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terça-feira, 17 de setembro de 2013

UM CONTO DE REIS



DEFRONTE A FONTE, TÔ QUASE!

 Fábio Carvalho

A fronte à frente, um quebra língua. Wonderfull. Eduarda, logo ela, após longos instantâneos anos finalmente me reviu quando estava desocupado, temos muito que conversar, o que fazer, bem de perto. Vamos rir de nós mesmos. Ela me esperou no fim da escada rolante no segundo andar. Aquele pistom tocava acima da escovinha. Cabelos em caracóis, moreninha e serelepe, como só ela. Sem interrogações, aparentemente, vieram as afirmações. Totalmente leniente, por pouco tenho compreendido tudo, ou pelo menos tentado a partir do que me é dado com toda parcimônia, onde menos é melhor, seguindo a tradução, como falou bem colocado a produtora Brócolis, sentada na cadeira bem à mesa da minha frente na esquina mais manjada do local. Era Sábado. Um princípio geral que tem aplicações. Passado vaga data, nos reconhecemos, cuspi no almoço nu. Sonhar é melhor que viver. Vivo tonto pelo seu olhar. Ela comprando Buscopan para cólica na farmácia, é sem dúvidas uma cena corriqueira, talvez a mais marcante. Mulher nenhuma compra Buscopan como ela. Reluzente retendo todos líquidos. As farmácias são iluminadas pela luz branca. De fora você vê bem. Muito exigente ela andava. Controles remotos voaram, zunindo bem próximo as minhas orelhas, ouvi um alarme intermitente hoje pela manhã cinzenta. Domingo. Era um bom sinal, as coisas tinham que evoluir, ou vai ou racha. Como dói. Repito e transijo de novo. Desejo-a como nunca Não sinto a ponta dos meus dedos, nem a palma da minha mão, pela primeira vez. A primeira vez não se esquece. O jazz faz as pessoas se sentirem bem em relação a si mesmas. Não vou dizer quem disse isto, basta ouvi-lo, nem vou levar adiante esta quimera ou quisera. Estou mulher vou cuidar de mim. Dois exames na mesma manhã de Segunda. Antes como sempre faço, passei na banca de jornal e o Dias me mostrou um novo fascículo da coleção Grandes Pintores Brasileiros dedicado ao Eliseu Visconti, avô do amigo cineasta e também pintor mestre das trilhas sonoras do cinema de invenção, que herdou seu nome acrescido de Cavalleiro do pai, outro pintor, suas obras maravilharam-me os olhos. Como é bom ter olhos para ver. Voltei a desenhar. Cantou a figurinista Wandíssima, que a técnica que vamos usar para imprimir desenhos nos vestidos das atrizes que representarão as alunas do Guignard, tem o seguinte nome: Sublimação. Bela palavra. Agora a técnica será outra, já que essa caiu. Tínhamos tido uma semana rica e agitada, comigo e o Mário, vendo e ouvindo as cantoras do rádio de um inusitado enquadramento em plena Praça Redonda bem jardinada. A boca da cantora. Depois um pouco de cinema, com um dos meus filmecos na tela grande, como era de se esperar, até terminamos de novo na mesma velha Cantina do Lucas. Já tinha visto este filme. Só falo das coisas boas, o pulso ainda pulsa. No outro Sábado naturalmente reassumi meu masculino personagem esculhambado mais trabalhoso: futebol, cachaça, acepipes além da terrível Via-Crucis por todos os botequins em funcionamento da zona sul. Triste uma doença velho. Nem sei ao certo se sobrevivi, ou se sou outro, já que aparentemente escapei de mais esta. Falem baixo por favor. A linda lua nos contos do aprendiz de manhã na Cafeteria Livraria desconhecida na Avenida do Contorno, onde começou o assobio. Enfim chegaram as frases inúteis. Não considero tanto assim o que eu disse. Tinha pensado em outra ilação. É tempo de se pensar. Tenho um filme a fazer. O Orson Welles de Niterói e bom de corte, Ricardo Miranda, publicou na sua página do Face, os dez mandamentos proferidos pelo cineasta alemão Werner Herzog. Apesar do meu transtorno compulsivo de oposição, e de sempre ter detestado regras e mandamentos, tipo faça isto não faça aquilo, como o dogma dinamarquês; este me interessou por não tratar exatamente da técnica e sim da moral e do pensamento de quem faz o filme. Como sabemos a ética é a estética e a estética é a ética. Não transcrevo aqui os parágrafos explicativos, limitando-me aos títulos, aí vão: 1- Não estudarás cinema 2- Serás astuto e intuitivo 3- Não suportarás o cinema verdade 4- Não consentirás filmagens impuras 5- Santificarás suas loucuras 6- Não escreverás roteiros de ferro nem usarás storyboards 7- Honrarás o som, a montagem e a música 8- Seguirás sua visão e não temerás 9- Não chorarás no set 10- Estarás sempre preparado para o inesperado. O homem moral. A linguagem dos olhos. Ao sair de casa ontem pela manhã, em frente à mercearia, notei um carro estacionado com a porta aberta, sem ninguém dentro ou por perto, com o rádio ligado numa certa altura que permitia ouvir nitidamente a voz do Nelson Gonçalves cantando: fica comigo esta noite e não te arrependerás. Lá fora o frio é um açoite, calor aqui tu terás. Quero em teus braços querida, adormecer e sonhar. Esquecer que nos deixamos, sem querermos nos deixar. Continuei descendo a rua lentamente, ninguém apareceu antes que a música terminasse e eu virasse a esquina. Desde então esta cena sonora não sai da minha cabeça.

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