ABAIXO TEXTOS - CRÍTICAS - ENSAIOS - CONTOS - ROTEIROS CURTOS - REFLEXÕES - FOTOS - DESENHOS - PINTURAS - NOTÍCIAS

Translate

domingo, 26 de abril de 2009

Poesia para Nunes Pereira

Do meu amigo poeta, jornalista e escritor
Carlos Figueredo
Segue um poema que vou incluir em meu novo livro "A Arquitetura da Ausência", que envio para V., porque quando estava fazendo a seleção me lembrei de V., porque V. também amava aquele velho.
Com carinho.
Carlão
A noite que Nunes Pereira morreu

Não eras para morrer, velho Nunes, não eras.
O branco de teu cabelo era um branco de fogo.

Bebeste junto com Kurt Nimuendaju altas alquimias Ticunas.
Tocandiras dentro de um cofo morderam o teu braço.
E a cocaína te fez o mais perfeito amante.
Parecias imune á morte.

Finalmente a notícia veio
À noite pela televisão
E apareceu também um gato

E a marca da quilha de uma canoa
No boqueirão
Da Bahia de São Marcos
Indo pra Ponta D’areia.

Morreste, velho Nunes
tu que inventaste novamente
Quando tudo em tua volta era naufrágio,
a idéia do descobrimento.

Vem, agora, amigo
dizer-me o que acontece
quando se morre.

Tu que sabes
O segredo das vudunces

Poderias dizer-me.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Poesia – Auto – Retrato - Precoce

Sou um artista moderníssimo que trabalho no presente com imagens, desenhos, películas, fitas, vídeo, arte e muito raramente cinema. Explico, ao possível leitor e ao desconhecido amigo, que este sonhador não pretende ser um poeta a mais neste mundo. Ele despreza esse mundo, suas convenções, suas regras e assim, muitas vezes incompreendido, é tratado mal e dito como um revoltado, um louco sem cura, pelas instituições política, sociais e culturais, que não conhecem o seu trabalho. Querem destruí-lo, antes pela força, agora pela miséria. Assim dedica a esses neófobos, só uma única edição, uma única metralha e nada mais. No passado, dedica à memória de uma velha senhora, uma intelectual rural nascida de família tradicional em Santa Cruz do Escalvado, pequena cidade no interior de Minas, essa coletânea de textos. Foi ela quem o conduziu pelos engenhosos mistérios da música, da poesia, da literatura e de todos os segredos das artes vividas. Essa senhora passou grande parte de sua adolescência trocando poesias com alguns dos mais interessantes brasileiros do início do século. São poemas e dedicatórias que aqui, audaciosamente ao seu lado, ele publica. Alguns textos políticos e datados desse autor foram escritos revolucionando a adolescência perigosa em uma época onde o Brasil insistia em lhe fazer sofrer.
No cinema, ele foi poesia em todas as imagens que até agora realizou. Continua insistentemente ainda filmando e se arrastando com destreza nas esquecidas histórias das terras brasileiras. Viajou no futuro, pois, como disse o poeta Murilo Mendes, só ele é moderníssimo.

domingo, 19 de abril de 2009

O TEMPO PASSA

foto nasa
60 anos.
Geração de rebeldes sem causa.
Gostaria de vos dizer alguma oração que expressasse em verdade tudo o que eu sinto em relação aos perdidos e malditos de toda essa nossa geração.
A geração dos mil e novecentos e quarenta.
Geração louca do filho ímprobo!
Geração do pós-guerra.
Geração dos nossos pais.
Geração dos filhos-da-puta!
Geração do nada que eu faça produzirá coisa alguma que se quer contra mim. Nada que poderá modificar uma pequena linha de toda a nossa história.
Como-lhe?
Gostosa!
Onde está Apolo e suas musas?
Escrevo com fé no intuito de decifrar a hagiologia que dignifique os meus pensamentos e minhas dúvidas.
Em poucas palavras, leitores de trovas e poetas amedrontados - parnaso – montanha do nada – vaidade humana – coisa à toa.
O que eu posso e o que você tem para comemorar neste meio século de vida?
Absolutamente..
Nada!
Nada mesmo!

domingo, 12 de abril de 2009

Poesia de Páscoa

NAVAL - Belém do Pará - 1978

Em homenagem ao meu amigo Caio Caravelli,
que hoje vive em New York, publico aqui o seu
poema predileto, que ele outra noite recitou
(interpretou) de cor pelo telefone. De José Régio,
que nasceu em Portugal, na Vila do Conde, em 1901
e faleceu nessa mesma vila em 1969, o poema

Cântico Negro
“Vem por aqui” - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

domingo, 5 de abril de 2009

Poesia 1968

Arlindo Daibert
Sol Ene oh! PO ENTE
Na V ega
Gávea louca
Descoberta negra
SO M ente
NA TempestAde
O pó EMA fina mente
V I v o R e l a m p e j A
Vento forte movi menta O céu azul
NO Quarto Verde-Amarelo a luz
da lua fria de outono presa no mar
Azul de florestas vermelhas tal qual bandeira
No convés quente desta hora da madrugada
Onde só não bulo o sonho de acordar nu
NO NAVIO PORTUGUÊS
No Pessoa CHEIO de DOR
Na América a Bombordo
No estibordo do novo mundo

sábado, 4 de abril de 2009

Choque de Contrários

Foto Nasa

Reflexões rápidas sobre a crise.
É preciso contar a verdadeira história da concentração da economia mundial nas mãos das poucas famílias e suas empresas privilegiadas
Vamos imaginar que o total de dinheiro papel existente na economia mundial seja de igual valor ao ouro que dá lastro a toda essa papelada.
Só o ouro vale o que pesa, o papel nada vale. O que vale então o dinheiro digital? Todo esse dinheiro, de papel e digital, tem que aparecer em algum lugar.
Porque o ouro todos nós sabemos onde está guardado.
Nos Estados Unidos e na Inglaterra, impérios do capital, o seu povo trabalhador entra na depressão, mas as suas moedas, o dólar e a libra, continuam firmes com o seu poder de compra sustentando o seu valor.
E a velha máxima dos ricos mais ricos e dos pobres mais pobres, ainda é experimentada pelo capital predador.
E o Brasil, sempre explorado, vai emprestar dinheiro ao FMI?
O que vale 10 bilhões de dólares, para quem tem 200 bilhões de reserva e milhões de desempregados?
Como um país, onde falta dinheiro para tudo, pode ser tão benevolente? Lembro-me que depois de 1945 o Marechal Dutra comeu todas as nossas reservas internacionais (saldo da guerra) ajudando o capital internacional e suas empresas falidas do pós II guerra comprando deles um festival de bugigangas domésticas.
Dê o seu ouro para o bem do Brasil! Dizia o velho Chatô para o povo nas ruas...
A bolsa ou a vida? Perguntou o ladrão ao trabalhador que vivia em crise. A vida! Respondeu com certeza.
Assim me sinto cheio de dúvidas quanto o que pode vir por ai.
- O neoliberalismo morreu. É o momento certo para fomentar o renascimento do novo capitalismo, disse alguém com propriedade.
Vamos ter que viver e experimentar, sofrer desse mal novamente, num círculo infernal que nunca se acaba?