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domingo, 11 de abril de 2010

CONTO

O mar esta se agitando. Começou o frenesi das ondas com um estalo no céu. Depois o som de uma trovoada aguda, sinistra. Parecia que o tempo iria mudar. Meus ajudantes chegaram com o endereço do velho professor e seus dois filhos. Fiquei agitado com a possibilidade de ter resolvido todos os meus problemas que aquela família carregava.
Demóstenes está sentado em uma cadeira no pequeno jardim nos fundos da casa de Gabriel.
Os dois filhos saem da casa discutindo.
Marcos:
-Olha bem pra ele Gabriel e me diga se este homem está bem!
Gabriel:
- Para quem passou toda a sua vida como Rei, ele não está mal.
Marcos:
- Rei do que, meu deus?
Gabriel:
- Rei da simpatia, da inteligência, da informação...
Marcos:
- Rei da conversa fiada, isso sim que ele era...
Gabriel:
- Você sempre está enganado em relação a ele.
Marcos:
- É! E qual é o meu engano?
Gabriel:
- Você tinha inveja do amor de mamãe por ele, e do amor dele por mim...
Marcos:
- Não acredito em amor. Eu sempre tenho a mulher que desejo na cama e sempre achei o nosso velho pai, um sonhador mentiroso. Enganou e matou a minha mãe de desgosto e de vergonha. Tenho esse conflito permanente com esse cara que sempre se achou superior aos outros, metido a deus. Só porque foi aplaudido na Europa com a sua arte de enganar os trouxas? Pessoas sensíveis, verdadeiros artistas como a minha mãe, de família tradicional, estão sempre sendo enganadas por professores e mestres manipuladores dos sentidos e das palavras, que só tem um único objetivo em suas vidas: enganar; enganar; enganar. Esse é o nosso pai que só amamos porque suportamos.
Gabriel:
- Você está falando sobre você. Você é que sempre se achou o maioral, nunca suportou que ele soubesse mais do que você... Sempre disputou, com sua intolerância, todas as coisas que ele amava. Até cantar a minha mãe, você cantou! Como quer cuidar do doutor Demóstenes agora?
Marcos:
- Nunca fiz isso... Mariana sempre negou essa história do nosso pai! É mais uma invenção de sua insegurança com as mulheres, de todas que viveram com ele. Embora ele me rejeitasse e não me amasse, como você diz, eu tenho dinheiro e quero dar a ele um final de vida decente, coisa que você não pode fazer.
Gabriel:
- Posso sim, mais do que você, pois não é o dinheiro que vai proporcionar a felicidade do velho... Vou ficar com ele até a minha mãe voltar.
Marcos:
- E você acha que sua mãe vai voltar?...
Demóstenes, com firmeza na voz:
- Fique tranqüilo meu filho que sua mãe vai voltar...
Marcos:
- Ora! Não é que ele conseguiu falar alguma coisa que não fosse “Sou criança e estou com fome.
Marcos se aproxima do pai:
- Papai você está me conhecendo?
Silêncio
Demóstenes:
- Sou uma criança e estou com fome... (começa a chorar)
Gabriel:
- Ta bom!Ta bom! Chega Marcos!... Eu estou aqui papai. Não precisa chorar!
Marcos, desconfortado e com ironia, dá uma gargalhada nervosa:
- Você está vendo! Não é implicância minha!...
No barco balançando no ancoradouro, antes de sair em busca do professor, pensei bem e resolvi mudar de roupa e de disfarce.

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