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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Meleagro

Basta de Diálogos Ocultos

O Egito, com suas pragas bíblicas, se assemelha a este país tropical
Ouvi esta afirmação de um Meleagro das matas dos confins do norte
Ele vivia em uma palafita fincada nas águas escuras do rio
Encoberta pelas centenárias árvores amazônicas
Em dois dias de viagem
No igarapé do alto Rio Solimões

Para ele o Brasil é o éden e o Egito o divino
O Egito é a terra das múmias antigas, dos enigmas decifrados
O Brasil é o tabu, a terra pré-histórica mais antiga e cifrada
Terra de ninguém, de nenhum brasileiro, terra do nada
O Brasil é o índio e sua história
Ontem e hoje pobres índios massacrados...

Porque tamanha pobreza? Tamanha miséria? Tamanha crueldade?
Será que os deuses egípcios e os pajés das matas nos enganaram?

Você precisa saber, continuou ele exaltado:
O homem brasileiro é representado pelo índio
O povo do Egito é representado pelos árabes
Os judeus por eles mesmos
Onde o princípio é o fim
Romeu é Julieta
Marco Antônio nunca amou Cleópatra
Amava César que detestava Roma

Os que nascem sábios em toda uma geração de anacoretas deverão pagar este alto preço... O preço da traição, do esquecimento, da decepção e do veneno...

Só se você se jogar nos braços da morte se desfaz este feitiço.
Respondeu-me o Meleagro

Não sou cristão e não me beatifico
Mártir? Não sou herói nem bandido
Não sou guerreiro e nem predador
Permaneço longe desta confusão
Não respeito à origem da família e nem da propriedade
Sou contra a igreja e o capital
Não vivo da lealdade dos amigos
Nunca os tive
Nem dos escravos das crenças dos judeus
O capital nunca o quis
Vivo pela liberdade total do ser
Sou a favor do bacanal
Do Eu em Você e Nós dois em Todos
Falei para ele com ar de farsa

Este tema é o anátema dos nossos dias
Ele me respondeu
O Egito milenar está escrito na pedra verde
Espalhado por toda a América
Muiraquitã é um dos nossos deuses
Miramar é o outro
Nunes e Oswald
Macunaímas anárquicos e elétricos
Mitologia brasileira ou a etimologia da memória?

O que fizemos de errado para sofrermos esta escolha divina e cristã?
Se Deus é brasileiro
O oriente miscigenado ao ocidente
A nossa esculhambação
Nasce no carnaval
História ou Acidente?
Não há registro.

Assim fica decretado:
Que em nome da infâmia seja apagado das pedras do rio
Todas as tradições da nossa cultura e do nosso folclore
Em troca das miçangas estrangeiras

Agora olha um para o outro
O que esta em você e pela última vez
Acabe de vez com a farsa
Se você morrer será pelas mãos dele e não pelas minhas

No deserto abrasador deste mundo
Homens que haviam andado com reis
Andam hoje solitário

Abandonados pelos amigos
Em todas as horas
O homem civilizado é um morto-vivo
Zumbi do mercado e da moda
Uma macumba de turista

Perdido e Maldito

A cada dia mais você se deixa
Ao abraço da solidão

Estou e sou só e daí?
Não há o que duvidar

Este calor insuportável dos trópicos
Levará multidões à loucura

No paraíso do nada
Pois ainda mal sabemos de onde viemos
Vivemos malgrado pela força do ouro

Pizarro trucidou a terra milenar americana
Pela cultura bárbara da descoberta
Isso amaldiçoou a Espanha

Hoje são todos adoradores do Midas e da mídia
Do metal nobre na mão do criador e da expressão do mesmo

Somos todos alquimistas

Meu amigo, haverá uma nova geração briguenta
Haverá a cada dia um novo rebelde indômito
Jovens que doarão o seu sangue novamente para a abstrata renovação
O eterno povo pintado de vermelho para a revolução
Cara pálida
Somos heróis!
Houve alguma mudança?
Novas e cansativas tentativas surgirão
Sempre haverá um romântico idealista
Um barco a deriva

Novos modelos político econômico de governo também existirão
Tudo é nada na mais pura mentira inventada
Ninguém deve agüentar mais isso
Revolta e transformação

Muita censura econômica sem nenhuma liberdade
Muito amor no país do romance e da carochinha...

E você onde estava em 1968?

Meu amigo é tão bom te ver de novo
Limpo, barbeado e sadio.
As drogas não lhe consumiram?
Não lhe mataram?
Eu estava perdido...

Voa, voa, doce anjo e vai estar com os mentirosos
E diga a eles o que me fizeste.

Até onde podemos chegar?

Você está inteiramente maluco!

Voe meu doce anjo para a verdade


A loucura do céu azul de tanto anil
Em pinceladas inusitadas
Cria uma nova bandeira
Com o Sol vermelho da solidão
O verde das matas e do mar
O branco da renovação e da paz

Renovar é tudo que alguém pode pedir na vida
Ela flana solta e verdadeiramente livre
Falo de todas as amarras do sistema
Tendo todo poder em suas mãos
Em seu corpo, em sua língua,
Em acordo com a sua inteligência,
Sua cultura, seu saber e suas necessidades.

Liberdade é amar alguma coisa além de nós
Nos olhos verdes da morena arábica
Duros como um cedro do Líbano
Vejo a revolução brasileira, vietnamita, cubana e chinesa
Penso na história

Precisamos derrubar a mentalidade stalinista que domina o pensamento para sabermos onde esta o erro praticando a revolução permanente de Trotski...

Uma jóia, às vezes, possuí o brilho do fogo, mas todas as pedras, por mais rara e preciosa que sejam, não trazem em si nenhum calor, nenhuma luz, nenhum sol. Quanto maior é a luz mais tenebrosa é a SOMBRA e mais valioso o diamante

O país só nos oferece a dor
Mas nós lhe oferecemos tudo o que temos de alegria
Afinal morrer faz parte da vida
E gozar é só o princípio

Os árabes dominaram a Bahia e a Minas os ingleses
Não nos faltou o comércio das quinquilharias
Ao peso de um Moisés, de um Ramsés ou de um francês
A nossa pré-história, os nossos ossos
Vieram os ingleses e colonizaram a língua e os costumes
Construíram as nossas cidades com a força do campo
Implantaram as estradas de ferro de bitola estreita
Forjaram as pirâmides do desenvolvimento inexplicável
O povo escolhido se deixou escravo por milênio
Agora, deixaram um furo bíblico, messiânico, evangélico
O milagre milenar do pastor barbudo e do sapo venenoso

Eu sou seu pastor de ovelhas, seu carmesim
Toda a nossa história começa assim
José, tire as sandálias dos pés, pois esta terra é sagrada
O senhor é o seu pastor e nada vos faltará...
Senhor! Como posso tirar o meu povo do cativeiro
Sendo eu o que sou?
O que direi a eles ?
Um homem de fé vale pôr mil soldados... Diga-lhes!
Moisés com sua cabeça branca e suas sandálias velhas
Pisando descalço na terra santa comandou um exército
Comandou uma nação adoradora do bezerro de ouro

No Egito contemplei a morte quando disse que não seria pela espada de um guerreiro que os deuses libertarão os seus protegidos mas sim pela vara simples de um pastor. No Brasil deram aos ricos empresários vários presentes e muitas espadas para protegê-los

Mas que reino te enviou?
O reino das alturas, um anjo me respondeu.
Deixai o meu povo em liberdade
Oh! Dura servidão
Um homem santo me torturou e me cortou em mil pedaços
A sua vara se transformou em cobra viva, venenosa...
Milagres eu faço! Agora engolir a cobra é trabalho de mágico

Disse o faraó: O poder do seu deus é um truque barato de magia
A minha serpente engole todas as outras ignomínias
Disse-me o carrasco: deus perdoa-te pelo fraco uso de suas forças
Faça o que quiser comigo mas não perca a fé em nosso país

Eu lhe amaldiçoei por que o amo, meu deus!
Entre todas elas a quem fui apresentado eu me apaixonei por você
Eu me apaixonei por um pastor, por um carpinteiro, por um camponês
E pelo torturador dei a outra face

Existe uma beleza no espírito, não podemos vê-la, mas podemos senti-la
Mas a beleza não libertará o nosso povo
Você é o pó onde deus realiza os seus propósitos

Para todos que amam este país com fé resta pouquíssimo tempo de se consubstanciar a vida nesta sessão de pancadaria
E o medo me libertará
Delação!

Água da vida se enriqueça e nunca transforme o deserto seco no mar
Disse-me um incauto que naquela igreja está jorrando o sangue de Deus
Os terroristas foram exterminados no altar

O sertão virará deserto e o deserto tornar-se-á um inferno
E o céu? E o mar? Por sete dias o Egito morreu de sede.

Purifiquem a ponte por onde vocês vieram - índios da América!
O Amazonas e o Nilo ficarão vermelhos de sangue
Deus que não é brasileiro tende a negar tudo que seja popular
Ele não deu asas à cobra do paraíso

Nada te fará curvar aos poderosos faraós desta terra brasílica
No grande e sinuoso Chico onde irás navegar
Três dias de trevas
Três figuras santas
O medo de quem governa
O saque do povo faminto, nada o impedirá de ver
Quem é o escravo e quem é o faraó
Os vencedores sempre contam as histórias dos vencidos
O Egito nunca se renderá ao deus dos seus escravos

E você, miserável destino, quando libertará o meu povo?
Se houver mais uma praga, uma mentira, a nossa gente se revoltará
Não venha mais aqui Moisés pois ao vê-lo os famintos o devorarão

Chamem a polícia e o ladrão, o mau e o bom, pois uma nova praga vou lhes pregar: Uma criança pobre e maltrapilha morrerá a cada dia que antecede a libertação em mãos estrangeiras

Eu o perdi porque o amava
Supremo paradigma !
Deus de todos os poderes me proteja...

Louvado seja aquele que trouxeram o pão à nossa mesa
O povo desta terra não haverá de morrer de fome
É história universal e divina
Nasceu sobre a proteção guerreira de São Jorge
Meu santo protetor com sua mão forte livra-me deste cativeiro
Partiremos em busca da terra prometida, em busca do saber
Lutaremos juntos! Disse-me Jorge no dia 23 de abril

Grande senhor do mundo superior erguerei para ti um templo de magia e orientação maior que as pirâmides onde sua sombra se lançará por enigmas de cânticos louvores e ritos que te projetará como se fosse esfinges incontáveis a devorar toda a luz do mundo e farei surgir assim o seu novo e único mandamento aos homens tirado de toda luz que guiará uma geração de desgovernados

Toque-me ! Alo você! Troque-me por coisa mais real...
Meu senhor, eu te mato mesmo sendo meu salvador!

A minha liberdade rompe suas fronteiras
Mas alguns ainda se deixam incrédulos
Pela força onipotente do império do norte

Atiçam seus cavalos e suas bestas em defesa de seus interesses
Nossa força não é só o trabalho, mas criação e a arte

Não cultivamos a preguiça como querem nos colocar
Somos trabalhadores e ordeiros que eles querem escravizar
Não tenham medo fiquemos sim perplexos
Extasiados com a força da razão e o fogo do saber

A divisão das águas! E Deus abriu o mar.
O Povo se viu livre dele outra vez
De quem? Do seu povo?
Mas dentro desta alcova sagrada eles surgiram em grandes números
Como milhares de insetos traidores devoram o que esta a sua frente
Sem solução merecem morrer
Envenenados por seu apetite incontrolável
Os que querem tomar o lugar do divino
Destino final deste trem
A última estação
Do santo prazer!

Regido pelas forças inferiores clamavam que Deus existia mais tinha esquecido do seu povo.Tinha se esquecido do Brasil
Mas lá no norte, nas selvas amazônicas, ele renascerá...

E aqui estou eu!
Novamente JURUPARI.
FECHAM-SE AS ÁGUAS.
SUCUMBEM OS HIPÓCRITAS
NAUFRAGAM OS DESTEMIDOS
ASSOMBRAM-SE OS IMPÉRIOS
Da eternidade para a eternidade vós sois Deus!
Professou e Pajé das matas... MELEAGRO
Mas antes de matar-me mostre-me o sangue deles

Antes do paraíso está o deserto
Antes de um homem está o animal
A planta, o mineral, o nada!

Foram-se todos à montanha proibida de Roraima
Receberam novamente os mandamentos divinos
Beberam o xarope do índio
Criaram uma nova lei
Dançaram a noite toda

É preciso ter muita fé para amá-lo - disse-me Deus
O que eu deixei de fazer para que este povo se contente com tamanha hipocrisia? É tão grande a estupidez que me deixa enraivecido, envergonhado de ter nascido aqui, neste quintal mundano

Enquanto Jurupari lapidava os mandamentos os índios famélicos se contentavam em adorar as coisas da natureza exuberante da selva

Este é o nosso Deus, diziam, o único
O Deus do prazer
O Deus natural
O país vivia a sodomia moderna antropofágica
Os índios nus comiam uns aos outros num banquete de famintos

Basta de podridão só o canto gregoriano do negro faz com que o povo suporte a sua miséria gritou o padre na capela
Só os privilegiados filhos do mal se divertem cochichou no ouvido do bispo o papa
O que o Senhor tem contra o prazer? Disse o ouvinte revoltado
Quero a felicidade e quem não quer viver por ela que morra nela
O Senhor esta irado? Perguntei-lhe
Jurupari criou asas e voou ao céu e na volta disse aos seus: Proclame a liberdade por toda a terra em nome de todos os homens e seja o que os deuses quiserem.Chega de bezerro de ouro. Abaixo o capital, os milagres e os planos diabólicos. Enforquemos Midas. Somos do ocidente e não um acidente. Oriente a sua mente pois é chegada a hora do Juízo final e basta...

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