
Demóstenes está sentado em uma cadeira no pequeno jardim nos fundos da casa de Gabriel.
Os dois filhos saem da casa discutindo.
Marcos:
-Olha bem pra ele Gabriel e me diga se este homem está bem!
Gabriel:
- Para quem passou toda a sua vida como Rei, ele não está mal.
Marcos:
- Rei do que, meu deus?
Gabriel:
- Rei da simpatia, da inteligência, da informação...
Marcos:
- Rei da conversa fiada, isso sim que ele era...
Gabriel:
- Você sempre está enganado em relação a ele.
Marcos:
- É! E qual é o meu engano?
Gabriel:
- Você tinha inveja do amor de mamãe por ele, e do amor dele por mim...
Marcos:
- Não acredito em amor. Eu sempre tenho a mulher que desejo na cama e sempre achei o nosso velho pai, um sonhador mentiroso. Enganou e matou a minha mãe de desgosto e de vergonha. Tenho esse conflito permanente com esse cara que sempre se achou superior aos outros, metido a deus. Só porque foi aplaudido na Europa com a sua arte de enganar os trouxas? Pessoas sensíveis, verdadeiros artistas como a minha mãe, de família tradicional, estão sempre sendo enganadas por professores e mestres manipuladores dos sentidos e das palavras, que só tem um único objetivo em suas vidas: enganar; enganar; enganar. Esse é o nosso pai que só amamos porque suportamos.
Gabriel:
- Você está falando sobre você. Você é que sempre se achou o maioral, nunca suportou que ele soubesse mais do que você... Sempre disputou, com sua intolerância, todas as coisas que ele amava. Até cantar a minha mãe, você cantou! Como quer cuidar do doutor Demóstenes agora?
Marcos:
- Nunca fiz isso... Mariana sempre negou essa história do nosso pai! É mais uma invenção de sua insegurança com as mulheres, de todas que viveram com ele. Embora ele me rejeitasse e não me amasse, como você diz, eu tenho dinheiro e quero dar a ele um final de vida decente, coisa que você não pode fazer.
Gabriel:
- Posso sim, mais do que você, pois não é o dinheiro que vai proporcionar a felicidade do velho... Vou ficar com ele até a minha mãe voltar.
Marcos:
- E você acha que sua mãe vai voltar?...
Demóstenes, com firmeza na voz:
- Fique tranqüilo meu filho que sua mãe vai voltar...
Marcos:
- Ora! Não é que ele conseguiu falar alguma coisa que não fosse “Sou criança e estou com fome.
Marcos se aproxima do pai:
- Papai você está me conhecendo?
Silêncio
Demóstenes:
- Sou uma criança e estou com fome... (começa a chorar)
Gabriel:
- Ta bom!Ta bom! Chega Marcos!... Eu estou aqui papai. Não precisa chorar!
Marcos, desconfortado e com ironia, dá uma gargalhada nervosa:
- Você está vendo! Não é implicância minha!...
No barco balançando no ancoradouro, antes de sair em busca do professor, pensei bem e resolvi mudar de roupa e de disfarce.
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