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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

UM CONTO PARA FABINHO


AO POR DO SOL MARQUEI O SEU NOME

Marquei o seu nome na minha agenda, disse o repórter, - sou um agenciador de talentos, para a pobre menina. O rapaz de gravata vermelha continuou o seu caminho pela rua da cidade. A pobre menina, linda com seu vestido de chita, esguia e desabusada, permaneceu ainda parada na esquina do comércio a espera do sinal vermelho estancar o movimento nervoso dos carros. Pobre menina, tudo ali era novidade. Seus olhos, molhados de alumbramentos, passeavam e viam, pelas vitrines iluminadas, presentes multicoloridos, desejo escrito em neons, nas variadas luzes que brilhavam por toda galeria do moderno shopping. Pobre menina! Era véspera de natal e o comércio, comemorando o grande movimento do último dia, vendia com frenesi toda sorte de mercadorias. Nada parecia lhe interessar. Ela fica apressada e passa a andar de um lado ao outro do imenso corredor de lojas. Agia como se procurasse alguma coisa. Milhares de pessoas passavam por ela, mas ela era diferente de todas as outras, pois tinha uma luz que se destacava na multidão. Já estava seguindo-a a mais de três horas e embora ela fosse realmente única não conseguia imaginá-la sendo um ser de outro planeta, quanto mais uma pobre menina, como quis insinuar um jornal da cidade que tentou entrevistá-la. Faz três dias que ela apareceu e de repente, no mesmo dia, já chamava a atenção dos comerciantes da principal rua do centro da cidade onde fica o maior shopping da região e de onde ela não saía. Pouco tempo depois os meios de comunicação já queriam entrevistá-la e naturalmente eu fui o indicado para essa façanha. Coloquei a minha gravata vermelha e tentei conversar com ela, mas ela não fala, ando então do seu lado algumas lojas... Parece uma maluca, às vezes, mas linda é sempre. Uma morena de fechar o comércio. Sinto que preciso me controlar. Viro a esquina de lado, tangenciando a menina e parando a sua frente como um tanque de guerra disposto a tudo. Ela fica parada por um instante. Vejo a doçura dos seus olhos de esmeralda que me fitam com curiosidade. Naturalmente me afasto e a deixo passar. Ela me encanta e me seduz. Eu a quero mais e mais a cada minuto, e é tão grande essa paixão que me inunda quanto o pudor dos que não querem nada. Às vezes duvido que também não seja deste mundo. Não Poesia Para Lelo. Aonde podemos chegar? Ela nada fala, mas já me aceita caminhando ao seu lado. O dia chega ao fim. A noite é uma criança. Sentia-me seguro ao seu lado caminhando em silêncio na direção do nada, ao objeto do caos, a luz e ao sol se pondo. O grande buraco negro que brilhando existia no final da rua me parecia que seria esse o nosso destino. Não a abandonaria! Registrando imagens e sons ao vivo com a minha câmara ligada na minha cabeça, avançaria do lado dessa menina ao inferno se fosse necessário. Sim! Havia perdido todas as esperanças em entrevistá-la e já chegando o final da rua descobri que o sol era o começo da sombra e que era uma boca que engolia o mundo inteiro... – Novamente marquei o seu nome na minha agenda.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

OS TUPINAMBÁS (Cabo Frio)

A Criação do Mundo

Monã criara o céu, a terra os pássaros e outros animais. A terra era uma planície sem montanhas nem mares, pois tudo isso surgiria depois.

Os povos viviam em paz, gozando os benefícios da obra do criador; mas com o tempo, os homens se entregaram-se a tais desatinos que começaram a desprezar o próprio Monã, que residia entre eles.

Ofendido, Monã afatou-se dos homens e enviou à terra o fogo celeste que destruiu todos os seus viventes e revolucionou a crosta terráquea, formando montanhas e vales. No caos, salvou-se apenas Irin-Majé que, transportado para o céu, aplacou as iras de Monã; este compadeceu-se dos homens e derramou na terra copiosas chuvas que extinguiram o fogo, criando os rios e outras águas. O mar ainda hoje conserva a salinidade produzidas pela combustão das rochas.

Irin-Majé convencera a Monã de que nada lhe serviria viver sozinho num mundo desabitado. Diante disso, Monã deu uma companheira a Irin-Majé e do novo casal surgiu a atual humanidade. Então nasceu um grande profeta, homem sobrenatural a quem, por suas maravilhosas obras, foi dado o nome de Maire-Monã. Este, graças às mesmas metamorfoses e os mesmos poderes mágicos de Monã, de quem era servidor, encheu o mundo de animais diferentes para cada região.

No entanto, apesar de tantas dádivas, logo depois os homens recaíram na integração; chegaram mesmo a pensar em aniquilar seu benfeitor, pois Maire-Monã, com o seu poder de transformar gente em bicho, trazia os homens em desassossego. Para liquidá-lo, reuniram-se todos em certo local e ofereceram a Maire-Monã uma festa à qual o grande caraíba não tardou em comparecer, embora suspeitando das intenções de tal convite.

Lá chegando, os homenageantes introduziram-no a transpor, sem queimar-se, três grandes fogueiras. O caraíba venceu a primeira prova. Mas ao saltar a segunda foi consumido pelo fogo. Sua cabeça, porém, explodiu, chegou até o céu, originando os raios e trovões, que são os símbolos de Tupã. Veio o dilúvio universal. E logo Maire-Monã subiu às nuvens e transformou-se em luminosas estrelas.

Para os Tupinambá, esse Maire-Monã era um anacoreta ou solitário, embora vivesse rodeado de discípulos ansiosos por suas palavras e ensinamentos. Tinha poderes iluminados; dominava as forças naturais e conhecia profundamente os exorcismos mágicos-religiosos.


Ele introduziu entre os Tupinambá a cultura da mandioca e diversos costumes como a tonsurra, a epilação e os ritos do nascimentos. Desaconselhou-os de comer os animais pesados e lerdos recomendado, ao contrário, a carne dos animais ágeis e valentes. Ao mesmo tempo, ensinou-os a distinguir entre os vegetais daninhos e úteis. E disseminou o uso do fogo que, até então, era conservado nas espáduas da preguiça.
Contaram os Tupinambá que, sobrevivendo uma longa estiagem, Maire-Monã tomara, por compaixão, a forma de uma criança. Bastava bater nela para caírem chuvas que regavam as plantas esturricadas.

Entre os descendentes de Maire-Monã um houve que se chamou Simmai, o qual teve dois filhos: Tamendonare e Ariconte, que eram inimigos. O primeiro era um pacífico pai de família, sempre entregue a sua lavoura; o outro, porém, só cuidava da guerra e sonhava reduzir à servidão os seus companheiros.


Certo dia, Ariconte, cheio de arrogância, atirou na choça de Tamendonare um troféu de guerra e este, repelindo o agravo, pôs-se a golpear o chão, fazendo joviar uma impetuosa torrente. Quando o dilúvio provocado pelo jorro ameaçava cobrir a face da terra, subiram ambos, com suas esposas, ao cimo das árvores. Tamendonare escolheu a pindoba e Ariconte o jenipapeiro. Desses dois casais sobreviventes do dilúvio, provieram, respectivamente, os Tupinambá e os Temiminó.

sábado, 26 de outubro de 2013


QUEM SABE O QUE ESTOU PENSANDO

Fico pensando sobre as coisas da vida
Sempre chegando ao fim de tudo
A conclusão fatal às vezes inexorável
De que não vale a pena viver

Quando acontece o caos
Na solidão de um condenado
A tempestade da alma
Arrebata o ser

O tempo dos anos não farda a força do homem
Pois na cabeça do pensar ele realmente não existe
Imagens que se transformam em microespaço de luz
Podendo guardá-las no bolso de uma calça velha

Em memória de tudo que um dia foi analógico
Quero ainda viver romântico ao som de um bolero
Lambuzar-me no suor de uma cama de motel
Sugar com volúpia o amor escondido da vergonha

Sofrer de ciúmes e da paixão cósmica
Que eu ainda não pude entender
Caminhando pelo mundo
Dando o meu último suspiro

Surpreendendo o amigo que ainda permanece
Mas que aos poucos vai desaparecendo
No labirinto de espelhos da história de cada um
Vislumbro o sol e o mar onde respiro liberdade

 Até quando vou aspirar à vida no meu caminhar?
Não sei responder e também não quero saber
Estou sufocado por tanta miséria de coisas
Vazio neural que por nada já me deixo irritadiço

No começo acreditei nas ideias de um mundo melhor
Mais justo em oportunidades e socialmente mais honesto
Repleto de boa vontade para com o próximo e o distante
Equilibrado nas conquistas filosóficas do bem viver sem sofrer

Os místicos acreditam na necessidade da purificação
Os reacionários na barbárie de homens impuros
Os revolucionários na urgência da transformação
Os mercenários na força do sistema financeiro

Os mercadores acreditam na venda dos ícones gastos
Os guerreiros no sangue dos insensatos
O nobre na dor dos inocentes
As donzelas no amor de um príncipe

Amei e fui amado por algumas mulheres
 Sem saber bem o que isso significava
Vivi feliz por um tempo com uma e com outra
Disse-me um dia meu pai pelo espelho da sala

Como ele eu acreditei que poderia amar e ser feliz
Mas o amor na humanidade é uma mentira
Já dizia os anjos ao senhor de engenho
Mastigando um torrão de açúcar

Meleagro das matas nasceu da semente
Macerada no elixir que eterniza a vida
Cresceu e frutificou o grande pomar
Tornou-se sumo sagrado do desejo

A quem será oferecida a grande homenagem dos deuses?
Ao solitário homem que vagueia na planície do medo?
O que a ele está reservado pela cálida mão da natureza?
A quem pertence ó pura fonte de toda essa sabedoria?


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ERÓTICO

POEMETO ERÓTICO

Teu corpo claro e perfeito,

- Teu corpo de maravilha,

Quero possuí-lo no leito

 
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...

Rosa... flor de laranjeira...

 
Teu corpo, branco e macio,

É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

 
Rosal queimado do estio,

Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

 
           Teu corpo é chama e flameja

Como à tarde os horizontes...

 E puro como nas fontes


A água clara que serpeja,

Que em cantigas se derrama...

 Volúpia da água e da chama...

 
         A todo o momento o vejo...

Teu corpo... a única ilha

No oceano do meu desejo...

 
           Teu corpo é tudo o que brilha,

Teu corpo é tudo o que cheira...

Rosa, flor de laranjeira...

domingo, 20 de outubro de 2013

POESIA

Manuel Bandeira
MOMENTO NUM CAFÉ

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade

Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava

Liberta para sempre da alma extinta.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Festival Cinema de Brasília

O cinema pernambucano fala para o mundo?

Recife (PE) - Eu sempre esperei ver no cinema, a minha esperança sempre foi o grande cinema. Nada de tela grande, monumental, à Hollywood. Mas aquele grande cinema de Ladrões de Bicicleta, de Hiroshima, mon amour, de Luzes da Cidade, de O Garoto, de todo Buñuel.   Com isso chego mais perto do cinema brasileiro. Para mim, eu sempre quis e esperei o cinema de Nelson Pereira dos Santos, de Vidas Secas e Memórias do Cárcere, por exemplo. O cinema de Cidade de Deus, mais recente, ou daquela obra genial Deus e o Diabo na Terra do Sol, ou de algo próximo de O Pagador de Promessas.
Vocês já veem que para mim o grande cinema tem a ver com a literatura, com a relação  que o filme estabeleça com a obra literária. Mas estamos falando de cinema, de imagens, “de outra linguagem”, poderia ser dito.  Ainda assim resiste aquela ambição de querer para nós a profundidade do cinema argentino, por exemplo, cujos diretores mantêm boa vizinhança com os seus escritores. Daí a minha implicância, peitica, com o atual cinema de Pernambuco. Para mim, em sua franca maioria ele é iletrado. Quero dizer, ele não sabe nada do mundo fundamental da literatura. Os seus roteiros são precários, com personagens mal realizados (mas “estamos falando de cinema”). A sua realidade é lúmpen, a pretexto de mostrar o real popular.
Em lugar do que espero, encontro diálogos absurdos, inverossímeis, como pude ver em “Febre do Rato”, um filme a que fui assistir porque seria uma homenagem a um poeta marginal, que se inspirava inclusive em Miró, que tão bem conheço. Decepção total. “Cinema pernambucano é cinema de intuição”, já afirmou uma vez Lírio Ferreira. Mas o que dizer, amigos, diante das últimas notícias, para mim uma das melhores, somente abaixo do discurso da presidenta Dilma na ONU? Como esta aqui:
“Pernambuco sai do Festival de Brasília com dez troféus
No 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Pernambuco mais uma vez mostrou que atravessa uma fase das mais expressivas da cinematografia nacional. Não conquistou todos os principais prêmios, porém fez bonito. Se o troféu Candango mais cobiçado – o de melhor filme de longa-metragem de ficção – ficou com Exilados do vulcão, da diretora estreante  na categoria Paula Gaitán, viúva de Glauber Rocha, em documentário o cinema pernambucano consagrou-se com  bem humorado O mestre e o divino, de Tiago Campos. Produzido pela ONG  Vídeo nas Aldeias, o filme conquistou ainda os prêmios de melhor montagem e trilha sonora.
Amor, plástico e barulho, primeiro longa-metragem de ficção de Renata Pinheiro, sai de Brasília com três Candangos – melhor atriz (Maeve Jinkings), melhor atriz coadjuvante (Nash Laila) e direção de arte (Dani Vilela)...”.
O que dizer disso? Mais, depois que o filme “O som ao redor” é o indicado brasileiro para o Oscar, depois dos últimos prêmios conquistados em festivais brasileiros e internacionais, o que dizer? Talvez o meu conceito de esperança e ambição não bata com a realidade. E quando isso acontece, o  conceito tem sinais de um preconceito, ou de uma inadequação à moda, movimento e movie. Uma rejeição ao movie árido de poesia nas telas. 
No entanto, restam ainda outras perguntas. Por que o cinema pernambucano de repente, não mais de que de repente, ganha tantos prêmios, como se fosse um raio no céu azul? Não é por milagre. Penso que a premiação vem de muito antes, de quando ainda não havia festivais, nem se premiavam, a não ser com mortes,  uma cultura de conflito e libertação em Pernambuco. Vem da própria história anterior, que passa pelo Ciclo do Recife, um momento do cinema que de 1923 a 1931 fecundou a cultura da cidade. E depois de uma queda, de um quase vazio, desemboca na geração do super 8 nos tempos da ditadura. E que se retoma com O Baile Perfumado, de Lirio Ferreira e Paulo Caldas. O que vale dizer, a partir daí há um ciclo virtuoso de criação que é mantido com financiamento público. A criação entra em vigor nos últimos anos movida por incentivos do governo de Pernambuco. Então se encontram a fome e a vontade de comer. Para se ter uma ideia, de 2011 e 2012, o Funcultura disponibilizou R$ 11,5 milhões para a produção do audiovisual no estado. E com isso, o “cinema consegue se manter criativamente".
A alma desse talento é alimentada com coisas mais materiais. Talvez o cinema de Pernambuco ainda não fale para o mundo, como se anunciava na voz do locutor da Rádio Jornal do Comércio: “Pernambuco falando para o mundo”. Mas, por enquanto, fala para todos os festivais. O que não é pouco.   

domingo, 13 de outubro de 2013

Um Conto de Reis



COMO AS MULHERES TEM FICADO MAIS BONITAS

 Fábio Carvalho


Tumbir frases para não dizer amor. Que gênio quase desconhecido era o Louis Armstrong o negão, casa de sombra,vida de monge, quanta cachaça na minha dor. O silêncio pode ser uma resposta. Tem sido difícil ao mesmo tempo muito profundo e cálido, talvez um necessite do outro, se intercalando em paralelo. Pra que negar a beleza? Nem sei se isto é uma pergunta. Que coisa meu; aonde vamos juntos chegar. Onde será. Nova interrogação. Porquê tudo na vida há de ser sempre assim. Da janela ouvi Lucio Alves cantando Dindi, pela segunda vez, da primeira era ontem à noite e eu já estava qualquer coisa, mesmo assim nunca serei mais o mesmo. Cataguases. O fenômeno da lua vazia. Voltei ao jardim de gerânios plantados no minúsculo canteiro da entrada do prédio de classe média na velha rua que era um córrego em frente ao supermercado. Já estivemos vivendo nos mesmos e vários lugares da região, digo para mim e para meus outros eus. Sempre os carrego. E agora vamos ao Wagner. Ouvimos todas as faixas nas procelas do mar, dia e noite sem intervalos de descobertas, que assim como poemas não tem utilidades aparentes, muito menos palpáveis. Se bem que estou pegando muito bem nessa opulência branca boa de pegar. Penso indo além da magnífica música que toca vinda do Megacubo depois de consertado o Bad block. Muito bom. Ouvindo Baden Powell lembrei quem era exatamente quando vi um concerto dele, o mesmo Baden, no Teatro da Cidade, durou mais de três noites. Deixa porque hoje tudo é natural. Espalhou um pé de Avenca e a Rosa, pergunta. Canção das Flores. Não eu só vou se for para ver uma estrela aparecer. Até eu. Prosseguir sem ter para onde ir. Vendo a vida passar. Duvido o dó. Ô professor! Grita lá de baixo do Centro de tudo o aluno mais velho sem se importar com a audiência e assim mesmo foi gol. Selvagem. Ela inventou me sacaneando muito bem. Gostei mais ainda dela metida naquele vestido Rosa, falando ao celular no corredor iluminado da Galeria Central na hora do rush. Imagina sem. O quê responder? Mais uma pergunta se apresenta. Sem respostas só imaginando. Também respostas para o quê? Quem vem Lá? Mais uma interrogação. Nem foi tempo perdido. Se já está falado, para que escrever, quero mesmo é voltar ao meu Rio de Janeiro. Todo o mundo vendo. É por isto que não dou colher de chá, nem vem na cola, se entrar de sola você vai dançar. O surdo batendo no coração. Chega de dúvidas nem certezas estou querendo, o abismo é de Rosas. Dilermando Reis. Fui mesmo assim novamente ao Bar do Caçapa porque era Sábado e tive que ouvir de novo o solo do Jimmy Page, mais uma vez e foi muito bom. Na sequência a vida ainda Supertramp, pode ser brega mais acontece, quero mais um, minha filha puxou minha orelha, não posso me derramar. Vou dormir no sofá por hoje, de madrugada volto para cama. Full screem. Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o Samba tanto assim. Fora do Carnaval. Samba no chafariz. A Lua alumiara o mar. Vagueia devaneia.  Retorci com as lembranças dentro da aquarela aguada naquele pequeno retalho de papel Canson dos anos 40. Vintage. Tira e pendura a saia que eu quero ver. Até o Sol raiar.  Amor não tem que se apagar. Amanhã é Domingo. Até o fim eu vou te amar. Não posso negar que gosto do é nós e tá ligado. Use somente sua imaginação, encontrei com minha turba onde estou narrando, e a gente vai levando. Não faltou ninguém naquela calçada protegida por todos os Santos com tudo em cima, vamos tomando de cuca nova, nó na madeira. A criança menino é o mistério do Guignard. Todo mistério deve ser respeitado. Não dá para concordar com tudo. Depois que vi todas as alunas reunidas e vestidas com a roupa do parque na medida certa, pensei em parar de pensar e nem olhar par trás, o transporte estava garantido. Ela tinha a chave do carro. Furo o dedo. Continuo observando sem idealizar quando a pedra divide as águas límpidas da pequena viagem da festa das Jabuticabas, ainda tento imaginar. Ouço a rádio com prazer. Talvez ela venha, de repente e sorrateira, como nem se espera, improvável. O desejo. Consegui sem falar Cinema. Onde havia espanto foi só ousadia. Brincadeiras de um curumim.

sábado, 12 de outubro de 2013

RESTAURAÇÃO DE UM CULTO EM INSTIÇÃO

PROJETO NUNES PEREIRA E A CASA DAS MINAS
(Brasil o continente indecifrável das terras ocultas)

UM POUCO DE HISTÓRIA

Conheci o escritor, etnógrafo e antropólogo, Nunes Pereira, em 1975, logo após terminar as filmagens do meu primeiro filme. Fui até a sua casa que ficava no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Ele estava com 83 anos (1892). Cheguei até ele durante uma pesquisa que eu e meu amigo, o poeta Rolando Monteiro, fazíamos sobre os índios maués. Ficamos amigos fraternais deste sábio mestiço nestes seus últimos dez anos de vida. Ele freqüentava a minha casa no Alto da Boa Vista e eu a sua. Conversávamos sempre sobre o Brasil e sua gente. O índio, o negro e o branco: “as três raças tristes”, como ele gostava de dizer. Nunes tinha uma cultura geral extraordinária e víamos nele o intelectual experimentado que estávamos precisando para escrever um roteiro sobre o Brasil profundo que ele gostava de chamar de “o continente indecifrável das terras ocultas”. Seria um filme sobre todas as origens do homem brasileiro. Ele adorava a idéia, principalmente pelo tempero mágico que eu insistia em colocar nesta sopa antropológica. Com uma didática irrepreensível, ele me falava, lembro-me bem, com muita intimidade, de Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss, enquanto me passava seus conhecimentos. Nunes possuía na sua lúcida memória as mais fantásticas histórias sobre seu amigo alemão Curt Nimuendajú. Tinha um humor sarcástico e contava-me, as gargalhada, quando o confundiam com o músico Nelson Cavaquinho. Tudo que ele sabia que me interessava vinha em doses homeopáticas como se ele quisesse prolongar os nossos encontros. Um dia depois de ter me presenteado com os dois volumes e uma bela dedicatória no seu livro Moronguetá - um decameron indígena, conjunto monumental de pesquisas, prefaciado pelo grande poeta Thiago de Mello, retirou um livro que estava escondido na sua vasta biblioteca com o título de A Casa das Minas e me disse: “leia Sette, aqui está o começo da história oculta do Brasil! Aqui eu nasci, aqui eu cresci, vamos começar por aqui”. Li o livro e, em 1976, rodamos a primeira parte do filme, guiado pelo velho morubixaba, num terreiro Mina Jeje do Rio de Janeiro, só depois é que filmamos a segunda parte na cidade de São Luiz no Maranhão. Todas as filmagens aconteceram em 1976 e só quando fomos exibir o filme na posse de Nunes Pereira na Academia Maranhense de Letras é que rodamos a segunda parte na Rua São Pantaleão. De volta ao Rio terminamos a edição do filme e fizemos uma grande exibição em 1978 no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio com a presença de Nunes Pereira e do meu ilustre amigo mineiro José Aparecido de Oliveira, que fez, com sua brilhante oratória, um belo discurso de apresentação e de defesa do grande antropólogo maranhense. Os dois filmes ainda tiveram projeções internacionais.. O grande projeto do redescobrimento não foi em frente e em 1985, pouco tempo após ser homenageado no meu premiado filme sobre o poeta modernista francês Blaise Cendrars “Um Filme 100% Brazileiro”, ele veio a falecer.
O tempo passa, já faz 37 anos que tudo isso aconteceu. Sinto-me hoje no dever de reviver a figura deste maranhense notável que foi o meu amigo Nunes Pereira, restaurando os dois filmes sobre “A Casa das Minas”; copiando suas aparições em outros filmes (Júlio Bressane; Paulo Veríssimo, arquivos, etc.) e filmando, fazendo novas entrevistas, dialogando com quem o conheceu ou tenha conhecimento sobre a história da cultura negra Mina Jeje no Brasil.
A segunda edição do livro, A Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos vodus, do panteão daomeano, no estado do Maranhão. Brasil. 2 ed. Petrópolis, Vozes, 1979.  Esta nova edição foi providenciada pelo escritor com o apoio do ex-presidente José Sarney.
Tendo passado mais de meio século de sua vida nonagenária e ainda movimentada nas atividades de pesquisador etnológico, se aproximado de grandes vultos da ciência e da literatura em nosso país e no exterior, amigo de poetas e políticos que viam Nunes Pereira com sua cabeleira branca e a máscara de velho morubixaba e perguntavam: por que ele teria saído de seus habituais cuidados para com o homem tribal amazônico e a ecologia da hiléia para tratar dos remanescentes culturais dos daomeanos na Atenas Brasileira? A resposta vinha do menino ainda, muito antes de ser o grande etnógrafo indianista em que se transformou. É que ele foi entregue por sua mãe, D. Felicidade, a proteção do Vodum Badé, com suas contas azuis, na casa matriarcal das minas, e, acolá, durante muito tempo, verificou a ritualística jeje, motivo da obra, a primeira a realmente tratar dos resquícios da cultura de africanos naquela parte do Brasil.

Quem sabe se, o velho andarilho que é, voltará um dia até o Maranhão, à sua boa terra, mesmo de passagem, para o abraço nos amigos e comer aquela moqueca de que tanto gosta, na praia, preparada enquanto recita de cor Dante em voz alta, sentindo-se no paraíso, alegre com o relançamento local dessa nova edição do seu filme Nunes Pereira e A Casa das Minas.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

NOTÍCIAS DO SUL

UM EXEMPLO PARA O BRASIL
Produção argentina cresce para dentro e para fora
Escrito por: Redação 
Fonte: Tela Viva

Em painel no Mipcom moderado pelo jornalista Miguel Smirnoff, representantes da indústria de TV argentina mostraram o que o país tem feito para expandir seus mercados tanto internamente, através do crescimento da TV digital,quanto externamente, com coproduções e exportação de formatos.  Segundo Tristán Bauer, diretor geral da Radio TV Argentina, a TV pública vive um momento extraordinário, em especial nos últimos cinco anos. Isso porque, com a digitalização da TV aberta, o governo criou cinco canais públicos, entre eles os premiados Paka Paka (infantil) e Encuentro (educativo), além de um canal de esportes, um de tcnologia e o canal do INCAA, dedicado ao cinema argentino. O país também "nacionalizou" a exibição do futebol (campeonato nacional) e eventos como as Olimpíadas. "Produzimos ficção, news. É uma política nacional", diz Bauer. A Argentina produz 120 filmes por ano, e canais como o Paka Paka vem fechando coproduções em animação com Coreia e Índia.CEO da Endemol no país, Martin Kwelles mostrou a grande estrutura que a produtora mantém no país, onde são produzidos programas para 32 países, além de servir para outras produtoras, como a BBC.A Telefe, uma das maiores emissoras privadas do país, se define como "mais que uma tela, somos produtores de conteúdo", conta o diretor de conteúdos globais, Tomas Yankelevich. "Nunca pensamos só na Argentina, sempre pensamos os conteúdos para o mundo", diz.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Diálogo de louco no facebook



Jose Sette de Barros Demagogia pura ou pura demagogia?

Oswaldo Caldeira Jose Sette, me explica o seguinte. Tenho visto aqui no face movimentos dizendo que os prefeitos etc deviam ir para o trabalho de ônibus. Então este foi. Me explica: se não vai é um canalha, se vai é um canalha.

Oswaldo Caldeira Não estou interessado no cara nem no partido nem no ato em particular. Estou interessado no conceito estou apoiando o conceito prefiro pensar grande não tenho mais tempo pra picuinha.


Jose Sette de Barros Canalha é uma palavra forte para um conceito demagógico... Picuinha é acreditar que um ato demagógico, pois não se transformou e nem vai se transformar na práxis do prefeito, possa ser um grande exemplo para a malta desavisada dos políticos brasileiros (temos algumas exceções, é claro!) Mas o companheiro poderia passar sem essa de sair com um fotógrafo e entrar em um ônibus, depois de tantas manifestações, para dizer no mínimo que está tudo bem?Que temos sim um transporte coletivo digno e confiável? É preciso então reformar os conceitos.

NOVIDADE POLÍTICA



Com a ida da conservadora, mas

 ambientalista Marina Silva para o PSB 

(partido que até ontem compunha a base 

de sustentação do governo do PT e que 

tem, em seus quadros, ultra-

conservadores, reacionários e 

homofóbicos como os pastores Eurico 

Sargento Isidoro); com o flerte de Aécio 

Neves e seu PSDB (partido que tem, 

em seus quadros, João Campos, autor do 

projeto da "cura gay") 

com fundamentalistas, conglomerados de 

comunicação (a "grande mídia") e barões 

do agro-negócio - os mesmos que, no 

momento, compõem e têm influência no 

governo do PT; e com o PT tendo que compor com o PSC, PP e, principalmente, com o 

PMDB (leia-se Renan, Sarney, Cabral, Paes, Eduardo Cunha et caterva) para garantir a 

"governabilidade"; com esse tabuleiro de xadrez, o que distingue os prováveis 

candidatos à presidência da República no ano que vem? O que grupos 

historicamente difamados, estigmatizados e alijados de direitos - indígenas, 

quilombolas, povo de santo, ciganos, mulheres prostitutas e LGBTs - podem esperar 

desses candidatos?

Jean Wyllys (PSOL)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Um Conto de Reis


NADA COMO VALSA PARA LEMBRAR AMIZADE

 Fábio Carvalho

Bom dia! Chegou a Primavera, junto com ela o sol. Adoro este coro de cantoras com bocas negras legitimando o Soul. Plus le concert. A Puta mais Linda da Cidade, tenho certeza que esse era o título, nem sempre as coisas andam como merecem. Só tenho pensado em mim. O triste fim do era apenas o começo. Fiz questão de conclamar o circunflexo vulgo chapeuzinho, que a nova ortografia que nada, baniu sem nenhuma consulta prévia do baú. Do que me falavas? Ou ainda me falas. Interrogação. Aproximo-me das palavras nesse momento que antecede apenas mais um almoço de domingo. Não tenho nenhuma certeza. A pergunta não deve ser óbvia. Viragem de sépia. Tiures. Tive uma caída de tarde esplendorosa e perfumada, no final de Setembro exato no ultimo Sábado somente porque era Sábado sem piano. O trombone de vara introduzia o desafinado que eu era no tempo do mar daquele meu teatro de sombras. Tudo de dentro do sonho suspirando as cores translúcidas. Do outro lado da rua secretamente vi toda a entourage sentando à mesa naquela fornicada esquina antiga que minhas panturrilhas sempre passaram indo e vindo. Eu estava atrás da pilastra de dentro do Pastel. Através dos binóculos, ainda assim pressionado a encoxar todas escanhoadas mini-saias que por ali esperavam não sei o que. Eram jovens. Examinei todas as bolsas abertas com penetração manual. Entrei novamente no automóvel muito bem estacionado na zona do Agrião, quando novas listras se descortinaram roliças como uma perna convidativa e rechonchuda que sem sapato apontava para Sergipe e assim voltei a ouvir Debussy. A saia de guizos era vermelho sangue. Gosto muito da palavra saia, ainda que esteja com o riso frouxo. A semana foi frutífera como a imaginação, e por reciprocidade proporcional aquilo que constitui a força da imagem é o humor. Bela e frondosa. Comparem duas imagens ao acaso e hão de sentir-se poeira, coisa que também nelas se explica o envelhecer. Queixaram-se os vizinhos. Sei que não serei mais o mesmo, daqui para frente tudo vai ser diferente, vou encontrar outra motivação na música que imprime o filme que estou a fazer. Insensatez. Continuo escrevendo quando chego ao grau me libertando pelo menos um pouco, dela mesma, a própria liberdade. A disciplina necessária para a perfeita confusão. Por hoje cheguei lá. Chega. Diante dessa nova tarde de Quarta- Feira, já em Outubro escureceu com um clima fresco ameno depois do temporal, tudo pode melhorar sonhando Guignard e Hendrix. As guitarras vem me perseguindo no transcorrer desse período alugado do estúdio. Naturalmente. Em compensação, porém, não serei eu quem, falando do meu amor fiel pelas imagens, as estudará com um grande reforço de conceitos. Quem se entrega com entusiasmo ao pensamento racional pode se desinteressar das fumaças e brumas das quais os irracionalistas tentam colocar suas dúvidas em torno da luz ativa dos conceitos bem associados. Brumas e fumaças, objeção do feminino. Monaliza. Comecei este texto achando que era outro que pensava escrever, era pensadamente sobre meus atores e também sobre meus moradores de Rua. Era eu outro. Cabe só a mim terminar, ou não, o interminável sem contar o que se sucedeu me desviando do assunto. É que sou preguiçoso. Não perdôo a mim. Achei um livro branco com coração no degrau em frente à vitrine da loja de instrumentos musicais, na calçada por onde caminho todas as manhãs. Já li.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Piadinha de salão...

O minerin chegou na zona e falou pro gerente: - Hoje tô afim de um "gay". Tem um "bão" aí? - Aqui não temos "gays", só mulheres, respondeu o gerente. - Não?! Putz!! Hoje eu queria memo era um "gay" prá variá, um "trem" diferente... pago mil real. O gerente, ganancioso, chegou pro "leão de chácara" da "zona", que era um "negão" de 2 metros de altura, faixa-preta de karatê, judô, jiu-jitsu, tae-kendo, boxe, briga de rua, "vale- tudo", capoeira, "pancadaria" e assalto `a "mão armada" e falou: - Vamos tomar o dinheiro desse "mineirinho" otário.Vou dizer que você é "viado", você entra no quarto com ele, pega o dinheiro, arranja um motivo prá confusão, dá um "pau nele" e depois "rachamos" a "grana". O "minerin" entrou no quarto com o negão, trancou a porta e logo começou a "pandacaria". De fora só se ouvia barulho de cama quebrando, espelho rachando, batidas na porta, na parede, no teto... Passaram-se 40 minutos nessa "peleja", todo mundo na expectativa do lado de fora, quando a porta se abriu e saiu o "minerin", "arrumano as carça" e comentando: - Brabin ele, né ?? Quiria dá não...

VITRAL DE POESIA

ESTRELA

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Porque da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Porque tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A DAMA DO BRASIL

                                                     Sonia Braga postada por Helio Braga - facebook