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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Crônicas do Cotidiano

O RIO PEGA FOGO III

Mais ataques incendiários movimentam a cidade com tiros e imagens aéreas de traficantes fugindo de carro, de moto e a pé, por um caminho de terra em direção ao outro morro vizinho. Carros e pneus pegando fogo tentam impedir a invasão policial. Tanques da marinha penetram favela adentro carregando bem protegidos o pessoal da tropa de elite da polícia que invadirá o morro. Tiros e correrias de curiosos, repórteres assustados portam coletes a prova de bala, é a guerra dos miseráveis, um novo Canudos sem Antônio Conselheiro, uma rebelião às avessas, uma nova matança que se inicia. As primeiras cenas da invasão são fotografadas por câmeras postadas nos helicópteros que sobrevoavam o campo de batalha, o espetáculo é visto de longe, mas podem-se ver detalhes das vielas do morro pelas poderosas teleobjetivas que observam paradas a garotada traficante, a maioria sem camisa, todos armados, correndo de um lado para o outro nos labirintos do grande complexo de becos, ruas, travessas, que cortam casas, casebres e barracos de alguns milhares de moradas que formam essa pobre comunidade. Na fuga desesperada dos bandidos um deles é atingido por um tiro e é arrastado por um amigo. O sangue mancha a terra seca da estrada de união das duas comunidades. Os bandidos fogem em massa, são mais de duzentos! Exclama o repórter da rede de televisão. Anoitece, a polícia toma posição de alerta e não se avança um passo a mais no território do inimigo, é muito perigoso, dizem eles. Todos esperam o dia amanhecer. Ai eu pergunto: Como nasce um bandido? Quem são eles? Qual é a história de cada um desses traficantes? Quem comanda as ações? Qual o número de traficantes que sofrem o comando de uma liderança? Essa ação da polícia de pacificação através da expulsão da comunidade de todos os bandidos resolverá o problema do tráfico e da criminalidade? Para onde vai esse dinheirão que se diz que o tráfico ganha neste comércio de droga? Como espalhar por todas as periferias miseráveis do estado, e depois do país, essas unidades de pacificação? Vocês não acham que tem alguma coisa errada nisso tudo? E se além de explodir carros, ônibus, eles comecem a explodir bombas em locais de grande afluxo de pessoas? Como conter ações de terroristas solitários? Aonde as autoridades governamentais querem chegar com essa estratégia de pacificação?

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