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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Esboços para um roteiro de cinema

                          TRAGÉDIA BRASILEIRA
Manuel Bandeira
(19 de abril de 1886 – 13 de outubro de 1968)

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
TEATRO MARÍLIA BH/MG
                                                         TRAGÉDIA MINEIRA (1966)                                                                   
Esta foi a primeira vez que li o poeta. Adoro esse poema que segue abaixo - não sei o seu nome, mas é do mestre Manuel Bandeira, disso eu ainda tenho certeza - ouvi o seu canto pela primeira vez na voz potente do ator Paulo Augusto, na peça-colagem escrita por Marco Antônio Menezes “Não Poesia Para”, que foi apresentada também pelo grande ator (que trabalhou no meu filme interpretando Peter W.Lund o famoso paleontólogo dinamarquês de Lagoa Santa) José Aurélio Vieira. Sensacional! Ali estava a vanguarda do teatro mineiro da minha adolescência.
Paulo Augusto:
Entre brumas, ao longo, surge a aurora.
   O hialino orvalho aos poucos se evapora,
   Agoniza o arrebol.
   A catedral ebúrnea do meu sonho
   Aparece, na paz do céu risonho,
   Toda branca de sol.

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
   Que o espírito enlaça a dor vivente,
   Não derramem por mim nem uma lágrima
   Em pálpebra demente.

Por um lado te vejo como um seio murcho
   Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário.
   És vermelha como o amor divino
   Dentro de ti em pequenas pevides
   Palpita a vida prodigiosa
   Infinitamente

Transforma-se o amador na cousa amada,
   Por virtude do muito imaginar;
   Não tenho logo mais que desejar,
   Pois em mim tenho a parte desejada.
OUTRA POESIA EXTRAORDINÁRIA DO MESTRE ESCRITA EM TERESÓPOLIS EM 1912                                           
DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

-- Eu faço versos como quem morre.
                

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