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domingo, 25 de julho de 2010

CONTO fim


O VELHO ALEPH
Quinta parte

Em uma casa à beira mar Aleph está com Cabocla na cama. Fazem sexo e fazem amor.
Seus corpos estão suados. - Cabocla você é uma jovem maravilhosa mulher, diz ele, eu seria capaz de vender a alma ao diabo só para ter você comigo toda eternidade... A cabocla carinhosamente responde: E eu daria a minha vida por isso. O telefone celular toca o seu som desconfortável. Alo, sim!... Estarei ai em alguns minutos... Cabocla vai embora, tenho um compromisso agora... Você vai demorar? Não! ... Posso ficar aqui te esperando? Se você quiser? Néon - Metrópoles - Igreja de Deus - Fundada Por Jesus Cristo. A monumental sede da Igreja por ser situada no centro nervoso da grande cidade onde ela possui um luxuoso prédio que abriga todas as outras empresas do holding faz com que muitas pessoas passem por suas grandes portas de madeira trabalhada e vejam, sem saber bem, o que os dizeres daquela placa dourada significam. No seu interior, repleto de corredores e salas, além da grande nave central, pode-se ver várias outras placas, todas escritas em caracteres cifrados. O jovem Aleph continua o seu caminho pelos labirínticos corredores. Um pouco perdido ele pergunta ao passante alguma informação. O passante, funcionário da igreja, com um celular no ouvido, fala alguma coisa e lhe orienta o caminho a seguir. Atrás de uma grande porta de madeira toda trabalhada em caracteres ocultos está a sala onde fica o gabinete do Bispo da Igreja. Aleph entra num grande salão vazio. Ali está o Bispo, imponente, uma única luz azulada lhe ilumina, Aleph o vê através de uma janela - gordo, alto, vestindo um terno que é coberto com uma renda finíssima, muito trabalhada com bordados. Em sua mão uma bengala de marfim. Suas unhas são grandes e bem cuidadas. No dedo indicador um grande anel de pedra vermelha. Seu rosto afilado e expressivo traz por cima da boca larga um longo e fino bigode à maneira de Salvador Dali. Aleph fica ali parado esperando o Bispo recebê-lo. O Bispo, sem deixar de olhar pela janela diz para Aleph. Eu fui filho de pobres operários mortos em uma operação policial no Morro da Saúde? Aleph da alguns passos em direção do Bispo, mas novamente pára. O Bispo continua: Passei então a viver na casa de um rico embaixador, onde os meus pais trabalhavam. O embaixador me tratava como um animal, mas pagava os meus estudos e me dava boas roupas, fui ficando mal acostumado Aleph, muito mal acostumado... Sei tudo sobre você, e sei que você vive isolado, preso a uma máquina (virando-se, da janela para Aleph, pergunta: - Como eu devo lhe chamar Aleph? O Senhor Bispo sabe o meu nome, mas chame-me como queiras, já que sabes o que eu não sei. O Bispo: Sempre me falaram da sua inteligência e do seu saber, Caboclinha, minha doce e suave criança, já me contou os seus segredos, ela pertence à Igreja Aleph! Não pode ser tocada por nenhum mortal... Você consegue me entender?... Nenhum mortal! Aleph recua atônito com a cena e já vai sair quando o Bispo, falando um pouco mais baixo, chama-o: Aleph! Tenho aqui comigo o nome daqueles que mataram a sua família. Oh! Desculpe-me. Ainda irão matar. Cenas da morte dos seus pais e a cara diabólica dos assassinos. - Quero lhe propor um grande negócio, (Aleph vai saindo), não tenha medo! Não vou e nem posso lhe fazer nenhum mal. Ouça, pelo menos, o que eu tenho para lhe dizer... Aleph tira do rosto assustado e suado os óculos negros de luz. Levanta-se da confortável cadeira e grita para o computador: Seu filho da puta por que me desligou agora? Antes me deixasse sofrer a falsidade da vida do que me aprisionar nesta caverna de sonhos perdidos e pesadelos achados... Seja você quem for: é um grande filho da puta!Em todos os monitores as imagens são apenas um chuvisco intermitente, mas abruptamente surgem, um a um, despedaçados, os detalhes do estranho rosto do computador. A boca eletrônica do Rosto em detalhe é quem fala: Aleph! Você está com muita pressa para decifrar o enigma, lembre-se que ele tanto pode te libertar como te devorar. Às probabilidades são às mesmas! Metrópoles. Na rua os carros passam em disparada. As pessoas andam apressadas na calçada que fica de frente do luxuoso prédio da Igreja. Aleph sai do prédio e é seguido por um detetive clássico. Sala de Controle. O Bispo observa de um gabinete de vidro, a conversa de dois cientistas que manipulam um cérebro imerso num líquido incolor dentro de uma cúpula de vidro colocada em uma mesa. Com agulhas longas eles procuram lugares neste cérebro onde possam espetá-las. O romântico mar assola as pedras de cristal. Aleph e a Cabocla estão em um motel que fica à beira mar. Pelo mar claro e tranqüilo, o sol e as árvores, o canto do pássaro, o pequeno cão, todos acompanham o caminho da menina Cabocla. Os seus pequeninos pés brincam na água límpida que vai e que volta nas pequenas ondas que se quebram na areia. Aleph aparece na varanda e acena para ela. Quando Caboclinha lhe vê, ele cai e passa a sentir uma dor muito forte na cabeça, a ter convulsões se contorcer e só melhora quando a Cabocla se aproxima: Aleph! O que foi? O que te aconteceu? Vamos! Levanta! Dê-me a mão! O que aconteceu com você? O Carro despenca no abismo e explode ao bater nas pedras. Detalhe do carro pegando fogo e do motorista sendo queimado, pela janela, do lado de fora do carro, está dependurada uma caixa de metal prateada presa com uma algema no braço do motorista morto. Uma mão arranca a maleta, despedaçando o braço do morto. Os Monitores. Os Policiais. O Encontro de Aleph com o seu aluno bandido e revolucionário. O rapaz explica para ele de como é feita a preparação de um assalto de grandes proporções no intuito de financiar as obras sociais de transformação do morro em condomínio fechado. Um projeto da Igreja. No culto todos gritam em nome de Jesus. São os contrastes do mundo capitalista e a necessidade de ser feliz. O bandido revolucionário é visto entrando no suntuoso prédio da Igreja. Ele tem um encontro secreto com o Bispo. Neste encontro ele fica sabendo do transporte de uma carga preciosa. Na casa da praia. Aleph faz amor com Cabocla. Os Monitores. O Grande Salão da Igreja. O Bispo está de conversa com o Preto Velho: - Senhor Bispo perdeu o controle e a menina está perdida de amor. Está na hora de alertarmos a minha filha do perigo que ela corre. Ora seu velho exu, eu te falei para que cuidasse dela, e agora vá! Traga-me os dois aqui e não me venha com a desculpa que você não sabe onde os dois estão. Não é desculpa, é verdade, não sabemos onde eles estão. O Bispo vai ficando vermelho de raiva e uma fumaça negra envolve o seu corpo enquanto o Preto Velho se afasta assustado. Aleph faz amor no motel da praia com a Cabocla. Os Monitores. A Igreja e o Bispo. As Investigações Policiais. Aleph fala para a Cabocla da descoberta do Bispo do amor que os une e que precisam fugir antes que uma desgraça aconteça. Aleph resolve por o seu plano em prática. Cabocla conta para ele que o Bispo a possuía contra a sua vontade e Aleph fica enlouquecido quebrando alguns objetos da casa. Os Monitores. A descoberta de como ele chegou ali, naquele lugar perdido. O que a igreja e o Bispo tinham com isso. O Bispo marca o dia de levar a encomenda e Aleph sai da Igreja para se encontrar com o seu aluno bandido. Antes de sair, Aleph é preso pelo detetive que o seguia. Todos entram no carro do detetive, o menino bandido guerrilheiro observa a cena, o carro sai com o detetive, o motorista e mais Aleph. O detetive tem em seu braço algemado uma caixa prateada. Todos no carro e partem para uma grande viagem em direção da cidade dos perdidos, no interior do país ao encontro do Delegado a quem deve dar a encomenda do Bispo. No motel da praia a Cabocla esta sozinha a espera de Aleph. Os Monitores. A Polícia. O Carro do detetive chega à pequena cidade do interior. O carro pára para se reabastecer. O bandido-guerrilheiro aparece saindo do porta-malas do carro, onde ele se escondeu e consegue soltar Aleph. O motorista e o detetive saem do carro e atira nos dois mais não acerta e eles se embrenham na mata. O Delegado e Jacaré chegam para o encontro com o detetive. O encontro e a entrega da caixa de metal. Mas como o Delegado diz que só pode pagar o transporte da caixa depois de se achar Aleph, esta entrega não tinha sido ainda feita, diz o delegado com ironia. Surge então a briga e debaixo de um tiroteio o motorista liga o carro, o detetive pula no banco com a mala e o carro sai em disparada subindo a serra. A repetição infinda do desastre na serra quando o carro despenca ribanceira abaixo e explode. Aleph e o guerrilheiro observam a cena do carro explodindo e correm para o local. Sala de Controle. Um corpo estirado nu em uma maca. Muitas luzes o iluminam. Fios presos por toda parte. Chegando mais perto pode-se notar que é o rosto do Aleph. Na conversa dos médicos nota-se que não há mais esperança de recuperação. Os Monitores. A Igreja e o Bispo. O Bispo recebe um telefonema e está satisfeito com o que ouviu. Entra na sala o Preto Velho. O carro cai no precipício. Na explosão a maleta prateada é arrancada com o impacto da explosão e cai ao lado de Aleph e do Bandido Guerrilheiro. Os policiais olham do alto o carro pegando fogo. A Investigação Policial. As nuvens no céu estão negras e carregadas de eletricidade. Na casa caipira cai um raio. Os Monitores. Casa de Praia. Aleph volta ao motel na praia com a maleta na mão. A sua intenção era fugir com a menina e com aqueles diamantes... Vendo Cabocla assassinada, liga para a polícia e sai em direção da cidade desesperado. Metrópoles. Motel da Praia. O carro da polícia com o Delegado chega ao motel. O lugar está cheio de policiais. O quarto de motel onde se hospedava a Cabocla está todo desarrumado. O delegado entra no quarto observando tudo, passa por ele dois detetives; um deles, depois de fazer um ruído grotesco com a boca, tece um comentário: ... Que desperdício, era uma bela mulher! Um corpo nu de mulher está estirado no chão sobre uma poça de sangue. O delegado aproxima-se do corpo, passa a mão nele como se o revistasse a procura de alguma coisa. Jacaré tenta colocar a mão no cadáver, mas é contido pela voz forte do delegado que se aproxima do corpo estirado a procura do rosto. Muito sangue. O assassinato foi brutal. Os Monitores. A Igreja. Aleph chega a porta do prédio entra no hall com a maleta na mão e é barrado pelos seguranças que se comunicam com telefones celulares. Aleph então sobe acompanhado por um segurança. Antes de entrar na sala para se encontrar com o Bispo, ele é revistado. O Bispo recebe-lhe com certo cinismo. Na hora de abrir a maleta com os diamantes, guardado entre eles está uma pequena pistola que Aleph saca e dispara atingindo todos os tiros no Bispo. Os diamantes se espalham pelo chão. Os seguranças que entram apressados atiram em Aleph. O sonho que se transforma em um pesadelo. No motel da praia estão o Delegado e seus ajudantes. Cabocla está agora sendo coberta por um lençol. O Delegado: Olha Jacaré! Falamos nela e olha ai o seu cadáver... Entra no quarto, o Pai de Santo, levado por um policial até onde está o corpo da filha. O policial levanta o lençol e o homem reconhece a filha. Com o rosto transtornado, chora quando aproxima-se dele o Delegado. O Preto Velho fala chorando para ele: Seu Delegado, foi Aleph quem matou a minha filha? Seu Delegado foi ele? Ela tinha que pagar o preço combinado e aí está o resultado... Foi ele quem executou o serviço. O Delegado fica nervoso: Ele, quem, homem de Deus? Aleph, a mando do todo poderoso Bispo. O que o Bispo tem a ver com tudo isso? Pergunta o Delegado para seu auxiliar: Mas que diabo é esse Aleph? O Preto Velho histérico: É ele mesmo, Aleph, todo poderoso filho de Belzebu... O Delegado perde a paciência: Leva este maluco daqui! (Pega o seu ajudante pelo braço) - Vamos procurar o Aleph e estará tudo resolvido. Igreja de Deus. O Bispo e Aleph são levados para uma sala de cirurgia. Os dois são postos lado a lado e se interliga entre eles uma grande quantidade de fios. Aleph passa para o Bispo às energias vitais para que ele sobreviva. Os Monitores. Igreja de Deus. O delegado chega ao hospital e procura por Aleph. Encontra-se com o Bispo inteiramente recuperado na cama enquanto Aleph dá os seus últimos suspiros. Alguns fios ainda estão ligados entre os dois. Mas o Bispo já consegue abrir os olhos e falar com o Delegado. Os Monitores. Aleph desliga todas as chaves da energia que ilumina o ambiente. Apagam-se todos os monitores. Não se ouve mais a voz eletrônica do super computador. Aleph, já envelhecido e caminhando com dificuldade consegue sai da grande tenda negra e chegar ao deserto. Mais alguns passos e descobre atônito que com mais alguns passos estará lá vivo e pulsante na loucura da grande metrópole. Ao chegar a rua movimentada pode notar vindo em sua direção a Caboclinha, linda, fagueira e sorridente. Antes dos dois se encontrarem o Pai de Santo surge com uma arma atirando e acertando Aleph com vários tiros fazendo com que seu corpo seja jogado para traz com violência. O Bispo vendo a cena entra em desespero e começa a se contorcer, a entortar o rosto, a virar os olhos, sofrendo um ataque com dores horríveis. Sala de Controle. O Bispo começa a piorar dizendo coisas sem sentido para que os médicos não deixem que Aleph morra, pois a transfusão de sua alma ainda não tinha sido completada e ele ficaria para sempre vegetando em cima daquela cama. Os médicos chegam, mas ele já estava morto para a vida e tinha se tornado um grande, gordo e enorme repolho e assim ainda viveria por muitos anos.

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