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quinta-feira, 24 de março de 2011

Poesia


Natureza Torta

“The mystical city of gold
Glittered with wealth untold
In midst of lake of sapphire blue”


O Império do Ouro

1978 , outubro, 10.30 de uma manhã cinzenta e quente
12 homens armados vestidos de autoridade
Invadiram a terra e expulsaram a vida
Daquele mundo perdido de Deus.

Vila de Getúlio Vargas. Município de Curuça.
100 quilômetros de Belém do Pará.
180 colonos expulsos com suas famílias
das terras conquistadas com suor de seus braços.

Casas destruídas , plantações queimadas
Num cenário simples de fome e humilhação.
Vida difícil
Gente humilde
Calos nas mãos
Nos pés
No rosto
No corpo
Na alma.
Posseiros
Enteados da terra
Inimigos frágeis do poder.
Paraíso da miséria
Amazônia
Natureza morta
Torta
Verde sem cor
Terra
Bebem no teu seio o sangue de teus filhos.
Terra
Túmulos dos que não te renegam.
Há quem pinte sua faceta com rímel
Há quem te vista de seda e nylon
Os que te vestem de chita
Os que te pintam de urucu
Estes estão à margem da vida
Afogados nos rios
Mortos de tocaia
Envenenados
Nunca flechado
Por índios bárbaros e selvagens
Companheiros de infortúnios
Atacados por naturalista estrangeiro
Compõem o cenário deste continente
Amazônia
Terra em estado de sítio
Verde sem cor
Causa perdida.
Infortúnio!
Reza o pobre homem e canta a santa
A espera do milagre de Santa Tereza.

Cantoria...

Morre na pobre cela de um convento
-toda de branco- uma donzela pobre
Os sinos enchem de aborrecimento,
As solitárias monjas com seus dobrões.

Naqueles corações canta a tristeza
Um hino feito de emoções suaves,
E a alma branca de Santa Tereza,
Voa para o céu levada pelas aves.

Tinha no corpo a candidez de um lírio
E a carne macerada de martírio,
Nunca pecou, nem sonhou o que é pecado

Qual avarenta pomba que morria
O cadáver pálido parecia
Uma noiva enfeitada para o seu noivado.

(Simão do Ataúde........ 1906)

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