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sábado, 28 de setembro de 2013

POESIA

Manuel Bandeira 


(Itinerário de Pasárgada)

(...) fui vivendo, morre-não-morre, e, em 1914, o doutor Bodmer, médico-chefe do Sanatório de Clavadel, tendo-lhe eu perguntado quantos anos me restariam de vida, me respondeu assim: o senhor tem lesões teoricamente incomparáveis com a vida, enquanto está sem bacilos, come bem, dorme bem, não apresenta em suma nenhum sintoma alarmante. Pode viver cinco, dez, quinze anos... Quem poderá dizer? Continuarei esperando a morte para qualquer momento, vivendo sempre como provisoriamente.

Sua Poética:

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público 
com o livro de ponto expediente protocolo 
e manifestações de apreço ao sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai 
averiguar no dicionário
 o  cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar 
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

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