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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

VIROSE

Fiquei neste início de agosto no estaleiro por 10 dias com uma virose que foi a mais estranha que o meu corpo já hospedou nesses seus 63 anos de existência. Fiquei muito abalado, intranqüilo, mazelado com essa doença. Assim vou tentar descrevê-la, com seus sintomas venenosos e o seu alexetério depurador, para que os meus leitores possam me desculpar à falta de assunto deste blogueiro nesses últimos dias passados.
Tudo começou com várias descargas de correntes elétricas que percorriam partes diferentes do meu corpo em fração de segundos, como se surgisse, de súbito, aleatoriamente, em um venífluo de gélidas águas, o aviso sinistro emitido do meu sistema imunitário.
Estava em Cabo Frio e não dei muita atenção ao fato, pois me pareceu uma disfunção psicológica por saber que minha mãe de 93 anos tinha adoecido e consequentemente sido internada em uma UTI de uma casa de saúde na cidade do Rio de Janeiro.
Os acontecimentos que seguem a via-crúcis médica vivida nos dias de hoje é qualquer coisa de macabro e acompanhou o desenrolar desse languento sentir carregado de inacreditáveis histórias.
Entre um calafrio e outro saio de casa e vou para o Rio com o coração apertado. Os dois primeiros dias foram repletos de fatos que me deixaram lânguido. No final do primeiro dia um enorme herpes apareceu no meu lábio inferior enquanto procurava saber o que estava acontecendo com a velha e forte senhora. O melhor plano de saúde e o melhor médico não eram suficiente para aplacar minhas dúvidas. No começo sabíamos que era uma infecção e algumas pedras na vesícula que precisavam ser retiradas. A velha senhora foi então levada às pressas da casa de saúde para outro hospital em uma ambulância com a sirene ligada em alta velocidade pelas ruas congestionadas e esburacadas de Botafogo em busca de uma poderosa máquina que pudesse enxergar em detalhas as misteriosas pedras... E lá foi ela, lúcida, febril, agitada e nervosa, deitada em uma maca, acompanhada do neto querido. O demorado e desgastante exame, onde a pessoa não pode respirar para não mexer o corpo e assim desfocar a fotografia, mostrou ao seu médico que na sua vesícula não havia nenhuma pedra. Assim a infecção passou da vesícula para o pâncreas. Ficou mais grave. Mas havia no ar a alegria de que a velha senhora não precisaria passar pelo “procedimento” da operação chupa-pedra. Que alívio! Mas de volta do hospital até a casa de saúde, na mesma ambulância de sirene a todo vapor, ela retornou para a UTI mais abatida e mais cansada. Oxigênio na máscara e muito antibiótico na veia dessecada do pescoço. Da máscara de oxigênio ao “entubamento” respiratório foi um passo. Que visão dantesca: um cano na boca, outro no nariz e uma agulha no pescoço. As máquinas apitavam o batimento cardíaco no silêncio do hospital. Esta noite comecei a espirrar e a tossir. Mal conseguia dormir. No dia seguinte não pude ir mais a casa de saúde ver a minha velha senhora. Estava também doente. Voltei para Cabo Frio. A ininterrupta tosse maltratava bastante o meu já combalido pulmão de tabagista. Parei de fumar e comecei a tomar um xarope de própolis e mel que não fazia efeito. Comecei a suar e a molhar toda a roupa do corpo. Uma dor aguda percorria o meu sangue. Uma hora doía o pé, em outra hora era a garganta do lado direito, depois o lado esquerdo, dor na cabeça, nos dentes, independente da minha vontade ela seguia o seu caminho... Nada conseguia fazer entre um telefonema e outro para saber notícias do Rio de Janeiro. Minha pobre mãe estava piorando, tiveram que furar o seu pescoço para passar o tubo respiratório, pois sua garganta estava em frangalhos. As minhas amídalas explodiam de dor. Amídalas essas que haviam sido extirpadas na minha infância quando padecia de febres altíssimas provocadas por suas infecções.
Quinze dias se passaram. Estou ainda em Cabo Frio. Os ventos mudaram e eu estou melhor. A velha senhora melhorou milagrosamente no Rio de tal maneira que amanhã mesmo sai da UTI para um quarto com acompanhante. Salve a medicina ocidental para quem pode pagar. Enquanto minha mãe estava sendo internada e eu fumava o meu segundo maço de cigarros na frente da casa de saúde, pude ver e ouvir o desespero de uma família agitada a ponto de um ataque de nervos com seus telefones celulares buscando desolado um hospital onde houvesse uma UTI para internar a sua velha senhora... Nesta hora eu vi a importância de se ter um medalhão e dei graças ao meu pai que deixou para a sua velha companheira uma aposentadoria substanciosa que lhe permitia pagar a mais cara consulta e o melhor plano de saúde do Rio.
Eu, como um eterno artista independente, não possuo uma aposentadoria e nem um plano de saúde que possa me trazer algum conforto se por desventura chegar a uma idade avançada sem nenhuma proteção do estado ou de minha pobre família.
Assim, me desculpando, espero já ter regularizada essa publicação em mais alguns dias de suaves ventos trazendo boas e novas notícias.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

POESIA

AVE NINA
O BARCO
O MAR
AMOR
AVÔ
AVOADO
ARQUEADO
OBSTINADO
OBCORDADO
TAL QUAL FOLHA
FOGAZ
FLUTÍVAGA
EM MARES
NUNCA DANTES
NAVEGADO
OBSERVA
AVE NO NINHO
NA GÁVEA
SUBMERSA
NOS OLHINHOS
NEGROS
ARISCOS
DA MENINA
NINA
TÃO LINDA
CÂNDIDA
SEREIA
AREIA
LAVADA - LEVADA
PELAS ONDAS
DE TANTAS HISTÓRIAS
QUE AINDA IREMOS CONTAR
AH! NINA
NUVENS
ESTRELAS
PELO CAMINHO
DO SOL
ESTAREI SEMPRE
AO SEU LADO
NOS TEXTOS E IMAGENS
DA LIDA
NA POESIA
VIVIDA
DE CADA DIA
DE TANTA SAUDADE
DEIXADA NO PORTO
DA MINHA INFÂNCIA QUERIDA
QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS

domingo, 21 de agosto de 2011

A ARTE DO SABER

Vivo em dúvidas sobre questões que me tocam profundamente o pensamento quando quero entender as nuances culturais da nossa contemporaneidade.
Essas dúvidas surgiram agora, 50 anos depois de eu ter descoberto o poder da arte na convivência dos meus interesses literários.
Descortinei durante esse meio século de existência os valores agregados a arte do saber, seus significados, suas ramificações e intenções históricas. Seus significantes em todos os processos criativos, suas interações no meio social e depois de tantas realizações, sinto-me, a cada investida nos parâmetros onde se delineiam o resultado de tantos anos de trabalho, mais perdido e mais ignorante.
Por mais tempo que eu passo refletindo sobre tudo isso, escrevendo e lendo, realizando arte no contraponto do exercício político e libertário, muitas respostas surgem e se desfazem em curtas leituras do pensamento escrito, desmanchando o que está estabelecido e não me deixando conseguir aprofundar em reflexões mais demoradas, fazendo assim surgir uma infinidade de respostas, às vezes vazias, outras vezes loucas, outras ortodoxas e acadêmicas, longas e curtas dicotomias, uma brigando com a outra, explodindo-me em paradoxos indecifráveis, sem conseguir, na minha cabeça, fechar o ciclo de tantas inquietações.
Assim pensando resolvi estabelecer, como o auxílio e a coordenação do raciocínio lógico de uns e com a metodologia de aprendizado de outros, algumas perguntas, moldadas em parâmetros estabelecidos por mim mesmo, para sentir quantas respostas poderiam ser dadas a elas.
Quero saber, com esse questionamento aos artistas, qual seria a resposta mais representativa de todas as verdades contida no longo percurso da arte e da criação, no seu curto espaço do tempo universal, ou melhor: qual seria a mentira que mais me aproximaria de todas as artes que coexistem no caos do saber desse mundo atual repleto de vazios e solidão.
Assim surgiram as sete perguntas capitais para meus amigos responderem. Perguntas estas onde espero encontrar nos artistas que se apresentaram algumas respostas que ultimamente necessito saber.
Vou apresentar aos leitores esse confronto de idéias e pensamentos começando com os quatro primeiros artistas que me mandaram suas respostas.
Mas o desafio continua aberto a todos. Creio que nesse primeiro momento consegui reunir quatro grandes nomes da arte brasileira.


Um dramaturgo – José Facury
Um escritor – Pedro Maciel
Um cineasta – Leonardo Esteves
Um poeta – Paulo Duarte


1 PERGUNTA:

- Você acha que o trabalho artístico que hoje se realiza em todo mundo tem algum valor?

RESPOSTAS:

Jose Facury - jfacury@globo.com

- A arte, sempre teve grande valor no mundo, seja para mudar os paradigmas, indispor-se e rebelar-se contra os autoritarismos revelando-os à luz das consciências, seja direta ou metaforicamente.
Pedro Maciel - pedro_maciel@uol.com.br

- A função da arte é dizer o indizível ou como muito bem diz Paul Klee, "a
arte torna visível o invisível". A arte tem sempre algum valor para quem a admira. A arte tem seu valor, seja em tempos de guerras ou de paz.
Leonardo Estevesleonardoesteves@terra.com.br

- Sim! Acho que todo trabalho tem algum valor. E toda arte tem também um valor. Mas há uma diferença entre esses valores. É preciso também entender que esses valores combinam em muitas instâncias. A arte necessita de um valor supérfluo, imediato, que está relacionado com custos e aquisições (e que é indispensável, vindo em escalas variadas), como todo trabalho. No entanto, a arte abraça a posteriori um outro valor, esse sim um valor imensurável e nada ordinário, completamente dependente da história e do tempo. Logo, sempre vai haver valor no trabalho artístico. Em algumas épocas pode-se sobressair o valor supérfluo, em outras, impera-se o valor, digamos, simbólico/ icônico. Ou seja, faz-se muito com pouco e também faz-se pouco com muito.
Paulo Duarte - pauloduarteguimaraes74@gmail.com

- 99,99% dos trabalhos precisam ficar muito bons para serem um lixo, apesar de 100% dos trabalhos terem algo a dizer. Os 99,99% nada mais são do que o reflexo da humanidade burra. Há séculos a arte é utilizada como meio, ferramenta de comunicação, dominação cultural, poder…, hoje as democracias do capital, é onde opera a indústria do comércio da morte, ou melhor, do entretenimento, ou melhor, da arte de modo absurdamente generalizado...

2 PERGUNTA: - Você crê ser possível mudar o mundo para melhor através da arte?


RESPOSTAS:

Jose Facury - Sem dúvida nenhuma, mesmo que a arte se evolua na contra mão da educação formal, pelo seu caráter instigador e sensitivo, até educar é melhor através da arte e seus processos criativos do que através do cartesianismo que distingue a relação ensino e aprendizagem.

Pedro Maciel - A arte não muda o mundo, mas muda quem faz ou quem a consome. O artista não pretende modificar a realidade ou o mundo, mas propor outra realidade ou um novo mundo. Gosto de citar John Cage, um dos pais da música minimalista que diz o seguinte:"Não tente melhorar o mundo, você só vai piorá-lo".

Leonardo Esteves - Não. Não creio. Acho a palavra mudança uma coisa muito forte e pouco precisa. Acho que as coisas tendem a se equalizar em geral, não mudar. O homem evolui, isso é fato. A arte é um reflexo dessa evolução. Talvez o reflexo mais fiel, pois extremamente pessoal e não generalista (como pesquisas de opinião, a atuação da imprensa ou relatos históricos e sua subjetividade impositiva). Acho muito mais expressivo e fidedigno uma obra como Les Demoiselles d´Avignon, que representa entre tantas coisas a passagem estilística para uma tendência cubista, inspirada na visita do Picasso a uma exposição de arte africana do que os relatos da construção da obra. Você vê ali no meio da tela a emergência dessa passagem. Agora, o que parece mais preci(o)so: ler em um livro que o Picasso ficou entusiasmado com a arte africana em uma exposição e iniciou o cubismo ou constatar essa explosão criativa em sua gênese inicial exposto na tela? Picasso talvez tenha mudado individualmente, mas o mundo não mudou, ele se equalizou e cooptou a mudança orquestrada dentro do Picasso através do quadro. Resumindo: pra mim, a arte não muda o mundo. A mudança só ocorre individualmente e operando na base da inconsciência Se você observa algo e o classifica como uma mudança, não mudou nada. Já o que você não se dá conta e logo não classifica... A (convencional) relevância da mudança solitária é a coletivização da descoberta, que está obviamente fora do alcance individual – o criador não tem controle sobre a obra ou do que vão fazer dela.
Paulo Duarte - Sim, a arte é o único viés possível para se falar com sinceridade sobre política hoje em dia, a história da humanidade de dominações, guerras, chacinas, através das artes. Fazer denuncia e cobrar que a lei seja cumprida para todos, inclusive alterando o estatuto da opressão, aparelhar o trabalho usando-o como bandeira política e outros absurdos devastadores.… Por outro lado a internet propiciou de 20 anos para agora uma articulação de comunicação fenomenal, possibilitando que ações antes pequenas e isoladas tomem novas proporções, vide Fome de Educação 1998 (Brasil), Voina 2008 (Rússia), Anonymous 2006 (mundo).

3 PERGUNTA: - Existe um conflito entre a arte tradicional e as novas ferramentas de criação que a tecnologia digital apresenta?


RESPOSTAS:

Jose Facury - O conflito é saudável porque é em prol das possíveis releituras e desdobramentos que se pode fazer das artes mais tradicionais. Uma tem servido a outra com distinção. Ainda este ano fiz uma leitura dramática do Santo Inquérito de Dias Gomes e a tecnologia digital foi inserida na forma tradicional da leitura, pontuando os climas dramáticos.

Pedro Maciel - Creio que a tecnologia digital só veio para facilitar. O momento atual da literatura brasileira é fascinante, já que vivemos numa época de alta
tecnologia. Pode-se dizer que a internet está para os nossos dias como a
invenção da prensa está para os tempos medievais. Os blogs, sites de
relacionamentos, twitter, entre outros canais de comunicação da internet, já
estão influenciando as novas gerações de escritores. Enganam-se os críticos
que afirmam que a nova geração não está lendo ou escrevendo. Eles estão
lendo e escrevendo mais do que as gerações passadas e também estão
revolucionando a língua.
Leonardo Esteves - Sim. Há uma característica sempre renovada da novidade no mundo digital. É preciso inovar intensamente, ainda que essa inovação seja feita previsivelmente dentro de uma escala fechada. O pior comentário (vindo tanto de fabricante de equipamento como de realizadores e produtores) é: “Tal câmera nova é excelente. Filmei tal coisa, não sei dizer a diferença entre aquilo e película”. Oras... é preciso entender que se a finalidade dessas inovações anuais incessantes é no final das contas se equiparar a película, invenção tradicional, centenária... é um retrocesso tamanho! É inovar, inovar, inovar, para no final querer parecer com aquele velho suporte que regeu as cinematografias por um século. Ou seja, recalque puro! Parece aquele cara que fala mal a vida toda de determinado sujeito porque no final das contas queria ser como ele. O filho que cresceu querendo se dissociar de seus pais para no final ser exatamente como eles e se acomodar nisso. Isso pra não dizer outro argumento sofrível que é: “Tinha determinado dinheiro e ia filmar tal coisa em película. Daí vi que ia ser muito mais barato filmar em digital”. Mas determinado projeto pedia que tipo de imagem? Tem coisa que não dá pra ser feita em digital. Tem coisa que não cabe de jeito nenhum em película... Só vejo o pessoal dizendo que filmar em digital é preciso pois filmar em película é muito caro... É um argumento recorrente. O que leva a um certo processo de exclusão (do próprio digital, se impondo como a alternativa mais fácil). Pra mim cinema nunca foi fácil. Pelo contrário, é o encontro imprevisível com o impossível. Não é pra ser fácil. Eu penso que o digital não veio substituir nada, veio somar outra forma de expressão. Sempre vai haver a película e sempre vai haver o digital. O que me parece enfraquecer a produção digital é essa recorrente mudança de tecnologia e os argumentos que a caracteriza. Quem melhor trabalhou esse embate a meu ver foi Godard, já há tempos e desde o Super VHS. Logo, só acredito no digital como ferramenta estética, não como recurso barateador. Assim como acredito também na película.
Paulo Duarte - Estar em contato ou não com novas tecnologias não interfere em nada no resultado final do trabalho em si, quem tem o que dizer faz filme até com caixa de papelão e assiste sozinho, e talvez nunca ninguém nunca veja. Se for arte para ser vista, então interfere talvez 0,35% no resultado final. A arte tradicional são os galeristas, as galerias, os colecionadores, produtores e os artistas prostituídos junto com os lobistas.

4 PERGUNTA: - Como romper as barreiras entre a arte do entretenimento e a arte do pensamento?


RESPOSTAS:

Jose Facury - Como fazedor artístico, não sou muito afeto à arte do entretenimento prefiro-a como espectador. Portanto, acho que quanto mais se consegue equilibrar os efeitos comunicativos entre o pensar e o entreter, melhor será a obra. É isso que eu persigo. Às vezes é bom sacrificar o pensamento intelectual pelo entretenimento, mas nunca descartá-lo.
Pedro Maciel - Outro dia disse a um publicitário, autor de livros, que gostaria de vender a mesma tiragem dele. Ele me disse que eu faço literatura e ele faz
entretenimento. Eu gostaria muito de jogar pérolas aos porcos, mas sei que
vivo num país em que quase ninguém lê. Creio que é muito saudável termos a
arte de entretenimento e a arte do pensamento. Gosto de ouvir música pop e,
ao mesmo tempo, admiro reler Homero ou Dante.
Leonardo Esteves - Descobrindo num processo involuntário, sem metas fixas e claramente definidas. Sem risco, não tem gozo. E é possível gozar no fracasso também.
Paulo Duarte - O entretenimento, a retomada do cinema brasileiro, as artes prostituídas que me fazem dormir são importantíssimas! O que seria da civilização moderna sem música de consultório de dentista ou sessão da tarde? por exemplo depois do almoço ver aquele filme que nunca vi até o final, só fleches… Poucos escolhem o caminho do incerto, do risco, das profundidades abissais, viscerais, complexas e indizíveis, esses fazem artesania, não artesanato, fazem filmes para sonhar, não para dormir ou pior, para ir embora. O Mercado prostituído tende a absorver produtos comercializáveis, normal para o sistema em que vivemos, os artistas estão satisfeitos, nunca reclamaram. A arte em geral é tida para adornar, decorar, compor, ilustrar algum discurso falido e decadente, no mínimo. A censura é a falta de acesso.


5 PERGUNTA: - Existe arte popular de vanguarda?


RESPOSTAS:

Jose Facury - A arte popular tem que estar onde o povo está e ela será de vanguarda quando ela transformar o pensar desse próprio povo. A arte de vanguarda que não pensa assim, nunca será popular.

Pedro Maciel - Há muitos exemplos de artistas populares que são de vanguarda. Shakespeare era extremamente popular. Escrevia para o povo de seu tempo e mudava as peças conforme a reação do público. Ele controlava a bilheteria do seu teatro erguido em Londres.
Leonardo Esteves - Sim. Não vejo porque essa bifurcação seja necessária. Não acho que um exclua o outro. E existem apropriações variadas dos dois elementos, é preciso ver isso também. E essa questão da vanguarda também é oscilante, enquanto o popular já é algo mais fechado e unívoco.
Paulo Duarte - Se vanguarda for algo “novo”, uma linguagem inédita, acredito que o povo de rua seja a vanguarda existente atualmente, os pichadores de São Paulo capital também, artistas inacessíveis e extremamente complexos em seus construtos trabalhados. Fazem a ligação entre os pólos, por isso marginais. A margem está dentro do rio e na terra ao mesmo tempo. A arte de ponta, na minha opinião, é aquele momento da vida da pessoa onde o cotidiano é o trabalho, e dai o resultado disso no que ela produz, mesmo que sua produção seja apenas a sua existência, que na realidade é tudo. O impossível mora no impossível, nos lugares improváveis, a arte de “vanguarda” está nos entre lugares, no não dito, no mal dito… no não institucionalizado, nunca numa aula de artes, pelo menos as que existem hoje.


6 PERGUNTA: - Como fazer um trabalhador, um operário, entender e admirar a arte do pensamento, dos sentimentos abstratos, da experimentação e da invenção, que ultrapassa, em muitas manifestações, o entendimento clássico dos eruditos?


RESPOSTAS:

Jose Facury - A pessoa sem formação inclinada à erudição não faz a aderência imediata aos clássicos porque esse tipo de obra não fez parte da sua cultura. Aos poucos, na continuidade da sua leitura, aderirá. É exatamente a mesma coisa quando os de formação estão assimilando o erudito, têm uma tendência a descartar a sua cultura de raiz. Só depois da vida acadêmica é que descobrem que um desafio de toadas do auto do bumba meu boi pode ser uma opereta tão interessante quanto uma área clássica.

Pedro Maciel - Só a educação, quero dizer, uma boa educação, pode informar e formar. Operários também podem admirar as suítes de Bach ou os móbiles de Calder. Eles não admiram a alta arte porque não têm acesso. Acho um absurdo quando leio nas entrelinhas de uma crítica que determinada obra de arte é apenas para a elite.
Leonardo Esteves - Bicho, primeiro você tem que perguntar, ele quer isso? E ainda que ele se disponha a “entender e admirar a arte do pensamento, dos sentimentos abstratos, da experimentação e da invenção”, no final das contas, ele vai chegar a mesma fruição que você e aplicação dessa fruição em seu entendimento geral, como você almeja? Essa é uma boa questão e ninguém me parece ter ido mais fundo do que Bordieu em sua “Distinção”. Esse livro especialmente me fascina e me parece um dos livros fundamentais para quem faz e quer
Paulo Duarte - A arte popular é transcendental, o folclore, o artesanato, são a energia psíquica do social, pulsão de vida e morte. É lindo, vivo e tudo de bom, assim como outras facetas que a arte expõe de outras formas, mesmo sem sabermos que é arte, pelo menos em 2011. Difícil fazer com que o outro goste de arte, e na realidade seria primal definir o que é arte. Mas se começarmos modificando a organização social do Estado já é o começo. Não existe futuro sem transformação na organização social, pois representativamente todos os temas serão distorcidos em alguma instancia representativa . Os eruditos de hoje são os alunos de ontem. Pra mim o maior erudito se chama João Paixão, morador de rua, 80 anos de idade, entidade personificada, professor. Para termos arte das camadas mais desfavorecidas, carentes da presença do Estado, é preciso dar livre acesso a todos as pessoas do planeta, acesso ao conhecimento.

7 PERGUNTA: - Você pode me citar três compositores, três escritores, três dramaturgos, três poetas, três cineastas, três artistas plásticos, vivos, revolucionários, que merecem ser citados?


RESPOSTAS:

Jose Facury - Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e João Bosco, João Ubaldo, José Louzeiro e Eduardo Galeano, Ariano Suassuna, Jô Bilac, Fernando Arrabal, Nauro Machado, Mano Melo e Chacal
Pedro Maciel - Compositor: Filipe Glass - Escritor: Gonçalo M. Tavares - Cineasta: Cao Guimarães - Poeta: Augusto de Campos - Artista plástico: Cildo Meirelles
Leonardo Esteves - A idéia de revolucionário me parece estar ficando tão deslocada quanto o conceito de nostalgia. São coisas que me parecem estar perdendo suas “definições mais apropriadas”. E por isso, eu pergunto pra você, José Sette, uma única e breve pergunta: o que é um revolucionário nos dias de hoje?
(Resposta: -Você e o seu cinema transgressor é obra de um ser que não te vê, mas tem a sua visão, pois o seu filme rompe com a estética do que de pior foi estabelecido por um sistema careta, ortodoxo e convencional. Isto visto hoje é uma revolução artística, isto é elevação da linguagem cinematográfica, isto é querer está a frente do seu tempo, isto, para mim, é ser um revolcionário).
Paulo Duarte - Compositores – não sei. Escritores muito menos. Poetas vivo não conheço nenhum. Poetisas – Elisa Lucinda, Flor Bela Espanca em memória. Cineastas – Jose Sette, Nilson Primitivo, Andre Sampaio. Artistas plásticos – João Paixão, Pichadores de São Paulo Capital.



sábado, 20 de agosto de 2011

LOUCURA POUCA É BOBAGEM

"BURACOS NEGROS PODEM DEVORAR A TERRA"

http://www.youtube.com/watch?v=C0OKz9XkrwI


ENTREVISTA COM O CIENTISTA OTTO E. RÖSSLER

QUE PERIGOS PODEM ACARRETAR O ACELERADOR DE PARTÍCULAS LHC (LARGE HADRON COLLIDER)?

PELA PRIMEIRA VEZ SE INCREMENTARÁ A ENERGIA POR UM FATOR DE OITO. É COMO SE SE AUMENTASSE A POTÊNCIA DE UM MICROSCÓPIO OITO VEZES MAIS DO QUE JAMAIS FOI FEITO, OU SE ACELERASSE UM MEIO DE TRANSPORTE A UMA VELOCIDADE OITO VEZES MAIOR. SEMPRE PODEM SURGIR IMPREVISTOS. E, NATURALMENTE, O MESMO OCORRE NESTE CASO. DEVER-SE-IA, POR EXEMPLO, INCREMENTAR A ENERGIA LENTAMENTE, PARA PODER PREVENIR O QUE OCORRE. AO CONTRÁRIO, PLANEJA-SE INCREMENTÁ-LA DE UM GOLPE SÓ, E ISTO É MUITO IMPRUDENTE.HÁ PERIGOS QUE NÃO FORAM EXCLUÍDOS E QUE, NO ENTANTO, NÃO SE DEVERIA DESCARTAR ANTES DE EMPREENDER ALGO ARRISCADO. NÃO SERIA TÃO DIFÍCIL EXCLUÍ-LOS CONVOCANDO PERITOS NA MATÉRIA E PEDINDO-LHES QUE REFUTASSEM OS CENÁRIOS DE RISCO POSTOS SOBRE A MESA. PORÉM ISTO NÃO FOI FEITO. RECUSANDO-SE, O CERN [CONSELHO EUROPEU DE PESQUISA NUCLEAR, EM GENEBRA] ESTÁ ATUANDO DE MANEIRA IRRACIONAL, INDIGNA DA CIÊNCIA, E QUE A DESACREDITA EM NÍVEL MUNDIAL. QUER DIZER, TRATA-SE DE UMA QUESTÃO EXCLUSIVAMENTE TEÓRICA. INFELIZMENTE, RELACIONADA COM A SOBREVIVÊNCIA DA HUMANIDADE.FALA-SE, NESTE CONTEXTO, DA "CRIAÇÃO" DE BURACOS NEGROS...VEMOS, SIM, O PERIGO DE BURACOS NEGROS. É PRECISAMENTE ISTO O QUE SE PODERIA PRODUZIR E, NA REALIDADE, SÃO ELES UM DOS OBJETIVOS DESSE EXPERIMENTO.

QUER DIZER QUE SE PODERIA PRODUZIR UM BURACO NEGRO QUE CRESCERIA, DEVORANDO TUDO AO SEU REDOR?

EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, SIM. SERIA UM MINIBURACO NEGRO, IMENSAMENTE PEQUENO. HÁ APENAS ALGUMAS TEORIAS SEGUNDO AS QUAIS ELES PODERIAM PRODUZIR-SE, E SÃO ESTAS QUE O CERN QUER COMPROVAR. ENTRETANTO, SE ESSES MINIBURACOS NEGROS SURGIREM – À RAZÃO DE UM POR SEGUNDO, QUE É O QUE SE ESPERA – E UM DELES PERMANECER NA TERRA, EM VEZ DE SE "EVAPORAR", A ÚNICA COISA QUE PODERIA FAZER É CRESCER. O CERN PENSA QUE SE ESFUMARÃO, MAS HÁ INDÍCIOS CONCRETOS DE QUE TAL PODERIA NÃO ACONTECER. E É ISTO O QUE SE DEVERIA ESCLARECER. CASO NÃO DESAPAREÇAM, DEVORARIAM A TERRA A PARTIR DO SEU INTERIOR, EM ALGUM MOMENTO, COM MAIOR OU MENOR VELOCIDADE.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A POLÍTICA CULTURAL BRASILEIRA

É UMA COMÉDIA OU É UM DRAMA ?


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MÚSICA

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Assista a banda experimental do músico Jose Vieira, autor de minhas trilhas cinematográficas, tocando, ou melhor, curtindo em uma tenda armada na praça da cidade de Juiz de Fora MG
http://www.youtube.com/watch?v=OrYjpBSqVRA




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NOTÍCIA

Colegas e amigos do Audiovisual,

Hoje, terça, dia 16 de agosto de 2011, ganhamos um novo folego para a produção Audiovisual do Brasil.

A PLC 116/2010: foi votada na integra e encaminhada para sanção presidencial.

"A aprovação do PLC 116 define regras claras e possibilita a entrada de novos atores no setor,
traz aportes financeiros indispensáveis para que o serviço chegue rapidamente a mais cidades",
diz o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Perolas do CONSERVADORISMO
LEMBREM-SE nas proximas eleições de NÃO VOTAR nos partidos
que votaram contra o setor audiovisual do Brasil: DEM, PSB, PR, PSDB.

O Senador Alvaro Dias trabalhou para manter os interesses das multinacionais.
O Senador Demostenes Torres (DEM) fala que a produção brasilera é lixo:
"O CONSUMIDOR VAI TER QUE ENGOLIR LIXO PRODUZIDO NO FUNDO DE QUINTAL !!!!"

SALDO POSITIVO
A aprovação na integra da PLC 116/2010 pode trazer um incremento superior a R$ 300 milhões anuais no mercado audiovisual nacional.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


NÃO PERCA NA PÁGINA DO KTV FILME COM JONH LENNON SÓ AGORA LIBERADO - IMPERDÍVEL

domingo, 14 de agosto de 2011

Videos e breve notícia

Estou com a minha mãe no hospital, por isso não estou postando no blog diariamente.

VIDEO APRESENTANDO HISTÓRICO DA JORNADA NA BAHIA QUE ACONTECE DESDE 1971 por Noilton Nunes

HTTP://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=YGIIFGUN0PK

SABE QUANDO VOCÊ ASSISTE ALGUMA COISA E DEPOIS ELA CONTINUA NA SUA CABEÇA POR MAIS ALGUM TEMPO? FOI ISSO QUE ACONTECEU DEPOIS QUE ASSISTI AO CURTA DE ANIMAÇÃO 'ALMA'. UMA ANIMAÇÃO SUPER BEM PRODUZIDA, COM UMA ÓTIMA QUALIDADE GRÁFICA E IDENTIDADE VISUAL BEM ORIGINAL, ALÉM DE APRESENTAR UM ENREDO BEM INTRIGANTE.

ALLAN DOS SANTOS
HTTP://TIREOTUBO.BLOGSPOT.COM/

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O NOVO CINEMA EM JUIZ DE FORA

Boicotem a FOX

Por Alberto Dines em 02/08/2011

A mídia internacional continua fixada na história dos grampos ilegais
para produzir manchetes sensacionalistas. É uma narrativa simples, fácil
de entender, tal como a dramaturgia dos filmes de ação.

Gente, o tablóide marrom, News of the World, já morreu. O
estrago que a Fox News está fazendo no mundo a partir dos EUA é muito
mais grave do que o esgoto político-midiático produzido pela News Corp.
no Reino Unido.

Murdoch não inventou o Tea Party, mas o seu canal de TV energizou-o a
tal ponto que sua primeira vítima é o Partido Republicano, a segunda
poderá ser o sistema democrático americano. Mostrar os perigos
representados pela ascensão do Tea Party dá trabalho, as referências são
mais sutis, mostrar as semelhanças da lindinha Sarah Palin que só mata
as alces do Alasca com as doutrinas do monstro de Oslo que mata os
compatriotas com balas dum-dum exige da grande mídia internacional uma
vocação didática e analítica que ela não tem. Ou só exibe em ocasiões
muito especiais.

É evidente que um jornal com a entonação do El País faz isso
em todas as edições, em todas as suas seções. Não se pode esperar o
mesmo da grande mídia brasileira, que erroneamente jogou-se aos pés da
musa da direita americana imaginando que defendia a livre iniciativa
contra as intervenções do Estado na economia.

Ação de autodefesa
Murdoch queria acabar com o "socialista" Barack Obama e o delirante
Tea Party estava ? disposição com o seu simplório arsenal de evocações
históricas contra a imposição de taxas pelos colonizadores britânicos.

O grande mafioso midiático não imaginou que o Tea Party ?" a pretexto de
lutar contra o Estado previdenciário ?" acabaria estressando
inexoravelmente a maior economia do mundo. Mesmo que o vergonhoso calote
seja evitado, o aparato institucional americano sofreu uma ruptura que
levará anos para ser reparada.

A insanidade do Tea Party impedindo os republicanos históricos de
autorizar a taxação das grandes fortunas vai produzir um bumerangue e
atingir em cheio o capitalismo americano. China, Europa e Japão serão
imediatamente afetados, em seguida virão os chamados emergentes ?" nós.

E o que fazer? Malhar Murdoch no Sábado de Aleluia de 2012? Melhor
boicotar a Fox News. Agora. Ela está no menu oferecido aos assinantes
brasileiros de TV por assinatura. O boicote é uma ação de autodefesa
legítima. O cidadão tem o direito de escolher o serviço que melhor lhe
convém.

Mortos e desempregados
A Fox News e o Tea Party representam um partido contrário aos nossos
interesses. Contrário aos interesses da humanidade, conforme o
demonstrou em Oslo o quisling Anders Breivik.

Os editores do caderno de TV do Estado de S.Paulo que
badalaram no domingo (31/7) a nova temporada do seriado "Modern Family"
da Fox deveriam ter pensado duas vezes antes de oferecer esta vantagem
à mafiosa corporação dos Murdoch.

Jornalistas não podem ser apáticos nem omissos: boicotar a Fox e o seu
odioso canal de notícias é um desagravo aos mortos em Oslo e aos que
serão desempregados nos próximos meses nos quatro cantos do mundo.





TERESÓPOLIS

Salve amigos
Vejam aí o curta De repente feito um mês após a tragédia ocorrida em
Teresópolis. A equipe acompanha Wanda Pinheiro a sua casa. Ela repentista
canta suas impressões nesse retorno ao bairro onde mais de 2 mil pessoas
perderam suas vidas. O caminho percorrido por Wanda era outrora repleto de
casas, num aconglomerado típico das favelas que se formam nas periferias.
Vejam que o caminho das águas levou todas as casas. Sobraram os antigos
sítios das margens e algumas poucas construções. Uma tragédia fruto da
inconsequência de governantes que trocam títulos de posse por votos!
Neste filme buscamos o sentido poético da humanidade que Wanda tão bem
consegue expressar.
Abaixo o link.
Abs
Regina Carmela
Documentarista
http://www.youtube.com/watch?v=MnM67CXs4Jk

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O CORAÇÂO DO SISTEMA CAPITALISTA VISTO POR UM AMERICANO DE VISÃO


"O dia em que a classe média foi assassinada”

Há 30 anos, nos EUA:
Michael Moore
5/8/2011

Amigos,
Volta e meia, alguém, com menos de 30 anos, me pergunta: "Quando começou
tudo isso, os EUA despencando ladeira abaixo?"

Dizem que ouviram falar de um tempo em que os trabalhadores norte-americanos
podiam sustentar a família e mandar os filhos à escola, só com o salário do
pai (nos estados da Califórnia e de New York, por exemplo, o ensino era
quase gratuito). Que quem quisesse salário decente, encontrava. Que as
pessoas só trabalhavam cinco dias por semana, oito horas por dia,
descansavam nos fins de semana e, no verão, tinham férias pagas. Que muitos
empregos eram protegidos por sindicatos, de empacotadores nas lojas ao
sujeito que pintava sua casa, o que significava que, por menos 'elevado' que
fosse o seu trabalho, você tinha garantia de aposentadoria, aumentos de
salário vez ou outra, seguro-saúde, e alguém que o defendia, se você fosse
desrespeitado ou tratado de modo injusto.

Os mais jovens ouviram falar desse tempo mítico - mas não é mito: esse tempo
existiu. E quando perguntam "Quando isso acabará?", sempre respondo: "O que
acabou, acabou há exatos 30 anos, dia 5/8/1981".

Naquele dia, há 30 anos, a Grande Finança e a direita norte-americana
decidiram "ir p'rás cabeças" de uma vez por todas e destruir os homens
comuns, toda a classe média. E enriquecerem eles mesmos, só eles, a valer.

E conseguiram.

Dia 5/8/1981, o presidente Ronald Reagan demitiu todos os empregados
sindicalizados do Sindicato dos Controladores de Tráfego Aéreo [orig. Air
Traffic Controllers Union, PATCO] que desobedeceram sua ordem para que
voltassem ao trabalho e declarou ilegal o sindicato deles. Estavam em greve
há apenas dois dias.

Foi gesto violento. Ninguém antes jamais se atrevera a tanto. E foi ainda
mais violento, porque o PATCO foi um dos três únicos sindicatos que haviam
apoiado a candidatura de Reagan à presidência! A decisão de Reagan disparou
uma onda de choque que atingiu todos os trabalhadores nos EUA. Se fez o que
fez contra sindicato que o apoiara, o que mais faria contra nós?

Reagan tivera o apoio de Wall Street nas eleições à Casa Branca e eles,
aliados aos cristãos de direita, queriam "reestruturar" os EUA e fazer
recuar a maré que aumentava desde o primeiro governo do presidente Franklin
D. Roosevelt - maré que visava a garantir melhores condições de vida aos
trabalhadores norte-americanos da classe média, as pessoas comuns. Os ricos
detestaram ser obrigados a pagar melhores salários e a garantir benefícios.
Mais ainda, odiavam ter de pagar impostos. E desprezavam os sindicatos. Os
cristãos de direita odiavam tudo que cheirasse a socialismo ou desse
qualquer sinal de estender a mão às minorias ou às mulheres.

Reagan prometeu pôr fim a tudo aquilo. Então, quando os controladores de
tráfego aéreo declararam-se em greve, ele aproveitou a ocasião. Ao demitir
todos e ao tornar ilegal seu sindicato, enviou mensagem clara e violenta:
acabava ali o tempo da vida decente e confortável para as pessoas comuns. Os
EUA, daquele dia em diante, passavam a ser governados do seguinte modo:

* Os super-ricos ganharão mais, mais, mais, cada vez mais dinheiro, e o
resto de vocês terão de satisfazer-se com as migalhas que sobrarem das mesas
deles.

* Todo mundo terá de trabalhar! Mãe, pai, adolescentes, todos! O pai, que
consiga um segundo emprego! Crianças, não percam a chave sobressalente! De
agora em diante, pai e mãe só chegarão em casa para metê-los na cama!

* 50 milhões de norte-americanos terão de viver sem seguro-saúde! Empresas
serviços de saúde: encarreguem-se, vocês mesmas, de decidir quem querem
atender e os que não serão atendidos.

* Sindicatos são a casa do demônio! Ninguém será sindicalizado! Gente comum
não precisa de advogado nem de defesa! Trabalhador tem de trabalhar. Calem o
bico e voltem à fábrica. Não, ninguém pode sair. O trabalho não está feito.
As crianças, em casa, que preparem o próprio jantar.

* Quer estudar? Na universidade? OK. Basta assinar as promissórias, e você
estará endividado pelos próximos 20 anos, preso a um banco, até ficar velho!

* Aumento? Que aumento? Volte ao trabalho e cale o bico!

E assim foi. Mas Reagan não conseguiria, sozinho, fazer tudo que fez em
1981. Contou com uma grande ajuda:

Da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais
(orig. American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations
- AFL-CIO [1])

A maior organização de sindicatos dos EUA disse aos trabalhadores que
furassem os piquetes da greve dos controladores de tráfego aéreo e voltassem
ao trabalho. E foi o que os empregados sindicalizados fizeram. Pilotos,
comissários de bordo, encarregados de bagagens, motoristas de empilhadeiras,
carregadores - todos furaram os piquetes e ajudaram a pôr fim àquela greve.
E todos os sindicalizados furaram todas as greves e continuaram a encher os
aviões de carreira.

Reagan e Wall Street quase nem acreditaram no que viram! Centenas de
milhares de trabalhadores, apoiando a demissão de outros trabalhadores,
sindicalizados como eles. Foi um Papai Noel em agosto, para as grandes
empresas dos EUA.

E foi o começo do fim. Reagan e os Republicanos sabiam que se safariam - e
safaram-se. Cortaram impostos dos ricos. Tornaram impossível organizar
sindicatos nos locais de trabalho. Eliminaram leis de segurança no trabalho.
Ignoraram leis antimonopólios e permitiram milhares de fusões entre
empresas, com muitas empresas vendidas para serem fechadas. As empresas
congelaram salários e ameaçaram os trabalhadores com a chantagem da
transferência de empresas e empregos para o exterior, caso não aceitassem
trabalhar por salários menores e sem garantias nem benefícios. E os
trabalhadores aceitaram trabalhar por menores salários... E mesmo assim as
empresas mudaram-se para o exterior, levando com elas os nossos empregos.

E em cada passo desse processo, a maioria dos norte-americanos também se
deixou levar. Praticamente não houve nem oposição nem resistência. As
"massas" não se levantaram nem defenderam seus empregos, suas casas, a
escola dos filhos (consideradas das melhores do mundo). Apenas aceitaram o
destino e curvaram-se.

Muitas vezes me pergunto o que teria acontecido se todos, simplesmente,
tivéssemos deixado de viajar de avião, ponto final, em 1981. E se todos os
sindicatos tivessem dito a Reagan "Devolva os empregos dos controladores, ou
fechamos o país: ninguém entra e ninguém sai." Sabem o que teria acontecido?
A elite corporativa e Reagan, seu moleque de recado, teriam afinado.

Mas não fizemos nada disso. E assim, pedaço a pedaço, peça a peça, ao longo
dos 30 anos seguintes, os que passaram pelo poder destruíram as pessoas
comuns nos EUA e, em troca, desgraçaram o futuro de, no mínimo, uma geração
de jovens norte-americanos. Os salários permaneceram estagnados durante 30
anos. Basta olhar as estatísticas e vê-se que todas as perdas de tudo que
hoje tanta falta nos faz começaram no início de 1981 (assista: cenas de meu
último filme, que ilustram isso).

Tudo começou no dia 5 de agosto, há 30 anos. Foi dos dias mais terríveis em
toda a história dos EUA. E deixamos que acontecesse. Sim, eles tinham o
dinheiro, a imprensa e os policiais. Mas nós éramos 200 milhões! Quem duvida
de que teríamos vencido, se nós, todos os 200 milhões de enganados,
ficássemos realmente furiosos e decidíssemos recuperar para nós o nosso
país, nossa vida, nosso trabalho, nossos fins de semana, nosso tempo para
educar e ver crescer nossos filhos?

Será que já desistimos, mesmo? O que estamos esperando? Esqueçam aqueles 20% que apóiam o Tea Party - ainda temos os outros 80%! Esse declínio, nossa
queda ladeira abaixo só parará quando exigirmos que pare. E não por
"abaixo-assinado" ou gorjeios pelo Twitter.

Temos de desligar a televisão e o computador e os videogames e sair às ruas
(como fez o pessoal de Wisconsin). Alguns de nós têm de candidatar-se às
prefeituras, ano que vem. Temos de exigir que os Democratas, ou criem
vergonha e parem de viver sustentados pelo dinheiro dos bancos e grandes
empresas - ou pulem fora e devolvam os postos para os quais foram eleitos
para fazer o que não estão fazendo.

Quando chega, chega, ok? O sonho comum da vida das pessoas comuns nos EUA
não renascerá por mágica ou milagre. O plano de Wall Street é claro e está
aí à vista de todos: os EUA serão nação dividida entre os Que-têm e os
Que-não-têm. Está bom, assim, prá vocês?

Vamos usar esse fim de semana para parar e pensar sobre os pequenos passos
que podemos dar para virar esse jogo, com os vizinhos, no trabalho, na
escola. Que melhor dia para começar que hoje, 30 anos depois?!

Fraternalmente,
[assina] Michael Moore
MMFlint@aol.com
MichaelMoore.com

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Poesia

SERTÃO
CANUDOS
PRÉ-HISTÓRIA
MEMÓRIA QUASE MORTA
POR DE SOL SOBRE BURITIS
NESTE FUNDO DE RAVINA
GUARDADO E QUASE SECRETO
CORRE O ENORME RIO
SERTANEJO E BALDIO
VELHO CHICO RIOBALDO
PROFUNDAMENTE BRASILEIRO
JÁ SÃO POUCOS OS QUE SE LEMBRAM
TALVEZ A ÚLTIMA GERAÇÃO
ASSIM CADA VIOLEIRO
CADA VELHO CONTADOR DE CASOS QUE MORRE
É COMO SE UMA BIBLIOTECA INTEIRA SE PERDESSE
NUM INCÊNDIO- ANTONIO DA MORTE – SANTO GUERREIRO DO SERTÃO
VEJO O LAGO DO SOBRADINHO COM ALGUNS TELHADOS
ELES APARECEM À FLOR DA ÁGUA
AO LADO DA CAPELA DA IGREJA
NO QUE SOBROU DA CIDADE
MARIA SANTÍSSIMA
RAINHA CELESTE
PELO VOSSO BENTO FILHO
LIVRAI-NOS DA PESTE



terça-feira, 9 de agosto de 2011

No Balanço das Horas

A Bolsa de Valores - O Coração do Capitalismo - A Ignorância Econômica


Não sou economista e nem afeto aos problemas complexos, matemáticos, que envolvem o conhecimento da matéria financeira, do ouro eletrônico, da falsa moeda, que hoje movimenta e domina a espécie humana no seu mundinho ficcional.

Sei que esse mundo especulativo de investidores (tão falado pela mídia) que brincam e jogam com a força de trabalho da grande maioria dos habitantes deste planeta, ultrapassou todo o limite suportável da irresponsabilidade e mortalmente descontrolado, está por ruir.

Medidas por vir, virão protelar o inevitável. Não há salvação para a mediocridade das elites que dominam o mercado financeiro, a moeda-papel, o esteio orgânico desse mundo.

A verdade é que a grande maioria das pessoas não especula na bolsa. Os bancos, depositário de toda riqueza, é que o fazem. Essas coisas acontecem sem ninguém saber e depois para recuperar o que foi perdido joga-se mais dinheiro no mercado, se aumenta os impostos crescendo o desemprego, explodindo a fome e a miséria e tudo isso para salvar a economia e a saúde financeira de um país; de um banco; da elite financeira de todas as classes, ou é só para salvar a família americana? Para salvar a elite burguesa da nova Roma, mais dinheiro. Só o dinheiro salva o dinheiro. A dívida do dinheiro para com o mundo é incalculável, não há maneira de saudá-la. Por isso, no fim desta ciranda, só resta o calote, o perdão ou a guerra.

O dinheiro por mais dinheiro é a meta, a mente, o vício. Imagine-se em empresas onde rolam especulações, caixinhas, documentos fraudulentos, políticos, lobistas, atores bem remunerados, prometendo sustentar a indústria e o mercado livre do divertimento, consumindo e afirmando que através dessa ciranda especulativa de valores variados, proporcionarão ao regime neoliberal globalizado trabalho e melhoria de vida a todos. Espetáculo de fantoche encenando a mentira com a falsidade cênica que a maioria já estava acostumada nas trapaças ilusórias do sistema, fatos noticiados e vendidos pela mídia. O grande imperador do norte. A terra escolhida. Canaã hoje se mostra frágil, decrépita e desacreditada.

O coração do capital está doente, vai sofrer um novo infarto, o mais poderoso de todos, talvez ele não resista, mas a elite continua esperando a máxima que depois da tempestade vem sempre a bonança e assim, consequentemente, novamente, eles possam continuar os seus banquetes pantagruélicos pelo simples prazer de jogar com o dinheiro e com o trabalho dos outros as suas famigeradas fichas na bolsa de valores do mundo.

Eu, na minha ignorância financeira, peço perdão, mas não consigo entender a existência do dinheiro; do mais rico e do mais pobre; de Caim e de Abel; dos árabes e dos judeus; do trabalho e da sua injusta remuneração; dos juros e do mercado financeiro; do paraíso especulativo; das fortunas girando nas redes eletrônicas; da fome de milhões no insaciável desperdício de poucos; da poluição da terra, do ar e das águas em nome do progresso; das guerras e massacres em nome da ganância; do trabalho escravo de grande parte do campesinato; da terra mal dividida; do abandono de milhões em proveito de poucos; das injustiças e limitações que a maioria é condenada; do lucro e das dívidas; da colônia e do império; de Roma ter consumido a Grécia e dos bárbaros terem destruído Roma; da história está escrita assim.

O caos social da recessão mundial mostra hoje suas garras. É hora de começar a pensar nas reformas gerais do sistema capitalista que será transformado pela necessidade da maioria. E assim, em um único dia, se permitirá a economia social reerguer-se e se restabelecer no mundo, onde lúcidas cabeças, mais humanistas e libertadoras, valorizem a inteligência e o saber, proporcionando, em suas diversidades regionais, a construção de um novo milênio, equilibradamente mais justo, social, educacional, cultural e universal, confraternizando todos os homens em uma única nave, a terra. Um só corpo unido em seu misterioso e eterno destino cósmico.


sábado, 6 de agosto de 2011

INFORMAÇÃO RELEVANTE

Tribos indígenas do amazonas ainda não contactadas.
http://vimeo.com/17852169

TV SENADO APRESENTA:A MOSTRA GLAUBER EM TEMPO
07/08 Documentário Redescobrindo o Brasil - Glauber Rocha, de Maria Maia, produzido pela TV Senado
14/08 Terra em Transe
21/08 Deus e o Diabo na Terra do Sol
28/08 O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro
SEMPRE ÀS 21H.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CULTURA POPULAR

Em Minas Gerais, nos recantos banhados pelo Rio São francisco, encontra-se ainda hoje manifestações culturais dignas de registro.


Esta primeira é própria de um guimarães ou de um joyce aquebrantado

PARA TIRAR QUEBRANTO

“SUZANA SUA MÃE LE TEVE, SUA MÃE LE há DE CRIÁ,
QUEM QUEBRANTO LE POIS, EU TIRO, COM UM, COM DOIS
COM TRES EI DE TIRÁ, O QUEBRANTO E MAU OLHADO,
E A MININA SUZANA FICA SARADO.
MINHA MAE NOSSA SENHORA,ARES QUENTE,ARES FRIO
ARES DE VENTO ARES DE ARRENEGO
EM NOME DO PAI, DA VIRGE, DE TODOS OS SANTO
QUE SE QUEBRE TODOS OS QUEBRANTO.”

E outras quizumbas...

PLANTAS(ERVAS) FORMA DE USO DOENÇA TRATADA

ANGICO CASCA (COZIDA NO LEITE, GRIPE, CATARRO,
INFUSÃO,XAROPE) ROQUIDÃO, TOSSE
TUBERCULOSE
BATATA DE TUBÉRCULO (INFUSÃO VERMES,PURGA,
PURGA FEITA COM CACHAÇA, MENSTRUAÇÃO
LEITE OU ÁGUA) ATRASADA,SÍFILIS
HEMORRÓIDES
CROATÁ “BANANINHAS QUE DÁ BARRIGA D’ÁGUA
NA FRUTA”-?
QUINA RAIZ - ? FEBRE,AFINAR
O SANGUE
QUINA AMARELA ENTRE CASCAS FERIDA,PURGAÇÃO
DO OUVIDO,MALÁRIA
UMBURANA DE SEMENTES SOCADAS INDIGESTÃO, DOR
CHEIRO INFUSÃO NAS TRIPAS
CASCA – CHÁ MORDIDA DE COBRA
QUEDA DE MULHER
GRÁVIDA,URTICARI
ENTRE CASCA-CHÁ PARTO DIFÍCIL
XAROPE DA ENTRE EXPECTORANTE
CASCA
CASCA MASTIGAR DOR DE CABEÇA
VASSOURINHA EMAGADO INFUSÃO CORRIMENTO
TOMAR EM JEJUM
MELÃO DE SÃO FRUTA – SUMO FÍGADO E BAÇO
CAETANO - MALÁRIA,SÍFILIS

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Arte do Saber
Sete perguntas para meus amigos responderem...

Mario Drumond Sergio Santeiro Gilberto Vasconcellos Pedro Maciel Luis Rosemberg Ricardo Miranda Emiliano Sette Jose Luiz Vieira Totonho Fabio Carvalho Isabel Lacerda Izabel Costa Paulo Duarte Tavinho Paes Leo Ribeiro e outros leitores que queiram respondê-las...

Você acha que o trabalho artístico que hoje se realiza em todo mundo tem algum valor?
Você pode me citar três compositores, três escritores, três dramaturgos, três poetas, três cineastas, três artistas plásticos, vivos, revolucionários, que merecem ser citados?
Você crê ser possível mudar o mundo para melhor através da arte?
Existe um conflito entre a arte tradicional e as novas ferramentas de criação que a tecnologia digital apresenta?
Como romper as barreiras entre a arte do entretenimento e a arte do pensamento?
Existe arte popular de vanguarda?
Como fazer um trabalhador, um operário, entender e admirar a arte do pensamento, dos sentimentos abstratos, da experimentação e da invenção, que ultrapassa, em muitas manifestações, o entendimento clássico dos eruditos?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

NOSSO CINEMA



O vídeo/filme “CONTRATEMPO” é uma singela homenagem ao genial “Film Socialism” de Godard que eu havia assistido um dia antes.

Depois de Godard, dois textos de dois cineastas, Geraldo Sarno e Silvio Tendler, que estão atentos as questões que afligem os artistas do audiovisual brasileiro.

É preciso discutir a linguagem do cinema e da arte em geral e os seus novos caminhos propostos pela história de um novo milênio tecnológico.
O texto abaixo, o primeiro, é do cineasta Geraldo Sarno e foi apresentado no Encontrode Documentaristas de Buenos Aires, ocorrido entre 06 e 09 de Julho 2011.

A LINGUAGEM DO CINEMA

(Para José Antônio Pinheiro)

Geraldo Sarno


1. Uma nova proposta de linguagem cinematográfica paira sobre nosso cinema. Em Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, São Paulo, Bahia uma nova geração de cineastas rompe com as formas construídas desde o início dos anos 60, rompe com as formas estabelecidas pela mídia a reboque de Hollywood e inaugura uma nova maneira de articular a linguagem cinematográfica. Creio que seu objetivo central é fazer o cinema pensar, fazer do cinema uma linguagem que pensa. Uma arte do pensar. Em um curioso livro intitulado Les grandes missions du cinéma, Jean Benoit-Lévy, no capítulo V dedicado ao cinema documentário, ao lembrar os vários termos sugeridos para nomear este novo gênero cinematográfico quando ele surgiu, comenta: "Alguns eram bastante sugestivos, tal como Think Films (films à penser – filmes para pensar), proposto por Bosley Crowther, em sua crônica do Times.


2. No Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels pode-se ler: " A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo terrestre. Tem de se fixar em toda parte, criar ligações em toda parte." E ainda: "Em lugar das velhas necessidades satisfeitas pelos produtos do país, surgem necessidades novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. Em lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais e nacionais, surgem um intercambio generalizado e uma dependência generalizada das nações entre si. E tal como na produção material, assim também na produção espiritual. Os produtos espirituais de cada uma das nações tornam-se bem comum. A unilateralidade e estreiteza nacional vai-se cada vez mais tornando impossível e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial". Este texto, publicado em 1848, uma descrição da dinâmica destrutiva e transformadora do capitalismo, em que "tudo que é sólido dissolve no ar", com mínimos retoques talvez pudesse servir-nos hoje para descrever a mídia atual. A mídia em si já é uma indústria, que produz sobretudo imagens e sons. Impalpáveis, dissolvidos no ar. Mas constitui-se numa rede, assim como os vasos sanguíneos de um corpo vivo. O sistema sanguíneo do capitalismo de hoje é a mídia. Ele precisa desse sistema complexo e universal de comunicação para existir e funcionar. A Imagem da mídia espelha a dinâmica da maquinaria global do capitalismo.


3. Como, através de imagens (imagens visuais e sonoras), sabendo que elaborar imagens é próprio da atividade artística, construir conceitos, que é o específico da filosofia, parece ser o objetivo principal dessa nova geração. Esse novo documentário abandona a postura onisciente do realizador, deixa de lado o discurso pronto (político, estético, ético) e aprofunda a vertente do documentário de investigação, de indagação sobre as coisas que acontecem no mundo, sobre a vida dos homens e da natureza. Como não pode estar seguro sobre o que vai encontrar e documentar, ao confrontar-se com o mundo dos homens e da natureza, termina por questionar-se a si mesmo, termina por indagar sobre os próprios meios de investigação, por indagar sobre a linguagem.


4. A TV brasileira afinal absorveu a linguagem tradicional do cinema hollywoodiano dos anos 50. Nas suas duas vertentes: a religiosa, que divulga as crenças evangélicas, pentecostais e, em menor grau, a católica, a espírita, a umbandista; e na vertente comercial. Parece dirigir-se agora para a conquista da grande massa ascendente dos miseráveis arrancados da pobreza ou da miséria absoluta. As políticas de inclusão, da mesma maneira que esta indústria do dízimo televisivo que a espelha, não visa transformar as relações sociais que perenizam a injustiça e a desigualdade. Visam desenvolver a economia de tal maneira que um contingente maior da população saia do marginalismo e venha incorporar-se ao sistema para gerar porcentagem maior de mais-valia.

5. Existe um cinema comercial, documentário e de ficção, dedicado essa massa em ascensão. Essa nova classe media ascendente que pode derrubar o barraco e construir a casa de alvenaria na favela, que começa a freqüentar o supermercado e a viajar de avião é a mesma que está sendo atraída aos shoppings para assistir filmes. E nesses filmes que lhe são dedicados vão encontrar os mesmos atores, a mesma dramaturgia, as mesmas histórias que se> acostumaram a ver na TV do antigo barraco. Enfim, sentem-se em casa no shopping outrora inalcançável dos ricos. É a glória! Se viam-se sendo curados dos males físicos e morais por pastores, médiuns e babalorixás nas telas pequenas da televisão, agora já aparecem como são, pretos, pobres e desdentados, nos programas nobres das grandes TVs comerciais, e brilham nos documentários multiplex dos shoppings; ou, quando ficção, têm suas vidas encenadas pelos atores famosos das novelas das 8.

6. Analisar o fenômeno cinematográfico hoje pelo ângulo da economia, supondo que a questão da linguagem é uma questão secundária, uma questão meramente escolar, quando se fala de criação, creio que é um erro grave. Desde os anos 60 alguns tentaram corrigir essa visão. Fracassaram. Creio que já não podemos retardar mais essa questão. Não sei se nos salvará de algum desastre iminente, mas talvez nos tornem mais conscientes dos problemas que as novas gerações devem enfrentar.

Estamos Condenados ao Retiro dos Artistas
Silvio Tendler


Nos rescaldos de 1968, lá pelo inicio dos anos 70 fui na casa de um francês eli num cartaz numa das paredes do apartamento uma frase atribuída a Marx: "AArte não vai desaparecer no nada, vai desaparecer no todo quando terminar adivisão ente criador e público”.Nunca mais encontrei essa frase em lugar nenhum e mesmo em tempos de google,não canso de procurar e não encontro. Provavelmente é um dos muitos*fakes *produzidos pelos movimentos de massa. O fato é que hoje estamos chegando lá através da popularização da criação disseminada pelos novos meios de comunicação pelas novas tecnologias.O casamento da internet com o telefone celular pode transformar qualquer umem artista com espaço e mídia. O novo paradigma da criação é o espaço queserá reservado aos profissionais da criação, dos que vivem de criar eproduzir cultura, nós.Como sobreviveremos profissionalmente, imprensados entre as pressõesconcentracionistas do "grande mercado" e a disseminação da produção, cadavez mais barata, menos especializada e nem por isso, menos eficaz?Está na hora dos cineastas começarem a discutir seu próprio destino.Estaremos precocemente condenados ao "Retiro dos Artistas", estamos vivendoa crônica de uma extinção anunciada, ou está mais do que na hora dediscutirmos novos espaços e novas formas de colocação de nossos filmes nessemundo voraz que se anuncia a olhos vistos?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

NOTÍCIAS

Lançamento do Documentário "Tela e Liberdade" com João Pedro Stédile
A Organização da 38ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia convida para exibição do filme "Tela e Liberdade" de Noilton Nunes, que será apresentado em homenagem ao Dia do Documentário e na abertura do Curso de Produção de Cinema - Jornada 38 anos A exibição será no dia 7 de agosto na Sala Walter da Silveira às 20h.

Músico não precisa de registro para exercer profissão, decide STF
FELIPE SELIGMANDE BRASÍLIA

Por unanimidade, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta segunda-feira (1º) que o músico não precisa ter registro em entidade de classe para exercer sua profissão.
Os ministros julgaram o caso de um músico de Santa Catarina que foi à Justiça ao alegar que, em seu Estado, ele só poderia atuar profissionalmente se fosse vinculado à Ordem de Músicos do Brasil.

Em diversos locais do Brasil, músicos são obrigados a apresentar documento de músico profissional -- a "carteirinha de músico" -- para poder se apresentar.

A decisão vale apenas para o caso específico, mas ficou decidido que os ministros poderão decidir sozinhos pedidos semelhantes que chegarem ao tribunal. Ou seja, se o registro continuar a ser cobrado, será revertido quando chegar no tribunal.

Para a ministra Ellen Gracie, relatora da ação, o registro em entidades só pode ser exigido quando o exercício da profissão sem controle representa um "risco social", "como no caso de médicos, engenheiros ou advogados", afirmou.

O colega Carlos Ayres Britto disse que não seria possível exigir esse registro pois a música é uma arte. Ricardo Lewandowski, por sua vez, chegou a dizer que seria o mesmo que exigir que os poetas fossem vinculados a uma Ordem Nacional da Poesia para que pudessem escrever.

Já o ministro Gilmar Mendes lembrou da decisão do próprio tribunal que julgou inconstitucional a necessidade de diploma para os jornalistas, por entender que tal exigência feria o princípio da liberdade de expressão.

Convidamos para o lançamento do livro
Olhos vesgos de Maquiavel

do escritor Fernando Cesário
13 de agosto de 2011 (sábado)
20 horas
Centro Cultural Humberto Mauro
Rua Coronel Vieira, 10
Cataguases - MG

Apple possui mais dinheiro que o governo dos Estados Unidos Geek
Companhia supera caixa do governo, teoricamente, mais rico do mundo.Por Andréia RegeniDe acordo com o que informam os sites Business Insider e The Atlantic, a companhia de Steve Jobs está melhor financeiramente do que o governo do próprio país.A última declaração diária do Tesouro dos Estados Unidos, o governo possuía em saldo de caixa operacional 73,8 bilhões de dólares nesta última quarta-feira, dia 27 de julho.Já de acordo com que informa um relatório da Apple, a empresa era dona de 76,2 bilhões de dólares em caixa e títulos negociáveis no final do mês de junho.Resumindo, o governo teoricamente mais rico do mundo perde para a Apple numa diferença bastante considerável