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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

NOSSO CINEMA



O vídeo/filme “CONTRATEMPO” é uma singela homenagem ao genial “Film Socialism” de Godard que eu havia assistido um dia antes.

Depois de Godard, dois textos de dois cineastas, Geraldo Sarno e Silvio Tendler, que estão atentos as questões que afligem os artistas do audiovisual brasileiro.

É preciso discutir a linguagem do cinema e da arte em geral e os seus novos caminhos propostos pela história de um novo milênio tecnológico.
O texto abaixo, o primeiro, é do cineasta Geraldo Sarno e foi apresentado no Encontrode Documentaristas de Buenos Aires, ocorrido entre 06 e 09 de Julho 2011.

A LINGUAGEM DO CINEMA

(Para José Antônio Pinheiro)

Geraldo Sarno


1. Uma nova proposta de linguagem cinematográfica paira sobre nosso cinema. Em Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, São Paulo, Bahia uma nova geração de cineastas rompe com as formas construídas desde o início dos anos 60, rompe com as formas estabelecidas pela mídia a reboque de Hollywood e inaugura uma nova maneira de articular a linguagem cinematográfica. Creio que seu objetivo central é fazer o cinema pensar, fazer do cinema uma linguagem que pensa. Uma arte do pensar. Em um curioso livro intitulado Les grandes missions du cinéma, Jean Benoit-Lévy, no capítulo V dedicado ao cinema documentário, ao lembrar os vários termos sugeridos para nomear este novo gênero cinematográfico quando ele surgiu, comenta: "Alguns eram bastante sugestivos, tal como Think Films (films à penser – filmes para pensar), proposto por Bosley Crowther, em sua crônica do Times.


2. No Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels pode-se ler: " A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo terrestre. Tem de se fixar em toda parte, criar ligações em toda parte." E ainda: "Em lugar das velhas necessidades satisfeitas pelos produtos do país, surgem necessidades novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. Em lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais e nacionais, surgem um intercambio generalizado e uma dependência generalizada das nações entre si. E tal como na produção material, assim também na produção espiritual. Os produtos espirituais de cada uma das nações tornam-se bem comum. A unilateralidade e estreiteza nacional vai-se cada vez mais tornando impossível e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial". Este texto, publicado em 1848, uma descrição da dinâmica destrutiva e transformadora do capitalismo, em que "tudo que é sólido dissolve no ar", com mínimos retoques talvez pudesse servir-nos hoje para descrever a mídia atual. A mídia em si já é uma indústria, que produz sobretudo imagens e sons. Impalpáveis, dissolvidos no ar. Mas constitui-se numa rede, assim como os vasos sanguíneos de um corpo vivo. O sistema sanguíneo do capitalismo de hoje é a mídia. Ele precisa desse sistema complexo e universal de comunicação para existir e funcionar. A Imagem da mídia espelha a dinâmica da maquinaria global do capitalismo.


3. Como, através de imagens (imagens visuais e sonoras), sabendo que elaborar imagens é próprio da atividade artística, construir conceitos, que é o específico da filosofia, parece ser o objetivo principal dessa nova geração. Esse novo documentário abandona a postura onisciente do realizador, deixa de lado o discurso pronto (político, estético, ético) e aprofunda a vertente do documentário de investigação, de indagação sobre as coisas que acontecem no mundo, sobre a vida dos homens e da natureza. Como não pode estar seguro sobre o que vai encontrar e documentar, ao confrontar-se com o mundo dos homens e da natureza, termina por questionar-se a si mesmo, termina por indagar sobre os próprios meios de investigação, por indagar sobre a linguagem.


4. A TV brasileira afinal absorveu a linguagem tradicional do cinema hollywoodiano dos anos 50. Nas suas duas vertentes: a religiosa, que divulga as crenças evangélicas, pentecostais e, em menor grau, a católica, a espírita, a umbandista; e na vertente comercial. Parece dirigir-se agora para a conquista da grande massa ascendente dos miseráveis arrancados da pobreza ou da miséria absoluta. As políticas de inclusão, da mesma maneira que esta indústria do dízimo televisivo que a espelha, não visa transformar as relações sociais que perenizam a injustiça e a desigualdade. Visam desenvolver a economia de tal maneira que um contingente maior da população saia do marginalismo e venha incorporar-se ao sistema para gerar porcentagem maior de mais-valia.

5. Existe um cinema comercial, documentário e de ficção, dedicado essa massa em ascensão. Essa nova classe media ascendente que pode derrubar o barraco e construir a casa de alvenaria na favela, que começa a freqüentar o supermercado e a viajar de avião é a mesma que está sendo atraída aos shoppings para assistir filmes. E nesses filmes que lhe são dedicados vão encontrar os mesmos atores, a mesma dramaturgia, as mesmas histórias que se> acostumaram a ver na TV do antigo barraco. Enfim, sentem-se em casa no shopping outrora inalcançável dos ricos. É a glória! Se viam-se sendo curados dos males físicos e morais por pastores, médiuns e babalorixás nas telas pequenas da televisão, agora já aparecem como são, pretos, pobres e desdentados, nos programas nobres das grandes TVs comerciais, e brilham nos documentários multiplex dos shoppings; ou, quando ficção, têm suas vidas encenadas pelos atores famosos das novelas das 8.

6. Analisar o fenômeno cinematográfico hoje pelo ângulo da economia, supondo que a questão da linguagem é uma questão secundária, uma questão meramente escolar, quando se fala de criação, creio que é um erro grave. Desde os anos 60 alguns tentaram corrigir essa visão. Fracassaram. Creio que já não podemos retardar mais essa questão. Não sei se nos salvará de algum desastre iminente, mas talvez nos tornem mais conscientes dos problemas que as novas gerações devem enfrentar.

Estamos Condenados ao Retiro dos Artistas
Silvio Tendler


Nos rescaldos de 1968, lá pelo inicio dos anos 70 fui na casa de um francês eli num cartaz numa das paredes do apartamento uma frase atribuída a Marx: "AArte não vai desaparecer no nada, vai desaparecer no todo quando terminar adivisão ente criador e público”.Nunca mais encontrei essa frase em lugar nenhum e mesmo em tempos de google,não canso de procurar e não encontro. Provavelmente é um dos muitos*fakes *produzidos pelos movimentos de massa. O fato é que hoje estamos chegando lá através da popularização da criação disseminada pelos novos meios de comunicação pelas novas tecnologias.O casamento da internet com o telefone celular pode transformar qualquer umem artista com espaço e mídia. O novo paradigma da criação é o espaço queserá reservado aos profissionais da criação, dos que vivem de criar eproduzir cultura, nós.Como sobreviveremos profissionalmente, imprensados entre as pressõesconcentracionistas do "grande mercado" e a disseminação da produção, cadavez mais barata, menos especializada e nem por isso, menos eficaz?Está na hora dos cineastas começarem a discutir seu próprio destino.Estaremos precocemente condenados ao "Retiro dos Artistas", estamos vivendoa crônica de uma extinção anunciada, ou está mais do que na hora dediscutirmos novos espaços e novas formas de colocação de nossos filmes nessemundo voraz que se anuncia a olhos vistos?

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