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segunda-feira, 29 de julho de 2013

IN MUNDO


Sertão
Canudos
pré-história
Memória quase morta
por de sol sobre buritis
neste fundo de ravina
guardado e quase secreto
corre o enorme rio
sertanejo e baldio 
velho chico riobaldo
profundamente brasileiro
já são poucos os que se LEMBRAM
talvez a última geração
assim cada violeiro
cada velho contador de casos que morreM
é como se uma biblioteca inteira se perdesse
num incêndio- Antonio da morte – Santo guerreiro
no sertão
Vejo o lago do sobradinho com alguns telhados
Eles aparecem à flor da água
Ao lado da capela da igreja
no que sobrou da cidade

MARIA SANTÍSSIMA
RAINHA CELESTE
PELO VOSSO BENTO FILHO
LIVRAI-NOS DA PESTE


JOSE SETTE SALVADOR 1976

É ISSO QUE ACONTECE NO SISTEMA BRASILEIRO DOMINADO PELOS BANCOS

Se um correntista tivesse depositado R$ 100,00 (Cem Reais) na poupança em qualquer banco, dia 1º de julho de 1994 (data de lançamento do Real), teria hoje na conta R$ 374,00 (Trezentos e Setenta e Quatro Reais). Se esse mesmo correntista tivesse sacado R$ 100,00 (Cem Reais) no Cheque Especial, na mesma data, teria hoje uma dívida de R$139.259,00 (Cento e Trinta e Nove Mil e Duzentos Cinquenta e Nove Reais) no mesmo banco.

Ou seja: se tivesse usado R$ 100,00 do Cheque Especial hoje estaria devendo o equivalente a nove carros populares. Já com o valor da poupança conseguiria comprar apenas dois pneus. Não é à toa que o Bradesco teve em torno de R$ 2.000.000.000,00 (Dois Bilhões de Reais) de lucro liquido somente no 1º semestre de 2013, seguido de perto pelo Itaú. Dá para comprar um outro banco por semestre!

TODAS AS REFORMAS DO SISTEMA BRASILEIRO, POLÍTICO, ECONÔMICO, TRIBUTÁRIO, SAÚDE, EDUCAÇÃO, AGRÁRIO, CULTURAL, HABITACIONAL, URBANO E RURAL,OU SEJA: É PRECISO DE UMA REFORMAGERAL NO BRASIL.  

VIVA A BOLÍVIA!
EVO MORALES DÁ UM TAPA NOS ETERNOS EXPLORADORES DO POVO ANDINO
O Presidente boliviano EVO MORALES  intima Chefes de Estado europeus a quitarem a dívida estratosférica que a Europa possui com a América Latina.

Com linguagem simples, que era transmitida em tradução simultânea a mais de uma centena de Chefes de Estado e dignitários da Comunidade Européia, o Presidente Evo Morales conseguiu inquietar sua audiência quando disse:

"Aqui eu, Evo Morales, vim encontrar aqueles que participam da reunião.

Aqui eu, descendente dos que povoaram a América há quarenta mil anos, vim encontrar os que a encontraram há somente quinhentos anos.

Aqui pois, nos encontramos todos. Sabemos o que somos, e é o bastante. Nunca pretendemos outra coisa.

O irmão aduaneiro europeu me pede papel escrito com visto para poder descobrir aos que me descobriram. O irmão usurário europeu me pede o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a vender-me.

O irmão rábula europeu me explica que toda dívida se paga com bens ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu os vou descobrindo. Também posso reclamar pagamentos e também posso reclamar juros. Consta no Archivo de Indias, papel sobre papel, recibo sobre recibo e assinatura sobre assinatura, que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Saque? Não acredito! Porque seria pensar que os irmãos cristãos pecaram em seu Sétimo Mandamento.

Expoliação? Guarde-me Tanatzin de que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão!


Genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomé de las Casas, que qualificam o encontro como de destruição das Indias, ou a radicais como Arturo Uslar Pietri, que afirma que o avanço do capitalismo e da atual civilização europeia se deve à inundação de metais preciosos!

Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de muitos outros empréstimos amigáveis da América, destinado ao desenvolvimento da Europa. O contrário seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito não só de exigir a devolução imediata, mas também a indenização pelas destruições e prejuízos. Não

Eu, Evo Morales, prefiro pensar na menos ofensiva destas hipóteses.

Tão fabulosa exportação de capitais não foram mais que o início de um plano ‘MARSHALLTESUMA’, para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada por suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho cotidiano e outras conquistas da civilização.

Por isso, ao celebrar o Quinto Centenário do Empréstimo, poderemos perguntar-nos: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional?
Lastimamos dizer que não. Estrategicamente, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino que terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como no Panamá, mas sem canal.
Financeiramente, têm sido incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de cancelar o capital e seus fundos, quanto de tornarem-se independentes das rendas líquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo. Este deplorável quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e os juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas de 20 e até 30 por cento de juros, que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, mais o módico juros fixo de 10 por cento, acumulado somente durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça.

Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos aos descobridores que nos devem, como primeiro pagamento de sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambos valores elevados à potência de 300. Isto é, um número para cuja expressão total, seriam necessários mais de 300 algarismos, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.

Muito pesados são esses blocos de ouro e prata. Quanto pesariam, calculados em sangue?

Alegar que a Europa, em meio milênio, não pode gerar riquezas suficientes para cancelar esse módico juro, seria tanto como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demencial irracionalidade das bases do capitalismo.

Tais questões metafísicas, desde logo, não inquietam os indoamericanos. Mas exigimos sim a assinatura de uma Carta de Intenção que discipline os povos devedores do Velho Continente, e que os obrigue a cumprir seus compromissos mediante uma privatização ou reconversão da Europa, que permita que a nos entregue inteira, como primeiro pagamento da dívida histórica."

UM CONTO DE REIS





O OLHO EM ESTADO SELVAGEM
 Fábio Carvalho

Na tonalidade deste Domingo improvável de Julho, sou transportado de Ouro Preto direto para este meu velho camarada bureau, de onde via skipe, que não sei bem o que é, vi e fui visto pelo Rio e por Paris, ouvi e ainda falei. Que onda meu. Galo Doido Cinematográfica. Da janela lateral vi também, um belo e desconhecido vento derrubando embaixo do sol a pino de inverno, folhas e flores de uma das minhas árvores prediletas. Guignard Imaginário é o nome do filme. Um amigo meu disse que em samba canta-se melhor flor e mulher. A Serra do Curral nunca se iluminou como hoje, quando veio a saudade do carinho seu, junto com o nascimento da lua cheia nunca vista no fim da rua do último barraco da favela lá no alto, onde ninguém antes tinha imaginado. Era Segunda Feira, gostei. Nevou em Curitiba, diz o noticiário e aqui faz um calor danado.
Tenho que me encontrar com o Cinema no Centro, lá vou a caminhar. Foi difícil, me desviei e não consegui esse encontro, todas as inacreditáveis películas animadas vieram falar sobre animação. Como sou animado e amo os atores, tentei o quanto pude desvencilhar-me deste nó. Em vão. Mas foi bom também. Para usar os termos atuais. De dentro do meu esconderijo secreto um conhecido me chamou, tive que atender, então por ali a girar estive durante aquele curto espaço temporal, infelizmente com muita ansiedade. Detesto as ansiedades. As traio constantemente desde cedo com as compulsivas. Pois bem, continuo esse dia até chegar ao seu fim. Hoje já é amanhã. Começo a improvisação, assumi o jazz que sou dentro de mim, chegado ao samba desde sempre e agora sem ter por onde mais me esconder. Na Quarta Feira cedo de cinzas, tive a triste notícia da morte do Dominguinhos. Quando chego a Banca que toda manhã compro jornal, tinha em exposição um acordeão miniatura que comprei imediatamente. Para mim foi um sinal. De que ainda não consegui saber, continuei meu trajeto. Pelo caminho vieram as controvérsias a me confundir. Livrei-me com um belo drible pela outra janela da esquerda e reencontrei a volúpia minha louca velha paixão, que me levou para a esquina mais confortável. Após uma aconchegante namoradinha esperta, com uma clave de coxas roliças e tudo mais, ela me acompanhou até a minha próxima e mais complicadinha questão daquela tarde irremediavelmente transgressora. Tive que penetra-la pela porta aberta sem dúvidas nem hesitações. Consegui atingir com delicadeza e em perspectiva o ponto x, que já merecia, diante da situação dominada com curvas. Tinha eu que continuar. Agora era mais densa a proposta apresentada. Do sofá da tarde depois de ouvir este piano, fui ver Sedução da Carne do Luchino Visconti. Afinal tinha que descansar um pouquinho. Alida Valli. Vivo devaneando em profusão e tenho faltado a vários compromissos obrigatórios, naturalmente como sempre fui. Está na hora de mudar. A minha felicidade está sonhando com os olhos da minha namorada. Amar sem mentir. Despertei renascido. Nada melhor que cinema de mestre para acalmar turbulências internas. Ópera e melodrama. Ilustrado e embalado por Bruckner e Verdi. De noitinha fui dar uma voltinha antes do fim do mundo para fugir da controvérsia que estava me rondando. Depois do anunciado fim do mundo me encontrei casualmente com a Antígona no Bar do Caçapa. Durante um longo papo demos um nó nas tripas das frivolidades, a Antígona é antiguinha e decidida. O segredo era só nosso. Voltei à hora do recreio, ao parque de diversões. Passeamos de mãos dadas pela noite estrelada. Quando voltei, a ilusão tinha viajado de ônibus elétrico, então fui sozinho ao bomBardeio tomar uma providência que se fazia necessária. A tessitura veio me procurar e vagamos até o fim daquela noite pela região do Leme. Pela manhã com a solidão a me acompanhar consegui finalmente me encontrar com o Cinema no Centro da questão. Na seqüência, exato no finalzinho da manhã, a pletora me pegou para almoçar no melhor restaurante Árabe vindo de Portugal, logo ali no meio do quarteirão. Comi bem, tão redonda lua. Como flutua e no silencio lento, cheio de estrelas. Um trovador vem navegando o azul do firmamento. A visão desdramatizada supõe rompimento da relação dramática câmera/personagem, consequentemente autonomia da câmera do ator e do microfone assim como da música e do diálogo. Sua “função’ consiste em constatar os seres e objetos, convertendo-se em personagem de Cinema: testemunha ocular.

sábado, 27 de julho de 2013

INACREDITÁVEL


ACORDA DILMA VEZ!
26 Jul 2013

Isto é inacreditável – enquanto grandes artistas brasileiros vivem esquecidos pelo governo, a Petrobras se dá ao luxo de premiar artistas estrangeiros sem mesmo conhecer sua obra.

O Argentino Enrique Jezik venceu o concurso de Arte da Petrobrás, porque inadvertidamente enviou a ficha de inscrição preenchida, mas ESQUECEU-SE de enviar o anexo com a foto da Obra inscrita. Mesmo assim, ou melhor, porque assim o fez, venceu e ganhou um prêmio de 223 mil reias. O pior é que ele nem quis fazer um statement. Foi DISTRAÇÃO MESMO. Agora nem ele sabe se teria ganho o prêmio caso tivesse enviado a foto! Este é o Brazil! Estes são os ridículos que julgam as obras de Arte! É de se rir ou chorar?
A notícia foi abafada 24 hs depois de publicada....
O artista argentino Enrique Ježik ficou surpreso com a notícia de que receberia o equivalente a R$ 223 mil (US$ 100 mil) por ganhar o Prêmio ArteBA-Petrobras de Artes Visuais, com seu trabalho "Aguante", segundo noticiou a imprensa argentina.
O espanto de Enrique se deu porque, para participar do concurso era necessário que os artistas enviassem uma fotografia de uma de suas obras de arte contemporânea, mas o artista se esqueceu de anexar o arquivo da imagem.
—"Eu honestamente fui pego de surpresa. Reclamei por uma semana quando percebi que não tinha anexado o arquivo no e-mail de inscrição. Ainda não sei o que pensar.*
Macchi Jorce, um dos membros do júri, disse que eles interpretaram isso como um ato ousado, uma espécie de performance que transcendeu os limites físicos da arte.
— ... era um desafio para as próprias bases do concurso, que buscava algo físico, um arquivo digital, mas que no final das contas é apenas e sempre uma ideia.
O curador mexicano Cuauhtémoc Medina, outro dos jurados, afirmou que *"nós gostamos da ideia (...) tivemos a sensação de que ele estava quebrando o mundo digital, e foi uma atitude corajosa".
Apesar da felicidade por receber o prêmio, Enrique declarou que se sentia “chateado porque pensaram que esse era o meu trabalho”.
— Me fez pensar se eu teria ganhado com o que, de fato, era o meu trabalho.
Nascido na província argentina de Córdoba, atualmente o artista reside na Cidade do México.
O dinheiro do prêmio, patrocinado pela Petrobras, poderá ser usado pelo artista para financiar suas próximas obras ou desenvolver novos trabalhos fora de seu país.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

FATOS, FOTOS E CRÔNICA

Essas são, para o meu blog, as melhores fotos do mês publicadas na mídia. (Saiu na Folha de SP)
O Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona.





Fotos de Javier Soriano AFP - Manu Fernandez/AP - Fançois Xavier Marit /AFP

NINJA                                                                                  
A TV ALTERNATIVA, AO VIVO, DO PT E/OU DO JOSÉ DIRCEU E/OU DO LINEMBERG, QUE ESTÁ DERRUBANDO (COMENDO) O GOVERNADOR SÉRGIO CABRAL.
http://twitcasting.tv/midianinja

COMPLEXO DE VIRA-LATAS                                                     Nelson Rodrigues
Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: “O Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto:
— Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?
Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.
E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.
Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:
— eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto joga dores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem: — não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.
A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma:
— temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “com plexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.
Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.
Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.
O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.
Insisto: — para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.
(*) Texto extraído do livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, editora Objetiva, Rio de Janeiro (RJ).

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Esboços para um roteiro de cinema

                          TRAGÉDIA BRASILEIRA
Manuel Bandeira
(19 de abril de 1886 – 13 de outubro de 1968)

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
TEATRO MARÍLIA BH/MG
                                                         TRAGÉDIA MINEIRA (1966)                                                                   
Esta foi a primeira vez que li o poeta. Adoro esse poema que segue abaixo - não sei o seu nome, mas é do mestre Manuel Bandeira, disso eu ainda tenho certeza - ouvi o seu canto pela primeira vez na voz potente do ator Paulo Augusto, na peça-colagem escrita por Marco Antônio Menezes “Não Poesia Para”, que foi apresentada também pelo grande ator (que trabalhou no meu filme interpretando Peter W.Lund o famoso paleontólogo dinamarquês de Lagoa Santa) José Aurélio Vieira. Sensacional! Ali estava a vanguarda do teatro mineiro da minha adolescência.
Paulo Augusto:
Entre brumas, ao longo, surge a aurora.
   O hialino orvalho aos poucos se evapora,
   Agoniza o arrebol.
   A catedral ebúrnea do meu sonho
   Aparece, na paz do céu risonho,
   Toda branca de sol.

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
   Que o espírito enlaça a dor vivente,
   Não derramem por mim nem uma lágrima
   Em pálpebra demente.

Por um lado te vejo como um seio murcho
   Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário.
   És vermelha como o amor divino
   Dentro de ti em pequenas pevides
   Palpita a vida prodigiosa
   Infinitamente

Transforma-se o amador na cousa amada,
   Por virtude do muito imaginar;
   Não tenho logo mais que desejar,
   Pois em mim tenho a parte desejada.
OUTRA POESIA EXTRAORDINÁRIA DO MESTRE ESCRITA EM TERESÓPOLIS EM 1912                                           
DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

-- Eu faço versos como quem morre.
                

quarta-feira, 24 de julho de 2013

DUAS NOTAS



A MALDIÇÃO DO MELEAGRO

Eliane Catanhêde 
(Folha de SP)
1. Sérgio Cabral era uma estrela. Jovem, bonachão, do PMDB, governador de um dos três principais Estados, irmão camarada de Serra, amigo de Lula, aliado de Dilma. Benquisto no Congresso, bem relacionado no mundo empresarial. Saudado como possível candidato a vice-presidente de petistas, tucanos, gregos e troianos, sonhava com o dia em que o PMDB cansasse de ficar a reboque e decidisse ter candidato próprio à Presidência.
2. A implosão começou em junho de 2011, quando um helicóptero caiu a caminho de Trancoso, na Bahia, matando a namorada do filho de Cabral e a mulher do badalado Fernando Cavendish, da Delta. Da tragédia pessoal, emergiu a tragédia política. A prisão de Carlinhos Cachoeira expôs ligações perigosas dele com a Delta e as relações de Cabral-Cavendish coincidiam com as relações Delta-governo do Rio. Tudo ficou embolado, ou mal explicado.
3. Com a crueldade dos adversários políticos, Anthony Garotinho lançou a logomarca das agruras do governador: a foto de Cabral, Cavendish e secretários do Rio com guardanapos brancos na cabeça, na maior farra em Paris. Pegou Cabral de jeito, já bambo no meio do escândalo Delta.
4. Vieram os protestos e o Datafolha captou o estrago: a popularidade do governador despencou 30 pontos. Pior: os manifestantes voltaram para casa no resto do país, mas acamparam no prédio de Cabral no Leblon. Jogado na vala comum dos políticos e alvo direto das manifestações, Cabral já não consegue entrar e sair da própria casa, está à beira de ser enxotado pelos vizinhos e se debate para sobreviver na política e fazer do vice Pezão seu sucessor.

Nota da Tribuna da Imprensa: - Só faltou dizer que Cabral era concunhado de Cavendish, pois na época do acidente ele estava separado da mulher e vivia um tórrido romance com Fernanda Kfouri, cunhada do empreiteiro. Ou seja, entre os mortos no acidente estavam não só a namorada do filho de Cabral e a mulher do empresário Cavendish, Jordana, mas também a namorada do governador. Quando começaram a ser publicadas matérias envolvendo Cabral com Fernanda Kfouri, ele rapidamente reatou com a mulher, Adriana Ancelmo.

SOBERBA
Os barões da medicina no Brasil estão criminosamente contra o  programa “Mais Médicos”, uma das ótimas, inadiáveis decisões do governo Dilma. O pais tem 700 municípios sem médicos. Eles não vão e não querem deixar ninguém ir. Só porque não falam a língua do bolso deles. (Tribuna - Sebastião Nery)

terça-feira, 23 de julho de 2013

humor negro



Fatos e Fotos

 PARAÍSOS DEVASTADOS


O QUE QUEREMOS?

- “Digo o que quero e não preciso me explicar para ninguém. Eu não sou daqui, simplesmente estou aqui, mas acima de tudo sou brasileiro, assim posso dizer o que eu penso sobre essa cidade, sobre o meu país...”.

Essa foi a resposta que deram ao delegado dois garotos que foram presos por estarem registrando os conflitos na rua do Rio de Janeiro, com seus celulares, quando abruptamente caiu sobre os manifestantes toda a repressão policial, com gás, porradas a solta e tiros de borracha e alguns outros tiros que pareciam verdadeiros.

Os garotos, acompanhados por advogados solidários ao movimento, continuam a narração: “- foi ai que correndo, junto com a multidão, escondemo-nos em um café onde iniciamos o contra-ataque com rojões e pedras. Estávamos protegidos pelas barricadas, formadas com mesas e cadeiras, quando a polícia militar invadiu o espaço, que estava entulhado de gente, com força total...”.

O assunto que corre à boca-miúda em qualquer roda de botecos hoje, são as manifestações espontâneas dos jovens nas ruas das cidades brasileiras. Cada um tem pela mídia uma opinião diferente sobre o acontecido. Nunca se sabe de todos os fatos e onde se esconde a verdade.

Anarquistas, socialistas e comunistas, direitistas e esquerdistas, fascistas, banditistas e oportunistas, polícia e ladrão, armam diariamente o circo da revolta nas ruas em frente aos prédios públicos onde se encurrala o poder “democrático” constituído.

Para todos os inimigos não é o estado, nem o sistema capitalista neoliberal, mas sim os políticos e a corrupção que os envolvem. Ora meu deus! Não mudando o sistema não se transforma o estado e nem se substitui o mau pelo bom político.

A rebeldia, origem e necessidade humana, forja a esperança perdida em uma nova revolta social que se delineia a margem do sistema estabelecido e pode estabelecer o primeiro passo da revolução.

É preciso lembrar que a moderna revolução é um estado de espírito, e é o mote para o homem achar o rumo certo das suas novas reivindicações políticas, é a energia vital para que todo esse jovem movimento não se perca no vazio da história.

ARTE DE FURTAR

Um político honesto pode possuir duas mansões para os fins de semana, avaliadas em cinco milhões cada? Sérgio Cabral Filho, que entrou na política em 1987 pela mão do Moreira Franco, hoje Ministro, pode.

Hoje ele está cada vez mais encrencado e desesperado com todas as manifestações de rua pedindo o seu afastamento do governo do Rio. Pequeno histórico do governador: em 1990 foi eleito deputado estadual pelo PSDB e reeleito em 94, 98. Em 1999, Sérgio Cabral volta  para o PMDB, e ainda como presidente  da ALERJ, se aproxima do então governador  do estado, Anthony Garotinho. 

Em 2002, foi eleito senador pelo Estado do Rio de Janeiro em aliança com Rosinha Garotinho
(esposa de Anthony Garotinho)  que ganhou a eleição para o governo. Em 29 de outubro de 2006, com apoio dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho,  foi eleito, em segundo turno, governador  do Rio de Janeiro pelo PMDB. Em outubro de 2010, foi reeleito governador. São 23 anos de política e de poder. Se ele ganhasse 30 mil reais por mês e nada gastasse, em 23 anos ele teria economizado - 30x 12 = 360 x 23 = 8280 (milhões). Mesmo assim, sem nada gastar, não daria para comprar hoje as duas mansões. Ele conseguiria economizar todo esse dinheiro? E quanto a família dos outros políticos? Garotinho conseguiria economizar tanto? E a família Pezão? E a família de todos os secretários? E os deputados, prefeitos e vereadores? É muito imposto X dinheiro do trabalho do povo jogado no lixo!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

NOTÍCIA Prensa Latina




Eduardo Galeano recebe medalha Juana Azurduy na Bolívia
Escritor uruguaio Eduardo Galeano recebeu nesta quarta-feira (17) na Bolívia a medalha Juana Azurduy pela Universidade Andina Simón Bolívar. Na ocasião o escritor realizará uma leitura de sua mais recente publicação: “Os filhos dos dias”. 
Depois de um encontro a portas fechadas com o presidente Evo Morales, Galeano irá para a cidade de Sucre, onde lhe será outorgada a medalha, máxima distinção da Universidade Andina Simón Bolívar.
Segundo informou essa instituição de ensino superior, o uruguaio realizará um diálogo com estudantes e visitantes e fará um recital de textos de sua mais recente publicação.
"Os filhos dos dias" recupera 365 histórias, uma para cada dia do ano, sobre personagens, lugares e episódios esquecidos da América Latina. Galeano declarou-se admirador da história de lutas da Bolívia, entre elas os atos revolucionários de Sucre e La Paz contra o poder espanhol, as quais inspiraram muitos de seus textos.
Nascido em Montevidéu em 1940, Galeano é uma das grandes vozes comprometidas do jornalismo e da literatura latino-americana e, entre suas obras, destacam-se "Dias e noites de amor e de guerra"; "Memória do fogo"; "Amar"; "As caras e as máscaras" e a ultraconhecida "As veias abertas da América Latina".


sábado, 13 de julho de 2013

UM CONTO DE REIS

 Maria Gladys no filme inacabado a "Última Odalisca" com a banda do Ion Muniz, Edisom Machado, joão Donato, Noveli, entre uns e outros...
ÚNICO TELEPÁTICO CINTILANTE
 Fábio Carvalho

Aquele momento. O avesso do tropeço, como disse o poeta Gilberto de Abreu. Reluzem no escuro do corredor em curvas suas pernas brancas enquanto caminhavam na minha frente, guiando como faróis a me iluminar. Uma mulher a cantar. Uma cidade a cantar, a sorrir, a viver, lá dentro a crisálida virou uma colorida borboleta embaixo da saia aurora boreal, vi como pela primeira vez. O olfato denuncia imediatamente o achado lugar passado e não uma emoção relacionada a este novo lugar desfigurado, sem identidade e com uma áurea de descoberta. Chique – Choque. Após long time sem esse prazer, sorvi ostras frescas no Pecatore, oferecidas pelo meu amigo ator cineasta, prestes ao nosso filme defronte a linha do trem na Rua Sapucaí. De novo a mesma sensação perdida. Muito bom. Minha voz voltou. A gata branca se aquietou exatamente debaixo do criado mudo como um bibelô, ouvindo o trompete que do laptop tocava num som aveludado, graças à minha trabalhosa equalização. Sem falar do piano. Rumo ao Marrocos, era a manchete do jornal que embrulhou o presente que o Rogério Mancha me levou naquele modorrento fim de tarde de domingo. À hora da Ave Maria, quando o céu azul anil se perdeu no lusco fusco infalível, aumentando o friozinho gelado que nos fazia acreditar que tudo poderia melhorar esquecendo a tragédia que o conhecimento traduz. Calor dos trópicos. É tempo de se pensar. A partir de amanhã, amanhã é Segunda Feira então a verdade que ninguém vê pode estar visível. Duvido acreditando na dúvida. De novo a esperança é cega. Tão redonda a lua. Também ouvindo essa música. 
O Anjo Exterminador. Agora vinte e duas e quarenta completei o ciclo dos Amantes Passageiros driblei todos os comichões que detestam os bons filmes ruins sem enfrentar o medo das próprias mazelas, que não foram criadas pelos documentários e sim pela ficção. Vamos aceitar a ficção. O que seria do cinema apesar de tudo. Nem sei se exatamente é uma pergunta. Por onde anda a interrogação? Belíssima aquela atriz que vem de bicicleta e depois chega ao aeroporto, quem seria ela? Para onde ela foi após aquela cena? Saio a procurar descobrir. Hoje só volto amanhã. Finalmente uma afirmação. Aí fui até a sala e vi na televisão, em alto e bom som num plano mal enquadrado, aquela fala que parecia brincadeira. Só para ajudar o ritmo. Foi uma confusão de acasos que acarretou em mais um indevido cigarro queimado. Nossa época é sem favor algum a pior das épocas, o Aranha disse. Gostei dessas palavras. Um filme não é nunca relatório sobre a vida. Um filme é um sonho. Um sonho pode ser vulgar, trivial e informe; é talvez um pesadelo. Mas um sonho não é nunca uma mentira. Afirmou mais uma vez Orson Welles, com sua extraordinária voz de trovão. Nem me lembro quando foi à última vez que me mantive enredado nas montanhas por tanto tempo, ainda não sei se tem sido bom ou não, mas compreendo que vem sendo necessário e casual. A qualquer momento tudo pode mudar, ademais tenho que trabalhar, seduzir o sistema para bancar as contas, ir ao mercado com minha sacola virtual de inutilidades. Pois bem, essa é apenas uma das missões. As que me interessam são outras, bem mais complexas. Tenho que começar tudo de novo, me mudar para dentro da maneira que sempre fui. Cambiar. Encontrar a dialética. Quando trabalhei com o grande cineasta Walter Lima Junior, tive o privilégio de seus ensinamentos que muito me acrescentaram e me alimentaram a desenvolver uma visão particular. Ouvi dele várias vezes que o experimentalismo deve ser parte de um processo e desaguar em trabalhos mais claros e maduros, não ser eternamente experimental, como acontecia com os trabalhos de muitos realizadores à nossa volta. Até o meu próprio. De certa forma ele renegava o que para mim é seu melhor filme: “A Lira do Delírio”. É certo que várias questões pessoais envolvidas com a difícil finalização desse filme, lhe causam desconforto ao analisar sua obra. Mas ainda segundo ele, conseguindo um distanciamento de análise, só a partir de “Inocência”, é que começou a chegar perto do cinema de linguagem clássica que almejava. Os títulos são indicativos. Não acredita na experimentação como forma de cinema. Ao contrário de muitos que pensam que você faz o mesmo filme sempre, como Fellini dizia, Walter defende que o cineasta tem que se impor sempre um novo desafio, galgar novos graus de trabalho dentro da estrutura compartimentada da industria cinematográfica tão deformadora e inalcançável para a produção nacional. Hoje, acredito que esta posição, acarreta também uma espécie de condenação muito própria e útil ao falso mercado que nos domina. Evidente que todo mundo deseja crescer naquilo que faz, e não simplesmente ficar nadando contra a maré, mas acho que por vezes a rebeldia como forma de produção pode impulsionar outras possibilidades de crescimento com mais liberdade. Como sabemos “A Lira do Delírio” é um grande clássico do cinema brasileiro, e experimental, como outros grandes filmes desse cineasta com trajetória tão marcante. Quero crer que todo cinema brasileiro é de alguma maneira experimental, apesar do desgaste da palavra. Palavras existem para serem desgastadas. Júlio Bressane termina seu texto “O experimental no cinema nacional” com a seguinte frase: Noto que nosso cinema ou é experimental ou não é coisa alguma! De minha parte, a realização do novo longa metragem que agora começo a montar, de maneira completamente atonal, me fez sentir voejando. Vamos a time-line. Nem no meu começo nessa matéria, fiz um filme tão desprendido de qualquer aparato técnico, humano e financeiro. A coisa fluiu com tanta facilidade e prazer que me descobri em êxtase. Já tinha experimentado esta sensação em alguns momentos durante a feitura de outros filmes, mas nunca durante o filme todo, como nesse. Posso dizer também que isto não significa nada além do mistério que desejo perscrutar. Uma conversa com meu umbigo. Cinema Nunca Mais é o nome do filme longo que acabei de terminar, feito também bastante livremente, mas mesmo assim ainda escrevi um roteiro, tive alguns apoios financeiros e participação efetiva de várias pessoas de uma maneira mais ou menos profissional que garantiram um formato próximo do já decodificado, naturalmente manjado no universo cinema. Nada contra, pois é meu metier, também meu ofício, meu ganha pão e sem contestações onde trabalho bem, aqui noutro aspecto, penso exatamente no meio como expressão. Vamos lá, “Limite” o filme insuperável. O tempo é uma coisa ilusória, não existe, diz Mário Peixoto. O Aranha responde: o obstáculo passa a ser também um incentivo a arte, a criação. Então fiz “Jimi Hendrix e a Fonoaudióloga” assim: sem roteiro, sem dinheiro, sem tema, sem luz artificial, sem assistentes, sem equipe, sem desenho de som, sem técnico de som, sem microfone, sem consultor, sem coletivo, sem produtor, sem constipação, sem permissão, sem automação, sem falsificação, sem lei, sem comichão, sem curadoria, sem certificado, sem aprovação, sem perseguição, sem autorização, sem organização, sem obediência, sem conjuração, sem maledicência, sem retenção, sem coadjuvantes, sem afetação, sem discriminação, sem ensaio, sem bajulação, sem enrolação, sem indisposição, sem insatisfação, sem colisão, sem vergonha, sem ingratidão, sem continuidade, sem razão social nem contrapartida. Esqueci outras palavras que queria colocar aqui, mas essas já bastam para esse joguinho da amarelinha. Jean-Luc Godard perguntou a Fritz Lang:
- Há algo que me espanta em um realizador mais velho como o senhor, no Abel Gance ou no Renoir, que conhecemos, é seu incrível sentido de juventude. Estar sempre interessado nas coisas, na altura que nascem, como se acontecessem pela primeira vez. Em novos problemas. O que acha?
- Ouça, acho que a nossa profissão, a arte do cinema, não existe apenas para este século. Acho que é uma arte para os jovens.

Sinto que fiz esse novo filme com a juventude que incide em mim, ela me deu o êxtase. Os enganos bem aquecidos. Fiz também com uma camerazinha Mini DV emprestada, com atores convidados ao acaso dos encontros, com simpatizantes, com situações inventadas na hora, com cenas que sobraram de outros filmes, com locações não definidas, incorporando os acontecimentos do momento, assim como: manifestações de rua por um Brasil melhor; um Ópera Galo na Copa Libertadores e tudo mais que podia desviar minha atenção. A mensagem é o filme, a sua projeção. Jéferson Airplane ao vivo em agosto e Takatanga aqui no lap-top. Bem, agora só me resta finalizar tudo que estou falando aos ventos sem morder a língua. Temos que pegar esse avião, enfim vamos à suspensão.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

LITERATURA

OBJETOS DO PRAZER

Outro dia fui de carro com minha mulher Raquel a Belo Horizonte, depois de me ausentar das alterosas alguns anos. Na noite em que cheguei, estive com meus amigos saudosos: Maria Celina; Paulo e Pedro Giordano, e depois, no dia seguinte, com Mario Drumond e Izabel Costa.       
Paulo Giordano me mostrou um livro que ele acabara de produzir, excelente trabalho de edição das suas gravuras (metal) sobre a arquitetura e o barroco mineiro. Ganhei do Mario dois livros e dois minicoadores de café, legítimos representantes da cultura mineira do fogão de lenha e do café colhido, torrado e moído em casa.
De junho ao começo de julho li quatro livros: os dois primeiros, “Cabo Frio 1503” de Alberto Leal; “Depois de Minha Morte” de Andreia Donadon Leal, chegaram as minhas mãos por orientação de pessoas distintas e distantes, o primeiro, recomendado por um jornalista mineiro, trata-se da aventura do descobrimento, descortinando o paraíso – belíssimo tema muito mal contado (interpretado) pelo autor – o outro, recomendado por um amigo professor de Ouro Preto, era para ser transformado em roteiro de cinema, mas é que depois de muito refletir, cuidadosamente, estou escrevendo a minha opinião sobre o livro machadiano para a simpática autora.
Mas o que eu quero mesmo hoje escrever e falar é dos outros dois livros que acabo de ler: “O Estilo Literário de Marx”, de Ludovico Silva e “A Vida Sequestrada”, de Sérvulo Siqueira, grato presente do meu amigo Mario Drumond, que sabe como eu que a literatura só é boa quando ela te surpreende.
Quantas surpresas me foram concedidas ao conhecer esses dois livros que encheram o meu espírito crítico de profunda alegria?  Não sei... Não conheço profundamente a obra de Marx, mas sei que o estilo de Ludovico escreve-se e inspira-se no pensamento inovador de quem cria um tecido teórico urdido com fios poéticos nascidos no todo concreto das suas cabeças de filósofos observadores da história política e do seu tempo.
 Para os “marxistas, marxólogos y marxianos”, este é um livro singular que revê o texto do autor mais discutido, estudado, analisado, citado, há mais de 170 anos, em um pequeno-grande ensaio (100 páginas) sobre a maneira que “o mestre” escrevia, tentando e conseguindo, a cada página, nos mostrar o grande literato que existia em Marx e também nele, Ludovico.
Algumas surpresas podem ser encontradas logo nas primeiras páginas, quando o autor pesca em Miguel de Unamuno, o grande pensador espanhol, a sua primeira constatação: “Se os iconoclastas são destruidores de ídolos, eu sou um ideoclasta, um destruidor de ideias” e Marx foi, segundo Ludovico, por toda a sua vida, um ideoclasta, um destruidor de ideias dos mais duros e irados que existiram.
Ouvir Ludovico dizer a respeito das “Grandes Metáforas de Marx”; “Expressão da dialética: dialética da expressão”; “Ironia e alienação”; faz-nos vibrar no entendimento dialético literário do cerne racional da coincidentia oppositorum no pensamento do mestre.
Ludovico na busca da “Origem Literária de Marx” diz que antes dele ser um cientista social, “fora um escritor político e filosófico. Mas, antes ainda, fora um poeta”. “Marx começou acreditando-se poeta romântico, encheu três cadernos de poemas, enviados a namorada no natal de 1836, o Livro dos Cantos e o Livro do Amor”.
Marx, Kant, Arquitetônica da razão pura, a arte dos sistemas, a conversão do conhecimento vulgar em ciência; para Marx era preciso construir um pensamento econômico que tivesse aspecto e estrutura arquitetônicos, construído do mesmo modo que uma obra de arte. E se ciência implica arquitetônica, e arquitetônica implica arte, então ciência implica arte.
Ludovico nos leva a observar com maior prazer toda a sutileza poética da criação artística na difícil e científica obra de Marx.
Um livro imperdível como o é também “A Vida Sequestrada” do meu amigo Sérvulo Siqueira.

Sérvulo nos apresenta um apanhado de crônicas e ensaios que abrem a janela da vida em outros ângulos de imagens captadas, por outras lentes cortantes, luminosas, de uma época que seria para nossa geração o início da nova odisseia, do novo mundo, 2001, Kubrick..., ilusões da imagem. Passados os anos, um aqui, outro ali, nada mudou..., quase tudo piorou, não chores por mim, Embrafilme. Vertigem da memória, nossos heróis morreram de overdose, o mundo no trapézio, pequena radiografia trágica de nossa civilização: da invasão dos americanos ao Afeganistão, podemos dizer do dia 11 de setembro – World Trade Center - até os dias de hoje, dezembro, natal de 2012. Atento aos fatos, nós viajamos sob o comando de um artista, diretor de cinema, escritor, pelos tenebrosos 12 anos do segundo milênio. Isto tudo em uma edição primorosa comandada pelo competente Mario Drumond. Preciso dizer mais alguma coisa?

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Loucura Pouca é Bobagem

Gringo peladão aterroriza Praia do Forte em Cabo Frio

Do blog da Renata Cristiana e Texto de Diogo Reis

Um gringo muito doido foi detido na tarde desta quarta-feira (10), depois de causar tumulto em Cabo Frio, Região dos Lagos do Rio de Janeiro.  

argentino Leandro Luis Leiva, de 39 anos, estava pela Praia do Forte como veio ao mundo. Entrando nas lojas e mostrando a mixaria para quem (não) quisesse ver. 

A guarnição do sargento da PM Frederico, Fred, conhecido como pararraio de maluco, deteve o peladão depois que, além do constrangimento de exibir aquela miserinha – sem exagero, existe muito umbigo maior –, urinou no provador de uma loja de biquínis.

Não satisfeito em causar na loja, ao ser detido, o peladão pagou de mijão. Além de suportar o doido, Fred e o soldado Sartori tiveram que conviver com o cheiro de xixi até chegar na 126ª DP (Cabo Frio), delegacia na qual o
 peladão pode ser enquadrado por invasão, atentado ao pudor e dano ao patrimônio, já que ele também fez questão de urinar no provador da loja.

Despido, ele entrou em uma loja de biquínis e pediu para experimentar sungas. Mas o real interesse de Leandro não era moda praia. Ele rapidamente saiu do provador – sem sunga ou roupa alguma – e começou a se insinuar para a balconista da loja, de 17 anos. A menina, que estava na delegacia para prestar depoimento, conta quando o argentino começou a agir.

– Fiquei nervosa, né?! Não imaginava que aquilo ia acontecer. Rapidamente um homem que trabalha em outra loja percebeu o que estava acontecendo e chegou para controlar a situação e chamar a polícia – contou.

Na detenção, Leandro – que aparentava estar sob efeito de drogas – não parecia mais tão orgulhoso do que andou exibindo por aí. Ao perceber que seria fotografado, o argentino disparou:

– Pode fotografar. Se quiser ver melhor, pega a lupa – disse ele, admitindo ter sido amaldiçoado no tamanho da cobrinha.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

domingo, 7 de julho de 2013

NOVO CINEMA

PRIMEIRA IMPRESSÃO
TEXTOS E REFLEXÕES
UM NOVO FILME
DE FICÇÃO POLÍTICA
REALIZADO AGORA
UM ATOR/DIRETOR
MAIS
UM FOTÓGRAFO/CÂMERA
NA CIDADE DO CABO FRIO.

(Titulagem)
São tantos os deuses na terra que às vezes me confundo...

Procurando Godod

DEUS E O DIABO

Extratos de Bakunim

Diálogos, monólogos e narração sem descrição de cena:

- INCRÍVEL...
“MY GOOD”!!!
-
PROCURO SER OCULTO
PROCURO SEU SABER
PROCURO VOCÊ.
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O seu nome - Ouro
O seu destino - Revolução
A sua revisão - Anarquista
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Os tempos ainda não estão maduros para todas as reformas necessárias.
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Hoje nós só queremos o triunfo da liberdade e do amor.
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Sopra um vento de revolta em todos os lugares.
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A revolução é aqui a expressão de uma ideia, lá o resultado de uma necessidade; com mais frequência ela é a consequência de uma mistura de necessidades e de ideias que se engendram e se reforçam umas às outras.

Ela se desencadeia contra a causa dos males ou a ataca de modo indireto.
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Ela é consciente e instintiva, humana ou brutal, generosa ou muito egoísta, mas de qualquer modo, é a cada dia maior e se amplia incessantemente.
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É a marcha da história.
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É, portanto, inútil perder tempo a lamentar quanto aos caminhos que ela escolheu, pois estes são traçados por toda a evolução anterior.
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Quando o povo se submete docilmente à lei, ou o protesto permanece fraco e platônico, o governo se acomoda, sem se preocupar com as necessidades do povo.
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Quando o protesto é vivo, insiste e ameaça, o governo que é tirânico, segundo seu humor, cede ou reprime.
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Mas é preciso sempre chegar à insurreição, porque, se o governo não cede, o povo acaba por se rebelar; e, se ele cede, o povo adquire confiança em si mesmo e exige cada vez mais, até que a incompatibilidade entre a liberdade e a autoridade seja evidente e desencadeie o conflito revolucionário.                                                                                                                   
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Três elementos fundamentais constituem as condições essenciais de todo desenvolvimento humano: o primeiro vem da animalidade humana, que domina a economia social e privada; o segundo constitui-se na ciência nascida do pensamento; o terceiro brilha na liberdade conquistada pela incontinente revolta.
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A revolução é a repetição contínua, incansável, dos princípios que devem nos servir de guia, na conduta que devemos ter nas diferentes circunstâncias da vida.
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A sociedade atual é o resultado das lutas seculares que os homens empreenderam entre si.
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Entre o homem e a ambiência social há uma ação recíproca. Os homens fazem a sociedade tal como é, e a sociedade faz os homens tais como são, resultando disso um tipo de círculo vicioso: para transformar a sociedade é preciso transformar os homens, e para transformar os homens é preciso transformar a sociedade.
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A miséria embrutece o homem e, para destruir a miséria, é preciso que os homens dominem a consciência e a vontade.
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A escravidão ensina os homens a serem servis, e para se libertar da escravidão é preciso homens que aspirem à liberdade.
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A ignorância faz com que os homens não conheçam as causas de seus males e não saibam remediar esta situação; para destruir a ignorância, seria necessário que os homens tivessem tempo e meios de se instruírem na sua máxima capacidade intelectual com todo o saber a ele disponível.

Saber que qualquer governo é a consequência do espírito de dominação e de violência que os homens impuseram a outros homens, e, ao mesmo tempo, é a criatura e o criador dos privilégios, e também seu defensor natural.
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Precisamos abolir de forma radical a dominação e a exploração do homem pelo homem.
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Queremos que os homens, unidos fraternalmente por uma solidariedade consciente, cooperem de modo voluntário com o bem-estar de todos.
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Desejamos para todos: pão, liberdade, amor e saber.
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(Narração cruel nas terras da santa cruz:)                                 
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Sabíamos de pronto que desta dura ficção religiosa e civilizatória nós nada tínhamos a dizer de novo.                                                                                       
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Jeová, que, de todos os bons deuses adorados pelos homens, foi certamente o mais ciumento, o mais vaidoso, o mais feroz, o mais injusto, o mais sanguinário, o mais despótico e o maior inimigo da dignidade e da liberdade humanas.
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Para me explicar, vamos ao começo de tudo:
Jeová acabava de criar Adão e Eva, não se sabe por qual capricho, talvez para ter novos escravos.  
Ele pôs, generosamente, à disposição deles toda a terra, com todos os seus frutos e todos os seus animais, e impôs um único limite a este completo gozo: proibiu-os expressamente de tocar os frutos da árvore de ciência.
Ele queria, pois, que o homem, privado de toda consciência de si mesmo, permanecesse um eterno animal, sempre de quatro patas diante do Deus "vivo", seu criador e seu senhor.
Mas eis que chega Satã, o eterno revoltado, o primeiro livre-pensador e o emancipador dos mundos! Ele faz o homem se envergonhar de sua ignorância e de sua obediência bestial; ele o emancipa, imprime em sua fronte a marca da liberdade e da humanidade, levando-o a desobedecer e a provar do fruto da ciência.
O bom Deus, cuja presciência, constituindo uma das divinas faculdades, deveria tê-lo advertido do que aconteceria, pôs-se em terrível e ridículo furor: amaldiçoou Satã, o homem e o mundo criados por ele próprio, ferindo-se, por assim dizer, em sua própria criação, como fazem as crianças quando se põem em cólera; e não contente em atingir nossos ancestrais, naquele momento ele os amaldiçoou em todas as suas gerações futuras, inocentes do crime cometido por seus ancestrais.
Nossos teólogos católicos e protestantes acham isto muito profundo e justo, precisamente porque é monstruosamente iníquo e absurdo. Depois, lembrando-se de que ele não era somente um Deus de vingança e cólera, mais ainda, um Deus de amor, após ter atormentado a existência de alguns bilhões de pobres seres humanos e tê-los condenado a um eterno inferno, sentiu piedade e para salvá-los, para reconciliar seu amor eterno e divino com sua cólera eterna e divina, sempre ávida de vítimas e de sangue, ele enviou ao mundo, como uma vítima expiatória, seu filho único, a fim de que ele fosse morto pelos homens.
Isto é denominado mistério da Redenção, base de todas as religiões cristãs.
Ainda se o divino Salvador tivesse salvado o mundo humano! Mas não; no paraíso prometido pelo Cristo, como se sabe, visto que é formalmente anunciado, haverá poucos eleitos, o resto, a imensa maioria das gerações presentes e futuras, arderá eternamente no inferno.
Enquanto isso para nos consolar, Deus, sempre justo, sempre bom, entrega a terra ao governo dos déspotas.
O homem ignorando a história para tirar dali os seus proveitos se acha poderoso em suas mentiras.

Os mundos não foram criados, as sociedades não se desenvolveram, as revoluções não transformaram os povos, os impérios não desmoronaram e a miséria, a doença e a morte não foram as rainhas da humanidade senão para fazer surgir uma elite de acadêmicos, flor desabrochada, da qual todos os outros homens nada mais são senão seu estrume.

É evidente que esse terrível mistério é inexplicável, isto é, absurdo, e absurdo porque não se deixa explicar. E evidente que alguém que dele necessite para sua felicidade, para sua vida, deve renunciar à sua razão e retornar, caso seja possível, à fé ingênua, cega e estúpida.

Como pode nascer em um homem inteligente e instruído a necessidade de crer nesse mistério?

Nesse caso cessa toda a discussão e só resta a estupidez triunfante da fé.

Todas as religiões, com seus deuses, seus semideuses e seus profetas, seus messias e seus santos, foram criadas pela fantasia crédula do homem, que ainda não alcançou o pleno desenvolvimento e a plena possessão de suas faculdades intelectuais.

Em consequência, o céu religioso nada mais é do que uma miragem onde o homem, exaltado pela ignorância pela fé, encontra sua própria imagem, mas ampliada e invertida, isto é, divinizada.

A despeito dos metafísicos e dos idealistas religiosos, filósofos, políticos ou poetas, a idéia de Deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas; ela é a negação mais decisiva da liberdade humana e resulta necessariamente na escravidão dos homens, tanto na teoria quanto na prática.

É preciso lembrar quanto e como as religiões embrutecem e corrompem os povos? Elas matam neles a razão, o principal instrumento da emancipação humana e os reduzem à imbecilidade, condição essencial da escravidão. Elas desonram o trabalho humano e fazem dele sinal e fonte de servidão. Elas matam a noção e o sentimento da justiça humana, fazendo sempre pender a balança para o lado dos patifes triunfantes, objetos privilegiados da graça divina. Elas matam o orgulho e a dignidade humana, protegendo apenas a submissos e os humildes. Elas sufocam no coração dos povos todo sentimento de fraternidade humana, preenchendo-o de crueldade.

Todas as religiões são cruéis, todas são fundadas sobre o sangue, visto que todas repousam principalmente sobre a idéia do sacrifício, isto é, sobre a imolação perpétua da humanidade à insaciável vingança da divindade.

A severa lógica que me dita estas palavras é muito evidente para que eu necessite desenvolver esta argumentação. E me parece impossível que os homens ilustres, tão célebres e tão justamente respeitados não tenham sido tocados e não tenham percebido a contradição na qual eles caem ao falar de Deus e da liberdade humana simultaneamente.

Proclamar como divino tudo o que se encontra de grande, de justo, de real, de belo, na humanidade, é reconhecer implicitamente que a humanidade, por si própria, teria sido incapaz de produzi-lo; isto significa dizer que abandonada a si própria, sua própria natureza é miserável, iníqua, vil e feia. Eis nós de volta à essência de toda religião, isto é, à difamação da humanidade pela maior glória da divindade.                                                                                               

Deus aparece, o homem se aniquila; e quanto maior se torna a Divindade, mais a humanidade se torna miserável. Esta é a história de todas as religiões; este é o efeito de todas as inspirações e de todas as legislações divinas. Na história, o nome de Deus é a terrível espada com a qual os homens abateram a liberdade, a dignidade, a razão e a prosperidade dos homens.                                                                                                        

Bem, a religião e uma loucura coletiva, tanto mais poderosa por ser tradicional e porque sua origem se perde na antigüidade mais remota. Como loucura coletiva, ela penetrou até o fundo da existência pública e privada dos povos; ela se encarnou na sociedade, se tornou, por assim dizer, sua alma e seu pensamento. Todo homem é envolvido por ela desde o seu nascimento; ele a suga com o leite de sua mãe, absorve-a de tudo o que toca, de tudo o que vê.                                                                                                                                                  

Ele foi, por ela, tão bem nutrido, envenenado, penetrado em todo o seu ser que, mais tarde, por poderoso que seja seu espírito natural, precisa fazer esforços espantosos para se livrar dela, e ainda assim não o consegue de uma maneira completa.                                                                                           
Que um gênio sublime, como o divino Platão, tenha podido estar absolutamente convencido da realidade da idéia divina, isto nos demonstra o quanto é contagiosa, o quanto é todo-poderosa a tradição da loucura religiosa, mesmo sobre os maiores espíritos.

Por sinal, não devemos nos surpreender com isso, pois mesmo nos dias de hoje, o maior gênio filosófico desde Aristóteles e Platão, que é Hegel, esforçou-se em repor em seu trono transcendente ou celeste as idéias divinas, das quais Kant havia demolido a objetividade por uma crítica infelizmente imperfeita e muito metafísica.

A grande honra do cristianismo, seu mérito incontestável e todo o segredo de seu triunfo inaudito, e por sinal totalmente legítimo, foi o de ter-se dirigido a este público sofredor e imenso, ao qual o mundo antigo impunha uma servidão intelectual e política estreita e feroz, negando-lhe inclusive os direitos mais simples da humanidade. De outra forma ele jamais teria podido se disseminar.

A doutrina que ensinavam os apóstolos do Cristo, por mais consoladora que tenha parecido aos infelizes, era muito revoltante, muito absurda do ponto de vista da razão humana, para que homens esclarecidos tivessem podido aceitá-la. Com que alegria também o apóstolo Paulo fala do "escândalo da fé" e do triunfo desta divina loucura rejeitada pelos poderosos e pelos sábios do século, mas tanto mais apaixonadamente aceita pelos simples, pelos ignorantes e pelos pobres de espírito!

O que mais podemos pensar sobre o absolutismo de todos os deuses sobre a terra e os homens?