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domingo, 8 de dezembro de 2013

TEXTO DO POETA MARCIO BORGES



Estou em litígio com este planeta, especialmente esta porção brasileira dele, melhor dizendo, estou em dieta autoforçada de coisas mundanas, crise aguda provocada por ultradose e elevado grau de exposição radiativa. Me sinto cada vez mais deslocado nas cidades grandes, sejam BH, Nova Iorque, São Paulo ou Betim, sinto-me naufragado num oceano de coisinhas à-toa, coisas miudas, pensamentos medíocres, filosofias de calendário de oficina mecânica, textículos infames, 34 maneiras de tornar-se um cretino, as 20 maiores sandices cometidas pelo bicho-homem, os 15 piores momentos da humanidade, o primeiro e eterno descaso de sempre com os pobres miseráveis deserdados desse chão sujo de sangue, o momento exato onde a estupidez ganhou supremacia, o império das versões, o massacre da inteligência e o mais completo descaso com a verossimilhança, ou parentesco genético com o gênero humano. Mutações pequeninas e degradantes, só perceptíveis quando honestamente vistas de dentro. Sinto náuseas com a insuportável concentração de renda e poder que está matando o planeta, choro de angústia diante do renascimento de ideologias genocidas e ações de extermínio e profunda maldade perpetradas por jovens que tem idade de meus netos… Sinto paranoia, cercado por ególatras capazes de alta destruição individual e coletiva, milhares deles, dispostos a qualquer contrafação e / ou ação malévola, para provarem que a verdade é unilateral e está com eles, eles é que são os bons e os que carregam sozinhos a bandeira do fazer e do acontecer, seja lá no que der isso. Não sinto a mínima vontade de contemporizar com nada ou ninguém, de curtir nada, genial ou imbecil, não opinar nada contra ou favor de biografias ou difamações, de helicópteros de pó ou omissões da mídia, cantores geniais ou spoofs sem graça, religiões ou simples manias, cada um pense, faça e diga o que lhe aprouver. Cada um já está mesmo naturalmente cheio de si mesmo, cada um que se ache no melhor pedaço de si que puder. Cada um dá o que tem, não precisa ninguém dizer. Quero e posso apenas esperar em silêncio e concentração, vibrar, pensar e dizer o melhor que puder, com o máximo desvelo e o máximo amor possível, antes que o pior aconteça, porque estamos todos no mesmo barco fazendo água, agindo sob a batuta de algum perverso maestro, como a orquestra que só ousa pular fora depois do último acorde, quando já é tarde, otimistas por necessidade, alienados por medo, sorridentes por defeito na dentadura moral. Aqui ao menos estamos tendo a rara oportunidade de vermos passo a passo, post a post, no bafo e no desabafo, aquilo em que vamos nos tornando no dia-a-dia, vendo velhos sonhos apodrecerem na cesta de lixo daquela padaria que só vende artigo novo, aquela ali, situada ao lado do galpão onde rola aquele funk pesadão e as mina chocalha as bunda e se prostitui por um par de tênis.

Márcio Borges (facebook)

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