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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Critica de Cinema



Djalioh é um Filme do Absurdo e do Absoluto que eu Desejo e Vejo
“A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo”
(Flaubert),
O careca Gustave Flaubert de Madame Bovary  deve ter explodido e brilhado no além quando Ricardo Miranda resolveu adaptar e filmar o seu texto mais confuso e mais infantil para o cinema. Transformar os vícios da tristeza infantil dos europeus nas virtudes da beleza feminina da juventude brasileira, eu tenho certeza, foi o seu maior prazer. Incorporar aos textos pesados e carregados de neurose europeia as belas imagens serranas e ressuscitar Djalioh gozando na mata atlântica é sem dúvida trabalho de fôlego de quem busca no insondável a poesia nossa de cada dia. O brasileiro idiota que chega à civilização e tem a mesma idade do autor, é mesmo um idiota, ou seria um ser incompreendido pela sociedade burguesa e careta que o escraviza  A mesma sociedade aristocrática europeia que faz uma negra copular com um macaco africano, nascendo dali o ser Djalioh, que quer nos deixar, paradoxalmente, nos elevar de amores e carícias, de vômitos e volúpias, de índios e portugueses. Ricardo Miranda não está e nunca esteve preocupado em narrar uma história, nem mergulhar no tempo passado, no épico autoral deste autor histórico. Filma como se vivêssemos todos esses absurdos agora, hoje no tempo real. Esta sua liberdade poética é que me encanta e me agrada muitas vezes no filme dos belos planos longos que por serem estáticos não formalizam sequências, não tem começo, nem fim. Os diálogos de Flaubert são curtos e cheios de ação em sua construção. contrapondo a eles imagens inertes e alongadas. Dialética cinematográfica de síntese einsteiniana do espaço-tempo. Movimento cinético de radiações do pensamento onde uma ideia que surge subitamente está associada a mil palavras. Mas o principal de tudo isso são as atrizes Bárbara Vida e Mariana Fausto que estão soberbas em suas atuações amorosas recriando, com toda dramatização necessária, às tristes musas da aristocracia francesa. Incapacidade intelectual e insensibilidade moral caracterizavam estas personagens que tentam escapar à realidade através de suas frias relações com Otávio III no papel de Djalioh, que esta brilhante em sua singeleza expressionista. A bailarina Cátia Costa encarna uma escrava e parte para um realismo chocante surreal e nojento. Helena Ignez e Tonico Pereira trazem em seus personagens a obsessão fantasiosa de quem em um simples gesto de abrir um leque, tal qual uma bailarina chinesa, uma bonequinha de cristal, nos eleva aos olhares mais atentos e em segundos a toda uma tradição milenar, contrapondo, do outro lado do espetáculo, com Tonico Pereira oculto na presença do simples médico mascarado, iconoclasta do absurdo, observando em silêncio o fim a história dos cadáveres estirados no chão, tal qual o pai cirurgião açougueiro, foi ele escrutador de algumas palavras, talvez com gemidos e choros retidos nos ruídos do perscrutador do absurdo, da falta de sentido, ou da justificação racional para a existência do homem neste universo tão bem iluminado e retratado pela magnífica lente e sensível fotografia de Antônio Luiz Mendes. O que mais podemos pedir de um diretor se ele apresenta-nos um radical filme de meditação suprema? Um filme, e não vídeo, de autor cinematográfico, que, sem medo, experimenta, inventa e realiza, sem nenhum recurso financeiro, uma obra de fôlego, sobre o fogo da vida.
Jose Sette
jan/2013

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