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segunda-feira, 15 de março de 2010

CRITICA

UM FILME DE MARCELO IKEDA COM CRISTINA ACHÉ
Acabei de assistir o filme de Marcelo Ikeda, um jovem economista,
agora professor, que faz também cinema e me senti na obrigação de
tecer alguns comentários sobre esses 25 minutos
que ele me presenteou. Se não fosse por detalhes, que julgo importantes, eu consideraria “Carta de Um Jovem Suicida” uma obra prima.
Primeiro o filme é de quem sabe o que quer com o fazer cinema. É precioso na decomposição do espaço-tempo da ação dramática e poético na dramaturgia da interpretação da atriz, mãe conformista em uma terra de cegos de espíritos e pobres de prazer. O conhecimento das artes plásticas no enquadramento do ponto de leitura ou da memória, chega a ser clássico. A trilha, a maneira
de Cage, traz-nos a voz do silêncio, com toda a sua música realçando o movimento da imagem muda, em toda a dramaticidade do adeus final e dos incompreendidos apelos entre o filho e a mãe, entre o ser e o não ser.
Ikeda mostra o talento de quem sabe escrever cinema na
criação cruel do texto da carta do filho rebelde, que é atual, verossímil e
pertinente ao suicida no contexto dramático da história.
O movimento sutil da câmera, no extraordinário e estudado plano-sequência,
identifica, por fim, o grande artista das imagens que nele habita.
O que me incomoda no filme é o ator suicida estar de cueca, ou calção, deitado
na cama – ou ele deveria estar nu ou totalmente de roupa. O retorno dele a ação é,
a meu ver, totalmente desnecessário, pois divide o tempo da memória na ação
poética do movimento sem fim, quase pendular, do plano-sequência.
O texto off da carta deveria ter iniciado quase no começo do filme – provocando um maior suspense e valorizando a sua leitura, se não, como esta, a voz deveria ser a masculina do suicida – com, é claro, uma maior interpretação dramática.
No mais, raramente eu vejo um filme de média-metragem ficcional e descritivo feito com tanta sensibilidade. Ikeda, isto é apenas o começo...

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