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quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Saga do Cinema de Vanguarda Brasileiro IV

Quarto DiaPassei todos esses dias, desde que entrei em terras de Minas, com o meu telefone celular Vivo, trocado na cidade de Cabo Frio por um novo, de pré-pago para conta mensal, que deveria falar em todo território nacional, inoperante e sem sinal. Ele ainda possui câmera fotográfica, mas é quase impossível encontrar para comprar um cabo de transferência para o meu computador, ou seja: tudo que eu tinha pensado em fazer durante o Festival de Inverno de Ouro Preto, o vento da propaganda enganosa me levou. A simpática e aconchegante Pousada em que fiquei não tinha a internet sem fio e passei a semana sem poder publicar as notícias diárias no meu blog. Então o que seria matéria jornalística torna-se memória, memento, ou tudo que não se quer olvidar.

Túlio Marques apareceu durante o Festival agitado e contando na porta do cinema, para quem quisesse ouvir, suas aventuras na década de 70 no Rio de Janeiro. Hoje chega a cidade dois outros amigos queridos, Marcelo Pegado, fotógrafo do Amaxon e Wanderley Narareth, técnico de som do Rei do Samba.
Fotos de Mario Drumond

Acordei com uma tosse terrível. Na porta do hotel já estavam me esperando Mario Drumond, Izabel Costa, Eliseu Visconti, Sylvio Lanna, Ofélia Torres e o curador da mostra de cinema


Alessandro Ricardo. Aliais quero deixar aqui registrado o esforço e a dedicação do Alessandro na sua tão laboriosa luta para telecinar o meu primeiro longa-metragem Bandalheira Infernal, do qual só possuía ainda uma cópia e que tinha o seu negativo perdido pelas mazelas dos arquivos do áudio visual brasileiro. Graças a ele o filme que é de 1975 está a salvo.
Saímos do hotel em direção do cinema. Marquei o meu retorno ao Rio na manhã do dia seguinte. O Mario e a Izabel teriam que voltar à tardinha para Belo Horizonte e não poderiam assistir aos meus filmes: Bandalheira Infernal; O Rei do Samba; Amaxon.
- Que mistério é esse que une as pessoas e depois as separam?
Gostaria de ter me encontrado com todos os meus amigos de Minas Gerais em uma grande festa cinematográfica, mas ainda não era a hora.
Passeando por Ouro Preto, de carro com Sylvio Lanna, lembrei-me dos dois filmes de curta-metragem que realizei sobre o encontro de escultores brasileiros no Festival de Inverno acontecido no final da década de 70. O primeiro com Krajcberg no Pico do Itabirito e o outro com os mais renomados escultores brasileiros ali presente. Entre todos esses artistas um se destacava na minha grande angular: o meu amigo Paulo Laender. Pelos altos dos morros, escondido na caverna do ouro que não mais existia, no contraponto da erudição cultural que se exigia naquele momento, surge a figura pré-histórica, mítica, do Bené da Flauta. Estes personagens de nossa cultura são retratados nos meus filmes: Naturalista Krajcberg e Natureza e Escultura. Fiz também um vídeo para a TV Minas em Cachoeira do Brumado com o escultor Arthur Pereira. Exibi em 1986 no Cine Vila Rica, para uma sala cheia em pré-estréia, o meu mais premiado filme “Um Filme 100% Brazileiro”. Logo depois fui convidado para o Festival de Berlim.
Uma só palavra de ordem: Vivo em Ouro Preto! Berço das Minas! Mãe da Liberdade


Atenção senhores passageiros: vai começar a sessão!

Bandalheira... O filme permanece novo. O Rei ainda é rei. Amaxon encheu toda tela de luz no belo e histórico cinema.

Manifesto Libertário. É dezembro de 1977 nesta estrada morro abaixo qual serpente vou indo a direita de Ouro Preto a esquerda da Ponte Nova a alguns metros de um posto de gasolina fincado no asfalto no Alto da Serra vou indo ao escondido vilarejo de ruas estreitas cobertas de árvores perfumadas de velhos casarões coloniais e uma pequena mata ainda virgem. Lavadeira artesã com água clara límpida corrente nos pés de escravos ainda habitantes vai indo rindo cantando no rio choroso entre fontes e flores ternas por pedras e igrejas incrustadas de ouro vou indo me molhar todo de prazer na cachoeira pré-histórica do Brumado.

Minha suave cidade. Dependurada despencada entre estranhas montanhas vai bela. Redemoinho de força serra de água escultura de pedra ou madeira, ipê amarelo, ou verde perdido. Aqui totem e tabus traçados em terreiros a jorrar no espaço rico do ouro de pobres fazendeiros. Ali na comarca vazia o preto levado pelos portugueses vadios. Ali no município de Mariana mora vive toda a vida cercado dos filhos dos amigos lúcido da liberdade e dos sonhos. Um trabalhador homem do povo preto branco puro e simples filho humilde do campo escultor do nosso imenso Brasil. O fim do equívoco. É hora de ser sensato. Incansáveis e poderosos defensores do equilíbrio justo e universal: libertários do Brasil! Uni-vos! Revelemo-nos agora! É hora de revolucionar a espécie humana! Nenhuma fé derruba a montanha!


Nada mais resta além da porta estreita do caos.

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