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domingo, 19 de julho de 2009

A Saga do Cinema de Vanguarda Brasileiro I

Prólogo
Depois da frustrada primeira exibição pública do meu filme Amaxon, no cine Glória do Rio de Janeiro (texto já publicado anteriormente), vejo-me, novamente, trilhando os caminhos das Minas, na zona da mata mineira, subindo e descendo montanhas, cochilando no embalo da estrada tortuosa por onde o motorista Oliveira, mineiro de alma nobre e sotaque carregado, me conduzia para uma semana de exibição de filmes no Festival de Inverno da cidade de Ouro Preto. Saímos na terça-feira bem cedinho do Rio de Janeiro. Pegamos o cineasta Eliseu Visconti e subimos a serra. Eliseu estava muito bem aparentado, jovem e alegre com a viagem que se seguia e a possibilidade do encontro com os velhos amigos Andrea Tonacci, Sylvio Lanna e Geraldo Veloso. Eu também estava feliz: passaria Amaxon, veria os velhos amigos e assistiria aos nossos filmes! O que melhor poderia me acontecer?
Perto de Lafaiete, a cidade que cresceu assustadoramente a beira da velha rodovia que liga o Rio de Janeiro a capital de Minas, entramos num trecho que eu não conhecia. Perguntei para o Oliveira onde estávamos e ele me respondeu que cortaríamos o longo percurso já percorrido, economizando 100 km, pela Estrada Real e que com a ajuda de Deus nos deixaria no nosso destino ainda a tempo de almoçarmos aquela saborosa comida cantada em verso e prosa pelos inconfidentes.
Pela janela do carro revisitava a minha terra. Chegamos por volta do meio dia.
Depois de deixarmos as malas na simpática Pousada Minas Gerais, onde nos hospedamos, nos despedirmos do Oliveira e saímos, eu e o Eliseu, a pé, em direção da rua direita, caminhando por aquelas ruas e ladeiras, observando às casas, os telhados, as igrejas, vislumbrando o encontro com os personagens visionários que há tempo não viamos.
O palco de tudo isso era o Cine Vila Rica que hoje pertence à Universidade de Ouro Preto.

Primeiro Dia:

Na porta do cinema estava a observar o barroco mineiro, com a postura de um príncipe veneziano, o cineasta Andrea Tonacci. No hall de entrada Geraldo Veloso dava uma entrevista aos jornalistas locais. Eliseu saiu para tomar sua primeira cerveja.
Eu estava conversando com Andrea quando um carro parou e desceu dele Sylvio com sua pequena câmera digital...

Sylvio Lanna, que tentou a vida toda fazer cinema e foi impossibilitado pela política excludente dos burocratas do sistema, o governo militar e a falsa democracia que se instalou no país após a ditadura, tinha reencontrado na nova tecnologia digital a sua alma de artista, a sua liberdade criativa, o seu olhar crítico, e, como o russo Dziga Vertov, passou a semana registrando os momentos significativos desse nosso reencontro.
Hoje, neste primeiro dia, as 17:00 horas, nos reunimos para um debate sobre os nossos filmes e exibimos alguns de nossos curtas metragens: Malandro Termo Civilizado de Sylvio Lanna; Um Sorriso Por Favor de José Sette; As Benzedeiras de Minas de Andrea Tonacci; Nossas Imagens de Luis Rosemberg (que não pode comparecer por estar em tratamento médico); Ticumbi de Eliseu Visconti.
No debate o tema foi o de sempre, cinema novo x cinema (marginal) de resistência. Nada de novo.
A mesma xaropada já discutida durante mais de 30 anos. Chega! Perguntei: - A que horas será servido o jantar?

Fomos jantar no restaurante do meu amigo e poeta Guilherme Mansur.
A grata surpresa do dia foi o encontro com a artista plástica Ofélia Torres, que me esperava na porta do Cine Vila Rica e que passou a nos acompanhar, enriquecendo as conversas com sua presença enigmática, durante todos os dias de nossa permanência no Festival.
Quem também apareceu foi o meu querido amigo Jose Alexandre (Lelé), produtor do filme Piranhas do Asfalto de Neville de Almeida, que veio de Ponte Nova para nos encontrar.
Viviamos agora a grande festa dos reencontros.

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