http://www.youtube.com/watch?v=pU08Qu2BjTY
No Rio, militares comemoram golpe de 64, e manifestantes protestam
Na tarde desta quinta-feira, manifestantes protestaram do lado de fora do Clube Militar, no centro do Rio, onde acontecia uma comemoração pelo aniversário do golpe de 1964. A polícia militar, como de costume, fez farta distribuição de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e muita truculência.
Ex-militares como o tenente-coronel Lício Maciel, que participou de operações no Araguaia, e o general Nilton Cerqueira, responsável pela execução de Carlos Lamarca, foram escorraçados pelos manifestantes.
O OUTRO LADO, NA RUA
http://www.youtube.com/watch?v=S6RwhQOGUzg
PM jogando bomba na multidão, ex-torturador jogando dedo...
O OUTRO LADO, DENTRO DO CLUBE MILITAR
http://www.youtube.com/watch?v=s2_F4AKsziY
Palestrantes sugerem que Militares se recusem a falar em depoimentos da Comissão da Verdade. Dizem que 1964 salvou o país. Na fala de um dos palestrantes, o governo está mexendo no passado e determinando qual vai ser o futuro do Brasil. Uma ameaça?
TEXTO NA IMPRENSA:
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/03/militares-ignoram-dilma-e-anun
ciam-festa-para-celebrar-golpe-de-1964.html
OU
http://migre.me/cs6vW
REFLEXÕES dos jornalistas de plantão sobre os fatos.
Militares ignoram Dilma e anunciam festa para celebrar golpe de 1964
Postado em: 17 mar 2012 às 15:20
A festa no Clube Militar, em comemoração aos 48 anos do golpe militar que foi combatido pela jovem guerrilheira Dilma Rousseff, hoje presidente da República, promete ter potencial explosivo
Dilma Golpe Militar Ditadura
Dilma agora tem de lidar com insubordinação de ex torturadores. Se não bastasse a rebelião da base aliada no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff agora tem mais um abacaxi para descascar. Desta vez, entre os militares, que já vinham dando sinais de insubordinação assinando um manifesto contra a Comissão da Verdade. Desta vez, o que os militares preparam já pode ser considerado provocação. Dilma havia proibido comemorações, entre os representas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
em relação ao aniversário do golpe de 31 de março de 1964, que os militares chamam de "Revolução". Pois o Clube Militar antecipou a festa para o dia 29,daqui a 12 dias, e começou a distribuir os convites para a comemoração, que exige traje esporte fino.
A informação foi publicada neste sábado na coluna Panorama Político,assinada pelo jornalista Ilimar Franco, no jornal O Globo. Desde a demissão de Nelson Jobim, que praticamente pediu para sair, com comentários agressivos em relação a Dilma e algumas de suas ministras, o governo vem
administrando focos de crise entre os militares, que ainda não engoliram completamente a escolha de Celso Amorim. Formado nos quadros mais à esquerda do Itamaraty, Amorim imaginava que conquistaria a confiança dos militares,
renovando a compra de equipamentos – por isso mesmo, anunciou a retomada da compra dos caças Rafale, da França.
No entanto, não conseguiu conter a insatisfação dos militares da reserva,que prepararam um manifesto contra a Comissão da Verdade e recolheram mais de 500 assinaturas. Os militares também demonstram preocupação com atentativa de alguns promotores de rever a Lei de Anistia. Nesta semana,
houve a tentativa, frustrada, de reabrir o julgamento de Sebastião Curió,que foi responsável pelo massacre dos guerrilheiros do Araguaia.
Agora, uma festa no Clube Militar, em comemoração aos 48 anos do golpe militar que foi combatido pela jovem guerrilheira Dilma Rousseff, hoje presidente da República, tem potencial explosivo.                                                       CONVOCAÇÃO DE SÍLVIO TENDLER no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=1_Io8tz9WLM
QUEM TEM NOTÍCIAS DO QUE DILMA FEZ, APÓS A INSUBORDINAÇÃO DOS MILITARES?
Nos Estados Unidos, os militares sabem que o Chefe Maior das Forças Armadas é o Presidente da República. Aqui no Brasil, parece que não. A Marinha e agora o Exército dão demonstrações de que não seguem os preceitos máximos de
HIERARQUIA e DISCIPLINA, que norteiam estas corporações, quando ignoram a convocação do presidente da República, que numa democracia, investido do voto majoritário do povo, é quem comanda em última instância as ações militares.
Notem que o clima do país não é nada tranquilo. Não são só velhinhos de pijamas! (vejam o terceiro vídeo, tem gente nova de direita, militarizada,do movimento "enDIREITA BRASIL", tipo um movimento neonazista tupiniquim,algo assim). Se fossem só os velhinhos, o comandante geral do Exército teria
suspenso a comemoração para evitar a afronta à Presidente Dilma. Uma ordem de um general da ativa, o comandante-geral, teria sido desobedecida pelos oficiais da reserva? Claro que não. A ordem de suspensão não foi dada. Esta é a grande verdade. Há algo mais preocupante no ar do que simples gás lacrimogêneo espalhado sobre cabeças cruas de jovens que possivelmente não estudaram a fundo a ditadura, já que não a viveram, mas se sentem no dever de impedir que o horror daqueles tempos, tantas mortes inexplicadas, tantas
torturas de que ouviram falar, retornem ao ambiente do Brasil de hoje, que se quer democrático, e que tem agora a Internet a seu favor, para rapidamente espalhar o spray da verdade na nação brasileira.
É preciso contudo entender que em qualquer manifestação desta natureza é de se esperar que a polícia esteja presente para evitar descontroles e abusos(embora muitas vezes seja ela quem os cometa). Sem a polícia, é possível que algum manifestante possesso até matasse um dos velhinhos com as próprias mãos. E também que nestas manifestações, como nos jogos de futebol, há um tanto de encenação dos manifestantes. Há um rapaz que, para se livrar do militar, diz que o pai dele foi morto na ditadura, mas o menino não tem idade para isso. Há outros que permanecem deitados no chão mais tempo do que parece necessário (quem assiste de fora, não estava lá para saber ao certo, mas vê que dá tempo dos cinegrafistas e fotógrafos chegarem e documentarem exaustivamente). Como também fica claro que há excessos dos policiais ao
jogarem bombas numa multidão que não está oferecendo nenhum risco de violência maior, apenas os afrontando. Estas considerações são importantes para uma leitura isenta das imagens. Sim, a comemoração foi um desrespeito à
HIERARQUIA das Forças armadas, pois desobedeceu uma determinação do Chefe da Nação. Sim, os militares da reserva, apoiados em jovens lideranças da DIREITA, estão se articulando para sabotar a Comissão da Verdade, atrapalhar
o serviço do Ministro da Defesa e da Ministra do Direitos Humanos, e no conjunto fica parecendo que o Exército está conivente com estas ações dos militares aposentados e seus seguidores. Sim, esta manifestação era necessária, porque os militares ignoraram o comando de seu  Chefe Supremo, a
presidente da república. O povo defendeu sua presidente.
Carta Aberta a um Delegado de Polícia ou Respondendo à Intimidação por parte do clube militar.
Delegado,dois policiais vieram ontem à minha residência entregar intimação para prestar declarações a fim de apurar atos de "Constrangimento ilegal qualificado – Tentativa – Autor", informa o ofício recebido. Meu advogado apurou tratar-se de denúncia ou queixa ou sei lá o quê, por parte do "presidente do clube militar"(em letra minúscula mesmo, de propósito). Informo que na data da manifestação, 29 de março de 2012, estava recém-operado, infelizmente impedido de participar de ato público contra uma reunião de sediciosos, os quais, contrariando à determinação da Exma. Sra. Presidenta da República, comemoravam o aniversário da tenebrosa ditadura, que torturou, matou, roubou e desapareceu com opositores do regime.
Entre os presentes estava o matador do Grande Herói da Pátria, Capitão Carlos Lamarca, e seu companheiro Zequinha – doentes, esquálidos,sem força, encostados numa árvore. Zéquinha e Lamarca foram fuzilados sem dó, nem piedade, quando a lei e a honra determinam colocá-los numa maca e levá-los para um hospital para prestar os primeiros socorros. Essa gente estava lá, não eu. Eles é que devem ser investigados. Eu farei um filme enaltecendo o Capitão Lamarca e seu bravo companheiro Zequinha.
Tenha certeza, Delegado, de que, enquanto eu tiver forças, me manifestarei contra o arbítrio e a violência das ditaduras o Sr. está conduzindo o inquérito, procure apurar se o canalha que prendeu,torturou e humilhou minha mãe nas dependências do Doi-Codi participou do "festim diabólico". Isso sim é Constrangimento Ilegal.
E já que se trata de assunto de polícia, e, já que
aproveite para pedir ao "constrangedor ilegal" que ficou
com o relógio da minha mãe – ela entrou com o relógio no
Doi-Codi e saiu sem ele – que o devolva. Processe-o por
"apropriação indébita, seguida de roubo qualificado (foi à mão bem armada)". É fácil encontrar o meliante. Comece pelo Comandante do quartel da Barão de Mesquita em janeiro de 1971. Já que eles reabriram o assunto, o senhor pode desenterrar o processo.
É, Delegado, o que eles fizeram durante a ditadura é mais assunto de polícia do que de política!
Pergunte ao queixoso presidente do clube militar se ele tem alguma pista do paradeiro do Deputado Rubens Paiva. Terá sido crime cometido por algum participante da festa macabra, onde, comenta-se, havia vampiros fantasiados de pijama?
Tudo o que fiz foi um chamamento pelo you tube convidando as pessoas a se manifestarem contra as comemorações do golpe de 64. Se este general entendesse ou respeitasse a lei, não teria promovido a festa e,tendo algo contra mim, deveria tentar me enquadrar por "delito de opinião" mas aí, na fotografia, ele ficaria mais feio do que é, não é mesmo?
Por fim, quero manifestar minha solidariedade aos que protestaram contra o "festim diabólico" e foram tratados de forma truculenta,à base de gás de efeito moral, spray de pimenta e choque elétrico – como nos velhos tempos. Bastaria umas poucas grades para separar os manifestantes do povo, que estavam na rua, aos sediciosos que ingressavam no clube. Há muitos poderia causar a impressão de estar visitando um zoológico e assistindo a um desfile de símios.
Não perca tempo comigo e com a ranhetice de um bando de aposentados cri-cri, aporrinhando a paciência de quem tem mais o que fazer. Pura nostalgia da ditadura, eles se portam como se ainda estivessem em posição de mando. Atenciosamente,Silvio Tendler


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL E UM ÓTIMO 2013
                   SEM FRESCURA

domingo, 23 de dezembro de 2012


A CASA DAS MINAS
VEJA O FILME
"O Querebentã de Zomadonu, ou Casa das Minas, é dos terreiros Jeje mais antigos do Brasil. Teve grande expansão no fim do século XIX e primeira metade do século XX. É muito conhecido na literatura nacional e internacional sobre religiões afro-brasileiras. Os voduns da Casa agrupam-se em três famílias principais e duas secundárias. Sua chefe mais importante e conhecida foi a nochê Mãe Andresa de Sousa Ramos (Roiançama/ Rotopameraçuleme) que faleceu aos 100 anos, em 1954 e governou a casa durante os últimos 40 anos de vida, desde 1914. Desde essa data, não foram mais feitas iniciações completas que preparavam as voduncis-gonjai, que recebiam uma entidade feminina infantil denominada tobóssi. As gonjais eram mães-de-santo das vodunci-he que tinham primeiro grau de iniciação".


Na década de 1970 eu conheci, através do meu amigo Rolando Monteiro, o antropólogo Nunes Pereira, autor do livro A Casa das Minas. Ficamos amigos, embora ele já tivesse quase 90 anos e eu era ainda um garoto, passamos muitos anos nos encontrando, ele morando em Santa Teresa e eu no Alto da Boa Vista. Assim nasceu, nesses encontros, o desejo de filmarmos esse seu extraordinário livro, em dois segmentos, um aqui no Rio e outro em São Luiz do Maranhão. Faríamos um filme de longa metragem sobre o culto vodu no Brasil. Um trabalho de fôlego, pois não havia produção e nem dinheiro para as viagens. É uma longa história que um dia ainda vou contar com detalhes. Esse vídeo que aqui está é um registro achado em uma cópia VHS que eu digitalizei e que não tem a qualidade do material original que está perdido. Serve como registro e lembrança. Ainda tenho esperança de encontrar todo o material que foi filmado em 16mm - cor e possa então fazer uma telecinagem decente dos dois filmes. Enquanto isso fica aqui o que foi possível ser feito – Vale a pena conhecer. O som permanece bom. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012




O PODER DA ÁGUA
 Fábio Carvalho

Ela veio debaixo do anunciado temporal. Vi da janela. E foi bonito. Mais que bonito foi lindo. A madrugada resolveu me dar todos os desejos seus. O mar não quer te ver chorar assim. Vai me trazer de volta para ti. Uma deusa feita de amor. Perdoa se eu chorar. Porque ninguém vai dormir nosso sonho. Você não vê que a vida corre contra o tempo. Eu sou como um cristal bonito que se quebra quando cai. Não vou mais recorrer à música. Chega. Somos obrigados a ouvir todo tipo de qualquer onda, menos ela a música. Por alguns minutos me retiro do visível, no reservado me entendo com ela. Agora sim vai ficar mais fácil. Será? Oscar Wilde: "Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo."
O primeiro dos aforismos hipocráticos é, talvez, a melhor definição da arte médica de todos os tempos, jamais superada: A vida é breve, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil.
Do grego, o termo veio para o latim - aphorismus - e deste para as línguas modernas: inglês e alemão, aphorism; francês, aphorisme; italiano, espanhol e português, aforismo.
Com certa freqüência deparamos em escritos médicos com o termo aforisma em lugar de aforismo, equívoco que deve ser evitado, poisaforisma tem outro significado na terminologia médica. Embora pouco utilizado, designa um hematoma resultante da rotura de um vaso sanguíneo.[2][3] Este foi o emeio do Toninho, que não tive como  hesitar em transcrever. A Bela Estranha. Tirei de alguma coisa este título. Podemos ver ainda A Bela Intrigante, só precisamos nos dar este tempo. A Bela da Tarde. Que faremos a partir de agora, qual será o próximo passo? Pode ser arrítmico, sem problemas de transição. Vamos ao tratamento. A mais Bela do chorinho usa óculos de grau e gosta de queimar um do bão, não revelo mais nada. Você deve conseguir se preparar para a dádiva encantada que ela a visão nos dá. Não sei para quê esse tom tão prepotente. Nem imagino de onde saiu assim. Depois do fim, começo novamente. Olho para trás e enxergo claramente um exército de insetos prontos para me atacar. Segundo ela isto é normal. Para quê discutir ou discordar. Acho que merecia uma nova interrogação. A vida é repleta de erros. Utilizo da revista Encontro Bairros que ela dobrou, antes de fechar a porta da cama, e a manejo como uma tocha zunindo contra o vento do ventilador de teto no máximo, assim consigo aparentemente matar aos meus agressores. Pode ser ilusão. Nem tanto ao mar. Depois desta afirmação parei para observar se tinham outros à minha espreita. O menor mentor de todos ainda no início daquela cruenta batalha certeiramente me alvejou no pescoço. Neste momento só dá umas ardidas enquanto se transforma numa brotoeja. Quero tocar nessas mulheres. Andei sambando certo embora pareça outro balanço. Pode crer que é ele o Samba de raiz. Quando tive que começar a tomar um remédio para a pressão, fiquei preocupado com o que se falava, que este tipo de medicamento diminuía a potência. Hoje sei que não é verdade. Comentei com a Bebel e algumas amigas sobre minha preocupação, e todas sem exceção, disseram que isso era bobagem e que elas as mulheres não ligavam e procuravam era carinho e bom tratamento. Fiquei cabreiro com tanta benevolência. Depois pensando cá com os meus botões, descobri que o motivo delas para tão calma reação diante do problema era simples: elas nunca tiveram pau. Embora tivesse adquirido fama por causa desse amor, mesmo assim sofri demais por tê-lo alimentado. É verdade que não sofri em razão de crueldade da mulher amada. Estas frases iniciam o segundo parágrafo do proêmio do livro Decamerão do Boccaccio. Outro dia, zapeando  no controle da tv, caí em um quadro de um ordinário programa de humor. Assisti a seguinte cena: a mulher toda serelepe se aproxima do homem rebolando e diz: “Osório, fala que me ama, diz que está morrendo de saudades de mim, eu estou louca de saudades de você, diz, diz!!” Impassível mordendo um charuto no canto da boca, em meio a muita fumaça, ele responde: “Madalena, um homem de verdade só sente saudades de mamãe!” “De quem???”  Ele irritado reitera: “é da mamãe.”
Finalmente voltamos ao cinema. The Innocents Savages de Nicholas Ray.
                                                                                                           
                                                      Depois do fim ainda em 2012 ao que parece.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Depoimento Sincero de Quem Sabe

Niemeyer, Vinícius de Moraes, sendo filmado por Jose Sette com Carlos Figueredo observando na Estrada das Canoas onde fica a bela casa projetada pelo arquiteto famoso.                                        

SOBRE NIEMEYER
  por Paulo Laender

Numa manhã ensolarada de verão o “Nash Coupé conversível modelo 1953”, com sua capota arriada, corria pela av. Antonio Carlos.
Ao volante meu tio, o saudoso jornalista Wilson Frade, nos conduzia em direção à Pampulha, ao “Yatch Tenis Club”.
Sentado no banco de couro cinza eu, entre 7 e 8 anos de idade, viajava maravilhado em tanta novidade.

Uma vez no clube, entre a piscina e o ancoradouro, belas mulheres em seus maiôs Catalina, chapéus e óculos Dior, transitavam entre senhores com camisas listadas, lenços no pescoço, bonés de comodoro e óculos “Ray-Ban”.
Ao fundo, sobre o espelho da lagoa, deslizavam lanchas e esquiadores num balé complementado pelos DC3 da Panair em procedimento de pouso no aeroporto mais à frente.
Era o auge dos chamados “anos dourados”e, naquele momento, na minha fantasia infantil , eu me achava em “Hollywood”.

Foi então que percebi que este território mágico era um espaço delimitado por quatro edificações implantadas na orla do traçado sinuoso da lagoa.
Este conjunto , com seu desenho arrojado, suas curvas e formas amebóides a mim completamente novos, eram  diferentes, fascinantes, futuristas.
O “Yatch Club”, o antigo Cassino, a Igrejinha , a Casa do Baile e o contorno da lagoa da Pampulha foram, nesse dia, meu primeiro e marcante encontro com a obra de Oscar Niemeyer.

Passaram-se mais ou menos quinze anos desde aquele sábado de verão e, agora, eu me encontrava entre os cinquenta jovens sonhadores que iniciavam o curso de arquitetura na
faculdade federal à rua Paraiba.
Uma constante unia estes futuros arquitetos: a certeza de que alí chegávamos, cada um à sua maneira, influenciados e contaminados pela obra de Niemeyer.
Dentro de cada calouro, e dos outros veteranos que já cursavam a escola, existia o sonho, o desejo de alcançar a genialidade do mestre.
Niemeyer foi, indiscutivelmente, a influência maior e a grande inspiração daquela geração de arquitetos.

Mas os anos 60 já eram outros tempos e, em meio a tanto “chumbo”, muitos sonhos se turvaram e a herança do modernismo brasileiro, expressão até hoje, máxima e autêntica do nosso “design”, pensamento, arte e cultura, foi combatido e delegado a um esquecimento compulsório e , finalmente substituido por esta banal brutalidade progressiva, cuja impos(i)tura nos assola e nos escurece .

Independente disso Niemeyer continuou a produzir e a criar obras pungentes.
Agora com uma reputação e projetos internacionais.
Passaram-se mais anos, a ditadura esvaiu-se, substituida pelo  governos subsequentes: uns desencontrados, outros mais ainda.

O país vem construindo seu “progresso e identidade” aos trancos e barrancos , como dizia Darcy Ribeiro.
Niemeyer se tornou um mito, um símbolo, ainda que, muitas vezes utilizado de maneira oportunista por governantes à busca de uma identidade Juscelinista a camuflar de progressismo e futurismo gestões medíocres, conservadoras e oligárquicas.

Frequente motivo de críticas e discussões entre vários arquitetos de minha geração, Niemeyer, cujo pensamento nem sempre correspondeu ao resultado de sua criatividade, continuou a produzir projetos,  senão marcantes mas, com sua assinatura indiscutível.

Queiram ou não, alguns, mas ele foi o  mestre.
O nosso Arquiteto Maior.
Devemos a ele o fascínio pela profissão e o renome da arquitetura moderna brasileira.
Talvez o problema com Niemeyer tenha sido sua longevidade que o manteve há mais de sete décadas no topo, e ainda criando, fato que se tornou um incômodo à sucessão.
Mas o indiscutível na balança avaliadora de sua obra é que, entre acertos e desacertos, prevalecem aqueles, em números arrasadores.

Hoje Niemeyer se foi.

A história, como sempre,  nos mostra que o permanecente é a obra, não tanto as particularidades do autor.
E, dentre o pensamento do homem de esquerda que buscou, pela igualdade entre  todos, esta falácia ilusória que a falência das experiências Marxistas vem desmanchando com o tempo, sua obra emerge contraditoriamente exuberante a revelar a curvatura, expressão inequívoca do nosso lado emocional/visceral, cuja performance nos libertou possibilitando um campo criativo imensurável dentro da nossa natureza barroca.

Com toda a gratidão pelas revelações a nós repassadas
Adeus Mestre

Paulo Laender (Arquiteto,Escultor,Designer)

dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

FIM DO ANO








link do filme de animação.
http://www.youtube.com/watch?v=A-4g-HS99Jo&playnext=1&list=PL84D8C85BC1A35C36

OpinArte Produção Artística - Arte Histórica - Filme de Animação ; Boris Stepantsev - Texto ; Domenico Losurdo

DE FORD A HITLER Alguém se lembra do elogio do Ku Klux Klan ao "genuíno americanismo de Henry Ford"? Amplamente admirado, o magnata automobilístico condenava a Revolução Bolchevique acusando-a de ser, em primeiro lugar, o produto de uma conspiração judaica. Fundou até uma revista, o Oearborn Independent, cujos artigos publicados foram reunidos em 1920 num único volume intitulado O Judeu Internacional. O livro transformou-se imediatamente numa referência básica do anti-semitismo internacional, foi traduzido para alemão e adquiriu grande popularidade. Nazis destacados, como Von Schirach e mesmo Himmler vieram mais tarde a reconhecer terem sido inspirados ou motivados por Ford. Segundo Himmler, o livro de Ford desempenhou um papel "decisivo" (ausschlaggebend) não só na sua formação pessoal, como também na do Führer. Também aqui se evidencia o carácter inconsistente de qualquer comparação esquemática entre a Europa e os Estados Unidos, como se a praga do anti-semitismo não afectasse ambos. Em 1933 Spengler considerava necessário esclarecer este ponto: a fobia anti-judaica que confessava abertamente, não devia confundir-se com o racismo "materialista" típico "dos anti-semitas na Europa e na América". [11] O anti-semitismo biológico que se agitava impetuosamente no outro lado do Atlântico era considerado excessivo mesmo por um autor como Spengler, que se expressava sem qualquer pudor nos seus escritos, contra a cultura e a história judaicas. Por esta razão, entre outras, Spengler foi considerado tímido e inconsequente pelos nazis, cujas preferências se situavam noutro lado: O Judeu Internacional continuou a ser publicado com todas as vénias no Terceiro Reich, e com editoriais que enfatizavam o singular mérito histórico do seu autor (por haver trazido à luz a "questão judaica"), estabelecendo uma linha de continuidade entre Henry Ford e Adolfo Hitler. O OCIDENTE E A "DEMOCRACIA DO POVO DOMINANTE" É oportuno destacar o paradoxo que caracterizou os Estados Unidos desde a sua fundação, sintetizada no século XVIII pelo escritor britânico Samuel Jonson: " Como poderemos suportar os estridentes gritos de liberdade dos proprietários de escravos?" [12] A democracia desenvolveu-se na América do Norte no seio da comunidade branca simultaneamente com a escravização dos negros e a deportação dos índios. Em 22 dos primeiros 36 anos como nação independente, a presidência esteve nas mãos de proprietários de escravos. Também eram proprietários de escravos os que redigiram a Declaração de Independência e a Constituição. Sem escravatura (mais a correspondente segregação racial) não se pode entender a "liberdade americana": as duas estavam vinculadas, sustentando-se uma à outra. Enquanto a escravatura assegurava o firme controlo sobre as classes "perigosas" no âmbito da produção, a expansão para o Oeste servia para desactivar o conflito social, transformando o proletariado potencial numa classe de proprietários agrícolas, ainda que a expensas dos povos originários, que seriam expulsos ou aniquilados. Depois da Guerra da Independência, a democracia norte-americana experimenta novos desenvolvimentos durante a presidência de Jackson na década de 1830: a extensão do sufrágio e a eliminação, em grande parte, das restrições relacionadas com a propriedade na comunidade branca, eram concomitantes com a rigorosa deportação dos índios norte-americanos e com o crescente ressentimento e violência contra os negros. O mesmo se pode dizer do período compreendido entre o final do século XIX e a metade da segunda década do século XX, onde se combinaram reformas como a instauração da eleição directa dos membros do Senado, o voto secreto, a introdução de eleições primárias e de instituições de referendo, etc". com factos sobremaneira trágicos para a população negra (alvo dos esquadrões do terror do Ku Klux Klan) e a expulsão dos índios norte-americanos dos seus últimos territórios e a sua submissão a uma brutal aculturação, com a intenção de os despojar inclusive da sua identidade cultural. Relativamente a este paradoxo, numerosos intelectuais norte-americanos se referiram a uma Herrenvolk democracy, ou seja uma democracia apenas para "Senhores" (para usar uma expressão do tipo das que Hitler apreciava). Na realidade, a categoria "democracia do povo dominante" pode ser útil para explicar a história do Ocidente como um todo. Desde o final do século XIX e nos princípios do século XX, a extensão do sufrágio na Europa marcha a par com a colonização e a imposição de relações laborais de servidão e semi-servidão aos povos submetidos. O governo democrático na Europa estava fortemente entrelaçado com o poder da burocracia e com a violência policial, e o estado de sítio nas colónias. Em última análise, trata-se do mesmo fenómeno que ocorrida nos Estados Unidos, com a diferença que na Europa era menos evidente porque os povos colonizados viviam do outro lado do oceano. MISSÃO IMPERIAL E FUNDAMENTALISMO CRISTÃO Em 1899, a revista Christian Oracle explicava assim a decisão de mudar o seu título para Christian Century: "Cremos que o próximo século será testemunha de triunfos do cristianismo jamais vistos, e que será mais verdadeiramente cristão que qualquer dos precedentes". Mais adiante o presidente McKinley explicava que a decisão de anexar as Filipinas procedia da inspiração do "Todo poderoso" que, depois de escutar as incessantes preces do presidente, numa noite de insónia, o tinha por fim, libertado de toda a dúvida e indecisão. Não teria sido adequado deixar a colónia nas mãos da Espanha, ou entregá-la "à França ou à Alemanha, nossos rivais no comércio do Oriente". Nem, peIa mesma razão, teria sido correcto deixar as Filipinas aos próprios filipinos, que eram "incapazes de se autogovernar", o que teria Ievado o país a um estado de "anarquia e desgoverno" ainda pior que o resultante da dominação espanhola: "Não temos outra alternativa senão tomarmos tudo a nosso cargo, e educar os filipinos, civilizá-los e cristianizá-los, e, peia graça de Deus, fazer o mais que pudermos por eles, como companheiros nossos por quem Cristo também morreu. Voltei então para a cama e dormi profundamente". [13] Hoje conhecemos os horrores perpetrados durante a repressão do movimento independentista nas Filipinas: a guerrilha desenvolvida pelos filipinos foi enfrentada com a destruição sistemática de campos e gados, pelo confinamento maciço da população em campos de concentração, onde pereciam vítimas da fome e da doença, e inclusive em alguns casos, do assassinato de todos os varões maiores de dez anos. Sem dúvida que, apesar das dimensões dos "danos colaterais", a marcha da ideologia imperial-religiosa da guerra se reactivou triunfalmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando o presidente Wilson a eIa se referia como se se tratasse de uma cruzada real, de uma "guerra santa, a mais sagrada em toda a história", destinada a impor a democracia e os valores cristãos em todo o mundo. A mesma plataforma ideológica foi aplicada a outros conflitos no século XX, sendo a Guerra Fria particularmente exemplar neste aspecto. John Foster Dulles, era definido por Churchill como "um severo puritano". Dulles orgulhava-se de que "ninguém no Departamento de Estado conhece a Bíblia como eu". O seu fervor religioso não era de modo nenhum um assunto privado: "Estou convencido que aqui temos a necessidade de fazer que os nossos pensamentos e práticas políticas reflictam com a maior fidelidade a convicção religiosa de que o homem tem a sua origem e destino em Deus". [14] A esta fé, associavam-se outras categorias teológicas fundamentais na luta política internacional: os países neutrais que recusavam tomar parte na cruzada contra a União Soviética estavam em "pecado", enquanto que os Estados Unidos, à cabeça dessa cruzada, representavam o "povo moral" por definição. Em 1983, Ronald Reagan, quando a Guerra Fria atingia o seu clímax, apontou a necessidade de derrotar o inimigo ateu (a URSS), com claros acentos teológicos: "Há no mundo pecado e maldade, e as Escrituras e Jesus nosso senhor ordenaram-nos que nos oponhamos a isso com todo o nosso poder". [15] Alinhando-se com esta tradição e radicalizando-a ainda mais, George W. Bush conduziu a sua campanha eleitoral sob um autêntico dogma: "A nossa nação é a eleita de Deus e foi escolhida peIa História como um modelo de justiça para o mundo". A história dos Estados Unidos está marcada peIa tendência a transformar a tradição judaico-cristã numa espécie de religião nacional que consagra o excepcionalismo do povo norte-americano e a missão sagrada que lhe foi confiada. Não é este entrelaçamento de religião e política sinónimo de fundamentalismo? Não foi por acaso que o termo fundamentalismo foi utilizado pela primeira vez no âmbito do protestantismo norte-americano. Certamente que qualquer administração norte-americana terá os seus hipócritas, os seus intriguistas e os seus cínicos; mas não há motivos para duvidar da sinceridade de Wilson ou, actualmente, de Bush Jr. Não devemos esquecer o facto de que os Estados Unidos não são uma verdadeira sociedade secular, a arraigada convicção de representar uma causa sagrada e divina facilita não só a constituição de uma frente unida em tempos de crise, mas também a repressão e banalização das páginas mais obscuras da história estadunidense. Durante a Guerra Fria, Washington patrocinou sangrentos golpes de Estado na América Latina e colocou no poder brutais ditadores militares; em 1965, promoveu na Indonésia o massacre de centenas de milhares de comunistas ou seus simpatizantes. No entanto, por mais desagradáveis que possam ser, esses detalhes não alteram a santidade da causa personificada pelo "Império do Bem". Max Weber costumava referir-se à "moralina" (farisaísmo) norte-americana. "Moralina" não significa mentira, nem hipocrisia consciente. É tão só a hipocrisia dos que são capazes de mentir a si mesmos, o que se assemelha à falsa consciência assinalada por Engels. De todo o modo, não é fácil compreender totalmente essa mescla de fervor religioso e moral, por um lado, e a clara e aberta tentativa de domínio político, económico e militar do mundo, por outra. É sem dúvida, esta amálgama (combinação explosiva), este peculiar fundamentalismo, que constitui actualmente a grande ameaça à paz mundial. O fundamentalismo norte-americano intoxica um país que, designado e autorizado por Deus, considera irrelevantes a ordem internacional actual e as regras humanitárias. É neste quadro que devemos situar a deslegitimação das Nações Unidas, o desprezo peIa Convenção de Genebra, e as ameaças proferidas não só contra os seus inimigos, como também contra os seus "aliados" na OTAN. O DESPOTISMO IMPERIAL Além de combater o "mal" e defender os valores cristãos e norte-americanos, a guerra contra o Iraque (não contando com outras guerras em perspectiva) pretende expandir a democracia por todo o mundo. Retomemos por um momento o jovem indochinês que em 1924 denunciava o linchamento de negros. Mais tarde regressou ao seu país e aí adoptou o nome pelo qual seria mundialmente conhecido: Ho Chi Minh. Durante os incessantes bombardeamentos norte-americanos no Vietnam, terá o dirigente vietnamita recordado os horrores perpetrados contra os negros pelos defensores da supremacia branca? Por outras palavras, a emancipação dos afro-norte-americanos e sua conquista dos direitos civis marcaram realmente uma mudança, ou continuam os Estados Unidos a ser uma Herrenvolk democracy, uma democracia de "Senhores", com a diferença de que agora os excluídos já não são os que estão dentro da mãe pátria, mas antes os que estão fora, como aconteceu no caso da "democracia" europeia? Podemos examinar a questão numa perspectiva diferente, considerando a reflexão de Kant: "Oue é um monarca absoluto? É aquele que quando decide que deve haver guerra, há guerra". Kant não se referia aos Estados do Antigo Regime, mas sim à Inglaterra, no limiar do seu século de desenvolvimento liberal. [16] De acordo com a posição kantiana, o actual presidente dos Estados Unidos deveria ser considerado um déspota por dois motivos. Primeiro, devido ao surgimento, na última década, de uma "presidência imperial" que, quando embarca em acções militares, as apresenta frequentemente ao Congresso como um facto consumado. Mas estamos ainda mais interessados no segundo aspecto: é a Casa Branca que soberanamente determina quando as resoluções das Nações Unidas são vinculativas ou não; é a Casa Branca que soberanamente decide que países são "Estados delinquentes" e se é legal submete-los a embargos que irão causar o sofrimento de toda uma população, ou ao fogo infernal de bombas de fragmentação ou de urânio empobrecido. A Casa Branca decide soberanamente a ocupação militar desses países, pelo tempo que considerar necessário, condenando os seus dirigentes e os seus "cúmplices" a prolongadas penas de prisão. Contra estes e contra os "terroristas", chega a ser legitimado o "assassinato selectivo", ou melhor, um assassinato que é tudo menos selectivo, como o bombardeamento de um restaurante porque se pensava que Saddam Hussein podia estar lá. As garantias legais não se aplicam de todo aos "bárbaros" . A tudo isto se junta a crescente intolerância que Washington manifesta para com os seus "aliados" ocidentais. Também a eles exige que sigam com humildade a vontade da nação eleita por Deus, cujo presidente se comporta como se fosse um soberano mundial, sem o controle de qualquer organismo internacional.

NOTAS

1. Wade, Wyn Craig. 1997. The Rery Cross: The Ku Klux Klan in America. New York and Oxford: Oxford University Press.

2. MacLean, Nancy. 1994. Behind the Mask 01 Chivalry: The Making of the Second Ku Klux Klan. New York and Oxford: Oxford University Press.

3. Rosenberg, Alfred. 1937. Der Mythus des 20. Jahrhunderts. Munich: Hoheneichen. Publicado pela primeira vez em 1930.

4. lbid.

5. Hitler, Adolf. 1939. Mein Kampf. Munich: Zentralverlag der NSDAP. Publicado pela primeira vez em 1925.

6. Ruge, Wolfgang, and Wolfgang Schumann (eds.). 1977. Dokumentezurdeutschen Geschichte. 1939-1942. Frankfurt a. M.: Radelberg.

7. Spengler, Oswald. 1933. Jahre der Entsche idung. Munich: Beck. 1980. Der Untergang des Abendlandes. Munich: Beck. Original 1918-23.

8. Hoffrnann, Géza voo. 1913. Die Rassenhygiene in den Vel'9inigt9n Staaten von Nordamerika. Munich: Lehmanns.

9. Günther, Hans S. R. 1934. Rassenkunde des deutschen Volkes. Munich: Lehmanns. Publicado pela primeira vez em 1922.

10. Fredrickson, George M. J. The Black Image in the White Mind: The Debate on Afro-American Character and Destiny, 1817-1914. Hanover, N.H.: Wesleyan University Press. Publicado pela primeira vez em 1971.

11. Spengler, op.cit.

12. Foner, Erich. 1998. The History of American Freedom. London: Picador.

13. McAllister Uno, Brian. 1989. The U. S. Army and Counterinsurgency in the Philippine War, 1899-1902. Chapel HiII and London: University of North Carolina Press.

14. Kissinger, Henry. 1994. Diplomacy. New York: Simon and Schuster.

15. Draper, Theodore. 1994. "Mission Impossible". New York Review of Books (6 October).

16. Kant, Immanuel. 1900. "Der Streit der Fakultaten". In Gesammelte Schriften. vai. 7. Berlin and Leipzig: Akademie-Ausgabe. Publicado pela primeira vez em 1798.