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domingo, 14 de novembro de 2010

Para meu amigo Gilberto Vasconcellos

LIBERDADE

Fala-se muito em liberdade, liberdade disso ou daquilo, liberdade de imprensa, de comércio e de posse. Fala-se e coloca-se a palavra, repleta de sentidos nobres, nas situações mais constrangedoras de engano e mal dizer. Liberdade não se amálgama com escravidão, servidão, sujeição. Liberdade, como dizem os filósofos, independente de quaisquer condições e limites, é o meio pelo qual o ser humano realiza a plena autodeterminação, constituindo a si mesmo e ao mundo que o cerca por sua capacidade inerente à ordem cósmica, concebida como natureza, universo ou realidade absoluta, fazendo-o existir com autonomia e autodeterminação ilimitada, desde que consigam agir e pensar como parte dessa realidade primordial e abrangente, harmonizando-se conscientemente com seus desígnios e suas aptidões, por meio dos quais a coletividade compreendendo as leis da natureza e os condicionamentos que pesam sobre a história universal, transforma o real com o objetivo de satisfazer suas necessidades materiais e intelectuais.
É deste ponto de vista libertário, distanciado e livre de mim mesmo, que pude observar e ter visões holísticas do vídeo que o professor Gilberto Vasconcellos fez comigo e que acabei de assistir. O vídeo que ele intitulou de “Sette Sétima Arte” é conversa-documento de uma geração. Eu e Gilberto, que é também sociólogo, escritor e crítico de arte, passamos horas na recepção de um hotel em Juiz de Fora, bebendo vinho, comendo queijo de minas e ruminando palavras em pensamentos expressos de maneira quase teatral, como se os dois personagens representassem em um só ato de meia hora todos os contornos de uma existência dedicada ao saber da arte na política e na cinematografia de todos os tempos. Fazíamos cinema como se fossemos gregos socráticos entre uma taça e outra de um bom “rouge” divino, sorvendo o que comíamos enquanto vivíamos sem restrições esse momento de prazer em poder se expressar com plena liberdade, na arte de um bom diálogo, todo o nosso conhecimento, quase toda a nossa história. Não discutíamos, nem queríamos persuadir um ao outro com suas idéias. A conversa, mesmo interpretada teatralmente com inflexões dramáticas e cômicas, principalmente por mim, foi muito bem gravada (posso dizer filmada), com movimentos precisos e ágeis do homem-câmera, criando nos planos-sequências segmentados pelo tempo-espaço das imagens, o conflito das lentes com o que foi retratado, aproximando-se nos clímax dramáticos e se afastando nas reflexões contemplativas e dedutivas do professor Gilberto, formalizando a ação contida nas palavras, valorizando a edição final em processo de corte seco, autofágico, sem identificar o protagonista como tal, livrando o observador da chata e entediante entrevista. A fotografia elétrica não intervém nos personagens e nem deixa, em nenhum momento, de observar o enquadramento perfeito, cinematográfico, das angulações preciosas. O começo misterioso, de suspense futurista, com o personagem-repórter pelas ruas (da Alphaville de Godard), procurando encontrar um homem 100%brazileiro. Através de toda a brasilidade de Câmara Cascudo, Oswald de Andrade, orientado pela batuta de Camargo Guarnieri, sob a inspiração do gringo Cassavete e a benção do transatlântico trotskista da história, Gilberto corta pela prosa a proa da poderosa lente kinoptik 9.8 retratando Kodak com seu olhos de aço afiado nos verdes mares do sul. E de binóculos no fim do nada e no começo de tudo podemos fazer o raio x de uma época conturbada pela vontade revolucionária de uma geração que ainda não passou e que possui a gazua e o x do problema. Evoé professor Gilberto e todos os seus meninos universitários, artistas dedicados que com muita criatividade e respeito participaram deste kinovídeo!

Estarei publicando o vídeo amanhã na página do KTV do Blog – Assistam!...

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