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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Memória a dois

1966

Comerciantes fecham as portas e homens de ternos e
gravatas perseguem estudantes nas ruas do centro de
Belo Horizonte. Minas Gerais
Nesta arena em que se transformou a vida nacional, os
padres dominicanos, a igreja dos pobres e da renovação
política, nas capelas, onde velas acesas, presos apagados
e freiras comedidas se cruzam e se agitam nas ondas
revolucionárias da criação de um novo partido - os
trabalhadores da fé - o povo humilde reza o bandido.
O neonazista, torturador, profissional liberal, nascido da
miséria mental de uma burguesia moralista e mesquinha,
escondido como um rato nos ninhos sujos e
abandonados nos quartéis espalhado pelo território
nacional, mata, trucida com choque elétrico, porrada e
empalamento, os heróis da pátria. Onde foi parar a
educação, a cultura, a tradição de liberdade e cordialidade
do povo brasileiro? Por onde se perdeu a identidade secreta
das Gerais? Quantos desejam e tecem esta rede danada,
enquanto a arte sagrada de um povo é esquecida?
Pelos palácios esta infâmia vida se não se esquece
vira piada na boca suja de um governante corrupto.
Liberdade! Que merda é qque fizeram com você?
Foges da minha vista... Nunca mais quer me ver?

Não tenho mais tempo!

Filme: Terra em Transe - Glauber Rocha

Neste janeiro de 1969 acontece o que todos previam: O Império mostra suas garras e os ratos saem pelos esgotos. Comemora-se com um ato fálico a vitoria em honra da burguesia - Não sei se é a festa que compõem o fato ou se é o fogo que constrói o fôlego - mas é o ato do fato que retrata o fogo da sociedade folgazona e boçal que usurparam o poder. A fera das américas está de volta, solta nos homens do ditador presidente, matéria fósmea - fodam-se - vamos a guerra revolucionária pela fome endêmica dos incautos na terra de Santa Cruz. Antônio das Mortes, de norte a sul um só povo, uma mesma língua - doente - indigentes - pobre - um banquete de mendigos num bangue-bangue de canalhas. De uma nação rica e nobre só restou miséria, indignação, escravidão e fome. 69 é o pão com mortandela no circo dos horrores. Nos pênaltis sofremos sôfregos soluços em jogo de bola - copa do mundo - identidade de um povo torturado pelo milagre . No carnaval o futebol deixa Brasília desesperada. O poder assume a propriedade das origens das famílias e dos colonos. A revolução agrária e todas outras reformas de base, do povo, transformaram-se no templo do nada. O brasileiro é um pobre sonhador que acordou derrotado pelas manhãs frias de um abril sem fim. Dia da mentira. Retrocedemos. Perdemos tudo sem um só tiro de morteiro na estupidez culta de um escritor burguês e na inteligência estúpida de alguns políticos oportunistas. A UDN que liderou essa bossa nova autofágica, deu-nos um golpe quase mortal e por tantos mortos apresentados fará a lenda tardar a se consumir. Hoje, imprime-se a realidade. Pobre imprensa, todo dia do Correio da Manhã o pais se esgota censurado no Jornal do Brasil - Inteligência militar - cultura de importação made América do Norte, um tiro de canhão, muita boçalidade, luta de espada, ungida com muita merda, hoje são as metas nacionais. 1969 - O país só é grande com a bola no pé. No Rio da praia ou em São Paulo do café, Pelé faz o gol, joga-se o certo com a alegria do pobre que dura pouco, forma-se um rei - Um rei da vela - Alienígena e genial João, Coltrane, Gilberto, Rosa, Cabral, equilibrando-se ao lado do AMOR SUPREMO, do eterno silêncio entre duas notas. A música faz o resto. Viajando nos poemas dedicados à Alice - descobrirmos o paraíso. E o Brasil sai perdendo sem Pixinguinha, Noel, Clementina, Mário Reis, Lupicínio, João do Rio, Machado, Augusto, Oswald, Goeldi, Stradelli, Nunes, Villa, Mauro, Peixoto, Euclides, Silva Ramos. Enlouquecido no ar - viajando no cometa - Jimi e Joplim - Oh! Divina Comédia - Augusto Conte - pálida dialética positivista da qual Rousseau é seguidor - Mestre Guilhotine e a revolução – Quero morar em Paris - Artaud, Baudelaire, Mallarmé - chega de ser o alimento do predador! Vocês não sabem do risco que me fizeram sofrer! Não nasci para ser herói – Cuidado: Este texto poderá me levar aos porões do capitão Leite no Dops da Avenida Afonso Pena...


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