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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A MAIS PERFEITA CONFUSÃO

Vou assistir agora esse filme... Será que é bom?
http://www.filmesonlinegratis.net/2011/10/assistir-poucas-cinzas-salvador-dali-dublado-online.html






Aos dezesseis anos matei meu professor de lógica.
Invocando legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima?
Campos de Carvalho em “A Lua Vem da Ásia”

O assunto é Cinema.
Fábio Carvalho




Estava em uma mesa do Bar da Tia conversando com o Márcio que é filho da tia, ou seja, o primo, quando se aproximou o Nilson, um senhor que mora ali perto na casa de um parente, para tanto é o vigia e o quebra-galhos dos serviços gerais. Naquela noite ele o Nilson chegou à nossa mesa falando algo que não entedíamos, ali sentado fiquei olhando para ele de baixo para cima e notei que se debulhava em lágrimas que canalizavam no seu bigode branco e torto até o canto da boca. O seu rosto bastante peculiar causa e provoca várias brincadeiras e as mais variadas faltas de considerações. O sumidouro do espelho. As recorrentes são: quando o médico te olhou disse “vamos devolver que esse veio incompleto”. Outra: você é feio assim mesmo ou está chupando limão? E ainda: quanto você cobra para assustar umas almas penadas que aparecem no meu barraco lá no morro? Chego a ter medo do futuro e da solidão que em minha porta bate. São todas antigas, mas acontecem. Era só ilustração. Pois bem, de volta a história senta que vem lá. Não tive aonde me segurar e mandei: qual sua emoção para tantas lágrimas? Ele não entendeu e penetrou na noite escura com todos os tambores. Algum tempo depois conseguiu sofregamente balbuciar que tinha tomado uma canjibrina, a bem da verdade deveriam ter sido várias, e ficou olhando a fotografia da sua mãe que para ele era linda e curiosamente não a conheceu. Essa visão teria o levado as lágrimas, e não ficou em casa sozinho, veio chorar em público. Grande explicação, inteiramente plausível e incontestável.

Consegui me livrar desta sequência. Enfim. Barry White. Que emoção de novo. Atingimos o faux raccord. Aos sobressaltos. Coração aos pulos. Não aceito ovos quentes. Só de manhã no hotel. Incluído na diária. Vou logo para a segunda seqüência, rápido, senão não resolvo esta questão ao tempo que me impus. O sonho de todo fotógrafo era uma Pentax 6x7. De terno escovado. No início dos anos oitenta eu me aventurava três ou quatro vezes por semana a ir ao Cinema. Cada um deles naturalmente exigia um tipo de procedimento para chegar até aquela localização na região central e adentrar a sala de projeção passando pela roleta com o porteiro e ainda antes pela ante-sala. Um ritual. Na maioria dos casos para garantir os trocados que iriam para o ônibus, preferia eu ir a pé. Era a voracidade de ver filmes e me esconder do mundinho chatinho que me enredava e a grande curiosidade de andar pelas ruas, o que me causava uma sensação naquela altura muito agradável de invisibilidade pelo movimento descontínuo. Via tudo desta posição. Ou então o prazer vinha por acreditar que via sem ser visto.

Corte. Na manhã chuvosa desse domingo de outubro fiquei sozinho no centro cultural Ricardo Miranda, entre centenas de livros e filmes. Então tive a preciosa decisão de acatar a ordem do meu mais dileto professor, o Rô, e assistir a uma das obras primas do húngaro Miklós Jancsó, VÍCIOS PRIVADOS PÚBLICAS VIRTUDES. Embora o CINEMA NUNCA MAIS não esteja terminado, me voltei inteiramente para O MONGE DEVASSO. A boca roxa de vin rouge. Temos que atacar várias frentes. Chove lá fora e germana aqui dentro, fui além depois de tal imaginação. Achei na estante DOM GIOVANNI do Mozart em filme do Joseph Losey. Com consciência expandida alcancei os píncaros da glória. O que desejar mais deste domingo? Que o Galo ganhasse. Perdeu.

Pequeno falso plano de ligação. Nestas minhas andanças para chegar até os cinemas sempre cruzava com uma figura de olhos vidrados, um demi sorriso a la Coringa e um andar lépido, invariavelmente no sentido contrário ao meu. Um dia fui ao Cine Jaques na rua Tupis, assistir não me lembro qual filme, quando antes dele passou o curta NADA ALÉM protagonizado exatamente por esse personagem dos meus caminhos. Na saída do filme em frente ao Teds quem vem e passa? Ele mesmo. Em seguida todos os filmes que fui era antecedido pelo NADA ALÉM e pelas ruas cruzava com o Dom Sérgio Lara direto de Baependi. Que estranhas e misteriosas são as ramificações que as andanças permitem. Compreendeu?

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