Sobre a Social-Democracia
Karl Marx e Friedrich Engels
No momento presente, em que os pequeno-burgueses
democratas são oprimidos por toda a parte, eles pregam ao proletariado em geral
a união e a conciliação, estendem-lhe a mão e aspiram à formação de um grande
partido de oposição que abarque todos os matizes no partido democrático; isto
é, anseiam por envolver os operários numa organização partidária onde
predominem as frases sociais-democratas gerais, atrás das quais se escondem os
seus interesses particulares e onde as reivindicações bem determinadas do
proletariado não possam ser apresentadas por mor da querida paz. Uma tal união
resultaria apenas em proveito deles e em completo desaproveito do proletariado.
O proletariado perderia toda a sua posição autônoma
arduamente conseguida e afundar-se-ia outra vez, tornando-se apêndice da
democracia burguesa oficial. Essa união tem de ser recusada, por conseguinte,
da maneira mais decidida. Em vez de condescender uma vez mais em servir de
claque dos democratas burgueses, os operários, principalmente a Liga, têm de
trabalhar para constituir, ao lado dos democratas oficiais, uma organização do
partido operário, autônoma, secreta e pública, e para fazer de cada comunidade
o centro e o núcleo de agrupamentos operários, nos quais a posição e os
interesses do proletariado sejam discutidos independentemente das influências
burguesas. Quão pouco séria é, para os democratas burgueses, uma aliança em que
os proletários estejam lado a lado com eles, com o mesmo poder e os mesmos
direitos, mostram-no por exemplo os democratas de Breslau, os quais no seu
órgão, a Nova Gazeta do Oder, atacam furiosamente os operários organizados
autonomamente, a quem intitulam de socialistas. Para o caso de uma luta contra
um adversário comum não é preciso qualquer união particular. Assim que se trate
de combater diretamente um adversário, os interesses dos dois partidos
coincidem momentaneamente e, como até agora, também no futuro esta ligação, só
prevista para o momento, se estabelecerá por si mesma. Compreende-se que nos
conflitos sangrentos que estão iminentes, como em todos os anteriores, são
principalmente os operários que, pela sua coragem, a sua decisão e abnegação,
terão de conquistar a vitória. Como até agora, os pequeno-burgueses em massa
estarão enquanto possível hesitantes, indecisos e inativos nesta luta, para,
uma vez assegurada a vitória, a confiscarem para si, exortarem os operários à
calma e ao regresso ao seu trabalho [a fim de] evitar os chamados excessos e
excluir o proletariado dos frutos da vitória. Não está no poder dos operários
impedir disto os democratas pequeno-burgueses, mas está no seu poder
dificultar-lhes o ascendente perante o proletariado em armas e ditar-lhes
condições tais que a dominação dos democratas burgueses contenha em si desde o
início o germe da queda e que seja significativamente facilitado o seu
afastamento ulterior pela dominação do proletariado. Durante o conflito e
imediatamente após o combate, os operários, antes de tudo e tanto quanto
possível, têm de agir contra a pacificação burguesa e obrigar os democratas a
executar as suas atuais frases terroristas. Têm de trabalhar então para que a
imediata efervescência revolucionária não seja de novo logo reprimida após a
vitória. Pelo contrário, têm de mantê-la viva por tanto tempo quanto possível.
Longe de opor-se aos chamados excessos, aos exemplos de vingança popular sobre
indivíduos odiados ou edifícios públicos aos quais só se ligam recordações
odiosas, não só há que tolerar estes exemplos mas tomar em mão a sua própria
direção. Durante a luta e depois da luta, os operários têm de apresentar em
todas as oportunidades as suas reivindicações próprias a par das reivindicações
dos democratas burgueses. Têm de exigir garantias para os operários assim que
os burgueses democratas se prepararem para tomar em mãos o governo. Se
necessário, têm de obter pela força essas garantias e, principalmente, procurar
que os novos governantes se obriguem a todas as concessões e promessas possíveis
— o meio mais seguro de os comprometer. Têm principalmente de refrear tanto
quanto possível, de toda a maneira mediante a apreciação serena, com
sangue-frio, das situações, e pela desconfiança não dissimulada para com o novo
governo, a embriaguez da vitória e o entusiasmo pelo novo estado de coisas que
surge após todo o combate de rua vitorioso. Ao lado dos novos governos
oficiais, têm de constituir imediatamente governos operários revolucionários
próprios, quer sob a forma de direções comunais, de conselhos comunais, quer
através de clubes operários ou de comités operários, de tal maneira que os
governos democráticos burgueses não só percam imediatamente o suporte nos
operários, mas se vejam desde logo vigiados e ameaçados por autoridades atrás
das quais está toda a massa dos operários. Numa palavra: desde o primeiro
momento da vitória, a desconfiança tem de dirigir-se não já contra o partido
reacionário vencido, mas contra os até agora aliados [do proletariado], contra
o partido que quer explorar sozinho a vitória comum.
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