TRANSCRIÇÃO
NEGRO LEO - VIA FACEBOOK
"Um
amigo que trabalhava no ministério do Meio Ambiente na época de Marina
Silva me criticava dizendo que essa minha conversa de ficar longe do
Estado era romântica e absurda, que tínhamos que tomar o poder, sim. Eu
respondia que, se tínhamos de tomar o poder, era preciso saber manter o
poder depois, e era aí que a coisa pegava. Não tenho um desenho político
para o Brasil, não tenho a pretensão de saber o que é melhor para o
povo brasileiro em geral e como um todo. Só posso externar minhas
preocupações e indignações, e palpitar, de verdade, apenas ali onde me
sinto seguro. Penso, de qualquer forma, que se deve insistir na ideia de
que o Brasil tem – ou, a essa altura, teria – as condições ecológicas,
geográficas, culturais de desenvolver um novo estilo de civilização, um
que não seja uma cópia empobrecida do modelo americano e norte-europeu.
Poderíamos começar a experimentar, timidamente que fosse, algum tipo de
alternativa aos paradigmas tecno-econômicos
desenvolvidos na Europa moderna. Mas imagino que, se algum país vai
acabar fazendo isso no mundo, será a China. Verdade que os chineses têm
5000 anos de historia cultural praticamente continua, e o que nós temos a
oferecer são apenas 500 anos de dominação europeia e uma triste
historia de etnocídio, deliberado ou não. Mesmo assim, é indesculpável a
falta de inventividade da sociedade brasileira, pelo menos das suas
elite políticas e intelectuais, que perderam várias ocasiões de se
inspirarem nas soluções socioculturais que os povos brasileiros
historicamente ofereceram, e de assim articular as condições de uma
civilização brasileira minimamente diferente dos comerciais de TV. Temos
de mudar completamente, para começar, a relação secularmente predatória
da sociedade nacional com a natureza, com a base físico-biológica da
própria nacionalidade. E está na hora de iniciarmos uma relação nova com
o consumo, menos ansiosa e mais realista diante da situação de crise
atual. A felicidade tem muitos caminhos".
(texto de Eduardo Viveiros de Castro)
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