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sábado, 12 de julho de 2014

COPA DO MUNDO

Mauro SantayanaJornal do Brasil
No Day After da histórica goleada de sete a um, da Alemanha sobre a seleção brasileira, no Mineirão, uma frase de Napoleão Bonaparte ajusta-se, sem dificuldade, à campanha do Brasil na Copa do Mundo de 2014: “Quem teme ser vencido tem a certeza da derrota”.
Jogamos, desde o início, não como se estivéssemos disputando nossa vigésima copa do mundo, em nossa própria casa, mas como se pisássemos terra alheia, e praticamente estreássemos nesse tipo de competição.
Para qualquer espectador arguto, já estava escrito o que iria acontecer. Bastava observar a expressão entre aérea e preocupada do senhor Luiz Felipe Scolari, antes do início dos jogos. E interpretar, com a clareza  da fumaça branca saindo das chaminés do Vaticano, em dia de eleição do Papa, o espetáculo de indulgência e autocomiseração que se seguiu à vitória, por um triz, contra o Chile, ao final da disputa de pênaltis.
O Brasil perdeu, e o pior, perdeu feio, mais pela atitude do grupo do que pela “sacola” de gols que tomamos dos teutônicos no jogo da desclassificação. E, isso, porque não soubemos, desde o início, nos impor – e cantar de galo – dentro das linhas dos retângulos verdes de nosso próprio terreiro.
HINO NACIONAL
É certo que aprendemos, depois da Copa das Confederações do ano passado, ao menos a cantar – sem balbuciar ou mascar chicletes – o hino nacional, “à capela”, junto com a torcida.
Mas faltou confiança no país. Nacionalismo. E nos deixamos dominar, em campo, pelo mesmo “complexo de vira-latas” que, muitas vezes nos atrapalha e tolhe fora dele.
Tínhamos tudo – os estádios, a torcida, o fato de estar em casa  - para conquistar, com talento e determinação, no peito e na raça, extraordinária vitória. Não nos preparamos, no entanto, como fizeram outras seleções, nem como devíamos, nem como guerreiros. Perdendo ou ganhando, choramos mais que nossos adversários, jogando, quase sempre, menos do que eles.
TERCEIRO LUGAR
Enfim, a derrota só se esquece com a glória, e não adianta tentar salvar a cara, futebolisticamente, jogando melhor para ganhar – se possível for – o terceiro lugar desse torneio.
Para 2018, quem sabe, será preciso estudar outra forma de escolher nossos atletas, que não seja a arrogância e onipotência de quem é mais firme em uma entrevista coletiva, do que no treinamento e capacitação de seus comandados, e que – com mais garra de vencedor do que cara de loser – precisava exibir energia e determinação na beira do gramado.
Não é possível que um país com 200 milhões de habitantes e milhares de jogadores de futebol tenha que depender sempre da mesma meia dúzia de estrelas, que jogam do outro lado do oceano.
Com a Copa, o Brasil deu muito aos deuses do futebol em sua visita. Templos, público, emoções, espetáculo. Mas não foi o suficiente para nos concederem os louros da vitória.
DEPOIS DO VENDAVAL
Agora, depois da ressaca, voltemos ao que importa. Muito mais relevantes, para o futuro do Brasil, do que ganhar o Campeonato Mundial de Futebol de 2014, será a criação do Banco dos BRICS – uma espécie de Banco Mundial dos Países emergentes – logo depois da Copa, na Cúpula dos Presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em Fortaleza. Seguida do lançamento de um fundo de reservas, com capital de 100 bilhões de dólares que funcionará como alternativa ao FMI – Fundo Monetário Internacional, para o Grupo.
E, principalmente, o resultado das eleições deste ano, em que se elegerão deputados, governadores, senadores e quem irá ocupar a cadeira da Presidência da República a partir de 2015.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

PROJETO

OCAS CULTURAIS

 Caro deputado Roberto Henriques,
 Eis aqui, meu caro deputado, uma ideia simples que nasceu da importância e da espontaneidade de um movimento cultural que eu vivi no início dos anos 60.
Nesta época a UNE promovia, com o apoio do Governo do Presidente João Goulart, encontros dos estudantes e jovens brasileiros com algumas das principais personagens do nosso universo cultural. Assim surgiu, por todo país, momentos singulares na nossa história.
Podíamos, antes do golpe militar, conviver informalmente, conversar e trocar experiências com alguns dos grandes artistas daquela época: escritores, poetas, músicos, pintores, escultores, diretores de teatro e de cinema, atores e atrizes, fotógrafos, técnicos renomados, que viajavam pelo país para participarem e incentivarem esses sensacionais encontros com uma juventude, que está hoje e sempre, sedenta de saber.
Esses encontros duraram pouco tempo na cidade de Belo Horizonte, onde eu morava. Eram verdadeiras quermesses de intelectuais, onde tudo se ouvia e de tudo se aprendia, conversas que forjaram a identidade de um povo universitário sedento por um mundo novo, estabelecido na confraternização de sonhos libertários, criando pensamentos e ideias nunca antes experimentadas e provocando brilhantemente, a época, muitas cabeças, a minha, posso hoje dizer, foi uma delas. 
É preciso, urgentemente, deputado, refazer hoje “modernamente” esses encontros temáticos com os jovens estudantes do nosso já carente interior fluminense. Eles têm o direito de usufruir também do melhor que o universo das artes brasileiras pode oferecer e também aprender, em polêmicos debates e palestras, lançamento de livros, exposições de artes plásticas, exibições do cinema brasileiro de cunho cultural, o pensamento dos nossos criadores de cultura, que serão convidados para falar e expor suas obras, artistas enclausurados, na sua grande maioria, que não tem aonde exibir, expor, ou com quem discutir as suas obras.
 Esse é o mote principal desta velha ideia: criar vários espaços com arquitetura própria, de norte a sul do Estado do Rio, se possível nos maiores de seus 92 municípios, onde se possam promover esses encontros com jovens estudantes e a população interessada, de todas as idades, com os representantes da cultura geral brasileira e assim conhecer, discutir suas obras, criar vínculos, estéticos e de linguagem, deles com a inteligência artística do Brasil.
 Esses centros de cultura, que chamo de “OCA CULTURAL”, pois o projeto arquitetônico se assemelha a essa conhecida casa do índio brasileiro, só poderá ser viável se houver a união do Governo Federal com os Estados, Municípios, e uma grande vontade política de transformar culturalmente o Estado e por projeção o país..
Tenho certeza que um bom arquiteto da arte do novo faria de bom grado esse singelo projeto arquitetônico.
 Um governo renovador que pretende compreender e espalhar por todo Estado o prazer do conhecimento de nossas coisas, o desejo de consumir as coisas nossas, tem de olhar essa ideia com uma visão fina direcionada para a expansão do mercado da informação e do saber.
A nossa sonhada libertação cultural, precisa urgentemente abrir os espaços de exibição para toda a criação da arte nacional.
Imaginei que no (futuro) governo do seu candidato (Pezão), com a elaboração das bases educacionais do seu programa de governo, estudasse e acrescentasse a possibilidade de criar e implantar o projeto das “OCAS CULTURAIS” por todo Estado.
Fico imaginando o meu caso: dirigi na década de 80 o Palácio das Artes em Belo Horizonte e por isso sei da importância, para qualquer cidade do mundo, dos espaços públicos como esse. Sei também como muitos outros sabem que onde se é o produtor, diretor, escritor, realizador dos seus trabalhos, se houvesse a possibilidade de exibi-los e debatê-los, como fiz com muito sucesso, juntamente com o professor de história Paulo Cotias na Faculdade Estácio aqui de Cabo Frio, onde exibi quatro filmes para mais de sessenta alunos por exibição.
 Imaginei a Oca Cultural sendo dividida em quatro salas: Sala 1: Cinema HD digital e  pequeno palco para esquetes de teatro, apresentações de música, recitais de poesia, palestras, etc. Sala 2: Videoteca e pequena biblioteca sobre arte. Sala 3: Exposição de pintura e artesanato. Sala 4: Café e bate-papo.
Um amigo a quem eu disse que escreveria novamente ao governo sobre essa minha ideia, me falou: - Se nesses anos todos eles não cuidaram da educação, não criaram as escolas de tempo integral do Darcy Ribeiro, não aplicam uma lei (a lei do curta) aprovada que leva a jovem arte brasileira aos cinemas comerciais, o que te faz pensar que eles darão atenção aos seus centros de cultura? Ele tem razão, pensei, vou jogar conversa fora...
Um grande abraço do amigo de sempre,

 Jose Sette

domingo, 6 de julho de 2014

Memória

Folhetim Elétrico

“Longos são os caminhos da verdade...”.

Organizando e limpando o meu computador pensei no que eu poderia fazer com aqueles bons roteiros que ficaram na memória em busca do tempo perdido e que embora tratassem de temas importantes ao nosso abismo cultural, seriam, quando eu morrer (falo isso por que alguns dos meus diletos amigos já começaram a partir) esquecidos, comidos pelas traças, destruídos pelos vírus deste cérebro eletrônico. Assim, no desespero de ver todo um trabalho perdido, procurei descobri uma maneira de torná-los visíveis sem ter de editá-los, gastar papel e dinheiro que não tenho. Foi lendo o grande Aluisio de Azevedo que descobri o folhetim que tanto sucesso fez na imprensa do século 19. Heureca! Esse novo Folhetim, hoje Elétrico, permitirá, a partir de agora, com periodicidade, a quem se interessar um passeio nos textos de roteiros que poderia ter sido um dia imagens em movimento, cinema. Acrescentarei prefacios com algumas reflexões do dia-dia que intitulei de folheteadas.


Qual seria o primeiro filme, o primeiro roteiro do folhetim?... Vale a pena este esforço? Sei lá! Não seria melhor deixar ele guardado? Não fazer mais cinema? Fiquei atormentado com a ideia de que alguém, como diria o meu amigo Guará, vampirizasse o tema, a luz, a ideia e depois não me desse o crédito merecido. Isso já me aconteceu várias vezes, a última foi no filme sobre o Vinícius de Moraes, onde fotografei várias cenas com o poeta, no antigo filme dirigido por sua filha Suzana, que foram reutilizadas novamente neste novo filme e o meu nome não apareceu, nem agradecimento... Tudo é possível no Brasil. Valeu a pena?  Depois de tudo isso pode ser que apareça alguém reclamando que as listas não possuem espaço e não são liberadas para esse tipo de mensagem... - Crie um site! Um blog... Dirão outros... Tem outros espaços onde se publica roteiros... Etc. Mas essa ideia me surgiu pensando nas listas que eu recebo! - E se outro da lista fizer outro folhetim? Qual é o problema? Espero que não tenha problema. As listas são jornais diários de assuntos com os quais estou ligado. Não quero perder tempo e provocar uma tremenda polêmica democrática onde eu teria que gastar horas preciosas ora na defesa, ora no ataque, de sei lá o quê... Esse primeiro folhetim é pra saber se vale à pena este esforço. A idéia da Rosário do Almanaque é muito boa, faz parte desse grande jornal eletrônico que são as listas da Internet, lê quem quer. Aviso aos navegantes: Não participarei de nenhuma polêmica sobre o que não quero discutir. Se os textos conseguirem iluminar alguém, que seja dele a luz. E se alguém não gostar, não precisa abrir, é só apagar, faço isso todos os dias... Quem?  Sei lá! Você de repente...

Fui ao Festival de Berlim em 1987 exibir o meu primeiro filme, um longo poema rebelde, em 1987 e lá encontrei 2 outros cineastas brasileiros com seus primeiros filmes: Sérgio Toledo e Jorge Duran. Não sei o que aconteceu com o Sérgio, mas do Jorge Duran soube que havia terminado o seu segundo filme este ano. Vinte anos sem realizar um novo projeto de cinema... O Limite! Uma vida inteira num único filme.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

TEXTO DE CINEMA

O fantasma dentro da máquina
Está sendo lançado esta semana o livro Narrativas Sensoriais: ensaios sobre cinema e arte contemporânea, Editora Circuito, uma coletânea organizada por Osmar Gonçalves. São reflexões de treze artistas (fazem vídeos, instalações, experimentos kinoplásticos) que também são teóricos e atuam no mundo acadêmico. Já conhecia vídeos e textos de alguns e algumas, como as doutoras Beatriz Furtado, Consuelo Lins, Patrícia Moran, Kátia Maciel (“não filmo o que vejo, vejo o que filmo”) e os doutores Cristian Borges e André Parente, esse último de longa data, desde quando seu livro Imagem-máquina, a era das tecnologias do virtual, de 1993, me conquistou.
Essa turma transcinematográfica pensa o presente e o futuro da arte audiovisual e de toda a arte a partir dos progressos da inteligência artificial, uma realidade coetânea que alimentou ficções delirantes de Karel Capek e Isaac Asimov. Na década 1920 o checo Capek escreveu a peça de teatro RUR, onde inventa a palavra robô (do checo robota, trabalho forçado) para as máquinas inteligentes e narra o surgimento não programado de sentimentos nessas máquinas: os robôs começam a se amar uns aos outros. Décadas depois, no best seller Eu, Robô, o russo Asimov cria as Três Leis da Robótica, uma prevenção contra ataques de robôs a humanos, e também o “fantasma na máquina”, definição enevoada da disfunção (ou transcendência) que causaria a humanização dos robôs. A propósito, nenhum fotógrafo tem explicação para a fotogenia, o mistério por trás da predileção das câmeras por determinadas pessoas, porque as câmeras realçam “o caráter moral”, como disse Jean Epstein, de certas pessoas e de outras não. Meu livro Máquinas eróticas é uma homenagem secreta a Capek e Asimov.
As Narrativas Sensoriais me remetem, ao mesmo tempo, ao avanço da inteligência artificial no século XXI e aos cineastas puristas do início do século XX, principalmente a Dziga Vertov, tão russo como Asimov. Os puristas defendiam uma especificidade absoluta do cinema com relação às outras artes, um “específico fílmico” que não deveria ser contaminado por influências das artes cênicas, plásticas, sonoras ou literárias. Vertov dizia que a literatura é a pior inimiga do cinema (anos depois o italiano Pasolini classificou o cinema como “de poesia e de prosa” e o russo se mexeu no túmulo).
A proposta de Vertov para a preservação do “específico fílmico” era uma colaboração integral entre a câmera e o artista. Sonhava chegar a um ponto em que fosse possível a câmera filmar independente da interferência e da influência humanas, filmar tudo que lhe desse na centelha. E o ser humano organizaria essa visão da máquina na montagem, na edição. Em seu filme-manifesto O homem com a câmera há uma cena em que uma câmera sai de sua caixa, se articula sobre um tripé e vai trabalhar sozinha, livre e solta.
Os pensadores vanguardistas de Narrativas sensoriais refletem sobre “obras que se sustentam na autonomia da imagem”, uma primazia sobre a narração e qualquer outra estratégia de linguagem. Falam de uma  “lógica do sensível” em contraposição às narrativas racionais. Pensando o cinema do futuro, retomam e resignificam a ideia recorrente de que a linguagem audiovisual é subaproveitada desde quando se transformou em um veículo apenas para contar histórias, que suas infinitas potencialidades expressivas vão muito além disso. 
Há muito alguns pensadores esperam do audiovisual um papel bem mais significativo do que o atual no que se refere à filosofia, a um entendimento contemporâneo da existência, da verdade, da morte, dos valores humanos fundamentais. As tecnologias da comunicação de que dispomos, e seu progresso, apontam para a possibilidade do audiovisual transformar-se na mídia mais apropriada para filosofar, desbancando a literatura. Enfim, façam vocês mesmos suas viagens a partir desses estímulos, leiam o livro. 
Por Orlando Senna

terça-feira, 17 de junho de 2014

REDESCOBRINDO O OCULTO


DIREITO A PREGUIÇA
Estou cansado das disputas existenciais. Tive na vida três escolhas de trabalho para as quais tinha talento. A primeira foi de músico aprendendo com Dona Zinha, minha avó paterna, dedilhar o piano de ouvido, instrumento que ela tinha perfeito domínio. Depois foi com a minha tia Zizinha os primeiros estudos com pauta. Não tive a necessária disciplina e parei. Passei a gostar de fotografia e de cinema e comecei a estudar artes-plásticas observando grandes artistas e me apaixonei pela pintura. Mas tinha que estudar para o vestibular, veio o golpe e tudo mudou. Passei a ler mais e frequentar os cineclubes. Queria agora fazer cinema. Em 1966 escrevi o meu primeiro roteiro sobre a vida de um jovem casal em Belo Horizonte, intitulado de “Cidade Sem Mar”. Neville filma o curta “Bem Aventurado” e ali no set em vi que minha vida seria dedicada a sétima arte. Só fui realizar o meu primeiro longa-metragem “Bandalheira Infernal” em 1975. Aos trancos e barrancos, para ter a liberdade de criar um cinema de autor, poético, (oswaldiano-modernista-antoprofágico) e de invenção, realizei, com muito trabalho, mais de 20 filmes. Creio que deixei um legado aos jovens cinéfilos.  Mas, ultimamente, ando cansado de criar, pois uma enorme preguiça me alcança e confesso que ficava sempre preocupado com o que estava acontecendo comigo. Culpado pela inércia constante do meu dia-dia deparou-me o livro escrito no século 19 pelo cubano francês  Paul Lafargue, genro de Karl Marx, mudando a minha cabeça por completo em relação aos meus momentos de ócio.  Como poderia ficar indiferente a tão fortes pensamentos: “A nossa época é, dizem, o século do trabalho; de fato, é o século da dor, da miséria e da corrupção. O trabalho é o mais terrível flagelo que já atacou a humanidade”. ” Os filósofos da Antiguidade, por exemplo, ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos Deuses”. “Sejamos preguiçosos todo o tempo e em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos”.

QUEM FORAM PAUL LAFARGUE E LAURA MARX

Jenny Laura Marx (nascida em 26 de setembro de 1845) foi a segunda filha de Marx e Jenny von Westphalen. Em 1868 ela se casou com Paul, nascido em Santiago de Cuba de família Franco-Caribenha, sob nome de Pablo (16 de junho de 1842), com quem passou a maior parte de sua vida na França, e um período na Inglaterra e Espanha.
Lafargue foi militante, sucessivamente, da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, a 1ª Internacional) Communard, fundador da Internacional Operária (a 2ª Internacional) e do Partido Socialista Francês. Ao longo desta vida agitada, Paul Lafargue escreveu vários artigos e folhetos para defender entre os trabalhadores a teoria da emancipação, o materialismo histórico e a crítica da economia política marxista, como ele a entendia.
Por sua militância abnegada, Paul converteu o ciúme inicial do sogro em simpatia. Contra a supervalorização das diferenças entre Karl Marx e Paul Lafargue recomendamos a leitura do longo e apaixonado relato do próprio Lafargue entitulado "Recordações pessoais sobre Karl Marx", escrito em 1890, um documento tão magnífico que inspira-nos a colocá-lo no prelo das publicações da LC.
Obviamente, hoje o imperialista PS francês não reivindica a figura de Lafargue, o que nos dá um motivo a mais para celebrarmos por este combatente pela causa da luta revolucionária internacional dos trabalhadores e do comunismo.
Paul e Laura casaram-se em 1868, e se empenharam em várias décadas de trabalho político juntos, traduzindo a obra de Marx para o francês e na divulgação do marxismo na França e na Espanha. Na maior parte de suas vidas, assim como Marx, Laura e Paul foram apoiados financeiramente por Friedrich Engels, que os legou sua herança quando faleceu em 1895.
Em 1871, sob as perseguições políticas desencadeadas com a derrota da Comuna de Paris, o casal é forçado a fugir para a Espanha e se estabelece em Madrid, onde Lafargue é designado como dirigente da Internacional. Ao contrário de outras partes da Europa, onde o marxismo exercia maior influência no pós-Comuna, na Espanha a maioria da Internacional possuía uma forte tendência anarquista de Bakunin. Lafargue tratou de impulsionar as concepções marxistas sob a direção de Engels por meio de artigos assinados no jornal La Emancipación, onde defendia a atuação política dos trabalhadores na luta de classes e a necessidade de criar um partido político da classe trabalhadora contra as concepções anarquistas.
Todavia, a imensa força da Internacional foi conduzida à esterilidade porque os anarquistas rechaçavam qualquer atuação prática para além do mero anarco-sindicalismo e defendiam que não se devia intervir em nenhum processo revolucionário que não se encaminhasse imediatamente para a emancipação completa da classe operária, rechaçavam a participação organizada dos trabalhadores nas eleições burguesas e a luta pela tomada revolucionária do poder pelos trabalhadores se apegando ao fetiche da desaparição instantânea do Estado. Como diz Engels:
“A Espanha é um país muito atrasado industrialmente e por esse fato não se pode falar de uma emancipação imediata e completa da classe operária. Antes que isso possa acontecer, a Espanha terá que passar por etapas prévias de desenvolvimento e deixar para trás uma série de obstáculos. A República oferecia a oportunidade para tornar mais curtas essas etapas para liquidar esses obstáculos. Mas esta oportunidade só podia aproveitar-se por intermédio da intervenção política, ativa, da classe operária. A massa do operariado pensou desse modo e em todas as partes pressionou para que houvesse intervenção nos acontecimentos, para que se aproveitasse a ocasião para agir, em vez de deixar o campo livre para as manobras e para as intrigas. O governo convocou eleições para as Cortes Constituintes. Que posição deveria adotar a Internacional? Os dirigentes bakuninistas estavam mergulhados na maior perplexidade. O prolongar da inatividade política tornava-se cada dia mais ridículo e mais insustentável; os operários queriam fatos. E, por outro lado, os aliancistas [bakuninistas da Aliança Internacional de Democracia Socialista] tinham durante anos seguidos, pregado que não se devia nunca intervir em nenhuma revolução que não fosse encaminhada para a emancipação imediata e completa da classe operária, que o fato de empreender qualquer ação política implicava no reconhecimento do Estado, a grande origem do mal e que, portanto, e, muito especialmente, a participação em qualquer classe em eleições era um crime que merecia a morte. O referido relatório de Madri conta-nos como se saíram desta situação:
‘Os mesmos que desconhecendo os acordos firmados no Congresso Internacional de Haia sobre a ação política das classes trabalhadoras, e rasgando os Estatutos da Internacional, introduziram a divisão, a luta e a desordem no seio da federação espanhola; os mesmos que não vacilaram em nos apresentar aos olhos dos trabalhadores como políticos ambiciosos que, sob o pretexto de colocar no poder a classe operária, lutavam para tomar o poder em benefício próprio; os mesmos homens, esses mesmos que a si próprios se dão o título de anárquicos, autônomos, revolucionários, lançaram-se nesta altura a fazer política, mas a pior das políticas – a política da burguesia; não trabalharam para dar o poder político aos trabalhadores mas para ajudar uma fração da burguesia, composta por aventureiros e ambiciosos, que se denominam republicanos intransigentes.’” (Os bakuninistas em ação, Friedrich Engels, Publicado no jornal “Der Volksstaat” em 3 de Outubro, 2 e 5 de Novembro de 1873).
Esta conduta dos bakuninistas foi publicamente criticada por Lafargue no La Emancipación. Os bakuninistas que se proclamavam “libertários” e arautos defensores da “democracia socialista” trataram de expulsar Lafargue da Federação de Madri por delito de opinião, precipitando a partir de então a ruptura e liquidação da I Internacional.


quinta-feira, 12 de junho de 2014

ARTIGO

Você está preparado para a guerra nuclear?



Paul Craig Roberts
Tradução Anna Malm* 
Correspondente de Pátria Latina na Europa



http://www.paulcraigroberts.org/2014/05/30/lethality-nuclear-weapons/

Preste bem atenção à coluna de convidados de Steven Starr “A letalidade das armas nucleares”: 
Washington pensa que a guerra nuclear pode ser ganha e planeja um primeiro ataque nuclear contra a Rússia, e talvez contra a China como forma de prevenção a qualquer desafio a sua dominância mundial. Esse plano já está num estado bem avançado enquanto a implementação do mesmo também já está em curso. Como eu relatei anteriormente a doutrina estratégica americana foi modificada, e o papél dos mísseis nucleares foi elevado de um papél de retaliação a um papél ofensivo de primeiro ataque.  Bases de mísseis antibalísticos (MAB) foram estabelecidas na Polônia nas fronteiras com a Rússia, enquanto outras bases foram sendo projetadas. Quando tudo  estiver completo, a Rússia estará completamente cercada por bases militares americanas de mísseis antibalísticos, MAB.
Os mísseis antibalísticos, conhecidos também como a “guerra das estrelas”, são armas feitas para interceptar e destruir os mísses balísticos inter-continentais, ou seja os mísseis de longa distância, (ICBM na sigla inglêsa). Na doutrina de guerra de Washington, os Estados Unidos atacariam a Rússia com um primeiro ataque, e qualquer que fosse a força retaliatória ainda disponível da Rússia, essas seriam impedidas de alcançar os Estados Unidos pela proteção dos mísseis antibalísticos, MAB.
A razão dada por Washington para mudar a sua doutrina de guerra foi a possibilidade de que terroristas pudessem vir a obter armas nucleares com as quais pudessem vir a destruir uma cidade norteamericana. Uma tal explicação não faz nenhum sentido. Quanto a terroristas trata-se de indivíduos, ou um grupo de indivíduos,  não de um país com um poder militar ameaçador. Usar armas nucleares contra terroristas iria destruir muito mais que os próprios terroristas, e seria inútil na medida em que um ataque por mísseis convencionais, carregados por um drone, seria o suficiente.
A razão dada por Washington para as bases dos mísseis antibalísticos, MAB, na Polônia seria a proteção da Europa contra MBIC, mísseis balísticos inter-continentais, do Irã. Washington e os governos europeus sabem muito bem que Irã não tem nenhum MBIC, e que esse país nunca apresentou a mínima intenção de atacar a Europa. 
Nenhum governo acredita nas razões invocadas por Washington. Cada um deles compreende que as razões de Washington não são mais que pequenas tentativas de disfarçar o fato de que eles estão a caminho de criar uma capacidade, de fato consumado,  que os permita ganhar uma guerra nuclear.
O governo russo compreende que a mudança da doutrina de guerra americana, e a construção de bases de mísseis antibalísticos nas suas fronteiras, são dirigidas mesmo é contra a Rússia, e que essa seria uma clara indicação de que Washington estaria planejando um ataque ofensivo contra a Rússia, e isso com armas nucleares.
A China também já compreendeu que as intenções de Washington contra ela são as mesmas. Como eu relatei a vários mêses atrás, em resposta as ameaças de Washington a China então tinha chamado a atenção do mundo quanto a sua capacidade de destruir os Estados Unidos, no caso de Washington iniciar um tal conflito.
De qualquer modo, Washington acredita que ele poderá ganhar uma guerra nuclear, com pouco ou nenhum dano, para os Estados Unidos. Essa crença faz com que uma guerra nuclear apresente-se como provável.
Como Steven Starr deixou bem claro, essa crença baseia-se na ignorância. Uma guerra nuclear não dá a vitória a ninguèm. Mesmo se as cidades americanas pudessem ser salvas de um ataque retaliatório da Rússia ou da China pelos mísseis antibalísticos, os efeitos da radiação e do inverno nuclear que viria depois de uma tal colisão com a Rússia ou China iria destruir os Estados Unidos também.
A mídia, que foi convenientemente concentrada em poucas mãos durante o corrúpto governo de Clinton, é cúmplice por ignorar a questão. Os governos dos países subjugados por  Washington, tanto na Europa ocidental como na Europa do Leste, assim como os do Canadá, da Austrália e do Japão também são cúmplices, porque aceitam os planos de Washington e fornecem as suas bases militares para a realização desses planos. O governo da Polônia, do qual já não há duvidas quanto a insanidade mental, já terá provavelmente assinado a autorização de morte da humanidade, por procuração. O congresso dos Estados Unidos também é cúmplice, porque nenhuma investigação está sendo feita a respeito dos planos do poder executivo de iniciar uma guerra nuclear.
Washinton criou uma situação muito perigosa. A Rússia e a China estando claramente ameaçadas por um ataque nuclear poderiam muito bem atacar primeiro. Porque deveriam sentar e esperar passivamente o inevitável enquanto seus adversários constroem uma capacidade de proteger a si mesmos através dos mísseis antibalísticos? Uma vez que esse sistema esteja concluido, a Rússia e a China podem estar certas de que serão atacadas, ao menos que se entreguem incondicionalmente de antemão.   
Essa reportagem de 10 minutos aqui abaixo vem da Russia Today, RT. Ela esclarece que o plano secreto de Washington para um primeiro ataque ofensivo contra a Rússia não é na realidade uma coisa secreta. Essa reportagem também esclarece que Washington está se preparando para poder eliminar qualquer líder político europeu que não se alinhe com Washington .http://rt.com/shows/the-truthseeker/162864-us-plans-strike-russia/  A transcrição foi encaminhada pela  Global Research :http://www.globalresearch.ca/us-plans-first-strike-attack-on-russia-or-china/5384799
Os leitores poderiam me perguntar. “Mas o que poderemos fazer?” Aqui está o que poderia ser feito. Você poderia por um fim ao ministério da propaganda não assistindo  Fox News, CNN, BBC, ABC, NBC e CBS. Você poderia se recusr a ler o New York Times, o Washington Post e LA Times. Deixe simplesmente de lado toda a mídia oficial. Não acredite numa palavra dita pelo governo. Não vote.
Compreenda que o problema, o mal, está concentrado em Washington. Nesse século XXI (treze anos e meio), Washington já destruiu em parte, ou completamente, 7 países. Milhões de pessoas foram assassinadas, aleijadas e deslocadas. Washington não mostrou até agora absolutamente nenhum remorso que fosse quanto a isso, e tampouco o fizeram as igrejas “cristãs”. A devastação inflingida por Washington é apresentada como um grande sucesso.
Washington prevaleceu até aqui e está determinado a se manter em dominância enquanto a perversidade, a desgraça, e o mau absoluto que Washington representa dirige o mundo à destruição.
Copyright Material - Artigo original : Are You Ready for Nuclear War ? - de 3 junho de 2014 / Mondialisation.ca
Anna Malm* - http://artigospoliticos.wordpress.com

terça-feira, 10 de junho de 2014

Deformação artística

VER COM OLHOS LIVRES


É preciso conhecer a atriz Maria Gladys para depois não falar qualquer coisa sobre ela. Mulher guerreira, libertária, atriz de primeira grandeza, sempre a frente do seu tempo, não pode ser desprezada, principalmente pelos seus pares artistas, que, de uma forma ou de outra, estão perto dos poderosos da mídia. Eles precisam saber se são pessoas sensíveis e talentosas, que podem transformar realidades e mudar histórias, ou nada são.

Quero crer que essa extraordinária atriz, como tantos outros talentos perdidos por esses brasis afora, não precisa de esmola, precisa é de trabalho!                                                                                                     

O verdadeiro artista trabalha até morrer em sua arte.                 

Portanto, autores da dramaturgia nacional, produtores, realizadores: Maria Gladys é a imagem de um Brasil que esta se perdendo, não é como uns e outros estereótipos do povo brasileiro que hoje domina a cena, ela é peça única no mercado de arte e, no mínimo, merece mais respeito por todo o seu trajeto histórico. Uma pessoa de tão grande importância para a cultura e identidade brasileira merecia ser tratada como um patrimônio da cidade do Rio de Janeiro. Foi o que fez o Deputado Estadual Roberto Henriques quando lhe honrou com a medalha de Tiradentes em nome da sua grande contribuição a nossa cultura.

Para quem não conhece segue um resumo de sua talentosa história.
Nascida na zona norte carioca, começa sua carreira no teatro, sob as ordens de Gianni Ratto e Kleber Santos.
Seu primeiro papel importante é em 1959, numa ponta na peça "O Mambembe", apresentado no Teatro dos Sete.
Em seguida atua no Teatro Jovem, no Mesbla e no Dulcina, onde tem como mestre, Ziembinski.
Estréia no cinema em 1959 no filme Um Canalha em Crise, dirigido por Miguel Borges, que acaba proibido pela censura e só estréia em 1963.
Faz mais de trinta filmes, destacando-se Os Fuzis (64), Copacabana Me Engana (69), A Família do Barulho(70),  Sem Essa Aranha(70), Cuidado Madame (70), Bandalheira Infernal (75)Um Filme 100% Brazileiro(86)e Matou a Família e Foi ao Cinema (90) entre outros.
De personalidade forte e grande talento, é uma das grandes atrizes da geração anos (60)
Ultimamente tem se dedicado à televisão, atuando em inúmeras telenovelas pela TV Globo, como "Brilhante" (81) e "Vale Tudo" (88).
Ao lado de Helena Ignez, Maria Gladys é uma das musas eternas do Cinema poético, de resistência e invenção, corrente da vanguarda do cinema brasileiro que surgiu no final da década de 60.