COMO
ESQUECER MARX?
Carlos
Sepúlveda
Fora as bobagens que se escreveram sobre o marxismo
como um dogma ou uma religião, é, no mínimo, leviano condenar o trabalho de
Marx e seus seguidores ( Engels sobretudo) como um equívoco condenado ao
lixo da História.
Mesmo para os
não marxistas, sejam eles saudosos adeptos das revoluções ou nostálgicos
teóricos do comunismo, o autor do Manifesto Comunista de 1848, ainda serve de
inspiração para quem pensa no âmbito da Dialética Negativa.
Hoje, está
claro que o marxismo como teoria de legitimação de Estado já teve melhores
dias. Mas a herança maldita do Stalinismo e o fracasso da União Soviética
enterraram , sob os escombros do Muro de Berlim, a romântica hipótese de uma
sociedade sem classe, o que não quer dizer que os fundamentos destas teses não
mereçam ser (re) pensadas.
Lembro-me do
episódio que narra o encontro entre Habermas e |Marcuse, estando este último já
nos estertores, com tubos espetados em seu corpo, tanto à direita quanto à
esquerda. Habermas, ex-aluno fervoroso de Marcuse, dedica-lhe uma derradeira
reflexão, que encerraria um impasse teórico entre os dois. Habermas lhe diz que
finalmente encontrara a exigência de validade para o socialismo: a compaixão que
um homem deve ter pela dor do outro.
Este legado do
marxismo, a meu sentir, não devia ser descartado. Uma sociedade em busca da
justiça, solidária com o sofrimento dos outros, se repete na esperanças do
recente livro “ O capital no século XXI” de Tomas Picketti cuja leitura
recupera muito do que Marx denunciou, sobretudo no que diz respeito à
acumulação primitiva..
No entanto, a
teoria marxista como Teoria da Cultura é, ainda, um instrumento válido para as
análises das questões culturais que incendeiam este século. Vis a vis da
globalização, da imposição de padrões culturais, da grave questão das
identidades que hoje explodem no mais cruel terrorismo, cujo entendimento passa
pelas teorias da cultura de viés marxista.
Aliás, os
instrumentos do marxismo ainda podem oferecer boas interpretações para se
entender, por exemplo, a Indústria Cultural que fez a fama de Benjamin, Adorno
e toda a Escola de Frankfurt.
A imposição do
domínio cultural da classe dominante, classicamente formadora de padrões
culturais e de discursos de dominação, pode ser visitado na obra de Michel
Foucault ou mesmo de Sartre, dependendo do ângulo que se escolha. Foucault,
sobretudo, em ração de sua teoria sobre a ordem dos discursos.
Esta suposta
amnésia em relação ao pensamento marxista esconde, na verdade, uma banalidade e
uma leviandade. Escolhe-se o marxismo como uma teoria da práxis como se a
práxis cancelasse toda a complexidade da obra do gênio Karl Marx em favor
do puro e simples “transformar o mundo”, escrito na 11ª tese contra Feuebach..
Não será
surpresa se daqui a algumas décadas o marxismo ainda for uma leitura essencial
para se compreender os descompassos da Modernidade, isto se o Terror não nos
pegar antes.
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