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sexta-feira, 12 de julho de 2013

LITERATURA

OBJETOS DO PRAZER

Outro dia fui de carro com minha mulher Raquel a Belo Horizonte, depois de me ausentar das alterosas alguns anos. Na noite em que cheguei, estive com meus amigos saudosos: Maria Celina; Paulo e Pedro Giordano, e depois, no dia seguinte, com Mario Drumond e Izabel Costa.       
Paulo Giordano me mostrou um livro que ele acabara de produzir, excelente trabalho de edição das suas gravuras (metal) sobre a arquitetura e o barroco mineiro. Ganhei do Mario dois livros e dois minicoadores de café, legítimos representantes da cultura mineira do fogão de lenha e do café colhido, torrado e moído em casa.
De junho ao começo de julho li quatro livros: os dois primeiros, “Cabo Frio 1503” de Alberto Leal; “Depois de Minha Morte” de Andreia Donadon Leal, chegaram as minhas mãos por orientação de pessoas distintas e distantes, o primeiro, recomendado por um jornalista mineiro, trata-se da aventura do descobrimento, descortinando o paraíso – belíssimo tema muito mal contado (interpretado) pelo autor – o outro, recomendado por um amigo professor de Ouro Preto, era para ser transformado em roteiro de cinema, mas é que depois de muito refletir, cuidadosamente, estou escrevendo a minha opinião sobre o livro machadiano para a simpática autora.
Mas o que eu quero mesmo hoje escrever e falar é dos outros dois livros que acabo de ler: “O Estilo Literário de Marx”, de Ludovico Silva e “A Vida Sequestrada”, de Sérvulo Siqueira, grato presente do meu amigo Mario Drumond, que sabe como eu que a literatura só é boa quando ela te surpreende.
Quantas surpresas me foram concedidas ao conhecer esses dois livros que encheram o meu espírito crítico de profunda alegria?  Não sei... Não conheço profundamente a obra de Marx, mas sei que o estilo de Ludovico escreve-se e inspira-se no pensamento inovador de quem cria um tecido teórico urdido com fios poéticos nascidos no todo concreto das suas cabeças de filósofos observadores da história política e do seu tempo.
 Para os “marxistas, marxólogos y marxianos”, este é um livro singular que revê o texto do autor mais discutido, estudado, analisado, citado, há mais de 170 anos, em um pequeno-grande ensaio (100 páginas) sobre a maneira que “o mestre” escrevia, tentando e conseguindo, a cada página, nos mostrar o grande literato que existia em Marx e também nele, Ludovico.
Algumas surpresas podem ser encontradas logo nas primeiras páginas, quando o autor pesca em Miguel de Unamuno, o grande pensador espanhol, a sua primeira constatação: “Se os iconoclastas são destruidores de ídolos, eu sou um ideoclasta, um destruidor de ideias” e Marx foi, segundo Ludovico, por toda a sua vida, um ideoclasta, um destruidor de ideias dos mais duros e irados que existiram.
Ouvir Ludovico dizer a respeito das “Grandes Metáforas de Marx”; “Expressão da dialética: dialética da expressão”; “Ironia e alienação”; faz-nos vibrar no entendimento dialético literário do cerne racional da coincidentia oppositorum no pensamento do mestre.
Ludovico na busca da “Origem Literária de Marx” diz que antes dele ser um cientista social, “fora um escritor político e filosófico. Mas, antes ainda, fora um poeta”. “Marx começou acreditando-se poeta romântico, encheu três cadernos de poemas, enviados a namorada no natal de 1836, o Livro dos Cantos e o Livro do Amor”.
Marx, Kant, Arquitetônica da razão pura, a arte dos sistemas, a conversão do conhecimento vulgar em ciência; para Marx era preciso construir um pensamento econômico que tivesse aspecto e estrutura arquitetônicos, construído do mesmo modo que uma obra de arte. E se ciência implica arquitetônica, e arquitetônica implica arte, então ciência implica arte.
Ludovico nos leva a observar com maior prazer toda a sutileza poética da criação artística na difícil e científica obra de Marx.
Um livro imperdível como o é também “A Vida Sequestrada” do meu amigo Sérvulo Siqueira.

Sérvulo nos apresenta um apanhado de crônicas e ensaios que abrem a janela da vida em outros ângulos de imagens captadas, por outras lentes cortantes, luminosas, de uma época que seria para nossa geração o início da nova odisseia, do novo mundo, 2001, Kubrick..., ilusões da imagem. Passados os anos, um aqui, outro ali, nada mudou..., quase tudo piorou, não chores por mim, Embrafilme. Vertigem da memória, nossos heróis morreram de overdose, o mundo no trapézio, pequena radiografia trágica de nossa civilização: da invasão dos americanos ao Afeganistão, podemos dizer do dia 11 de setembro – World Trade Center - até os dias de hoje, dezembro, natal de 2012. Atento aos fatos, nós viajamos sob o comando de um artista, diretor de cinema, escritor, pelos tenebrosos 12 anos do segundo milênio. Isto tudo em uma edição primorosa comandada pelo competente Mario Drumond. Preciso dizer mais alguma coisa?

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