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segunda-feira, 28 de junho de 2010

TRILOGIA DA SEPARAçÃO

Jose Sette e Ofélia Torres
Aniversário.
Passado um ano e eu ainda não consegui arrumar uma editora que publicasse o meu livro Trilogia da Separação. Para comemorar a data publico um texto da minha amiga, a artista Ofélia Torres, que de pronto compreendeu a importância do mesmo.

TRILOGIA DA SEPARAÇÃO
HISTÓRIAS DE CINEMA

Sei que vou virar algumas noites lendo e relendo compulsivamente os originais do livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO, um texto raro e inqualificável: romance, roteiro, memórias do cinema brasileiro, do cineasta e da história de toda uma geração?

Tratando-se de um livro escrito por um cineasta, com vasta experiência e grande paixão pelo kynoma, era de se esperar um autor narrador na primeira pessoa. Mas, é exatamente o oposto que se observa com o espaço ocupado quase que inteiramente pelos personagens e onde o leitor/expectador envolve-se também diretamente na trama, compactuando-se, projetando-se e enredando-se com os personagens – foi o que aconteceu exatamente comigo em OS HOMENS QUE NÃO TIVE.

Para além do ritmo cinematográfico, o livro é uma trilogia policial: patético e com uma carga emocional profundamente humana em OS HOMENS QUE NÃO TIVE; beirando ao surrealismo em MEU MESTRE FEITICEIRO e introspectivo, quase um diálogo entre mudos, em O MAR E O TEMPO. Em todos os três, as imagens saltam no colo do leitor/expectador e deslizam em uma cadência rítmica de diálogos e silêncios.
Nunca havia lido um texto onde os diálogos fossem tão constantes e alternativos – passando diretamente de fatos concretos para a introspecção “que o mar já está chegando... quando você descobriu que tinha amor por mim?” e exigindo do leitor/expectador a mesma agilidade. Consolida-se a trama policial com o os crimes insolúveis de cada etapa da trilogia.

José Sette, apesar de você dizer que não importa o estilo, gostaria de frisar um aspecto muito interessante observado – o estilo não é linear e monótono- ao contrário ele é tri-dimensional – pessoas, paisagens e fenômenos da natureza se misturam “o sol agora amarelo de fim de tarde, ilumina o rosto da mulher que está sorrindo” “É noite. A lua brilha cheia no céu de poucas estrelas”.

A sutilidade com que você fala do bom, do excelente cinema, seja através do manuseio de câmeras pelo personagem Lourenço ,seja por referências veladas ou explícitas de grandes filmes e cineastas ,é outro aspecto atrativo do livro TRILOGIA DA
SEPARAÇÃO.

Finalmente, o testemunho e o posicionamento contra a violência e truculência policial militar, os auto-exílios, os medos, a indignação e a repulsa pela tortura e a falta de liberdade de ir, vir e expressar idéias-são aspectos que aparecem com bastante ênfase no livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO e que contribuem, sem dúvida, para a recuperação da memória sobre os anos de chumbo.

Concluindo, publica logo, com urgência, o livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO.

Ofélia de Lanna Sette Torres

Junho de 2009

domingo, 27 de junho de 2010

Poesia

Poema em prosa para a mais bonita entre todas as outras eternas cidades identidade dos contrários onde encontraremos o infinito quais duas paralelas dois paralelepípedos duas partes em um mesmo palito megalítico tão forte sinto novamente desejo de querer vê-la como adão a viu sem véu no paraíso deixando pra você simplesmente meus olhos meu farol amante noturno meu ser energético que quanto mais nesse dia hermético vê o mundo se fecha no real deletério do nada e pensa em morrer logo depois de ressuscitado sempre onde mais gostamos de estar sentados diferenciando o qualquer um do imbecil mortal longe de todos nós sozinho no mar que é mãe da vida constante movimento ir e vir no vento invento cria demoníaco minto mito mente por sua misteriosa harmonia no meu desejo onde te vejo ninfa querida erguida e tensa quando penso teso tenta tempo todo rezo quanto creio olhando posso ser um em um milhão de sacerdócio malho moco devoto do sacrifício que tanto me enobrece quando me quedo em você mulher de mil desejos que mexe com meus nervos transformando-me a vida no medo de torna-me sombra indizível de homem entre as montanhas e serras brasileiras do espinhaço da mucura sucupira e mantiqueira esses narigudos beberrões pré-históricos da gênese tornam-se mentirosos contumaz seres lendários monstros sedentários hão de saber de mim e de você procurando-nos no adeus da saudade do que foi meu e agora é seu mas nunca lhes pertenceu a nossa identidade.

sábado, 26 de junho de 2010

Vídeos que podem interessar

MOVIOLA DE SEIS PRATOS
(Edição em película 35mm)Tiozin do Rock é o primeiro vídeo onde eu, um cineasta sério, com desprendimento, canto e danço a letra anárquica Manékino, de minha autoria. É um rock mineiro caipira acompanhado pelo violão de José Luiz Vieira, autor da música. O clipe foi gravado em uma tarde, durante uma visita do estúdio móvel de José Luiz a sua mãe Raquel na cidade de Cabo Frio em 2009. Os amigos que depois assistiram ao vídeo diziam com exaltação: - Tem de ser exibido! Sensacional! Imperdível! Hoje eu também acho! Não tenho vergonha de dizê-lo e nem de mostrá-lo Fui convencido de colocá-lo no Youtube e ai está para seu divertimento o outro lado de um senhor de 62 anos. Sarava!

http://www.youtube.com/watch?v=bwAT1LBdeHE

Começa a ser descoberto o cinema de Jose Sette

http://www.youtube.com/watch?v=342ZEJ7L8IU

Isto é cinema! Loucura pouca é bobagem o que a imagem de um reflexo do sol, que foi transformado no inacreditável anjo de fogo que desceu do céu dos crentes, faz com a cabeça de alguns fanáticos.

http://www.youtube.com/watch?v=aVZa_yYJx5c&feature=fvw

Um refresco no genial show de percussão de Robertinho Silva. Depois Passarinho um esquete cômico com Rafael e Ana Paula. Finalizando a loja Pólo In The Box de Cabo Frio.

http://www.youtube.com/watch?v=6Bts0WE-hRU

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Loucura Pouca é Bobagem

Recebi um novo emeio da cidade de Varginha.

Será do alienígena que ofereceu um troféu para o cineasta?

Eis o emeio:
Os humanos são ratos em laboratório. Estão tentando enconder essa situação. Este pode ser o maior segredo da humanidade: A terra é um enorme cativeiro. Veja esse vídeo!
http://www.youtube.com/watch?v=7vq_OV1o5wo

quarta-feira, 23 de junho de 2010

texto

Reflexões sobre um desagravo.
Ando desagradando com os meus textos algumas pessoas mal informadas.
Conhecemos um homem pelo seu passado. Mas, às vezes, não precisamos de muito tempo de história para descobrir o quanto admiramos uma pessoa e o quanto ela merece as nossas considerações. É o nosso sonho de conhecimento, vividos em busca do saber, que faz com que todas as coisas, a cada dia que passa, tenham novos significados. Em todos esses anos dedicados ao aprender, ao entender, todos os insignificantes das minhas vocações futuras, nessa grande aventura que é a vida, vai se descobrindo, por ciclos, como construir a nossa história: primeiro, descobrindo os melhores amigos, os amigos verdadeiros, depois a primeira namorada e as desilusões do amor e só mais tarde a importância do saber na condução dessa maratona em busca da maturidade. Hoje se encerra o ciclo iniciado ainda na infância quando nossos pais nos deixavam, ainda assustados, na mão da professora amiga. Hoje, conhecendo o nosso passado, sabemos dimensionar, com mais clareza, os primeiros passos em busca do final desse ciclo que foi pleno de realizações. Escolher o caminho e não ter pressa de chegar... É assim que eu imagino a vida. Mas, em tudo isso, em todo esse caminhar, algumas pessoas se diferenciam das outras, umas agradam mais e outras menos - é muito difícil de acontecer de uma só pessoa agradar a tantos!

terça-feira, 22 de junho de 2010

texto

Bilhete a um cineasta canalha. Olha! Canalha. Você é um sujeito provocante, USA as palavras de uma forma estranha, tentando rebuscar no texto irônico a paranóia do nada... do nada ver, do que não está com nada, do que realmente nada interessa, pelo simples prazer de se achar o máximo... e nada mais. A quem interessa essa tal de filme comigo? Aos que fazem do cinema um filme barato? Aos que querem fazer um negocinho? Ou aos burrocratas da arte? - "Naquelas mãos só passaram papéis" - Volumes de documentos, papéis, fotografias, exigências, nada consta, folha corrida, etc., burrocracia - a cada dia aumenta mais, dificultando o artista, sempre que possível, fazer cinema. Agora mais uma? Se um empresário quer fazer uma filme sei lá o quê, tudo bem! Será um bom negócio? Sei lá! Mas prefeitura, erário, governo, erário, presidência, erário, criar regras do que pode, do que não pode. Só mais papéis, é demais, sou contra.
Mas, em verdade, nada disso me interessa. O que me interessa é a lei do curta, a criação dos cinemas digitais, a reformulação das leis de incentivo, a conquista das tevês públicas, a conquista das salas de exibição estrangeiras pelo cinema brasileiro e muitas coisas mais.
Eu não ia entrar nesse papo, mas, quando o canalha é pouco gentil com uma linda mulher, inteligente, sensível, produtora, excelente atriz mineira, que expressava com razão os seus justificados temores e estando sintonizado nas suas reflexões, me sinto no direito de entrar nessa batalha de letras com um único e irônico parágrafo.
O pensamento conservador, quando quer ser engraçado, fala por ironia o que não sabe explicar, simplesmente por se achar melhor e querer ridicularizar o outro, vende a sua arte e tal qual perfume barato jogado em uma rica penteadeira de cristal, bem cafona, lambuza o rosto refletindo o seu saber no contra mão da sua história.

domingo, 20 de junho de 2010

LANÇAMENTO

Recebi aqui no meu antro cultural o livro de poemas do meu amigo músico, compositor e performático baterista da cidade de Juiz de Fora. Setenta e uma páginas, sessenta e sete poemas do mais puro sarcasmo:
- “O poeta cai câncer da solidão”; “As cadelas lambem as suas partes / As mulheres querem que eu as lamba / Eu as cadelo”.
Quem poderá resistir à cabeça de um poeta louco a beira do caos?
Grande, Big Charles! Eu te saúdo.

sábado, 19 de junho de 2010

TEXTO


UM NOVO MUNDO

Todos sabem que sem o governo dar um aumento significativo nas verbas para promover uma reforma definitiva na educação e sem a defesa intransigente de nossa identidade cultural, o Brasil não vai muito além do que até hoje pode chegar.

Um país de cinqüenta milhões de famintos, outros tantos milhões de analfabetos, alguns milhões de alfabetizados mal informados e milhões de ignorantes deslumbrados, colonizados, escravos do sistema, frutos de uma classe média perdida e de uma elite que não quer saber de nada, formam uma corrente poderosa de predadores da arte, da educação e do saber, provocando e fazendo os nossos jovens, nós mesmos, todos nós, esquecermos totalmente do que é bom, do que é ser latino americano, brasileiro, sambista, cordial e solidário.

A nossa elite, educada nos melhores colégios, cada vez mais passa a privilegiar, admirar, enaltecer a cultura e a língua inglesa, consumindo doses diárias da pior droga do mercado para se diferenciar em uma sociedade onde o estrangeiro esperto sempre faz um bom negócio.

O nosso país está viciado no lixo midiático, estrangeiro ou não, propositalmente transmitido, dia e noite, pelos canais de comunicação que propositalmente, subliminarmente, inibem o sentimento natural de o homem querer sempre saber mais sobre sua identidade social e ter cada vez mais o direito ao conhecimento, ao lazer e a liberdade.

Estamos escravos de nós mesmos. Liberdade ou morte são propósitos defendidos há algumas centenas de anos passados por navegadores do grande rio das mulheres guerreiras. Muitas outras coisas estão acontecendo em sua volta sem que você possa ver. O brasileiro anda cego na história e precisa saber ver a existência em si de um novo mundo.

Vendo o país daqui do alto, pelas antenas do meu tempo, depois de viver quase toda uma vida dedicada ao audiovisual, ao estudo da poesia, da literatura e da arte, fico muito impressionado com os canais das televisões brasileiras que recebo em minha casa pela antena parabólica, e de como o lixo, o desperdício de energia, de tempo, são dissipados nas programações que ali são exibidas.

As antena parabólica, que se espalham por todo país, recebe 32 canais de tevê, alguns já digitalizados, 4 deles pertence as grandes redes nacionais e tem mais 6 canais para a TV pública e os outros 20 são distribuídos entre religiosos, comércio de bugigangas (TV shopping), e mais 2 (dois) que seriam rurais, mas só servem para transmitir leilão de gado. É inacreditável o desperdício em rede nacional de tempo e dinheiro com tanta boçalidade.

Um projeto de envergadura na educação do povo brasileiro, que realmente queira modificar o panorama cruel do saber no país, tem de passar pelos canais de televisão. São eles que cobrem, quase que completamente, essa população continental de telespectadores, de todas as classes sociais, transmitindo com qualidade digital, através de suas redes de afiliadas, para o Brasil de norte ao sul, para os milhões de espectadores que se ligam dia e noite na telinha vicejante e viciosa da televisão.

Antigamente era em preto e branco, com apenas 3 canais de transmissão de um sinal cheio de chuvisco e fantasmas, com pouco espectadores. Agora, com a digitalização das imagens e das transmissões, milhares de canais estarão disponíveis, com qualidade cinematográfica, cor perfeita, tela grande, som dolby e até o novo 3D. Evoluímos muito e em pouco tempo... Por que não aproveitamos e fazemos o mesmo com a educação, com o ensino e o saber cultural?

Como poderíamos mudar, reformar, esse sistema predatório em que se encontram as concessões públicas de rádio e tevê que os governos passados cederam aos grandes interesses das empresas de comunicação que comandam e/ou comandavam o grande circo eletrônico da mídia brasileira?

Utopia. Sinceramente eu não creio. Em fins da década de 90 eu, cineasta independente (do sistema), exibi, de graça, em rede nacional de tevês (Cultura SP; TVE RJ; TV Minas e associadas por todo Brasil) em horário nobre, o meu filme “O Rei do Samba” e soube, na antiga TVE - Rio, alguns dias depois, que se calculava em torno de 4 milhões de espectadores, em todo o Brasil, que tinham assistido ao filme. Eu acho que foram mais que isso, mas, enfim, foi um grande sucesso em um único dia de São Jorge guerreiro. Dia do samba, de Geraldo Pereira e Pixinguinha. Digo isso para mostrar a força de uma rede de televisão para o cinema brasileiro.

Não precisamos modificar nada do que ai esta colocado. Para começar só precisamos que o governo cedesse alguns canais de televisão, abertos nas parabólicas, para os artistas brasileiros. Na tevê a arte brasileira do cinema, da literatura, da música, do teatro, da poesia, das artes plásticas, da arte popular e dos artesões, estaria dando o primeiro passo em prol de uma revolução do ensino e do saber neste país.

Para que de fato tudo fosse modificado, conforme eu acredito, seria preciso dar alguns outros importantes passos em direção a uma educação transformadora e duradora.

Outro passo seria em direção a uma limpeza no lixo importado. No seu lugar: a arte brasileira. As tevês não poderiam mais exibir manifestações religiosas, por exemplo. No lugar desses cultos, aos deuses ocultos, programas culturais e educacionais.

Um passo definitivo e profundo seria levar a arte e os artistas brasileiros ao encontro dos jovens estudantes secundaristas e universitários de todo país. Concomitantemente ao retorno do projeto de Educação Integral do Professor Darcy Ribeiro.

E a partir de todas essas utópicas transformações nasceria as Universidades Livres do Brasil, um caldeirão de cultura e saber, onde um novo mundo, um novo homem, passaria a ser discutido e estudado.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ENTREVISTA

Estudo de figurino que será usado pela atriz do meu próximo filme a ser rodado em breve.

Entrevista dada por mim ao cineclubista Wesley Conrado por emeio.

1 – Como se faz um filme sem Roteiro?
- Quando fiz o filme Bandalheira Infernal, não tinha roteiro escrito, mas tinha muitas idéias na cabeça em relação a um simples mote da época de 1975 (vivíamos a ditadura militar): Presa e Predador. Perseguição e rebeldia. Inocente versus facínora. Vício ou virtude. Preto no branco. Um sujeito escroto, inconseqüente, moralista corre atrás de um jovem solitário alheio a sua realidade. A partir desse mote, fui construindo e depois dramatizando os personagens em cena. Armada a ação eu escrevia, com caneta, os diálogos-monólogos da cena. Escrevia entre uma e outra filmagem. Depois de uma semana de filmagem fui para a antiga moviola Prevost, 6 pratos, do Roberto Bataglim, uma ilha de edição das antigas nos fundos da casa-produtora situada na Álvaro Ramos, no bairro de Botafogo, onde eu e Rogério Sganzerla, passamos noites assistindo, rolo a rolo, plano a plano, em 35mm, indo e voltando, o Cidadão Kane do Orson Welles. Uma semana depois eu já estava editando, com meu amigo americano Robert Feinberg, os 100 minutos do copião filmado. Sincronizávamos o som direto e depois, o mais difícil, era cortar a imagem/som, colar com fita, plano a plano, para fazer ao final uma obra de 75 minutos. Talvez, hoje, eu nada cortaria e faria um filme de 100 minutos. O verdadeiro Cinema, como dizia Eisenstein, se faz na montagem. Montar o quebra cabeça pareceria difícil sem um roteiro! Demorou 90 dias, mas foi fácil!

2 – Você faria um filme sem roteiro nos dias de hoje?
- Se as circunstâncias me permitissem, é claro que faria. Em verdade os meus roteiros, que ficaram na gaveta e que ando publicando na internet, se filmados fosse, seriam de mil maneiras modificados na confecção das ações, nos sets, em cada uma das locações, nos diálogos, nas inflexões dos atores em cena, nos movimento de câmera, na iluminação, não há como imaginar o que pode acontecer durante as filmagens de um cinema que se quer livre e poético. O que eu poderia lhe dizer é que talvez o único trabalho que mantive a coerência do roteiro com o resultado final foi Amaxon.

3 – Quando você está criando uma história ou um personagem, você busca à priori criar algo essencialmente novo, sempre? Como você vê e trabalha com o lugar comum e os estereótipos no cinema?
- Se você prestar atenção vai ver que todos os meus filmes, com exceção de Amaxon e Bandalheira, contam fatos que me foram significativos, me emocionaram, na vida dos personagens que estavam esquecidos, ocultos na nossa história artística e cultural e que verdadeiramente existiram – Goeldi, Cendrars, P.W.Lund, Guarnieri, Nava, Nunes, Murilo, Geraldo Pereira, Tancredo, Krajcberg, Daibert, Augusto dos Anjos, etc., ou seja: nada de novo, apenas segredos nunca contados. A personagem Laura do Amaxon, embora velha, é nova na maneira que é retratada, no desenho da construção da sua personalidade, e nova como proposta de linguagem cinematográfica, um trabalho muito mais verbal que visual, pois foi capitado com vídeo e tratado em toda a sua edição como cinema. Não trabalho com um cinema realista, novelesco como clichê da coisa fácil, apegado ao cinemão de roliude, filho bastardo do entretenimento, querendo agradar/enganar o grande público. O meu cinema tenta mergulhar em mar mais profundo e por isso mais perigoso.

4 – Porque o cinema brasileiro se parece com um filho debilitado?
Depende de como ele é visto. A história do nosso cinema é única e sadia até o golpe militar de 64, ali se iniciou a devassa. Após a anistia e as eleições diretas, o que restava do bom cinema foi dizimado na era Color, perdemos a nossa identidade, hoje o cinema brasileiro retornou as telas, timidamente, com as nossas “grandes” produções que nada nos diz respeito, em termo de linguagem visual e menos ainda na estética do texto, importado do que pior faz o cinema americano que são hoje as novelas brasileiras. O cinema de arte no Brasil infelizmente está à míngua. Se existe não está sendo exibido e nem mais é produzido. Todos os jovens estão sendo robotizados por uma linguagem e uma estética que não é nossa. Massacre cultural. Tudo pela ignorância de todos. Já deveríamos ter nos reabilitados, mas para isso é preciso dar o primeiro passo, o mais difícil de todos, que é conquistar os nossos direitos a tela e a telinha, a exibição dos nossos filmes.

5 – 2010 está sendo um bom ano comercial para o cinema nacional com muitos lançamentos. Você foi ver “Chico Xavier”?
- Faz muito tempo que não vou ao cinema, a ultima vez fui assistir o último filme do Bressane com minha amiga Maria Gladys. Fui rever o velho amigo. Penso que ultimamente não tenho mais tempo a perder com coisas que não me dizem nada. Ando me divertindo lendo e escrevendo.

6 – No Brasil dezenas de longas são produzidos todos os anos, mas talvez nem 20% do que foi produzido chegue às salas comerciais e os outros 80% acabam entrando para o esquecimento. Porque acontece isso?
- Porque toda a rede de exibição está nas mãos das empresas estrangeiras e de seus representantes fantoches no Brasil, que nada sabem de arte, que não tem comprometimento com a cultura do cinema brasileiro, ainda mais sendo produções independentes, não importa se são criativos, mas é que falam de coisas que a eles não interessam divulgar, muito menos prestigiar. E como a imprensa esta comprometida, toda essa loucura, esse massacre cultural, cai no esquecimento.

7 - Quando você está trabalhando num filme, quais suas expectativas para ele? Você se vê em Cannes, Berlin, Oscar...?
- Quando eu consigo fazer um filme, ultimamente, ele é tão experimental, tão desprovido de verba, e tão pouco visto no meu país, que só mesmo um fato relevante fará ele reconhecido em qualquer festival de cinema aqui ou lá fora. Não faço o meu cinema com alguma perspectiva de público e prêmios. Faço o cinema que sei fazer e que gosto de experimentar. Faço cinema como escrevo poesia, como imagino um quadro, um conto, um sarro, uma mulher. Faço cinema porque sou impelido a fazê-lo por forças que não domino. Nunca ganhei dinheiro com os meus filmes, mesmo aqueles que foram premiados, mal foram exibidos, um absurdo histórico contra a minha arte e de muitos outros grandes artistas brasileiros da imagem que permanecem desconhecidos do público.

8 – Como vai ser a distribuição de “Amaxon”? Vai ter lançamento em dvd, passar na tv?
- Essa é a batalha que Hercules não desejaria ter. Tenho exibido o filme em pré-estréias aqui e ali. Vou tentar convertê-lo em sistema digital (Ran) para exibi-lo nos cinemas. Estou traduzindo os poéticos diálogos para o inglês. Quero exibi-lo ainda, para os amigos, em São Paulo e Belo Horizonte. Depois vem a tevê e no fim o DVD. Precisava de uma distribuidora que se interessasse..., mas essa figura de mercado, para esse tipo de cinema, não existe.

9 – Eu só consegui assistir aos filmes do chamado “Cinema Marginal Brasileiro” porque baixei esses filmes da Internet, de outra forma é muito difícil ter acesso a esses filmes. Como você vê o negócio dos “downloads” ilegais? Já pensou disponibilizar seus filmes para “download” no seu blog?
- Seja marginal, seja herói! Essa frase pautou o movimento concretista das artes plásticas, do final dos anos sessenta, liderado por Hélio Oiticica, compondo com o cinema, a poesia, o teatro, uma explosão criativa de contestação aos padrões estéticos da época. Não fiz parte desse movimento, meu primeiro filme Bandalheira é de 75, mas todos que dele participaram eram meus conhecidos. Posso dizer que deles sofri uma grande influência na maneira de ver a nossa realidade, mas não ao retratá-la. Sou marginalizado, mas não sou um marginal, muito menos um herói. Não sou contra nem a favor a pirataria. Por um lado eu acho que a arte pertence a todos, é universal, mas no mundo capitalista para você ter acesso a ela é preciso pagar um preço absurdo. O que fazer? A arte e a cultura do povo é um dever do estado que deve incentivá-la, preservá-la e difundi-la. Isso acontece?

10 – Antes de dirigir seu 1º longa você passou um tempo exilado na Europa. Ter ido para a Europa com 20 e poucos anos fez muita diferença na sua vida? O que você sugou da Europa naquela época?
- Não foi fácil deixar a família ,os amigos, o Brasil.Tinha 22 anos. Lá rodei o meu primeiro filme: um estudo cinematográfico de uma viagem a África do Norte que chamei de Misterius. Nunca finalizei o material. Usei trechos na edição do Amaxon. A Europa nada me deu a não ser o sentimento indescritível de estar livre, de viver com liberdade. Vi e revi alguns clássicos na cinemateca francesa. Visitei alguns museus. Conheci pessoas maravilhosas. Sobrevivi naquele mundo que com o passar dos dias tornava-se insuportável de saudades do Brasil.

11 – No seu blog tem o roteiro de 6 filmes que ainda não foram produzidos. Escrever um roteiro é o suficiente para acalmar as ansiedades e as angustias do artista?
- O roteiro é um escrito em forma cinematográfica de algum texto que já existia anteriormente. Meus filmes nascem de projetos literários exercitados por mim: romances, contos, poesias, escritas avulsas, crônicas, etc., compõem o baú da criação de onde jorra diariamente água limpa. Depois vou sujando-a com as fontes da escrita. Do texto romanceado surge o roteiro e finalmente o filme. Mas confesso que muitas vezes pensei em parar no escritor. Seria mais fácil, embora escrever é mais difícil do que fazer cinema.

12 – De onde vem o interesse por ciência e astrologia? Isso influencia sei trabalho?
- Sou um apaixonado pelo cosmo, pelas estrelas, galáxias, pelo universo e todo mistério nele contido. É preciso abstrair-se dos conceitos físicos da terra para abrir os olhos para o futuro. É quando eu observo o passado e entender que só o futuro é moderníssimo. Entender um é descortinar o outro. Amaxon é de certa maneira um filme futurista.

13 – Quais suas maiores influências nas artes, na vida, no cinema?
- Minha avó paterna Luisa, me apresentou a poesia e os instrumentos musicais, piano e bandolim, ela abriu-me, quando ainda era uma criança, o coração para arte. Ativou a minha sensibilidade criativa que foi sendo consolidada por minha avó materna, Emília, professora,que me ensinou a estudar... Posso arriscar uma audácia e dizer que quem mais me influenciou foi o eu mesmo, sim! Não me lembro nos filmes que fiz que dissesse: Vou rodar esse plano a maneira daquele plano do Mario Peixoto no seu extraordinário filme O Limite. Não me lembro de ter pensado em Glauber Rocha quando filmei Um Filme 100% Brazileiro e nem em Julio Bressane quando filmei o Goeldi, muito menos em Rogério Sganzerla quando fiz o Bandalheira, menos ainda em Humberto Mauro quando filmei Labirinto.Pensei em Hitchcock, mas o meu Vertigem, por mais que esforcei,não tem nada do Vertigo original.O cinema nasceu em mim. Brotou com vontade própria, rebelde e sem medo. Posso dizer que a literatura foi um fator preponderante no meu universo cinematográfico. Li o primeiro livro sobre cinema aos quinze anos, em 1963,
“Elementos de Cinestética” do Padre Guido Logger, um professor que conheci q uando mudei do Rio para Belo Horizonte. Editora AGIR. Precisa aprender o que era fazer um filme. Estava escrevendo uma história sobre Belo Horizonte que depois transformei em Roteiro com o título de Cidade Sem Mar. Aos 16 anos já queria fazer cinema. Outros livros que me influenciaram definitivamente em relação a linguagem cinematográfica que depois iria praticar, foi do gênio Serguei Eisenstein “Reflexões de um cineasta” Editora ZAHAR.Fechando o ciclo eu mergulhei no livro do Haroldo de Campos, “Ideograma” Editora CULTRIX e descobri as bases do meu enigmático trabalho nas artes do cinema cultura, experimental e poético que tanto eu queria fazer.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Você Sabia?

"Index Librorum Prohibitorum"
Em 1966 a "Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé" cessou as publicaçõesdo Index, contudo anunciou que o mesmo continuaria servindo como um "guia moral para lembrar aos fiéis que eles devem ter cuidado com escritos que podem ser perigosos para a fé e a moral." Atualmente a igreja, para declarar que um livro é perigoso para a fé, lança um admonitum (advertência). Segundo eles, apenas um guia moral, já sem o poder de lei eclesiástica que outrora teve o Index. Devemos lembrar que a origem do termo Lista Negra parte do Index Librorum Prohibitorum.Todavia, há setores dentro da igreja que possuem uma lei de censura ainda mais rígida.A Opus Dei controla toda a informação a que seus membros têm acesso. Os membros necessitam permissão dos seus diretores para ler um livro, mesmo que este seja necessário para formações escolares. Os diretores averiguam se o livro será adequado ou não mediante uma lista que poucos têm acesso. Esta lista é baseada na usada pela Igreja Católica até 1948. A Opus Dei continuou a utilizá-la e a atualizá-la periodicamente. Esta Base de Dados é chamada de Guia Bibliográfico. Infere-se que estão indexados mais de 60 mil livros, classificados do nível um ao seis, sendo o um leitura para toda a família e o seis proibido mesmo para o mais fervoroso fiel.

domingo, 13 de junho de 2010

Texto Poético

Deboche
Nada me fará voltar ao contrario. Andar de marcha ré? Dois passos à frente e três atrás?
Precisamos é de um cara nervoso. Salvemos a nobre arte, dos medíocres da sucessão, da nova geração. Precisamos de um novo Goulart, de um novo Glauber, de um novo Oswald, de um novo Villa, uma Pagu e varias Tarsilas, um só Garrincha e até de um desesperado Lacerda. Loucos para fazerem a história. Ser ou não ser eterno e sem fim? Precisamos é ser mais nacionalistas - Xiitas - trabalhistas - comunistas – mais realistas. A identidade cultural é premissa de quem o mal é memória. Feliz daquele que sabe sofrer... Eu hein, ê...! Brasil! Carnaval!Vale tudo - Telecotecotelecotecotecoteco - batia o Laurindo no tamborim com carinho acompanhando o samba popular. A cuíca lhe chamava atenção quando chorava o divino lá no morro de mangueira mugindo na mão do malandro cheio de ginga. Noel pagou a pinga de todos aqueles que não se calaram. Solimões, sem chorar, sem pensar, sem o desejo da terra, da vida, sem salvação, sem solução, no paraíso inverso das amazonas diabólicas, da escrita coniforme, extremamente musical, nasce maltrapilho o poeta tropical. Ele nos fala de acrópoles, cidade dos deuses, do Rio de Janeiro. Meu amor, eu juro por Vinícius, por Zeus, que te ligo no meu celular. Célula vida que te provocará o saber do seu eterno retorno, tarefa do super-homem, na memória de Brás Cuba. Sou filho único peguei o trem latino na central e voltei é esse o meu destino: três passos atrás e dois à frente, é normal não há no mundo para mim ninguém que agüente bolero igual ao que te dediquei. Tu sabes que sem você a vida não é nada para mim. Cabocla do Rio. Cabocla do Rio. Ê Cabocla! Meu barco amarrou, encalhou na areia fina. Cabocla tem compaixão deixa o barco sossegado me liberte desse amor. Dessa alegria to correndo. Ela passou por mim sem me ver. Foisembora os meus canarinhos! Todos os presentes, de tantos ausentes, vem me mostrar que o sertão não vai virar mar e o padre Vieira, que faz o sol se levantar, na língua afiada, na sanfona bem tocada e com sentimento de santo faz com que o rio seco se mire d’água, se fite no mar, aos prantos... Chega Severino! Não maltrate mais meu coração, com os meus desejos. Cabocla danada... Eta mambo bom! – Latina-américa que todo mundo quer cheirar, todo mundo quer dançar, todo mundo quer comer - A mulher é minha! Tira à mão e segura essa sua maldade! Olha o tiro, covarde! Quero ver quem vai tirar dessa história todo amor que passa pelo povo na estação do trem que fez do momento incerto a revolução. Quem vai tirar? Se pra uns ela traz alegria, pra outros ela deixa a saudade... Foguetes, tudo é festa! As bandas passam entre uma tristeza e outra. Outro rojão! Cantiga muito animada, é uma embolada. Sermão e canção. Almirante pelo mar engordou e ficou cheio do dinheiro. Uma cantiga mineira é toada sertaneja e é tão brasileira que se cantando a noite inteira não se vê o trem passar... É tarde e eu já vou indo o país é grande demais: “Sertão que geme chorando e sofre cantando como as rodas do engenho”. Guimarães, Diadorim e o diabo, lá vão indo, tocando meu gado, cansado de viajar. Ari nasceu em Ubá. Como as suas mangas saborosas, com saudade da índia que ninguém conheceu e ninguém comeu e ninguém sabe como tu vieste aqui parar. Cabocla cheirosa do meu Rio Grande: façamos uma nova revolução farroupilha na cama dançando o fandango... É que tu me quedas louco no rio impertinente que segue o norte e no sul o mar refletindo a lua de olho na gente se amando. Tu não sabes a sua responsabilidade, velho rio nacional, ao se misturar ao nordeste no velho Chico mineiro e lá, no deserto, o Saara nordestino. Ceará e João Pernambuco, Minas e São Paulo comandam a festa. E vai ser um tal de mexe–mexe tão bonito de se vê. Vou mexer até fazer a morena chorar. Depois se veste meu pedaço de ternura, minha terra esquecida, meu pouquinho de Brasil que vamos tomar um café. É como disse o gaúcho no estremo norte a contemplar a imensidão da pátria: - Brasil! Eu venho te seguindo no pasto e no rastro de suas botas, é por isso que eu também gosto de tudo que o velho gosta.

sábado, 12 de junho de 2010

Mais um filme esse ano

Medeia
Que me importa a Câmera lenta da distância. Longe se apaga as curvas por onde se encontra as paralelas. Platéias retilíneas. Pois cego me vejo entre as sombras de quem não se encontra e não deve ser encontrado pelos que não se afinam. Afirma-se nos moldes abstratos infindos do nada. Projeção. Cinema. Enfim desminta tudo que dizes de mim e de tudo. Só tu assim, vindo do tudo ao nada, do tudo de quem eu sou e só pensar um pouco mais na frente e muito mais na frente se quer estar, se quer sentir também a evolução tremenda da primeira onda seca de tudo que há em você é saber tudo que há no nada. E se vê perdido, aflito, com o que não se pode ver. Quem não se encontra, deve se encontrar, disse o mago francês L’Herbie, disse você, disse eu, disse alguém uma poesia, sobre alguma identidade. Expressionismo francês. Nenhum ser em cena. Necessidade alienígena talvez. Você! Talvez, vocês. Sim! Anjos costumas de nossa cultura faminta. Não mintas O que queres de mim? Nada mais te posso oferecer.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

EMEIOS PERTINENTES

LIBERDADE Praça da Liberdade BH/MG 1982 - Jose Sette, Tancredo Neves e o ator (Godartdiano) Ronaldo Brandão
nas filmagens do longa metragem em 16mm Liberdade

Entreguei ao Milton Temer, meu candidato ao senado no Rio de Janeiro, o meu filme político Liberdade, realizado em 1982, com o então candidato ao governo de Minas, Tancredo Neves. Dele recebi o simpático e sucinto emeio abaixo:

Sette, muito bom. Foi exibido em algum lugar? Já estou enviando para o Ziraldo, mineiro como vc, apontando o carequinha final como autor do filme. Muito obrigado e grande abraço, Milton Temer
PS- duro é ver que discurso do moderado Tancredo sobre democracia é mais radical do que o de muito radical de hoje
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Loucura pouca é bobagem

Do leitor Luiz André, de Varginha, vejam vocês, recebi esses links para o
Youtube. Será ele o misterioso chupa-cabra do sul de minas?

parte 01
http://www.youtube.com/watch?v=-V_1-_byhow&feature=channel


parte 02


http://www.youtube.com/watch?v=H7rze40cQHI


parte 03


http://www.youtube.com/watch?v=1mOgprdCc-U


parte 04


http://www.youtube.com/watch?v=TdVdWv50o2Y&feature=channel


parte 05


http://www.youtube.com/watch?v=zubOP62ySYw&feature=channel

quinta-feira, 10 de junho de 2010

MEMÓRIA

Bucha de Canhão
Neste janeiro de 1969 aconteceu o que todos previam: O Império mostrou suas garras e os ratos saem pelos esgotos trazendo notícias do calabouço e das câmaras de tortura. Neste país tudo é brincadeira. Comemora-se com um este ato fálico a marcha da vitoria em honra da burguesia irrequieta. - Não sei se é a festa que compõem o fato ou se é o fogo que constrói o fôlego. Mas é o ato de fato que retrata a fogo da sociedade folgazona e boçal que usurparam o poder e impediram as reformas que transformariam o país e as suas medíocres vidas. A fera das Américas está de volta, é o soldado da paz, é a filosofia do medo marcando o rosto nos homens do ditador presidente, matéria fósmea - Fodam-se todos! - Vamos a guerra pela fome endêmica dos incautos na terra sagrada de Santa Cruz. De norte a sul um só povo, uma mesma língua - doente - indigentes - pobre - um banquete de mendigos num bangue-bangue de canalhas. De uma nação rica e nobre só restou miséria, indignação, escravidão e fome. O pão e o circo nos pênaltis sofreram sôfregos soluços em jogo de bola - copa do mundo - identidade de um povo torturado pelo milagre. Pra frente – pra traz – Brasil! No carnaval, durante o jogo de futebol e Brasília desesperada. Fujo do terror, do poder, da propriedade nas origens das famílias e dos colonos nas fazendas de café... A agrária e todas outras reforma de base, do povo, transformaram-se no templo do nada, no pobre gaucho sonhador derrotado pela manhã fria do outono sem fim. Perdemos tudo sem um só tiro de morteiro, bucha de canhão na estupidez culta de um escritor preso à inteligência estúpida de um político canalha. A velha UDN, bossa nova e autofágica, deu-nos um golpe quase mortal e por tantos mortos, a lenda não se consumiu. Hoje, imprime-se a realidade. Pobre imprensa, todos os dias Correio da Manhã, o pais se esgota censurado no Jornais do Brasil - Inteligência militar – O Globo, a nova tribuna da imprensa - cultura de importação, tiro de canhão, muita boçalidade, luta de espada, ungida com muita merda, são as metas nacionais. O país só é grande com a bola no pé. No Rio da praia ou em São Paulo do café, Pelé faz o gol, joga-se o certo com a alegria do pobre, que dura pouco, forma-se um rei! - Um rei da vela – Americano alienígena e genial João Coltrane, equilibrando-se ao lado do seu AMOR SUPREMO, o ópio, no eterno silêncio entre duas notas. A música faz o resto. Viajando nos poemas dedicados à Alice, sua mulher, descobrirmos o paraíso no inferno. E o Brasil sai perdendo sempre. Cadê Pinxinguinha, Noel, Clementina, Mário Reis, Lupicínio, João do Rio, Machado, Oswald, Stradelli,, Villa, Humberto, Peixoto, Euclides, Silva Ramos, todos morreram. Os meus amigos enlouquecidos flutuam no ar da fumaça mágica e esquecem o mundo - viajando no cometa – ouvem Jimi, Joplim, Doors - Oh! Divino Augusto Conte - pálida dialética positivista da qual o general da banda é seguidor, revele-se agora! Mata-se a revolução, mas se salva o poeta - Atonin, Artaud, Baudelaire, Mallarmé – com eles posso escapar da prisão. Modernistas, artistas de então, vocês me fazem sofrer. Vou viver na França, lá ainda se pode respirar da revolução a liberdade.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Texto de Cabo Frio

Lula com uma camera de filmar 16mm e boné da abd


Direto de Um Pequeno Café no Bairro Boêmio de Cabo Frio

Cuidado amigos, eles querem voltar... Quem?... Os sábios do Sião... Ah, não! Eles não...
Obama não é diferente de Bush, nem Cristo é de João, de Buda a Maomé, são todos iguais em um só pensamento, em uma só idéia, em um só partido, em uma só fé. Podes crer!


Ontem no café do bate-papo político da cidade, (... nome do café), servido pela simpática morena (Edilene), a original representante da beleza do povo cabo-friense, eu mantive uma troca salutar de conhecimento e de cultura política, em uma rápida conversa com o representante do histórico PCB desta tão maltratada e belíssima região.

Seu nome é (Babade). Ele, um professor de história e eu, um cineasta apaixonado pelo povo brasileiro.

Nós falávamos sobre o governo petista do Senhor Luiz Inácio, o popular Lula, que teve a aprovação do seu governo pelo povo e eu dizia que ele foi o melhor Presidente que tivemos após a redemocratização do país. O professor (Babade), em toda a nossa conversa, não entendeu a minha fraca “defesa” do “sapo barbudo”. Quis dizê-lo que sei de todas as utopias da internacional, pré e pós-revolução e de todas as formas ortodoxas e muitas vezes confusas que o pensamento dialético revolucionário pode levar um sujeito despreparado ao caos político.

O lula é um despreparado? Sem dúvida! Tem um marketing pessoal invejável? Perfeito! Traiu os ideais que o elegeram? Sim, no todo. Não, no particular..., e assim a conversa fluía com a participação discreta do (Fábio...) quando ela foi abruptamente interrompida pela visita do Milton Temer, o meu candidato ao senado, e dissipou-se totalmente do que estávamos falando, com o cheque final do conhecimento, dado e exposto pelo professor (Babade), de forma definitiva, como é do seu jeito, na seguinte pergunta: Então Zé, diga para nós o que o governo Lula fez de original, de bom, que vale a pena ser lembrado... Fiquei em pânico e não sabia como respondê-lo, nada me vinha à memória que eu pudesse com firmeza narrar, com os fatos originais, todas as boas ações que justificassem em eu lhe ter dito que Lula foi o melhor presidente que tivemos desde o golpe militar de 1964.

A turma do PSOL, em clima de campanha, entra no bar. Na frente Milton Temer, irradiando alegria com seu sorriso franco. Ladeando-o estava Claudio Leitão, o futuro político do PSOL na região dos lagos e a partir daí o assunto nas mesas foi outro.

Antes de voltar para casa sentei-me a mesa de outro café com alguns empresários da cidade, que tinham também horror do Lula e de maneira nenhuma aprovavam o seu governo. Por isso elegeriam na próxima eleição o candidato tucano. Pensei comigo: alguma coisa está errada nesses dois encontros.

Cheguei a minha casa com o professor (Babade) na cabeça. Depois de pensar um pouco resolvi escrever um texto para lhe dar em mãos, terminando assim a minha parte naquela conversa, mas achei melhor, mais pertinente, colocar o assunto público descrito nas ondas finas deste blog de ponta escrito pelo amigo e professor Totonho e que é lido por um grande número de pessoas inteligentes que querem estar bem informadas das noticias e comentários que se passam nos meios políticos da cidade.

Então vamos lá meu amigo professor (Babade): - Você lembra-se do FHC, o farol, o sociólogo, o príncipe emplumado da USP, que vivia dizendo que o Lula não sabe disso, não entende daquilo, não tem competência para dirigir um país continental como o Brasil... Lembra? Hoje sabemos que FHC entende tanto de sociologia quanto o ex-governador de São Paulo, o candidato José Serra, entende de economia.

Lula, que não entende de sociologia, levou mais 50 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; ele, que não entende de economia, pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos.Lula, o “analfabeto”, como falou Caetano Veloso, não privatizou as estatais, como fez o FHC, mas as fortaleceu, tanto que hoje a Petrobrás é a 2º maior empresa de Petróleo do mundo e caminhando para ser a 1º.

Lula, o "analfabeto", *que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos.

Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para quase 300 dólares, e não quebrou a previdência como queria FHC. Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo.

Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis.

Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8.

Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu, mandou às favas a ALCA, encarou o tigre do norte e olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta.

Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo Tribunal Federal (Ministro Joaquim Barbosa), uma mulher no cargo de primeira ministra, e poderá fazê-la sua sucessora.

Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC, antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir. e hoje o PAC é um amortecedor da crise.

Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde de produção e vendas.

Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais, é respeitado e citado entre as pessoas mais influentes no mundo atual.

Lula, “que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu”, foi eleito o homem do ano de 2009, e é favorito para ganhar o Premio Nobel da Paz em 2010.

Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa, é ator da mudança geopolítica das Américas.

Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um “locutor de bravatas”, faz a história, mesmo com seus arremedos de governabilidade, que ele aprendeu com o FHC, um pouco antes de ser eleito para o primeiro mandato, em uma conversa de duas horas em algum aeroporto desse imenso país. Você se lembra?

Professor (Babade?), o Lula será lembrado não por ser um revolucionário marxista transformador, ele nem sabe o que é isso, mas por deixar ao povo brasileiro um grande legado, dentro e fora do Brasil - Que o povo, mesmo sendo ainda analfabeto, é inteligente, é brasileiro e pode governar esse imenso país melhor que a sua elite financeira e intelectual. Viva a utopia!

Ele é de longe o melhor que todos os outros. Digo com certeza que ele não é o meu governante ideal, pero não creio en las buxas, mas que las ai..., e deixo claro, que só creio na revolução, tenho pressa de mudanças.

Para terminar o Lula detém uma aprovação popular de quase 85% - 170.000.000 (cento e setenta milhões) de brasileiros. Isso pesa o bastante para derrubar muitos obstáculos e mitos para que se possa ter um avanço revolucionário socialista e libertário no Brasil e em toda América latina. E, veja você professor: os tucanos desenvolvimentistas querem ainda voltar. Tenha paciência! Vamos andar pra traz? O nosso povo não é bolinha de ping-pong, que vai e volta no troca-troca de seus governantes.

O Brasil urgentemente precisa avançar mais, muito mais!

Pense bem: vamos deixar o Lula fazer o seu avançar, com a Dilma, agora que me parece que ele entende de alguma coisa.



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Vejam, se ainda não viram, esses filmes na Internet:

BERLIM 87 (Panorama do Festival de Cinema onde se exibiu o Filme 100% Brazileiro)
htttp://vídeo.google.com/videoplay?docide=0151t46744966153190153

VER TIGEM I e II (Filmes sobre o artista plástico Arlindo Daibert)
http://video.google.com/videoplay?docid=9205822902690251625
http://video.google.com/videoplay?docid=1157734421108534123

Trailer AMAXON (Novo longa-metragem de Jose Sette)
http://video.google.com/videoplay?docid=-9048805111654506440

terça-feira, 8 de junho de 2010

Loucura Pouca é Bobagem

TEMOS VIDA ALÉM DA TERRA! Imagem produzida pela NASA mostra um lago na superfície de Titã, a lua de Saturno

A NASA (agência espacial norte-americana) anunciou que a missão Cassini encontrou evidências da existência de vida em Titã, uma das luas de Saturno. A superfície de Titã é fria demais para ter água em sua forma líquida, mas os cientistas sugerem que formas exóticas de vida poderiam existir nos lagos de metano ou etano líquidos, como a imagem acima mostra.
Em 2005, o pesquisador Chris McKay afirmou que alguns microorganismos poderiam viver respirando hidrogênio e se alimento da molécula orgânica acetileno, criando metano no processo. Isso explicaria a falta de acetileno em Titã e de hidrogênio na superfície em que esses espécimes estariam vivendo, dizem os cientistas da NASA.
"Nós sugerimos o consumo de hidrogênio porque é o gás óbvio para a vida em Titã, semelhante ao nosso consumo de oxigênio na Terra", afirmou McKay. "Se esses sinais foram mesmo de vida, seria excitante, sem dúvida, porque representaria uma segunda forma de vida independente daquela que é vista na Terra, baseada na água."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Novamente outra vez

Diálogo de loucos por cinema brasileiro nas nossas telinhas... ... PL29

- Desculpe-me Mauro. Eu não entendi. Meu muito conhecimento técnico e pouco das leis dá nisso. Edmar.
- Edmar, a culpa não é sua. Essa discussão tinha que estar na boca do povo. E é paradoxal, pois o assunto se trata de comunicação... e a comunicação tá nula. "Como em outros casos similares, a sociedade não toma conhecimento do assunto, até porque sequer é informada sobre o tema. O máximo que a sociedade soube, o foi através de uma propaganda enganosa da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) dirigida exclusivamente aos assinantes de suas operadoras associadas. O mais estranho, porém, é que aquela parcela politicamente mobilizada da sociedade, embora sabendo da existência dessa PL, até agora, salvo melhor juízo, também pouco se manifestou a respeito." A PL29 começou com o Borhausen (do DEM), pra evitar que as megabilionárias empresas de telefonia entrassem na Tv por assinatura. Mas virou outra coisa, com o tempo. Uma importante discussão sobre o FOMENTO DO AUDIOVISUAL. Ou seja, é nós na fita. Mas o embate é gigante, imaginem vocês. De um lado, os independentes (acho que nós, ne?), que querem mais produtos brasileiros nas tvs (inclusive, as por assinatura), do outro, as Globos da vida, com o poder político. E, com o poder econômico, as telecos. Um embate assim foi feito pra escolha do sistema de tv digital, com ganho da globo. Lula abriu as pernas, tirando o Miro Teixeira do ministério, e colocando o Helio Costa, um lobbie antigo da Globo. Helio Costa assumiu o ministério na época do escândalo do mensalão. E, na mesma semana, a Globo parou de falar mal do Lula. Logo em seguida, Helio Costa escolha o sistema japonês (deixando de lado anos e dinheiro de pesquisa do SBTVD - Sistema Brasileiro de TV Digital - num sei se é essa a sigla correta). A Globo, falida, mas com um poder político imenso (nossa comunicação é coronelista - basta ver as grandes famílias comunicadoras: Sarney, Calheiros, Magalhães, Barbalho...) . A Globo falida foi salva pelo BNDES. Bem, foi briga de cachorro grande e nós, pequenininhos e população, nem fomos consultados direito. Adoçaram nossas bocas com a TV Brasil, que hoje se viu ser um engodo. Não a toa quem manda nela é a Teresa Cruvinel e o Franklin Martins (globais). Mas antes, FHC já nos tinha sacaneado, com o sucateamento e privatização da Embratel, que era empresa de ponta e das mais fortes do mundo (graças a sana dos milicos). Hoje, a Embratel é da Telmex, do mexicano e cara mais rico do mundo. Era pra gente ter, segundo especialistas (inclusive do exterior), a força de 2 Petrobras (Petrobras e Embratel). Isso, sem contar na Vale... mas isso é outra história tenebrosa.
Bem, estou me alongando demais. Mas isso nos diz muito respeito. A PL 29, que foi criada pra privilegiar a Globo etc, tomou outro escopo. (e mais uma vez, a gente tá perdendo feio, pelo visto). A gente tem que lutar por mais espaço de produtos brasileiros independentes na tv e menos enlatados. Isso é mais trabalho para nós.
É uma vergonha que isso esteja sendo discutido na calada. Assim como foi com o sistema de transmissão digital de tv. Aliás, o sistema de transmissão digital de rádio foi uma covardia! Ganhou os coronéis.
- Valeu Mauro pela explicação sucinta e boa!

- Brigadim. Intonces, é ficarmos atentos com os desdobramentos.
...
- Eu não estou por dentro do assunto, mas sou da área de comunicação, e no meu entendimento a demanda de audiovisual será sempre em função da audiência. Lei nenhuma tem poder sobre isso. Se hoje temos um monte de porcaria e enlatados é pq o povo quer porcaria e enlatados. Elyson
...
- Fique por dentro: http://www.adnews.%20com.br/artigos/%20104197.html

domingo, 6 de junho de 2010

Vídeo que vale

Veja o rosto da mulher através de 500 anos de arte.

Imagina-se que o gênio renascentista Leonardo da Vinci, tenha trabalhado vários rostos, até criar a sua MONA LISA... Ainda hoje, não se tem conhecimento em quem ele se inspirou. Afinal,é uma obra de arte datada de 15/03/1506, sem os "truques" da informática... Este vídeo é uma obra digital. O lado interessante é que o autor se guiou pelos olhos que durante séculos foi o maior referencial de feminilidade de todos os grandes pintores. Os olhos estão perfeitamente sincronizados, ganhando vida em seus movimentos. O trabalho foi grande. Vídeo realizado no programa FantaMorph d'Abrosoft. Foi visto por mais de 5,3 milhões visitantes.

http://www.artgallery.lu/digitalart/women_in_art.html

Mais uma vez

É exaustivo ter que discutir novamente os rumos do cinema brasileiro.
Faço isso desde 1974 quando voltei à terra amada.
Nós cineastas gostamos de complicar o meio do campo.
É preciso ser forte, franco, objetivo e principalmente unidos.
É preciso compreender primeiro para depois desatar as amarras que são muitas.
Nem o passado trabalhista, nem a esquerda cautelosa petista, que está no poder, nem outros partidos “tutifruit”, nem à direita centrada peessedebista, nem os novos partidos da esquerda radical, nem todos aqueles que passaram pelo poder da república, compreenderam a importância do audiovisual para o povo brasileiro. É lamentável.
Não acho que com esse corpo político, seja qual for o governo, popular de esquerda, ou os velhos comunistas, tenham peito de começar a desatar os nós cegos de nossa identidade cultural cinematográfica.
São três os nós básicos deste sistema: produção, distribuição e exibição.
Todo o sistema está a serviço do cinema americano e de seus interesses fantasmas.
Esse mingau quente tem de ser comido pela beirada do prato, pouco a pouco, pra não queimar a boca.
Assim sendo, não adianta colocar os mesmos de sempre nos gabinetes gestores da eterna crise da indústria do audiovisual brasileiro. Nada mais farão! Pois estão comprometidos com o tal mercado fantasma – dizem que precisam sobreviver e manter o padrão de suas vidas, às vezes nababescas e sem sentido. Vivem indiretamente dos altos salários pagos pelo erário. Não digo que eles não merecem. Todos nós merecemos! É dureza fazer um bom filme.
Como podemos atravessar esse deserto?
O novo governo tem de incentivar toda a produção audiovisual a ele proposto? Sem dúvida, mas não da maneira que está sendo feito.
O novo governo tem que incentivar a distribuição? Não de todos os filmes, pois os filmes ditos de mercado devem ser incentivados pelo mercado.
O novo governo tem que também cuidar da exibição? É a mais importante de todas as tarefas de qualquer governo preocupado com a nossa identidade cultural. A exibição de todas os filmes brasileiros só será resolvidA quando se criar mil centros de cultura brasileira por todo país. Mas nada disso é possível sem a vontade política. Ou seja: É preciso ter dentro do novo governo alguém que possa, sem medo de perder o cargo, colocar com clareza o que é preciso fazer para levar ao povo brasileiro a todas suas manifestações culturais, através do audiovisual obrigatoriamente exibido e programado nos cinemas e nas televisões estatais, de cultura, de todo país. Não há uma única voz que possa clamar no deserto em que a política cultural desse país se transformou. Um vanguardista experiente, bom político, combativo e justo com os interesses de nossa nacionalidade, deve existir nesse mar de cineastas e sabichões em que se transformou o país. Existindo esse nome, essa voz, poderemos começar a comer, com alguma segurança, esse mingau quente chamado mercado cultural.
O resto é chover no molhado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Texto quase panfletário

Emiliano Zapata
UTOPIA

É estar diante de algo que corresponda ao que é esperado e que não se pode chegar.

Quando não se pode chegar, o melhor é anarquizar para transformar o nada em alguma coisa.

Eu, cineasta e artista brasileiro, desejo, neste momento de transformação política com novas eleições, expressar alguns pontos que acho importante sobre estas infindáveis discussões dos rumos que se pretende dar a todo processo do nosso desenvolvimento cultural.

Novamente a esperança do sonho perdido.

Sempre há alguma luz em um governo novo, principalmente vindo eleito de partidos compromissados com o socialismo e com a liberdade.

- Sabemos que precisamos reformar o país naquilo que ele não está funcionando bem, eles dizem. Eu digo: em verdade todo o país precisa de reformas urgentes.

Sou pessimista na defesa de nossa identidade cultural e de nossa soberania. Mas a cada eleição que passo, eu digo e eles negam sempre as mesmas coisas.

As barreiras e os interesses em comprar e vender o que não interessa, faz parte da política cultural da espoliação, do engano e da alienação. Da farsa e do medo. Do terror e do ódio. Não adianta ganhar e governar alicerçado em velhos paradigmas. De nada adianta, mudar o governo, se não se muda tudo com relação à defesa intransigente de nosso processo de afirmação cultural educacional.

Mudar é criar meios de difusão cultural. É educar. Conscientizar a todos, todos os dias, o tempo todo com um trabalho de difusão independente e direcionado para o Brasil conhecer o Brasil. Isto é que é política de cultura.

É só preciso abrir os nossos canais de comunicação com o povo brasileiro. O lixo imposto, exposto, é flagrante e contínuo, só um cego não vê.

Se esta luz reformadora, se ela existir ou eleita for, se ela souber que da força motriz do povo unido, esperançoso, embalando a vitória nos primeiros dias de um governo que se quer socialista, surge ali, naquele momento, à única oportunidade transformadora, o único instante onde tudo é possível...

Com uma canetada o Brasil pode ser redescoberto.

Para isso é preciso realizar, de pronto, a primeira e a mais importante de todas as reformas: a grande reforma da distribuição para o povo do acervo cultural brasileiro, apresentá-lo por todos os meios de comunicação, de exibição, de penetração, em todos os mais distantes rincões do país, valorizando o que foi perdido, o que nos fala mais alto, o que nos é oculto.

O acúmulo de erros na nossa massacrada cultura, estigmatizada nos governos passados, confundem hoje os possíveis acertos dos novos governantes.

Nossa identidade cultural vai mal. Nem o presidente Lula, que sem dúvida tentou avançar, e nem o seu ministro da cultura, em oito anos de poder, não conseguiram estancar a pressão corporativa contra a libertação da mídia do domínio estrangeiro comandadas por seus representantes da elite nacional.

É incrível: preocupada em perder parte de suas conquistas econômicas, a elite brasileira, ideologicamente comandada pelo pensamento neoliberal internacional e seus aliados paulistas, lança um candidato apadrinhado nacionalmente por poderosas redes de comunicação: televisão, rádio, revista, jornal e por grandes empresas privatizadas no governo do teórico e emplumado FHC.

Esse aglomerado de doutores procura, com um discurso desenvolvimentista, os meios agradar a classe média, esfomeada pela ganância financeira de sempre ter mais que o vizinho que anda com pressa para ascender-se socialmente, levando vantagem em tudo, querendo meter a mão na cumbuca, presa e corrompida por políticos e dondocas deslumbradas com os textos e a inteligência udenista, lacerdista, de um Arnaldo qualquer. Todos ali não passam de personagens do enredo novelesco e superficial de uma comédia americanizadas nos seus melhores sonhos de consumo.

Essa gente quer comprar Miami e as grandes produções da Broadway, sonha com os filmes de roliude, cantando e dançando no ritmo da moda, fazendo do teatro um besteirol, do cinema um urinol, da literatura um escárnio de mal dizer, do jornalismo uma vergonha, com seus desejos vinculados ao mais pífio interesses do homem.

Essa gente é conhecida e tem pressa em atingir os seus objetivos financeiros acumulativos, à custa de todo o país.

Essa gente sofre de uma metanóia degenerativa, vivem na eterna dúvida de estar bem entre deus e o diabo, pois cultua a ganância com bondade angelical.

Essa gente representa, na prática, o pensamento doentio de certos segmentos da política cultural brasileira. Juntos formam a elite nacional da inteligência oportunista. São forças ocultas de uma elite cultural devassa que a partir do golpe militar foram sempre os privilegiados e tentam, ainda, de todas as maneiras, transgredirem, boicotar e esconder, os possíveis avanços no que diz respeito à liberdade de criação da arte brasileira. São estas forças que este governo não tem conseguido conter. Essa gente ainda dirige, comanda e privilegia financeiramente a deslumbrada e globalizada classe artística conformista e conservadora desta cultura tropicalista dos anos de chumbo, conduzindo-a pelas rédeas curtas da ditadura capitalista do cala-boca ou tu morre de fome.

A turma paulista está querendo que o povo desacredite da competência da mineira Dilma; na impossibilidade da Marina governar; na pouca penetração dos pequenos partidos mais a esquerda; valendo-se para isso do Serra, antigo estudante da esquerda católica (será que isto existe?), tudo em prol do deslumbre de novamente comandar uma política oportunista, entreguista, colonizada, com os privilegiados de sempre, mais os saudosistas, de volta aos altos cargos de onde tentariam, de todas as maneiras, reverterem à pequena guinada socialista que o país deu aos trancos e barrancos, nestes últimos oito anos.

Vocês sabem o que aconteceu quando o então Ministro Gilberto Gil quis fazer uma tímida reforma na Ancine, transformando-a em uma agência forte e combativa na defesa do audiovisual brasileiro? Ele encarou o tigre de frente e pressionando, todos os dias, por entidades patronais, jornais, noticiários bombásticos, até comprometer todo governo com os meios de comunicações do país, quase pediu demissão, mas ficou e concordou.

Que pena, tempo perdido. O governo não via na conquista de nossa identidade cultural a prioridade das metas governamentais, ao ponto do Presidente não poder mais estancar as pressões da mídia, dos políticos e partidos lobistas, dos oportunistas, dos artistas mal informados e cortar o projeto na raiz, destruindo o sonho transformador e anulando a quase nada a pasta da cultura.

Com o pensamento na liberdade, no fazer das artes e no domínio cultural de uma poderosa indústria de comunicação, uma indústria do saber, de educação, reivindico em nome da arte, como programa político para todos os nossos candidatos, por todo Brasil, que seja o redescobrimento de nossa identidade cultural e artística e educacional a prioridade de um novo governo.


Defender a difusão de nossa cultura é preservar a nossa soberania e fortalecer os nossos direitos, é fazer justiça através da educação da grande maioria de nossa juventude. Jovens tão alienados, tão colonizados pela mídia consumista e passageira, que não possuem mais identidade – já não sabem mais quem é quem e caminham a passos largos para a massificação do lugar comum, do clichê - foi-se o paraíso tropical e perde-se o delírio de uma vida brasileira. Sem o sentido verdadeiro do existir, para uns, só restou o caos.

Entre todas as reformas necessárias esta é a mais difícil.

No Brasil e também em todo o mundo, a juventude realizadora de arte, que vem ocupando os espaços na disputada indústria da criação, se apresenta hoje como artistas criadores de peças comercialmente vendáveis, criadas e trabalhadas nos clichês desgastados, muitas vezes medíocres, de apelo fácil, de coisas vulgares, expostas pela arte da sobrevivência e da subserviência ao comum, ao chulo, ao que nada vale. Na arte de furtar, no vale-tudo da política globalizante imposta a cultura nacional, firmemente e finamente, comandada pelo poder financeiro internacional, quem sai perdendo é o Brasil.

Moldam o jovem ao seu gosto, do primário ao ensino superior, eliminando sua identidade, mascando chiclete, tomando coca, comendo Mac, controlam a sua mente, criando uma massa de seres de manobras que se satisfazem com o que de pior a vida pode oferecer. Depois que crescem e chegando ao poder, vivem no firme propósito de concretizar suas necessidades burguesas, colocam-se a frente dos interesses nacionais, negam tudo que é ético e nobre, promovem grandes negócios e prometem faturar milhões de dólares, pois os seus produtos, é claro, são os piores e de grande aceitação popular.

Não vejo, entre os jovens, a necessidade do novo, da busca do desconhecido, da renovação da linguagem criativa. Uma única estética domina suas cabeças: a estética de que é preciso vencer a qualquer custo, ser rico, ter sucesso e prestígio, nem que para isso seja preciso vender a alma ao demônio.

Só que a arte de se fazer e de se vender idéias é composta de muitos itens que se querem desconhecidos para essa juventude.

Nos países em que os governantes se preocupam e querem registrar e exibir a construção da identidade nacional de seu povo, representado na realização e exibição do seu patrimônio cultural, as leis de obrigatoriedade e os incentivos de apoio financeiros são ferramentas necessárias e fundamentais a existência dessa milenar indústria.

Por isso é preciso questionar os candidatos a presidência república quanto a sua proposta de governo em relação à arte brasileira e a liberdade de poder criar.

Eu, por exemplo, que não sou candidato a nada, sou a favor da criação dos Mil Centros de Cultura do Brasil (unindo a exibição e a introdução do conhecimento teórico e prático da arte nacional), manifestada em nosso cinema, teatro, música, poesia, literatura, artes plásticas, pois só assim poderemos transformar, para melhor, os jovens, que cada vez mais estão totalmente perdidos na fantasia de um mundo alienante, insensível, irreal, novelesco. Só a educação, através da arte, pode libertar essas cabeças saturadas do lixo estrangeiro e despertá-las para um mundo melhor de idéias.

Mil centros de cultura interligados. Mil salas de distribuição digital unindo a arte e a cultura brasileira do norte ao sul do país. Está ai o primeiro passo para se transformar o Brasil.

Sou a favor de que os recém criados “Pontos de Cultura”, em consonância com todos os segmentos municipal de cultura, estruturem-se em suas cidades, para que sejam os gestores deste revolucionário empreendimento, antes que forças ocultas, manipulando verbas altíssimas, passem a comandar o grande circo tecnológico digital que invadirá o país de norte a sul.

Esta grande rede de comunicação se for criada, não poderá ficar sem a orientação dos grandes artistas e seus representantes.

Não adianta brigar, dividir, reclamar, o que é preciso é acertar politicamente e estruturalmente o financiamento público para a exibição e apresentação ao grande público, em todos os canais de comunicação, a verdadeira arte brasileira representada pelo Cinema, Teatro, Literatura, Música, Artes-plásticas, Dança, Televisão, pela Arte Digital, pela Arte popular, pelo Folclore e por todos os saberes histórico-filosóficos do nosso povo.

Um presidente forte de oposição, eleito no primeiro turno, para mudar as regras do jogo, basta criar, com o apoio dos governos estaduais e municipais, por todo o país esses Centros de Estudo e Desenvolvimento da Identidade Brasileira, que teria o estatuto de uma universidade aberta, onde a juventude poderia em conversas, debates, aulas em salas de trabalho, exibições de vídeos, filmes, bate-papos, leitura e publicação de livros pela internet, apresentações de teatro, de música, poesia, artes plásticas, etc., com artistas convidados, renovar a nossa cultura e discutir o nosso país.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Notícia

Para quem ama Paris
Ofélia Torres esta em Paris com a sua arte brasileira de alma mineira.
Artista plástica há várias décadas, quando no Atelier MUNA em sua chácara MUSEU NATUREZA, próximo à cidade de São Paulo, executava obras em recyclarte e pinturas, sempre buscando uma ponte entre o imaginário, a poética, a música e o cotidiano, exorcizando as neuras da paulicéia desvairada. Paralelamente, possui quilômetros de visitas a exposições e museus pelo mundo afora, não dispensando, é claro, bons ensinamentos, leituras e papos sobre pinturas, pintores e visões poéticas. Registra aqui homenagem a dois amigos pintores Anatol Wladislaw e Walter Cavalheiro, ausências assimiladas. O nome artístico Ofélia Torres é homenagem ao seu avô Arnaldo Torres, que escapou de Portugal aos 13 anos como clandestino em um navio para não ser obrigado a fazer a guerra nas Áfricas. Objetor, de consciência avant garde, aqui se casou, teve dez filhos e viveu 84 anos. Com ele, Ofélia aprendeu que o mundo é um navio. E la nave va. Foi em suas estadas mais prolongadas em Paris (1968-1969; 1976-1984) para obtenção dos diplomas d'Etudes Approfondies (DEA) e Doctorat d' Etat ès Sciences Economiques respectivamente, que Oféllia passou a se interessar pelo mundo das artes. E, de fato, foi iniciada no curso livre de História da Arte realizado no Louvre. No período 1968-1969 teve o privilégio de realizar visitas comentadas pelo arquiteto Venek Primus ao Louvre e outros museus e exposições parisienses, estendendo-se, mais tarde, a mais visitas a museus e exposições em Roma, Florença, Veneza, Londres, Amsterdã, Berna, Madrid, Bruxelas e Atenas. Nas ilhas gregas pode contemplar esculturas e monumentos. Mas foi em Paris que começou a pintar os primeiros quadros. De volta ao Brasil, em 1984, após instalar o Atelier/Exposição MUNA, visitou várias vezes Nova York, Québec, México, e fez curta estada em Moscou e São Petersburgo, em 2002. Nos intervalos, em férias ou visitas técnicas, sempre voltava a Paris. Exerceu paralelamente atividades de magistério superior e consultoria em administração. Desligou-se dessas atividades profissionais, transferindo-se para Belo Horizonte em 1986 para dedicar-se exclusivamente às atividades em artes plásticas. Em 1976 ingressa na Maison Escola de Arte, Belo Horizonte, onde segue cursos semestrais sobre técnicas: Pintura e Desenho-Glauco Moraes; Possibilidades: Yara Tupinambá; Janhel e Sandra Bianchi, Pintura Espatulada: Jahnel; Paisagem: Yara Tupinambá; Figura Humana I e Figura Humana II: Sandra Bianchi; Escultura Belkiss Diniz. A partir de 2008 faz parte do Grupo Maison de artistas plásticos expositores, frequentando o atelier de atividades supervisionadas por Glauco Moraes e participando de exposições diversas. Ofélia Torres é membro fundador da Sociedade dos Amigos e Curadores da Fundação Oscar Araripe - Tiradentes - Minas Gerais.

Conheça melhor a arte de Ofélia Torres

A primeira biografia francesa de Godard

Luiz Carlos Merten - O Estado de S. Paulo
Godard, o diretor de 'Acossado'
PARIS - Jean-Luc Godard era a grande presença anunciada da mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes. No final, o próprio Godard cancelou sua ida à Croisette. Justificou a decisão apelando para um problema "grego" - e todo mundo ficou sem entender se era solidariedade pelo povo da Grécia, que vive seu inferno econômico. Godard talvez não tenha ido, simplesmente por estar insatisfeito com seu filme. Está na imprensa francesa: ele remonta atualmente a obra que mostrou em Cannes, Film Socialisme, com Daniel Cohn-Bendit.
Há também esse filme sobre Godard e Truffaut, Les Deux de La Vague (no original), que estreia amanhã no Br as il. E, ainda, a monumental biografia de Godard, por Antoine de Baecque, que saiu agora na França pela editora Gr as set & F as quelle ( 25). São 935 págin as . Na capa, o nome do diretor dividido em du as linh as : God e Ard, de certo reminiscência do God-Art de Andy Warhol.
E não se trata de "uma" biografia. É "La Biographie", a primeira de Godard em língua francesa. Saíram du as em in gl ês - por Richard Brody e Colm McCabe -, ambas desautorizadas pelo biografado. Godard também não gostou da biografia de Antoine de Baecque, m as já anunciou que não vai fazer nada para impedir sua circulação. Numa entrevista concedida à revista Les Inrockuptibles, confessa que "percorreu", não leu, o livro, e se aborreceu por sua companheira, Anne-Marie Miéville. "Existe muita coisa falsa (no livro)", diz Godard. E ele também se aborreceu porque integrantes de sua família colaboraram com Baecque, cedendo documentos. Sentiu-se traído.
Aproveitando a estreia de Le Deux de La Vague - e a entrevista a Les Inrockuptibles -, Godard pode ter começado sob o signo de Truffaut, que lhe forneceu a história de Acossado, m as François nunca o perdoou por haver dito, certa vez, que considerava seus filmes nulos. Truffaut sofria, segundo Godard, porque não podia dizer a mesma coisa, que os filmes de Jean-Luc eram nulos. Ele realmente considerava os filmes de Truffaut nulos? "Não mais do que os de Claude (Chabrol)." E fustiga: "Não eram os filmes com os quais sonhávamos (ao iniciar a vague)."
Baecque conta, na introdução, que a biografia de Godard era a tarefa insana que ele prometia a si mesmo, um dia, encarar. Co-autor, com Serge Toubiana, da biografia do outro da "onda" - François Truffaut -, ele explica seu trabalho "jornalístico". Baecque não se encontrou com Godard para o livro. Pesquisou toneladas de textos, análises e entrevist as , às quais somou hor as de entrevistas com familiares e colaboradores. O cinéfilo deve se lembrar que Truffaut foi salvo do reformatório por seu amor pelo cinema (e a dedicação de André Bazin). O garoto Godard roubava.
Antes, é bom falar da família. O ramo paterno, Godard, era pobre (e suíço). O materno, Monod, pertencia à alta burguesia francesa. O avô foi amigo de Paul Valèry e executor do testamento do poeta . Garoto, sem dinheiro, Jean-Luc se apropriou de itens - livros - do acervo de Valèry, que repassou a colecionadores. Descoberto, virou o pária da família e arrastou consigo o pai. Separado da mãe de Godard, ele foi proibido - com o filho - de ir ao enterro, quando ela morreu em consequência de um acidente (caiu e bateu com a cabeça). Quando começou a escrever em Cahiers du Cinema, Godard também as saltou o caixa da revista.
Guevara. Ele sempre contestou a propriedade, a intelectual, inclusive. Gosta de dizer que não existe direito de autor - um autor tem somente obrigações. Film Socialisme surge para resgatar a Grécia de sua crise. Filosofia, democracia, tragédia, tudo veio de lá. Se fosse para pagar royalties, o país estaria salvo. Muito jovem, Godard viajou pela América Latina, fazendo - mais ou menos - o mesmo percurso de Ernesto Guevara, antes de virar o Che. Com a diferença de que começou pelos EUA (Nova York, em 1949). Esteve no Peru, no Chile. Hospedou-se numa pensão em Copacabana. A confrontação com a miséria latina foi decisiva em sua formação. Não foi um bom estudante. E era suicida. Eric Rohmer conta que ele dava de cabeça contra muros e paredes (literalmente).
As mulheres de Godard. A relação com Anna Karina, celebrada em tantos filmes que fazem parte da história do cinema, teve momentos sinistros. Viveram às turr as , tentaram (ambos) se matar. Ele demitiu Isabelle Adjani e fez de Maruscha Detmers a sua Carmem. Descobriu Myriam Roussel durante a filmagem de Passion, em 1982. Escreveu para ela roteiro inspirado na relação de Freud com Dora, sua primeira paciente. Depois, outro sobre incesto. Finalmente, fez Je Vous Salue, Marie, que produziu escândalo.
A vida íntima, familiar e afetiva é um dos eixos do livro. O outro trata do artista. Um revolucionário do cinema como Godard dificilmente poderia reunir a unanimidade da crítica. Viver a Vida e O Desprezo, talvez os melhores filmes do autor, foram mal recebidos. Baecque enumera f as es (da vida e da carreira) - disseca o Godard militante do grupo Dziga Vertov. Uma vida como a de Godard não poderia ser resumida. E o homem é um mito. Antoine de Baecque conseguiu o mais difícil. Dar conta dessa complexidade - e não é que respeite o mito, m as Godard sai maior de seu livro.