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quarta-feira, 14 de abril de 2010

CONTO

Tenho uma profunda admiração por esse homem Demóstenes, gostaria de não cumprir essa missão, ele é o melhor de sua espécie. Demoramos muito tempo para descobrir como encontrá-lo, foram anos de busca seguindo as correntes marítimas e todas as coordenadas, rotas e singularidades possíveis. Estou hoje aqui no final da minha missão e sinceramente não sei o que vai acontecer com todos esses personagens...
Demóstenes, de aparência normal, bem vestido, entra no palco onde está um piano e é aplaudido de pé por uma platéia de poucas pessoas Aproxima-se do piano e senta-se ajeitando o fraque. Inicia a tocata com volúpia e conhecimento do instrumento que estava tocando. Possuindo uma agilidade e uma técnica primorosa, envolve, em admiração e êxtase, a menina de 16 anos que estava com o pai na platéia. No final do concerto ela é apresentada ao pianista por seu pai, rico comerciante da cidade. Mariana, embora rebelde, tinha a música no sangue, já tocava piano e compunha. Demóstenes, professor de música na única universidade da pequena cidade costeira, encantado pela beleza e o talento da menina, promete que lhe ensinaria a sua arte, a sua música. Assim ela virou sua aluna e depois sua amante.
Em uma noite, quando a lua cheia brilhava nas areias brancas da praia das conchas, Demóstenes passeava com Mariana, a sua jovem aluna, como se fossem crianças repletas de felicidades descobrindo um novo mundo. Nesta noite explodiu, consumou-se, ao som do mar agitado e ao zunido de um vento forte que levanta areias nas dunas desérticas, o mais belo caso de amor que já aconteceu em toda a história daquela região. O romance de uma menina, uma pianista, uma artista de 16 anos, com o seu professor, 20 anos mais velho do que ela. Nesta mesma noite veio dar na praia trazido pelas ondas um objeto de plástico transparente com uma espécie de colar lacrado no seu interior. Demóstenes e Mariana ficaram horas admirando aquele estranho objeto.
Demóstenes acorda do sono profundo na cadeira da sala. Tenta se levantar, mas não consegue.
Demóstenes:
- Onde estou? Mariana! Mariana!Mariana! Onde estão todos? Onde estou? Alguém me responde!...
Gabriel acorda com os gritos do pai e corre até a sala.
Gabriel:
- O que aconteceu, meu pai do céu!
Demóstenes está prestes a levantar da cadeira...
Gabriel:
- Pai você está acordadinho, como há muito tempo eu não via. Vamos! Aproveita! Ponha a sua cabeça para pensar e não perca o fio da memória que tudo vai ficar bem..., tudo vai ficar bem, meu pai... Venha, levante com cuidado, agora vamos deitar na cama que você precisa descansar.
Gabriel coloca o seu pai na cama com carinho e depois o cobre com uma manta. Demóstenes mantém os olhos bem abertos piscando-os muito pouco. Gabriel fica um pouco sentado na cama ao seu lado. Quando Gabriel vai sair do quarto, Demóstenes mostra-se consciente e questiona a sua saída com firmeza e propósito.
Demóstenes:
- Gabriel, a vida é uma peça teatral de incrível magnitude...
Gabriel:
- Pai! Você está novamente no mundo! Você está voltando a si!... Isto não é maravilhoso?
Demóstenes:
- Onde estão todos?
Gabriel:
- Eu estou aqui com você.
Demóstenes:
- A vida é um teatro vazio!... Meu filho, Mariana já viajou?
Gabriel:
- Sim, ontem!
Demóstenes, levantando-se da cama:
- Então eu preciso começar a agir... Tenho pouco tempo!
Demóstenes tenta chegar até a sala, mas tem que se segurar para não cair.
Gabriel:
- Papai! Você não pode fazer todo esse esforço... Você não sabe mais ficou doente mais de três meses... Está ainda muito fraco. Deixa eu te ajudar a chegar à cadeira..., vamos, não seja teimoso.
Demóstenes:
- Fico agradecido Gabriel por sua dedicação. Foram então três meses de delírios e sonhos?
Gabriel:
- Os médicos disseram que você teve um acidente cerebral irreversível..., estamos vivendo um milagre? Estou perplexo!
Demóstenes:
- Não fique não, tudo isso tinha que acontecer... Nós precisamos agir imediatamente...
Gabriel olha para Demóstenes que volta a adormecer na cadeira.

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