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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Coisas da política

AS REFORMAS DE BASE

- Gostaria de entender o Brasil!Você entende o Brasil? Dizia o compositor Camargo Guarnieri para mim durante as tomadas do meu filme Encantamento na cidade de Ouro Preto.
Tentava explicar as minhas posições políticas falando para ele sobre o controle da mídia; dos absurdos cometidos pelos governos militares no passado recente; do processo de reconstrução nacional; da educação integral para todas as crianças e suas iniciações a arte brasileira; da valorização de nossa cultura, tão massacrada pelo esquecimento e por perdas incessantes de nossa identidade; da escuridão e do contínuo aniquilamento, anos após anos, posso até dizer, séculos, de uma política colonialista imposta pelos interesses econômicos dos grupos dominantes, que regem um sistema cruel e escravagista, em todos os países que se deixaram submisso aos seus paradigmas...
- José, dizia ele, o que falta em Minas, em Belo Horizonte principalmente, é uma estátua do tamanho de um bonde em homenagem ao Presidente Juscelino Kubischeck..., esse esquecimento é uma vergonha para os mineiros...
O maestro com 86 anos não queria saber de mídia, imperialismo, comunicação, política e transformação social.O seu negócio era a música e o seu mundo só existia entre os seus amigos do passado.
Ele tinha razão, pensei: quem poderia substituir os seus grandes amigos do passado, todos geniais artistas da sua época, políticos e grandes músicos que viviam a sua volta no mundo glamoroso do início do século passado?
- O que poderia acontecer no Brasil do futuro para transformá-lo em um país onde a nossa cultura e os nossos artistas fossem respeitados e sempre lembrados como exemplo para nossa juventude? Ele me perguntou e eu respondi: É preciso priorizar, em detrimento a uma cultura
estrangeira, terrivelmente massacrante, de baixíssima qualidade artística, criada para entorpecer as mentes e os corações dos povos explorados, as excelentes obras dos artistas brasileiros, libertárias, transformadoras, únicas em suas manifestações históricas e criativas. Provocar por todo país a explosão da boa arte no variado espaço de todos os tempos. Fico pensando que tantos deram uma vida de trabalho, resistiram a estupidez dos governantes e alguns até morreram, para que não se perdesse a identidade nacional, que é o embasamento de todas as nossas manifestações culturais. Nomes ilustres de nossa história são pisoteados, todos os dias, por pessoas sem escrúpulos, ignorantes a serviço do sistema vigente, homens de ocultos interesses, incultos burocratas, tão estúpidos e preguiçosos que nunca cuidaram, de verdade, do nossos patrimônio, deixando deteriorar e até se perder muitas de nossas riquezas por desconhecer o seu real valor. Não estou generalizando não maestro! Pois muita coisa divulgada
pela mídia, porta voz dos ocultos interesses globalizantes, não ataca, nem critica o sistema, mas enaltece o lixo cultural estrangeiro que é barato e não provoca constrangimento, faz bem ao mercado de consumo e consolida a barbárie que assola a sociedade moderna. Matérias, fotos, colunas, badalação, reportagens, shows, filmes, músicas, programas de tevê, sem nenhum valor artístico, são cuidadosamente preservadas neste país. Posso citar centenas deles. Mas posso
também citar milhares de outros, de maior importância e significado, que são desprezados e por isso esquecidos. E isso vem acontecendo em todas as manifestações da arte brasileira, por todos os tempos da nossa história.
É preciso reformar a base estrutural desse sistema subjugado aos interesses internacionais e conquistar definitivamente o nosso futuro, a nossa liberdade, a nossa miscigenada existência, dando exemplo ao mundo, como nação culturalmente soberana e essencialmente humana, ecologicamente antibelicista, solidária e feliz, em toda a nossa grande casa; justa e cordial por todo esse planeta; benévola e definitivamente abraçada, com igual razão, a todos os nossos
irmãos presos nas mesmas armadilhas econômicas de um mundo cruel... Provar do encantamento só com as reformas de base... Parei de falar quando olhei para o maestro e ele estava cochilando em sua cadeira no palco do grande teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, na outra locação onde realizei com ele esse meu filme.
O Maestro acordou sobressaltado e perguntou: - A que horas sai o almoço?
Outro rapaz que era estudante de música da Fundação me perguntou:
- O que são essas reformas de base?
- É a mudança dos paradigmas que regem a sociedade brasileira, respondi.
- Quais mudanças e em qual sentido?
- Em todos os sentidos, todas as mudanças necessárias.
- Você pode especificá-las?
- Sim! Não são reformas difíceis de serem executadas, mas de aceitação descartada pelo sistema. Se não houver um movimento popular exigindo-as, elas não acontecerão nunca. Vou falar a primeira de todas e a mais importante que é a educação. Todas as crianças do Brasil nas escolas de tempo integral. O corpo docente, naturalmente bem remunerado, terá que ter dedicação exclusiva a cada escola. Na seqüência das reformas educacionais a criação das Universidades Livres por todo país (projeto do grande Darcy Ribeiro). Depois vem a reforma política: a extinção total de todos os partidos políticos no país. Todo brasileiro pode votar e ser votado sem a necessidade de formar partidos.
- É bastante radical a sua proposta.
- Parece radical, mas não é. O país é dividido em estados e estes por região e municípios. Qualquer cidadão, que esteja em dia com suas obrigações, que seja uma pessoa do bem, pode se candidatar a qualquer mandato, de vereador a prefeito, de deputado a senador e até a presidência da república. Só precisa cumprir as etapas de uma carreira política. Primeiro se candidata no seu município, depois no estado e só depois para o mandato maior da república, senador ou presidência. Eleições de oito em oito anos para a presidência, sem direito a reeleição e para o senado fica como ta: dois eleitos por estado. Para deputados federais o mandato seria de quatro anos. O número de deputados seria dividido pelo número de cadeiras da câmera e pelo número de eleitores por estado. Os mandatos dos governadores seriam de seis anos, sem direito a reeleição. Os dos deputados estaduais de três anos. O mesmo sistema para prefeito e vereadores eleitos nos municípios.
Os mais votados para vereador, deputados e senadores serão os escolhidos em uma só eleição. As eleições de Prefeito, governador e presidência serão realizadas em três turnos. No primeiro turno se escolhe seis nomes mais votados, depois se escolhe os três mais votados e finalmente o mais votado de todos é eleito o escolhido. A campanha será toda feita pela televisão e telões espalhados pelos bairros. Não haverá comícios nem panfletagens, cartazes, etc. Uma campanha limpa, livre e igualitária. Cada candidato com os mesmos direitos e deveres. (continuo nos próximos dias).

Um comentário:

josesetteb@gmail.com disse...

josesette, querido,

Eu também quero continuar acompanhando seus escritos sobre Coisas de política. Expressei-mal ; não é que eu não goste de política- gosto tanto que fiz o mestrado e doutorado sobre política brasileira, eu disse à você em Ouro Preto .. O que eu não gosto é de polititica. A sua idéia de candidato sem partido já é praticada na França há muito tempo.Em 1968 quando foi realizada a eleição para a presidência da república havia .três candidatos Pompidou, primeiro ministro do De Gaulle, Alain Poher, presidente do Senado e Alain Krivine com 22 anos,candidato sem partido, mediante uma subscrição de apoio à sua candidatura. Todos tinha o mesmo direito de acesso à TV e rádio. E, como você disse, não havia panfletagem e os comícios, muito pouco, eram monitorados em condição de igualdade para os três candidatos,
Certa vez, abandonei os estudos em Belo Horizonte e passei um ano em Santa Cruz. Era super qualificada - ginásio quase completo - e fui chamada para lecionar no Grupo Escolar.Um calvário - com crianças famintas, desnutridas, etc.Mas o meu maior espanto é que havia filhos de fazendeiros , mais velhos do que eu, sem nenhuma dificuldade maior de aprendizado mas que abandonavam a escola todos os anos na época da colheita ,por conta própria e conivência dos pais. Uma reforma no calendário escolar micro regional de férias resolveria o problema- na França as férias escolares são micro regionalizadas em três meses no verão - para se evitar super congestionamentos de toda natureza. Bom, continuo, como sempre acompanhando seus textos .Já vi o filme sobre o Camargo Guarnieri.Abraços,Ofélia