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domingo, 18 de julho de 2010

Poesia

1971
Zeus, o que é isso?
Essa merda, isso tudo
São palavras?
Soluços impessoais, solos grotescos?
Somente você Maria Gladys, revolucionária da espécie
Sente o doente deleite estando em Lancaster entre os negros.
Pelé, Mangrove com sobremesa de banana e sorvete
Uma vela acesa na noite escura
Um sarro em Noting Hill Gate.
No Brasil, lá distante, o milagre e o sangue quente
Derramados no arame farpado da fodida prisão.
No corredor encurralado e estreito a tortuosa tortura.
No labirinto da cidade de brinquedo eu me perdi.
No orgasmo do medo todos nós nos perdemos
Histórias sem vida, morte sem glória
Londres é o meu segredo
Zeus ,e agora, o que faremos ?
Eu estou querendo voltar para casa
Retornar ao lar, ao abrigo atlântico, ao Olimpio tropical
Aqui não posso mais ficar ingleses do após guerra.
Sou um náufrago... Um oceano nos separa... Coisa de otários.
Sou um homem comum, um Zé ninguém.
Cultivo os sentimentos humanos e só lá, na minha terra, posso me fazer entendido.
Maria a novela nacional nos espera.
(A palavra vingança se pronuncia depressa é como passa o tempo e no ano que vem o dinheiro também - ácido, droga de exportação, para nos dar prazer e mil brigas de morte neste festão sidéreo, os viajantes, os nossos amigos, burocratas do sistema, estigmatizados pela estupidez, não entram e nem passam pela porta, mas também renunciar a toda retribuição do amor é um sacrifício que só o ódio está pronto a oferecer)
Todos nós nos vingaremos na hora certa eu tenho certeza.
Não se deixe incrédula diante da miséria insurgente.
Aqui, ela existe mascarada de nobreza pelos becos mais sombrios e lá, com nosso povo sofrido, pelo menos dá samba.
A violência ainda não subiu os morros da cidade e ninguém nos conhece, aqui é tal qual a Madri de Franco.
O generalíssimo em guardas de quarteirão,
Todos me chamam pelo nome, e sabem onde me encontrar.
Maria é hora de voltar, não resta mais dúvida.
Pego hoje mesmo um avião - e foda-se a prisão?
Você se esqueceu.
Todos se esquecem muito fácil de suas histórias, não eu!
Tenho ainda que descascar muitas bananas até recuperar toda a minha dignidade.
É preciso retirar as ferraduras que machucam as patas da besta para que ela possa novamente e se tornar selvagem, bela, livre e todo o resto volte a normalidade.
Brigadeiros, Almirantes, Generais, retirem os cascos para o país voltar a sua normalidade democrática. Mas não faça uma nova revolução como esta. As intrigas foram longe demais e destruímos a cada hora nossos tesouros ainda escondidos numa juventude valorosa aqui perdida nas mesas do rei Artur.
Neste rico país tem um povo pobre mas ainda feliz, não deixem que isto se acabe.
Não deixem o samba morrer.
O rock só é bom para quem aqui viu que merda que é o rock.
Deixem que nós todos possamos voltar à praia que tanto amamos, aos bares e rodas de chopes que nos mata de saudade. Que falta eu sinto de uma empadinha de galinha e de um caranguejo.
Do arroz com feijão e do angu com quiabo e uma franguinha mineira. Aqui não tem isso não. São as mulheres mais feias do planeta. Uma merda. Que palidez meu poeta. Zeus me tira daqui. Chega de exploração. Pirataria moderna, testas de ferro desta ilha miserável, nossos hospedeiros são nossos algozes e estão cansados de tamanha marcha e contra marcha.
Jovens, filhos de uma conjuntura falida de idéias e atos, aqui nada dá e ao contrario de lá onde tudo deu para quem nada fez e vive rico como um rei e assim ainda esmolamos o nosso exílio.
Não vou mais ao cemitério visitar o túmulo de Marx, já que não posso mais ficar aqui, vou pra Paris, lá me sinto feliz. Adeus Maria, meu país perdidos em Lancaster rod.W3 fumando Number one. Guloise aqui me vou.

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