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segunda-feira, 29 de julho de 2013

UM CONTO DE REIS





O OLHO EM ESTADO SELVAGEM
 Fábio Carvalho

Na tonalidade deste Domingo improvável de Julho, sou transportado de Ouro Preto direto para este meu velho camarada bureau, de onde via skipe, que não sei bem o que é, vi e fui visto pelo Rio e por Paris, ouvi e ainda falei. Que onda meu. Galo Doido Cinematográfica. Da janela lateral vi também, um belo e desconhecido vento derrubando embaixo do sol a pino de inverno, folhas e flores de uma das minhas árvores prediletas. Guignard Imaginário é o nome do filme. Um amigo meu disse que em samba canta-se melhor flor e mulher. A Serra do Curral nunca se iluminou como hoje, quando veio a saudade do carinho seu, junto com o nascimento da lua cheia nunca vista no fim da rua do último barraco da favela lá no alto, onde ninguém antes tinha imaginado. Era Segunda Feira, gostei. Nevou em Curitiba, diz o noticiário e aqui faz um calor danado.
Tenho que me encontrar com o Cinema no Centro, lá vou a caminhar. Foi difícil, me desviei e não consegui esse encontro, todas as inacreditáveis películas animadas vieram falar sobre animação. Como sou animado e amo os atores, tentei o quanto pude desvencilhar-me deste nó. Em vão. Mas foi bom também. Para usar os termos atuais. De dentro do meu esconderijo secreto um conhecido me chamou, tive que atender, então por ali a girar estive durante aquele curto espaço temporal, infelizmente com muita ansiedade. Detesto as ansiedades. As traio constantemente desde cedo com as compulsivas. Pois bem, continuo esse dia até chegar ao seu fim. Hoje já é amanhã. Começo a improvisação, assumi o jazz que sou dentro de mim, chegado ao samba desde sempre e agora sem ter por onde mais me esconder. Na Quarta Feira cedo de cinzas, tive a triste notícia da morte do Dominguinhos. Quando chego a Banca que toda manhã compro jornal, tinha em exposição um acordeão miniatura que comprei imediatamente. Para mim foi um sinal. De que ainda não consegui saber, continuei meu trajeto. Pelo caminho vieram as controvérsias a me confundir. Livrei-me com um belo drible pela outra janela da esquerda e reencontrei a volúpia minha louca velha paixão, que me levou para a esquina mais confortável. Após uma aconchegante namoradinha esperta, com uma clave de coxas roliças e tudo mais, ela me acompanhou até a minha próxima e mais complicadinha questão daquela tarde irremediavelmente transgressora. Tive que penetra-la pela porta aberta sem dúvidas nem hesitações. Consegui atingir com delicadeza e em perspectiva o ponto x, que já merecia, diante da situação dominada com curvas. Tinha eu que continuar. Agora era mais densa a proposta apresentada. Do sofá da tarde depois de ouvir este piano, fui ver Sedução da Carne do Luchino Visconti. Afinal tinha que descansar um pouquinho. Alida Valli. Vivo devaneando em profusão e tenho faltado a vários compromissos obrigatórios, naturalmente como sempre fui. Está na hora de mudar. A minha felicidade está sonhando com os olhos da minha namorada. Amar sem mentir. Despertei renascido. Nada melhor que cinema de mestre para acalmar turbulências internas. Ópera e melodrama. Ilustrado e embalado por Bruckner e Verdi. De noitinha fui dar uma voltinha antes do fim do mundo para fugir da controvérsia que estava me rondando. Depois do anunciado fim do mundo me encontrei casualmente com a Antígona no Bar do Caçapa. Durante um longo papo demos um nó nas tripas das frivolidades, a Antígona é antiguinha e decidida. O segredo era só nosso. Voltei à hora do recreio, ao parque de diversões. Passeamos de mãos dadas pela noite estrelada. Quando voltei, a ilusão tinha viajado de ônibus elétrico, então fui sozinho ao bomBardeio tomar uma providência que se fazia necessária. A tessitura veio me procurar e vagamos até o fim daquela noite pela região do Leme. Pela manhã com a solidão a me acompanhar consegui finalmente me encontrar com o Cinema no Centro da questão. Na seqüência, exato no finalzinho da manhã, a pletora me pegou para almoçar no melhor restaurante Árabe vindo de Portugal, logo ali no meio do quarteirão. Comi bem, tão redonda lua. Como flutua e no silencio lento, cheio de estrelas. Um trovador vem navegando o azul do firmamento. A visão desdramatizada supõe rompimento da relação dramática câmera/personagem, consequentemente autonomia da câmera do ator e do microfone assim como da música e do diálogo. Sua “função’ consiste em constatar os seres e objetos, convertendo-se em personagem de Cinema: testemunha ocular.

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