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terça-feira, 3 de maio de 2011

EXERCÍCIO DE MEMÓRIA



VILLA-LOBOS X SEGÓVIA

Aconteceu em Paris e conta com duas versões, uma de cada protagonista.Foi no ano de 1924 em um encontro musical na casa de Olga Moraes Sarmento Nobre.Na versão de Villa-Lobos, Segóvia, sem saber de sua presença, havia comentado que suas peças eram anti-violonísticas e que os recursos usados não eram próprios do instrumento. Um dos que se achavam no grupo de Segóvia disse : “Pois é, Segóvia, o Villa está aqui” e Villa-Lobos foi logo chegando e dizendo : “Por que é que você acha as minha obras anti-violonísticas ? ”. Segóvia, surpreso com sua presença ali, explicou que, por exemplo, o dedo mínimo direito não era usado no violão clássico. Logo Villa-Lobos respondeu: ”Ah! Não se usa? Então corta fora, corta fora.” e em seguida pediu o violão a Segóvia. Este ainda tentou resistir, pois não emprestava seu instrumento para ninguém, mas não adiantou e nas palavras do próprio Villa-Lobos, “eu sentei,toquei e acabei com a festa”.Ao ser questionado por Segóvia onde tinha aprendido, Villa-Lobos respondeu que “não era violonista mas sabia toda a técnica de Carulli, Sor, Aguado, Carcassi, etc.”No dia seguinte se encontraram na casa de Villa-Lobos e revezaram no violão até às 4 da manhã. Segóvia encomendou um estudo de violão, e além da grande amizade que surgiu a parti daí, foram doze os estudos que o compositor brasileiro dedicou ao grande violonista espanhol.Na versão de Segóvia, foi Villa-Lobos, dentre os convidados presentes, o que causou a maior impressão. Segóvia, apesar da fama que Villa-Lobos usufruía em Paris, mal conhecia alguma composição sua.Após Segóvia terminar sua apresentação, Villa-Lobos aproximou-se e disse em tom confidencial : ”Também toco violão”- “Maravilhoso” respondeu Segóvia. Pediu o instrumento, sentou-se, atravessou-o nos joelhos e “segurou-o firmemente, de encontro ao peito, como se temesse que o instrumento fugisse”. De repente desferiu um acorde com tal força que Segóvia não se conteve e soltou um grito, pensando que o seu violão havia se despedaçado. Villa-Lobos deu uma forte gargalhada. Após várias tentativas para começar a tocar, ele terminou por desistir, certamente devido a falta de exercícios diários, atividade necessária para tocar com desenvoltura. Mesmo assim Segóvia percebeu, nos poucos compassos que ouviu, que aquele intérprete era um grande músico, “pois os acordes que conseguiu produzir encerravam fascinantes dissonâncias, os fragmentos melódicos possuíam originalidade,os ritmos eram novos e incisivos e até a dedilhação era engenhosa”.Dedicados a Andrés Segóvia, a série dos Doze Estudos data de 1929 e publicada pela Editora Max Eschig tem o seguinte prefácio escrito pelo virtuose espanhol:“Eis aqui 12 estudos, escritos com amor pelo violão, pelo genial compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos. Eles comportam, ao mesmo tempo, fórmulas de surpreendente eficiência para o desenvolvimento da técnica de ambas as mãos e belezas musicais ‘desinteressadas’, sem finalidade pedagógica, valores estéticos permanente de obras de concerto. “... Não quis alterar nenhuma das digitações que o próprio Villa-Lobos indicou para a execução de suas obras. Ele conhece perfeitamente o violão, e se escolheu tal corda ou tal digitação para ressaltar determinadas frases, devemos estrita obediência ao seu desejo, mesmo ao preço de nos obrigar a maiores esforços de ordem técnica. Não quero concluir esta breve nota sem agradecer publicamente ao ilustre Maestro, a honra que me conferiu dedicando-me estes ‘Estudos’ ”.Nas palavras de Andrés Segóvia: “... nasceu entre nós uma sólida amizade. Hoje o mundo da música reconhece que a contribuição desse gênio para o instrumento constituiu uma benção tanto para o instrumento como para mim”.

Loucura Pouca é Bobagem












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