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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O Livre Pensar


COMO ESQUECER MARX?
Carlos Sepúlveda

      Fora as bobagens que se escreveram sobre o marxismo como um dogma ou uma religião, é, no mínimo, leviano condenar o trabalho de Marx e seus seguidores ( Engels sobretudo)  como um equívoco condenado ao lixo da História.
       Mesmo para os não marxistas, sejam eles saudosos adeptos das revoluções ou nostálgicos teóricos do comunismo, o autor do Manifesto Comunista de 1848, ainda serve de inspiração para quem pensa no âmbito da Dialética Negativa.
       Hoje, está claro que o marxismo como teoria de legitimação de Estado já teve melhores dias. Mas a herança maldita do Stalinismo e o fracasso da União Soviética enterraram , sob os escombros do Muro de Berlim, a romântica hipótese de uma sociedade sem classe, o que não quer dizer que os fundamentos destas teses não mereçam ser (re) pensadas.
       Lembro-me do episódio que narra o encontro entre Habermas e |Marcuse, estando este último já nos estertores, com tubos espetados em seu corpo, tanto à direita quanto à esquerda. Habermas, ex-aluno fervoroso de Marcuse, dedica-lhe uma derradeira reflexão, que encerraria um impasse teórico entre os dois. Habermas lhe diz que finalmente encontrara a exigência de validade para o socialismo: a compaixão que um homem deve ter pela dor do outro.
       Este legado do marxismo, a meu sentir, não devia ser descartado. Uma sociedade em busca da justiça, solidária com o sofrimento dos outros, se repete na esperanças do recente livro “ O capital no século XXI” de Tomas Picketti cuja leitura recupera muito do que Marx denunciou, sobretudo no que diz respeito à acumulação primitiva..
       No entanto, a teoria marxista como Teoria da Cultura é, ainda, um instrumento válido para as análises das questões culturais que incendeiam este século. Vis a vis da globalização, da imposição de padrões culturais, da grave questão das identidades que hoje explodem no mais cruel terrorismo, cujo entendimento passa pelas teorias da cultura de  viés marxista.
       Aliás, os instrumentos do marxismo ainda podem oferecer boas interpretações para se entender, por exemplo, a Indústria Cultural que fez a fama de Benjamin, Adorno e toda a Escola de Frankfurt.
       A imposição do domínio cultural da classe dominante, classicamente formadora de padrões culturais e de discursos de dominação, pode ser visitado na obra de Michel Foucault ou mesmo de Sartre, dependendo do ângulo que se escolha. Foucault, sobretudo, em ração de sua teoria sobre a ordem dos discursos.
       Esta suposta amnésia em relação ao pensamento marxista esconde, na verdade, uma banalidade e uma leviandade. Escolhe-se o marxismo como uma teoria da práxis como se a práxis cancelasse toda a complexidade da obra  do gênio Karl Marx em favor do puro e simples “transformar o mundo”, escrito na 11ª tese contra Feuebach..
       Não será surpresa se daqui a algumas décadas o marxismo ainda for uma leitura essencial para se compreender os descompassos da Modernidade, isto se o Terror não nos pegar antes.


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