Paul Reé - Lou-Salomé - Friedrich_Nietzsche
A onça e o bode
Luis da Câmara Cascudo
O Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma
casa. Achou um sítio bom. Roçou-o e foi-se embora. A Onça que
tivera a mesma ideia, chegando ao mato e encontrando o lugar já limpo, ficou
radiante. Cortou as madeiras e deixou-as no ponto. O Bode,
deparando a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha. A Onça
voltou e tapou-a de taipa. Foi buscar seus móveis e quando regressou
encontrou o Bode instalado. Verificando que o trabalho tinha sido de
ambos, decidiram morar juntos.
Viviam desconfiados, um do outro. Cada um
teria sua semana para caçar. Foi a Onça e trouxe um cabrito, enchendo o
Bode de pavor. Quando chegou a vez deste, viu uma onça abatida por uns
caçadores e a carregou até a casa, deixando-a no terreiro. A Onça vendo a
companheira morta, ficou espantada:
— Amigo Bode, como foi que você matou essa onça?
— Ora, ora… Matando!… Respondeu o Bode cheio de
empáfia. Porém, insistindo sempre a Onça em perguntar-lhe como havia matado
a companheira, disse o Bode:
— Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe
o dedo e ela caiu morta.
A Onça ficou toda arrepiada, olhando o Bode pelo
canto do olho. Depois de algum tempo, disse o Bode:
— Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…
A Onça pulou para o meio da sala gritando:
— Amigo Bode, deixe de brinquedo…
Tornou o Bode a dizer que lhe apontava o dedo,
pulando a Onça para o meio do terreiro. Repetiu o Bode a ameaça e a onça
desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz
do Bode:
— Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…
Nunca mais a Onça voltou. O Bode ficou, então,
sozinho na sua casa, vivendo de papo para o ar, bem descansado.
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