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quarta-feira, 21 de julho de 2010

CONTO cont.

O VELHO ALEPH
Segunda parte

Na sala de um hospital, uma médica faz uma pergunta para o médico: O senhor mandou me chamar? É sobre o paciente número 666 77 - Aleph? O que aconteceu?... O velho está deitado em uma cama que faz parte do cenário. O seu jovem rosto é iluminado pela luz de um monitor de computador que acabava de acender. O computador começa a imprimir na tela enquanto uma voz metálica acompanha o texto. Nada é mais forte do que o esquecimento! (repetidas vezes) A voz metálica se repete - Você precisa se esquecer de todas as outras coisas que vem te atormentando, seu pensamento e sua memória, estão, vamos dizer, fragmentados. Aleph, não resista! Esquecendo-me não consigo me descobrir. Aleph! O tempo está ao seu favor. Este tempo já passou! Sei tudo e não sei nada. Como é possível? Sei que não tenho salvação e passo todo o tempo tentando me salvar. Sei quem sou, mas não sei quem fui, nem o que serei e para onde vou. Sei que me chamo Aleph e sei que você nunca me falou o seu nome, por exemplo, o Computador... Você quer saber o meu nome? (Risos no fundo) Sim! Não vejo a graça... Você tem nome? De todas as combinações do alfabeto. De todos os alfabetos! Do presente e do passado. Meu nome é ninguém... Mas me chame de alguém, se assim você desejar. Você não se lembra do seu passado? O passado, às vezes, morre antes da gente... O diálogo prossegue cada vez mais rápido na tela projetada nas nuvens. Não se consegue mais ler os textos eles se confundem com as letras e frases que com as nuvens flutuam no ar. Elas vão se transformando, se misturando, em computação gráfica, em todas as escritas. Uma música, aos poucos, se sobressai aos ruídos do teclado. Em um cenário real, talvez um hospital, um homem jovem, vestido de jaleco branco, diz para uma mulher, vestida da mesma maneira, palavras em uma língua estranha. A mulher pega um aparelho no bolso e apertando um botão faz a tradução: ele se chama Aleph e é o personagem principal das nossas pesquisas. A Mulher, loura, alta e estranha, esboça um sorriso. No quarto escuro a luz azul penetra pelas frestas das janelas mal fechadas e pela porta totalmente aberta um vulto passa na contra luz fechando a cena. É noite. As nuvens no céu movem-se desordenadamente. Sopra o vento na fumaça que sai do fogão. A jovem e bela morena, uma cabocla da terra, prepara o café no fogão de lenha. O vento fica forte e abre a janela de madeira com violência deixando entrar uma luz azulada, tênue, que vem de fora. A cabocla corre para fechá-la. Do lado de fora da casinha caipira, com a fumaça saindo pela chaminé, pode-se ver, vazando a serra, fazendo o décor, a pedra da esfinge, o soberbo megalítico metálico banhado pela luz prateada da lua cheia. Uma coruja empalhada a tudo observa do galho alto de uma árvore. Dentro da mesma casa, debruçada no mesmo fogão de lenha, coberta pela fumaça, está agora outra mulher, bem mais velha, feia e enrugada, quase uma bruxa, que mexe o caldeirão cheio de um caldo grosso, fervendo, gosmento... Ouve-se um ruído fantasmagórico, um ranger de ferro com ferro. Olhando para a porta de madeira, por onde entra um fio de luz prateada, a mulher pergunta com dúvida: É você?... A porta é aberta com violência. Ela se sustada e grita. Na porta um vulto grande de chapéu e capa. Uma figura diabólica em silhueta recortada pela luz vermelha que vem de fora, envolto em fumaça, com uma arma, uma escopeta, em uma das mãos. Com a outra mão, retira da cabeça o chapéu de abas largas, deixando à mostra os seus dois pequenos chifres e as suas unhas compridas. Estando sempre na contraluz o seu rosto não é visto. O dia chega com a luz do sol invadindo a janela da casinha caipira. Nuvens carregadas movem-se no céu. Tons de cinzas e alaranjados. Do alto, das nuvens desordenadas iluminadas pelo sol fraco do inverno, observo as paisagens pré-históricas das minas - um morro sinuoso atrás de outro e de outro mais sinuoso ainda atrás deste. Uma estrada de terra e cascalho passa pela soberba Pedra que tem a forma de uma esfinge metálica. Um carro antigo, levantando poeira, em alta velocidade, derrapa nas curvas da serra que circunda o megalítico descomunal. Quanto mais o carro sobe, mais a estrada fica estreita, mais perigoso torna-se o percurso. A música que no início era calma, agora é frenética, concreta, industrial. As rodas no cascalho solto. Detalhes do comportamento dos pneus na estrada poeirenta. O carro em velocidade derrapa rente ao precipício. Detalhe das rodas paradas derrapando no cascalho. O carro desgovernado, caindo no abismo e explodindo ao bater nas pedras. A explosão e o fogo.

Dois policiais andam na rua de uma grande cidade. Um pouco à frente da polícia, dois rapazes entram num beco escuro. Mais à frente ainda, duas crianças - um menino negro e uma menina morena, magras e maltrapilhas - pedem esmola à senhora que desce emperiquitada de um luxuoso carro. Os policiais vendo as duas crianças insistirem com a senhora, por bajulação, manda as duas se afastarem. O Policial, gordo, com uma cara de porco, empurra as duas crianças. O Policial: Garotos vão em frente, seguindo o seu caminho... E bem depressinha, se não as coisas ficam pretas para os dois. Às duas crianças, depois de alguns passos, olhando assustadas para os policiais, tentam fugir. Fugindo entram no beco onde os dois rapazes estão fumando um cigarro de maconha. Os dois policiais, que acompanhavam as crianças, olham para os dois rapazes um pouco mais distante em atitude suspeita e súbito, num impulso, precipitam-se sobre eles gritando e correndo, empunhando os revólveres, em louca disparada. Os Policiais: Permaneçam onde estão. É a Polícia! ... (Bis, quantas vezes necessários). Os dois rapazes saem correndo. Os policiais atiram. As duas crianças, esquecidas na confusão, voltam para onde estavam e, com uma navalha que o menino tira do bolso, encurralam a madame que observava, com outros transeuntes ali parados, os acontecimentos. O menino é quem fala chamando a atenção da senhora. Menino: Me dá logo sua bolsa se não vou te cortar todinha...A corrida dos adolescente e dos policiais nas ruas e becos da cidade. A mulher assustada, quase em pânico, entrega a bolsa para as crianças que saem apressadas. A mulher grita, pede socorro, olha para os cidadãos, mas ninguém faz nada, estão apáticos, como se estivessem dopados, autômatos e estranhos.

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