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terça-feira, 5 de abril de 2011

Uma Nova Estrela

O TEMPO ESTÁ A NOSSO FAVOR Brilha Uma Nova Estrela Quero exercitar o texto, mas sinceramente não quero falar de política, muito menos a cultural. Não quero falar de religião, seja ela qual for, sendo ocidental ou oriental, é tudo a mesma coisa. Deus morreu nos braço de Nietsche. Não quero falar do cinema, do cinema nacional nem se fala. Não quero falar da cidade onde moro, nem da casa onde eu vivo; nem da minha cachorra cega, nem do gato que agora me faz companhia. Não quero falar dos discos voadores, muito menos das piratarias e das bandalheiras. Não quero falar do meu novo roteiro de cinema, penso que posso morrer a qualquer momento, por isso não quero falar da morte. Não quero falar da minha dívida com o sistema financeiro internacional, muito menos com fisco, nada posso pagar, pois nada tenho e assim espero pacientemente elas envelhecerem... Não quero falar, enquanto tenho saúde, da minha aposentadoria, do meu seguro e dos remédios que terei de comprar. Não quero ficar de bode com o insolúvel produto que esse curto espaço de tempo me reserva. Não quero falar de toda uma vida dedicada ao cinema, à cultura brasileira e dos parcos recursos que deles recebi. Não quero falar dos prêmios e elogios que obtive pelos filmes que faço sem os recursos de produção que eles mereciam. Não quero falar de todas as minhas mulheres, nunca as mereci, nunca pude dar nada de material a elas, pois nunca nada tive para dar. Não quero falar de um mundo que não é meu, ao qual não pertenço e que sempre é o mesmo, repetitivo, obsessivo, ganancioso, cruel, em toda a sua história. Os homens do mundo que eu conheço, em sua grande maioria, permanecem iguais. Não mudam nunca. Não quero falar de tantas coisas que dariam para encher um livro. Mas tem uma coisa que ainda não existe que eu quero falar. Quero falar da esperança que surge quando uma nova vida desponta no nosso horizonte possível trazendo em sua aurora existencial a alegria natural dos que estão chegando. Quero hoje falar da Nina, que já prepara seu espírito, seus ouvidos, seus sentidos, sua memória, seus olhinhos para ver e descobrir o novo mundo que lhe será apresentado. Quero falar da alegria que é ter a primeira neta, ver nascer e crescer mais uma criança, uma nova mulher na minha família. Quero dizer da minha satisfação de poder assistir, ajudar, cuidar, amar, informar, mostrar, experimentar todos os paladares, todos os prazeres, que esse mundo idiota pode ainda oferecer a quem está chegando. Quero viver o suficiente para ouvir a sua voz, as primeiras palavras, as primeiras frases, a construção verbal de um pensamento, a primeira gargalhada, a primeira lágrima, o primeiro sorriso. Quero poder passear de mão dada com ela pelas areias do Arpoador onde me criei e chupar com ela o seu primeiro picolé de chocolate. Dar a primeira mordida divisória. Mergulhar nas ondas e afastar o medo. Mostrar que com seu avô ela pode se sentir protegida. E só depois de sentir que os seus olhinhos brilharão a me ver e que seu amor é tão grande quanto o meu, só assim poderei ir em paz para minha aventura espiritual, sabendo que aqui está tudo bem com aqueles seres que são para nós os melhores, pois nasceram da combinação cármico-cósmica de todas as estrelas do nosso universo particular. Sarava!

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