

Acordei com uma tosse terrível. Na porta do hotel já estavam me esperando Mario Drumond, Izabel Costa, Eliseu Visconti, Sylvio Lanna, Ofélia Torres e o curador da mostra de cinema


Saímos do hotel em direção do cinema. Marquei o meu retorno ao Rio na manhã do dia seguinte. O Mario e a Izabel teriam que voltar à tardinha para Belo Horizonte e não poderiam assistir aos meus filmes: Bandalheira Infernal; O Rei do Samba; Amaxon.
- Que mistério é esse que une as pessoas e depois as separam?
Gostaria de ter me encontrado com todos os meus amigos de Minas Gerais em uma grande festa cinematográfica, mas ainda não era a hora.
Passeando por Ouro Preto, de carro com Sylvio Lanna, lembrei-me dos dois filmes de curta-metragem que realizei sobre o encontro de escultores brasileiros no Festival de Inverno acontecido no final da década de 70. O primeiro com Krajcberg no Pico do Itabirito e o outro com os mais renomados escultores brasileiros ali presente. Entre todos esses artistas um se destacava na minha grande angular: o meu amigo Paulo Laender. Pelos altos dos morros, escondido na caverna do ouro que não mais existia, no contraponto da erudição cultural que se exigia naquele momento, surge a figura pré-histórica, mítica, do Bené da Flauta. Estes personagens de nossa cultura são retratados nos meus filmes: Naturalista Krajcberg e Natureza e Escultura. Fiz também um vídeo para a TV Minas em Cachoeira do Brumado com o escultor Arthur Pereira. Exibi em 1986 no Cine Vila Rica, para uma sala cheia em pré-estréia, o meu mais premiado filme “Um Filme 100% Brazileiro”. Logo depois fui convidado para o Festival de Berlim.
Atenção senhores passageiros: vai começar a sessão!
Bandalheira... O filme permanece novo. O Rei ainda é rei. Amaxon encheu toda tela de luz no belo e histórico cinema.
Manifesto Libertário. É dezembro de 1977 nesta estrada morro abaixo qual serpente vou indo a direita de Ouro Preto a esquerda da Ponte Nova a alguns metros de um posto de gasolina fincado no asfalto no Alto da Serra vou indo ao escondido
vilarejo de ruas estreitas cobertas de árvores perfumadas de velhos casarões coloniais e uma pequena mata ainda virgem. Lavadeira artesã com água clara límpida corrente nos pés de escravos ainda habitantes vai indo rindo cantando no rio choroso entre fontes e flores ternas por pedras e igrejas incrustadas de ouro vou indo me molhar todo de prazer na cachoeira pré-histórica do Brumado.

Nada mais resta além da porta estreita do caos.
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