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domingo, 30 de agosto de 2015

CINEMA

Radicais e digitais
Orlando Senna

Dois acontecimentos encadeados me levaram, esta semana, a rever a pintura exponencial de Rembrandt e um filme essencial de Joris Ivens. Ou seja, me levaram para a Holanda dos séculos XVII e XX. De Rembrandt, que muita gente boa considera o maior pintor de todos os tempos, fui buscar os autorretratos. Como se sabe, ele fez cerca de 40 retratos de si mesmo, da juventude à velhice, mostrando a mutação da vida, o vendaval do tempo no próprio corpo, principalmente no rosto. É uma autobiografia pictórica e, sendo Rembrandt, realizada com técnica extraordinária, nenhuma autopiedade e sinceridade absoluta. 
Desde muito tempo pessoas juntam os autorretratos de Rembrandt, na ordem em que foram feitos, nesses caderninhos que criam a ilusão de movimento quando folheados em velocidade constante com a ponta do polegar, para ver cinematograficamente a ação do tempo sobre o rosto do pintor. Com o surgimento do próprio cinema essa ilusão foi aperfeiçoada, agora é fácil de fazer no computador: aquilo não é apenas a super detalhada superfície de um rosto em transformação, mais que isso é um espírito cruzando as alegrias e agruras da existência humana, uma alma em ebulição. Em outro dizer, imagens que mostram muito mais do que apenas o que você está vendo.
Do outro holandês, Joris Ivens, o documentarista transbordante que retratou, ou captou, o século XX em 35 filmes, revi Une Histoire de Vent (Uma História do Vento). É o último filme de Ivens, realizado quando tinha 90 anos de idade, em 1988, na China. Ele sempre quis filmar o vento, não apenas na sua materialidade (espalhando sementes e furacões, por exemplo) mas principalmente na sua relação poética com o tempo. Em 1965 ele havia filmado Pour le Mistral, sobre o vento seco e frio que sopra no Mediterrâneo durante o outono. Em 1988 ele escolheu os ventos, no plural, como tema de sua última obra e como impulso para contar sua própria história.
Esperando ou seguindo os ventos, Ivens conta metaforicamente o que fez, o que queria, o que viu, o que entendeu e o que sonhou com sequências de imagens reflexivas, sem limites entre o real e a fantasia. Metaforizou a própria morte, inclusive. Durante a filmagem, ele se sentiu mal e desmaiou. Foi levado às pressas a Paris, hospitalizado e estabilizado. Voltou à China e encenou seu desmaio, montando-o com cenas das providências tomadas pela equipe quando o verdadeiro desmaio aconteceu, e que tinham sido gravadas. A sua queda da cadeira até o chão do deserto chinês está no filme. Outra vez em Paris, ele só teve tempo de terminar a edição e morreu de verdade.
Dos dois acontecimentos encadeados que me levaram a esses autorretratos verticais, realizados por artistas radicais, o primeiro foi uma conversa que tive com os participantes do II Encontro Nacional dos Técnicos de Cinema do Sesc (Serviço Social do Comércio), no Rio de Janeiro, onde falamos sobre as diferenças entre o comportamento humano analógico e o comportamento humano digital. Incluindo hábitos da Hiper Modernidade como as selfies e as pessoas buscando seguidores no Facebook. 
O outro foi uma mensagem de Antonio Mercado, o brasileiro diretor e professor de teatro radicado na Universidade de Coimbra e que gosta de divertir os amigos. A mensagem se intitula “Para as pessoas da minha geração que não compreendem realmente porque existe o Facebook”. Com todo respeito, como gostam de dizer os cronistas, reproduzo para vocês.
“Atualmente, estou tentando fazer amigos fora do Facebook enquanto utilizo os mesmos princípios. Portanto, todo dia eu ando pela rua e digo aos pedestres o que eu comi, como me sinto, o que fiz na noite anterior e o que farei amanhã. E então eu lhes dou fotos de minha família, do meu cachorro e minhas cuidando do jardim e passando o tempo na piscina. E também ouço as suas conversas e lhes digo que os amo. E isto funciona. Eu já tenho três pessoas me seguindo: dois policiais e um psiquiatra.



sábado, 29 de agosto de 2015

CONTO

 BURRICE
Monteiro Lobato

Caminhavam dois burros, um com carga de açúcar, outro com carga de esponjas.
Dizia o primeiro:
— Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.
O outro redargüiu:
— Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.
— Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.
— Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.
— Nem sempre é assim, nem sempre é assim… continuou a filosofar o primeiro.
Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.
— E agora?
— Agora é passar a vau.
O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga se ia dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.
O burro da esponja, fiel às suas idéias, pensou consigo:
— Se ele passou, passarei também — e lançou-se ao rio.
Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.
— Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar — comentou o outro.


terça-feira, 25 de agosto de 2015

MEMÓRIA

SAUDADES

Ao amigo com carinho...Eliseu Visconti. Conheci esta figura singular em 1969. Cinquenta e cinco anos de uma convivência quase diária, sempre nos falando, uma hora sobre cinema, outras sobre o Brasil e seus grandes e esquecidos autores, e muitas vezes sobre a música do nosso passado cultural e que ele conhecia com uma riqueza de detalhes invejável. Era um colecionador de pequenas obras, legados da nossa época: discos, textos, pinturas, livros e principalmente colecionava amigos, um sujeito adorável. Quando nos encontrávamos, por esse mundo afora, tomávamos umas cervejinhas e riamos muitos da nossa própria vida, muitas vezes, por força das circunstâncias marginal e, quando estávamos longe, dia sim, dia não, falávamos pelo telefone por horas a fio até a orelha doer. Era um guerreiro polêmico, rebelde, iconoclasta e, talvez por isso, incompreendido. Vai deixar uma obra cinematográfica genial que influenciou muito todo o nosso cinema. Autor do inovador “Monstros de Babalu” inventou com ele a nova comédia satírica, bizarra, melodramática do nosso cinema expressionista  e com seus vários filmes de curtas metragens renovou, brilhantemente, o cinema documental musical etnográfico brasileiro. Seus filmes sobre o folclore, não podem ser esquecidos e precisam ser resgatados e estudados pelas novas gerações.
Eliseu sempre foi um bruxo, um grande artista, que recebia, por suas antenas pré-históricas, missões linguísticas de uma raça superior. Um nobre de caráter, um homem simples dominado pelo bom espírito da criação que vai deixar muita saudade para quem o conheceu. Enfim, Eliseu fez o que eu chamo de cinema da alma, um cinema de visão causada por delírio, sonho, superstição, fé e visagem. Viva Eliseu Visconti!!!



sábado, 15 de agosto de 2015

UM CONTO DE REIS


AINDA ASSIM TE AMO MUITO
  Fábio Carvalho


Eclipse ao meio dia. Eu quis amar mais tive medo e quis salvar meu coração, mas o amor sabe um segredo, o medo pode matar o teu coração. No vazio do tempo e do espaço o corpo vibra a vida, conforme definiu via ZappZapp, o garboso olhar em cinemascope do Neville. Iluminando a rua escura no início da noite sem lua, surgem três gerações das belas plásticas Weissmann. Altivas e solares, Selma, Leonora, Isadora e de pé em cima do carrinho de supermercado, comandando o transito, o bendito fruto meu ator chamado Theo com os cabelos cortados. As Banhistas, o filme do quadro que ronda minha cabeça e meus olhos, sinto, está prestes a nascer.  As bacurinhas e a Loló com suas tintas e pinceis darão forma doce e esplendorosa cheia de redondilhas para impressões visuais e sonoras maneiristas.  O segredo do pensamento recôndito é, em geral, libidinoso, e o mais bem guardado é o da mulher. Ingmar Bergman tentou perscrutá-lo, Resnais também (La guerre est finie), Joaquim Pedro idealizou. Assim escreveu com a sagacidade de sempre o cineasta David Neves. Cartas do meu bar. Tenho feito um estudo de observação sobre a imagem que me foi enviada, de uma mulher muito branca com os cabelos negros encaracolados soltos ao vento. Sempre seus olhos estão em mim. Movimento-me de maneira aleatória, por todo meu espaço de visão, seus olhos continuam em mim, quando quebro o compasso como num drible, ela está de costas, mesmo assim seus olhos sorriem para mim.  Convidado pelo jovem compositor e contrafagotista Cláudio Freitas, meu comparsa no escritório de três portas, fui assistir a estreia de sua obra encomendada pela Filarmônica, intitulada Grande Trio Concertante, na nova sala de concertos. Jef e João estavam no balcão. Beligerante, Cláudio compôs para o deleite virtuosístico dos músicos, em três movimentos ininterruptos de grande eloquência, uma obra completamente abstrata que fez minha imaginação voar por vertigens cinematográficas aos meus olhos muito interessantes. Desconfio que reconheci um novo parceiro para minha solidão acompanhada. No dia seguinte montei um filminho sobre o prazer com imagens capturadas pelo celular em três locações diferentes: Belo Horizonte, Ouro Preto e Florianópolis. Eu Sou Um Coletivo foi o nome que dei para essa despretensão pretensiosa. Um dia chego a ser um fidalgo como o Neville e o Cláudio, continuando minha dinastia do Carvalho. Na mesma noite de Sexta Feira, ainda pude ver a soprano carioca Eliane Coelho, num maravilhoso vestido preto tomara que caia, interpretando lindamente Sheherazade de Maurice Ravel e Salomé de Richard Strauss. Realmente uma beleza. Quisera ver os narguilés envoltos em barbas brancas. Amor é liberdade. Quando minha filha loura me ligou da porta das alturas, querendo me ver, confesso, fiquei emocionado, estou precisando de cuidados especiais, sinto o cinema voltando a mim como música, frágil como um homem. Sorte minha, foi que eu tinha um dinheirinho no bolso para oferecer a ela, que nada me pediu, então, ela foi feliz trabalhar em Sete Lagoas com sua turma do jovem cerimonial. Fiquei bem seguro acima do ar comendo restos nessa Quarta Feira, por vezes o céu se abre para possibilidades infinitas, é só você não atrapalhar, um carinho basta pra começar. Vou tentar atrapalhar um pouquinho para não me acomodar, tenho que alimentar a fogueira da minha hiperatividade. Preciso voltar ao mar do meu Rio de Janeiro.  Embalada pela versão instrumental do Joe Henderson de O Grande Amor do Vinicius e Tom, a vida pode melhorar muito. Comecei a digitar como o pianista, na nota exata. Você não ter o domínio sobre a própria mão pode ser uma experiência muito agradável. Que coisa meu, diria o Octávio Oitenta. Uma canção pelo ar, uma mulher a cantar, uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a viver a beleza de amar. Na feitura de qualquer coisa na vida, falo aqui de filmes, os acidentes de percalço são preponderantes. Eu Sou Um Coletivo na sua finalização, não foi diferente: uns óculos foram atirados ao chão, apenas isto provocou o renascimento da minha perna esquerda dos tempos que eu era um craque. Com um chute certeiro, fiz um gol de placa, arremessando-o contra a parede, quebrando-o em mil pedaços. Depois dessa bela jogada, terminamos o grande filminho de sete minutos. Minha garçonete do botequim na região central, onde como um prato feito vez por outra, me revelou que não gosta e tem vergonha do seu nome que é Sol, por acha-lo muito masculino. Só pude lamentar porque acho seu nome lindo.  Seja como for há de vencer o grande amor, que há de ser no coração, como perdão para quem chorou. Sinuoso o sol veio nascendo mais cedo naquela manhã gloriosa de Sábado, depois da madrugada estrelada. Esgueirando-me pelas tangentes, escapei de mais essa noite de sexta e secretamente fiquei ouvindo Björk cantando Insensatez, enquanto observava em plongée, casais transgêneros bailando numa orgia louca. Sem constrangimento algum, atrevo-me a mudar o nome do filme do Godard, de Adeus a Linguagem para A Deusa Linguagem, simplesmente porque prefiro assim. Só uma crise cara de pau. Pois bem, na saída da sessão de A Deusa Linguagem encontro com um jornalista meu conhecido e sua mulher artista plástica, ele me disse que o 3D não agrega nada ao filme. Não entendi o que ele quis dizer com agrega, e sem responder continuei caminhado com eles pelo shopping rumo às escadas rolantes. Na descida a mulher me diz o seguinte: a gente supõe que o 3D é utilizado para aproximar o expectador da cena, da imagem ao ponto de ele se sentir dentro dela, no caso do Godard não surtiu o efeito esperado. Também fiquei sem resposta, nos despedimos, ainda pensando naquela afirmação cheguei à conclusão que ela estava certa, explico: diferente de todos os outros, A Deusa Linguagem provoca pelos enquadramentos, uma visualização dos acontecimentos distanciada, o que te faz não ficar distraído por um mero adorno técnico, um confeito da superfície do espetáculo, evitando o âmago das questões do homem, da vida e do meio como se apresenta. O entretenimento.  Temos  a expressão distanciamento crítico. Ao contrário do que se espera, somos convidados novamente pela nossa entidade superior, a tentar subir mais um degrau, apertar mais alguns parafusos e de alguma forma lutar para transcender nossa medíocre existência.  Talvez o jornalista ao invés de dizer agrega, tenha dito a grega. A ponte liga um homem a outros homens, um lugar a outros lugares, uma vida a outras vidas. Como se vê só tenho falado de coisas boas e ainda posso melhorar. No momento que inflamava meu ouvido direito, os românticos só falavam do coração, podemos entender que o coração é algo, mas não tudo. Existem, além de outros algos, os ouvidos. Harmonia Rosa de Monet.  As Ninfeias em primeiro plano, os fios da trama, o Reino das Fadas de Georges Meliés, a transparência ou a opacidade de corpúsculos em ilusões de filigrana. Ele não pôde fazer de nós humildes. Ele: quem? Ou não soube, ou não quis. Ah Deus. Então fez de nós... humilhados. Ele: quem? Deus. Comecemos pelo começo, a ideia é simples. Oh linguagem. Esta manhã é um sonho. Cada um pode pensar que o sonhador é o outro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Modernismo

O CASO DA ARANHA
Mário de Andrade
“Este primeiro dia de Paraíba tem que ser consagrado ao caso da aranha. Não é nada importante porém me preocupou demais e o turismo sempre foi manifestação egoística e individualista. Cheguei contente na Paraíba com os amigos, José Américo de Almeida, Ademar Vidal, Silvino Olavo me abraçando. Ao chegar no quarto pra que meus olhos se lembraram de olhar pra cima? Bem no canto alto da parede, uma aranha enorme, mas enorme. Chamei um dos amigos, Antônio Bento, pra indagar do tamanho do perigo. Não havia perigo. Era uma dessas aranhas familiares, não mordia ninguém, honesta e trabalhadeira lá ao jeito das aranhas. Quis me sossegar e de-fato a razão sossegou, mas o resto da minha entidade sossegou mas foi nada! Eu estava com medo da aranha. Era uma aranha enorme… Tomei banho, me vesti, etc. fui jantar, voltei pro quarto arear os dentes, ver no espelho se podia sair pra um passeinho até a praia de Tambaú, mas fiz tudo isso aranha. Quero dizer: a aranha estava qualificando a minha vida, me inquietava enormemente. Passeei e foi um passeio surpreendente na Lua-cheia. Logo de entrada, pra me indicar a possibilidade de bom trabalho musical por aqui, topei com os sons dum coco. O que é, o que não é: era uma crilada gasosa dançando e cantando na praia. Gente predestinada pra dançar e cantar, isso não tem dúvida. Sem método, sem os ritos coreográficos do coco, o pessoalzinho dançava dos 5 anos aos 13, no mais! Um velhote movia o torneio batendo no bumbo e tirando a solfa. Mas o ganzá era batido por um piazote que não teria 6 anos, coisa admirável. Que precocidade rítmica, puxa! O piá cansou, pediu pra uma menina fazer a parte dele. Essa teria 8 anos certos mas era uma virtuose no ganzá. Palavra que inda não vi, mesmo nas nossas habilíssimas orquestrinhas maxixeiras do Rio, quem excedesse a paraibaninha na firmeza, flexibilidade e variedade de mover o ganzá. Custei sair dali. Os coqueiros soltos da praia me puseram em presença da aranha. O passeio estava sublime por fora mas eu estava impaciente, querendo voltar pra ver se acabava duma vez com o problema da aranha. Nuns mocambos uns homens metodicamente vestidos de azulão, dólmã, calça e gorro. Eram os presos. São eles que fazem as rodovias do Estado e preparam os catabios. Não fogem. E não sei porque não fogem. E fiquei em presença da aranha outra feita. Olhei pro lugar dela, não a vi. Foi-se embora, imaginei. De-repente vi a aranha mais adiante. Está claro que a inquietação redobrou.. De primeiro ela ficara enormemente imóvel, sempre no mesmo lugar. Agora estava noutro, provando a possibilidade de chegar até meu sono sem defesa. Pensei nos jeitos de matá-la. Onde ela estava era impossível, quarto alto, cheio de frinchas e de badulaques, incomodar os outros hóspedes, fazer bulha. A aranha deu de passear, eu olhando. Se ela chegar mais perto, mato mesmo. Não chegou. Fez um reconhecimentozinho e se escondeu. Deitei, interrompi a luz e meu cansaço adormeceu, organizado pela razão. Faz pouco abri os olhos. A aranha estava sobre mim, enorme, lindos olhos, medonha, temível, eu nem podia respirar, preso de medo. A aranha falou:- Je t’aime”.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

UM POUCO DE HISTÓRIA

A literatura, suas datas e seus autores.

Séculos VIII a.C. a II a.C.
As primeiras obras da História que se tem informação são os dois poemas atribuídos a Homero: Ilíada e Odisséia. Os dois poemas narram as aventuras do herói Ulisses e a Guerra de Tróia.  Na Grécia Antiga os principais poetas foram: Píndaro, Safo e Anacreonte. Esopo fica conhecido por suas fábulas e Heródoto, o primeiro historiador, por ter escrito a história da Grécia em seu tempo e dos países que visitou, entre eles o Egito Antigo.
Séculos I a.C. a II d.C. : A literatura na História de Roma Antiga
Vários estilos que se praticam até hoje, como a sátira, são originários da civilização romana. Entre os escritores romanos do século I a.C. podemos destacar: Lucrécio (A Natureza das Coisas); Catulo e Cícero. Na época de 44 a.C. a 18 d.C., durante o império de Augusto, corresponde uma intensa produção tanto em poesia lírica, com Horácio e Ovídio, quanto em poesia épica, com Virgílio autor de Eneida. A partir do ano 18, tem início o declínio da História do Império Romano, com as invasões germânicas. Neste período destacam-se os poetas Sêneca, Petrônio e Apuleio. 
Séculos III a X
Após a invasão dos bárbaros germânicos, a Europa se isola, forma-se o feudalismo e a Igreja Católica começa a controlar a produção cultural. A língua (latim) e a civilização latina são preservadas pelos monges nos mosteiros.A partir do século X começam a surgir poemas, principalmente narrando guerras e fatos de heroísmo.
Século XI : As Canções de Gesta e as Lendas Arturianas
É a época das Canções de Gesta, narrativas anônimas, de tradição oral, que contam aventuras de guerra vividas nos séculos VIII e IX , o período do Império Carolíngio. A mais conhecida é a Chanson de Roland ( Canção de Rolando ) surgida em 1100. Quanto à prosa desenvolvida na Idade Média, destacam-se as novelas de cavalaria, como as que contam as aventuras em busca do Santo Graal (Cálice Sagrado) e as lendas do rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Séculos XII a XIV : O trovadorismo e as cantigas de escárnio e maldizer
É o período histórico do trovadorismo e das poesias líricas palacianas. O amor impossível e platônico transforma o trovador num vassalo da mulher amada, exemplo do amor cortês. Neste período, também foi comum o poema satírico, representado pelas cantigas de escárnio (crítica indireta) e de maldizer (crítica direta). 
Séculos XIV ao XVI : Humanismo
O homem passa a ser mais valorizado com o início do humanismo renascentista. A literatura mantém características religiosas, mas nela já se podem ver características que  serão desenvolvidas no Renascimento, como a retomada de ideais da cultura greco-romana. Na Itália, podemos destacar: Dante Alighieri autor da Divina Comédia, Giovanni Bocaccio e Francesco Petrarca. Em Portugal, destaca-se o teatro do poeta de Gil Vicente autor de A Farsa de Inês Pereira.
Século XVI : O classicismo na História 
O classicismo tem como elemento principal o resgate de formas e valores da cultura clássica, ou seja greco-romana. O mais importante poeta deste período histórico foi  Luís de Camões que escreveu Os Lusíadas, narrando as aventuras marítimas da época dos descobrimentos.
Destacam-se também os franceses François Rabelais e Michel de Montaigne. Na Inglaterra, o poeta de maior sucesso foi William Shakespeare se destaca na poesia lírica e no teatro. Na Espanha, Miguel de Cervantes faz uma sátira bem humorada das novelas de cavalaria e cria o personagem Dom Quixote e seu escudeiro, Sancho Pança, na famosa obra Dom Quixote de La Mancha. 
Século XVII 
As idéias da Contra-Reforma marcaram profundamente esta época, principalmente nos países de tradição católica mais forte como, por exemplo, Espanha, Itália e Portugal.  Na França, a oratória sacra é representada por Jacques Bossuet que defendia a origem divina dos reis. Na Espanha, destacam-se os poetas Luís de Gôngora e Francisco de Quevedo. Na Inglaterra, marca significativamente a poesia de John Donne e John Milton  autor de O Paraíso Perdido. No Brasil o Padre Vieira.
Na dramaturgia podemos destacar as obras teatrais do escritor e dramaturgo francês Molière. Molière, atráves da sátira, denunciou de forma realista os grandes defeitos do comportamento humano, principalmente de burgueses e religiosos. Entre suas principais obras, podemos destacar: "Tartufo", "O Avarento" e "O burguês fidalgo".
Século XVIII: O Neoclassismo
Época da valorização da razão e da ciência para se chegar ao conhecimento humano. Os filósofos iluministas fizeram duras críticas ao absolutismo. Na França, podemos citar os filósofos Montesquieu, Voltaire, Denis Diderot e D'Alembert, os organizadores da Enciclopédia, e Jean-Jacques Rousseau . Na Inglaterra, os poetas Alexander Pope, John Dryden, William Blake. Na prosa pode-se observar o pleno crescimento do romance.
Obras e autores deste período da História:  Daniel Defoe autor de Robinson Crusoe;  Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver ); Samuel Richardson ( Pamela ); Henry Fielding ( Tom Jones );  Laurence Sterne ( Tristram Shandy ). Nessa época, os contos de As Mil e Uma Noites aparecem na Europa em suas primeiras traduções.
Século XIX (primeira metade): O Romantismo
No Romantismo há uma valorização da liberdade de criação. A fantasia e o sentimento são muito valorizados, o que permite o surgimento de obras de grande subjetivismo. Há também valorização dos aspectos ligados ao nacionalismo.
Poetas principais desta época:  Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Giacomo Leopardi, James Fenimore Cooper,  Edgard Allan Poe.
Século XIX (segunda metade): O Realismo
Movimento que mostra de forma crítica a realidade do mundo capitalista e suas contradições. O ser humano é retratado em suas qualidades e defeitos, muitas vezes vitimas de um sistema difícil de vencer.
Principais representantes:  Gustave Flaubert autor de  Madame Bovary, Charles Dickens (Oliver Twist ), Charlotte Brontë (Jane Eyre), Emily Brontë (O Morro dos Ventos Uivantes), Fiodor Dostoievski, Leon Tolstoi, Eça de Queiroz, Cesário Verde, Antero de Quental e Émile Zola, Eugênio de Castro, Camilo Pessanha, Arthur Rimbaud, Charles Baudelaire. No Brasil Machado de Assis.
Décadas de 1910 a 1930: fugindo do tradicional
Os escritores deste momento da História vão negar e evitar as tipos formais e tradicionais. É uma época de revolução e busca de novos caminhos e novos formatos literários.
Principais escritores deste período:  Ernest Hemingway, Gertrude Stein, William Faulkner. S. Eliot, Virginia Woolf , James Joyce, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Cesar Vallejo, Pablo Neruda,  Franz Kafka,  Marcel Proust, Vladimir Maiakovski. No Brasil Oswald de Andrade.
Década 1940: a fase pessimista
O pessimismo e o medo gerados pela Segunda Guerra Mundial vão influenciar este período. O existencialismo de Jean-Paul Sartre , Simone de Beauvoir e Albert Camus influenciam os autores desta época. Na Inglaterra, George Orwell faz uma amarga e triste profecia do futuro na obra 1984.
Década de 1950: crítica ao consumismo
As obras desta época da História criticam os valores tradicionais e o consumismo exagerado imposto pelo capitalismo, principalmente norte-americano. O poeta Allen Ginsberg e o romancista Jack Kerouac são seus principais representantes. Henry Miller choca a crítica com sua apologia da liberdade sexual na obra Sexus, Plexus, Nexus. Na Rússia,  Vladimir Nabokov faz sucesso com o romance Lolita.
Décadas de 1960 e 1970 
Surge o realismo fantástico, como na ficção dos argentinos Jorge Luis Borges e Julio Cortázar . Na obra do colombiano Gabriel Garcia Márquez , Cem Anos de Solidão, se misturam o realismo fantástico e o romance de caráter épico. São épicos também alguns dos livros da chilena Isabel Allende autora de A Casa do Espíritos. No Peru, Mario Vargas Llosa é o romancista que ganha prestígio internacional. No México destacam-se Juan Rulfo e Carlos Fuentes, no romance, e Octavio Paz, na poesia e do italiano Ítalo Calvino.
A literatura muda o foco do interesse pelas relações entre o homem e o mundo para uma crítica da natureza da própria ficção.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

CARTAS E CURTAS



PARA QUEM QUER SABER DO MUNDO

Amigo, segue o que prometi em nosso jantar, sob os eflúvios do Gran Tarapacá: a matéria da Carta Capital sobre o projeto TISA e um link para o Wikileaks sobre o tema. Além da matéria do Hora do Povo, é claro...

Em minhas andanças internacionais, já há algum tempo tenho ouvido falar sobre esse projeto, cujo objetivo final seria aquele denunciado no antigo filme "Rede de Intrigas": criar uma ordem mundial em que as corporações controlariam os próprios Estados e imporiam suas regras ao planeta... lembram?

O controle ora proposto se iniciaria pela regularização global dos serviços, inclusive do chamado "comércio eletrônico" - em que se incluiriam, claro, as limitações para o trânsito de bens culturais (principalmente audiovisuais) na Internet, o que nos diz respeito diretamente.

O fato é que nunca se ouviu falar tanto em normatização mundial das regras e contratos sobre o comércio e serviços, tudo a ser feito segundo as imposições e interesses do grande capital e dos monopólios internacionais. Em nossa área (produção cultural e propriedade intelectual) já estamos comprovando isso há tempos...

Leiam, então:

http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/tisa-a-pior-ameaca-aos-servicos-ja-vista-5750.html

https://wikileaks.org/

E a matéria do HP:

Assange: “TISA é instrumento de monopólios contra democracia”

Tratado encabeçado por EUA agride direito soberano das nações sobre regulação de bancos e comércio inibindo a proteção de suas economias exacerbando a ingerência das multinacionais

O editor do portal WikiLeaks, Julien Assange, além de revelar o conteúdo central do Acordo Internacional sobre Comércio e Serviços (TISA, na sigla em inglês), negociado em segredo pelos governos dos Estados Unidos, dos 28 países da União Europeia e mais 23 outros países, denunciou que esse tratado - envolvendo a economia de países que abrange cerca de 70% do comércio e dos serviços do planeta – uma vez firmado afetará a democracia e a soberania dos signatários em favor da ingerência e da ação sem freios dos grandes monopólios do sistema financeiro e de comunicações.

Conforme as informações divulgadas por Julian Assange, o plano inicial era fazer com que o TISA fosse mantido em segredo durante cinco anos depois de entrar em vigor, a fim de não despertar resistências. Afinal, é um tratado nefasto, que “vai impor a todos os signatários cláusulas que beneficiam as grandes corporações multinacionais em detrimento da soberania e dos interesses públicos de cada país”, afirmou em release divulgado no dia 2 de julho.

Entre outras violações às legislações nacionais, o inciso 3 do artigo I-1 do tratado até agora secreto estabelece que “no cumprimento das obrigações e compromissos do Acordo, cada participante deve adotar todas as medidas razoáveis à sua disposição para assegurar seu cumprimento pelos governos regionais e locais e pelas autoridades e organismos internacionais dentro do seu território”. Ou seja, “os Estados envolvidos terão que legislar, e impor regras e normativas executivas – já que é a única maneira de obrigar aos organismos, entidades e empresas não-governamentais a cumprir tais disposições – em aplicação de cláusulas negociadas em segredo”. Na prática, o “acordado” com base em chantagens e coações valeria mais do que o “legislado”.

Na avaliação da professora de Direito da Universidade de Auckland, Jane Kelsey, as regras centrais de “acesso aos mercados” impostas pelo TISA violam o princípio básico da democracia.

Segundo a professora, os artigos I-2, incisos g e i, “restringem a capacidade dos governos para dimensionar e moldar esses mercados impedindo a limitação do tamanho ou do crescimento de determinadas atividades, tais como bancos, franquias turísticas ou hipermercados, tanto a nível nacional como local, independente desses serviços serem de propriedade nacional ou estrangeira”, declarou.

A grosseira armação pretende regular de maneira “supranacional” – isto é, a favor dos cartéis dos EUA e da UE – serviços de saúde, água, financeiros, telecomunicações e transporte, entre outros.

Além disso, como informa o WikiLeaks, e analisa a professora Kelsey, o TISA exige o que chama de “transparência”. Sendo que o conceito de transparência para os monopólios que propõem o projeto é a obrigação dos governos de secundarizarem a decisão popular e permitirem que os monopólios façam lobby e campanhas abertas em defesa de leis e normas que facilitem a sua ação e estejam de acordo com seus interesses. A ‘transparência’ inclui o compromisso dos governos de apresentarem os projetos de lei internos aos monopólios do setor antes de que sejam aprovados, para determinar se lhes são viáveis e interessantes ou não.

Os que prestam os serviços não tem que manter nenhum vínculo local, regional, cultural ou nacional com aqueles sobre as pessoas às quais estes serviços são fornecidos. O fornecedor dos serviços pode estar estabelecido no local, no exterior ou mesmo ser prestado por um visitante temporário, sem que o prestador tenha qualquer compromisso pelos serviços prestados e suas conseqüências com as pessoas atendidas, aliás, as pessoas de cada país não são tratadas como cidadãos mas como “consumidores”.

Além disso, a professora Kelsey aponta para o artigo I-4 através do qual “os governos abrem mão do direito de dar preferência a fornecedores locais de serviços tais como transmissão por rádio e TV, educação, eletricidade ou saneamento ou da capacidade de limitação da presença de investidores estrangeiros ou de exigências tais como de maioria nacional de diretores em serviços a setores definidos como sensíveis ou estratégicos”.

O diretor da organização Public Citizen's Global Trade Watch, Ben Beachy, destacou que enquanto diversos governos “em todo o mundo implementam as lições da crise financeira de 2008 regulamentando empresas financeiras para prevenir outra crise, as normas vazadas do TISA poderiam requerer dos países que detenham ou mesmo retrocedam normatizações financeiras”.

Assange destacou ainda que , o TISA “é o maior componente do triunvirato neoliberal de tratados de comércio que inclui o TPP (Tratado Trans-Pacífico) e o TTIP (Pacto Transatlântico de Comércio e Investimento)”, uma tentativa, alerta ele, de “formar não apenas uma nova ordem legal moldada de acordo com as corporações transnacionais, mas também um grande nicho que exclui a China e os países que integram os BRICS”.

“Todos estes tratados têm estado sujeitos a duras críticas pela falta de transparência e ausência de consulta pública nos processos de negociação”, conclui Assange.

domingo, 2 de agosto de 2015

ARTIGO


Povo, poder, poesia
Por Orlando Senna

A liberdade é um dos fundamentos essenciais da convivência humana e, em consequência, da organização política dessa convivência, do modus operandi de uma civilização, de uma sociedade capaz de sobreviver à sua própria ação predatória. O filósofo suiço Rousseau, inspirador da Revolução Francesa, escreveu que o ser humano é bom por natureza mas sofre a influência corruptora da sociedade. Pois, o modus operandi de uma boa sociedade é a democracia, disseram os gregos: demos kratos, poder do povo, governo do povo. A ideia e as tentativas de implantá-la começaram aí, na Grécia, 500 anos antes de Cristo. Já lá se vão 26 séculos.
Conceito e prática de democracia estão, também em consequência, diretamente relacionados com a crise ética-política-econômica-ambiental que o mundo está vivendo. Por ironia dos deuses do Olimpo, neste momento a crise se exemplifica, se sintetiza, se metaforiza na Grécia. A propósito, Platão foi desdenhoso em A República: “a democracia se estabelece quando os pobres, tendo vencido seus inimigos, os massacram e banem e partilham igualmente com os restantes o governo". Lincoln foi objetivo: “voto é mais forte que bala”. Churchill foi irônico: “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas”. E George Orwell, o inventor do verdadeiro Big Brother em 1948, deu o diagnóstico em Revolução dos Bichos: "todos somos iguais, mas alguns são mais iguais que outros".
Durante os dois milênios e meio em que está sendo pondo em prática, ou tentando ser posta, a democracia raramente se aproximou de suas matrizes de igualdade social e autossustentabilidade coletiva e muitas vezes desandou em todas as direções. Dizem os teóricos que as disfunções democráticas acontecem devido à opção pela democracia representativa, pela delegação que o povo concede aos políticos para representá-lo, ser a sua voz. E dá no que dá. O caminho de construção de um poder pleno do povo seria a democracia participativa, a democracia direta dos cidadãos decidindo nas praças o que e como deve ser feito. É claro que, na atualidade de superpopulação e redes sociais digitais, o conceito de democracia participativa tem de ser redesenhado mas, em sua forma original, é recorrente na filosofia política, inclusive no citado Rousseau, que a defendeu e atacou o liberalismo.
Uma grande mistura nessa história foi e é a da democracia (liberdade, igualdade) com o capitalismo (hierarquia, competitividade). Não se pode dizer que foi/é uma fusão mas sim uma confusão, uma contradição, conflito, água e óleo no mesmo copo. O filosófo franco-argelino Jacques Rancière analisa a atualidade desse tema em La haine de la démocratie (O ódio à democracia, Editorial Boitempo, 2014), focado em um sentimento antidemocrático que, segundo ele, nasceu com a própria noção de democracia. Recomendo a leitura. Rancière entende esse sentimento como “ódio ao povo e seus costumes, à sociedade que busca igualdade, respeito às diferenças e direitos das minorias”. Ataca as políticas liberais-bélicas como uma deturpação do ideal democrático e centra seu diagnóstico na hierarquia: “não vivemos em democracias e sim em estados de direito oligárquicos, em um sistema que dá à minoria mais forte o poder de governar”.
“Governo do povo, pelo povo e para o povo”, discursou Lincoln, o mesmo da comparação do voto com a bala. Um dia chegaremos a esse grau de inteligência e solidariedade, a essa comunhão? A essa liberdade que Cecília Meireles divinizou ao defini-la como “palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”? Ou a democracia plena está fadada a ser mais uma utopia da humanidade, esse outro invento grego (óutopos) que significa “nenhum lugar”?