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terça-feira, 17 de junho de 2014

REDESCOBRINDO O OCULTO


DIREITO A PREGUIÇA
Estou cansado das disputas existenciais. Tive na vida três escolhas de trabalho para as quais tinha talento. A primeira foi de músico aprendendo com Dona Zinha, minha avó paterna, dedilhar o piano de ouvido, instrumento que ela tinha perfeito domínio. Depois foi com a minha tia Zizinha os primeiros estudos com pauta. Não tive a necessária disciplina e parei. Passei a gostar de fotografia e de cinema e comecei a estudar artes-plásticas observando grandes artistas e me apaixonei pela pintura. Mas tinha que estudar para o vestibular, veio o golpe e tudo mudou. Passei a ler mais e frequentar os cineclubes. Queria agora fazer cinema. Em 1966 escrevi o meu primeiro roteiro sobre a vida de um jovem casal em Belo Horizonte, intitulado de “Cidade Sem Mar”. Neville filma o curta “Bem Aventurado” e ali no set em vi que minha vida seria dedicada a sétima arte. Só fui realizar o meu primeiro longa-metragem “Bandalheira Infernal” em 1975. Aos trancos e barrancos, para ter a liberdade de criar um cinema de autor, poético, (oswaldiano-modernista-antoprofágico) e de invenção, realizei, com muito trabalho, mais de 20 filmes. Creio que deixei um legado aos jovens cinéfilos.  Mas, ultimamente, ando cansado de criar, pois uma enorme preguiça me alcança e confesso que ficava sempre preocupado com o que estava acontecendo comigo. Culpado pela inércia constante do meu dia-dia deparou-me o livro escrito no século 19 pelo cubano francês  Paul Lafargue, genro de Karl Marx, mudando a minha cabeça por completo em relação aos meus momentos de ócio.  Como poderia ficar indiferente a tão fortes pensamentos: “A nossa época é, dizem, o século do trabalho; de fato, é o século da dor, da miséria e da corrupção. O trabalho é o mais terrível flagelo que já atacou a humanidade”. ” Os filósofos da Antiguidade, por exemplo, ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos Deuses”. “Sejamos preguiçosos todo o tempo e em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos”.

QUEM FORAM PAUL LAFARGUE E LAURA MARX

Jenny Laura Marx (nascida em 26 de setembro de 1845) foi a segunda filha de Marx e Jenny von Westphalen. Em 1868 ela se casou com Paul, nascido em Santiago de Cuba de família Franco-Caribenha, sob nome de Pablo (16 de junho de 1842), com quem passou a maior parte de sua vida na França, e um período na Inglaterra e Espanha.
Lafargue foi militante, sucessivamente, da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, a 1ª Internacional) Communard, fundador da Internacional Operária (a 2ª Internacional) e do Partido Socialista Francês. Ao longo desta vida agitada, Paul Lafargue escreveu vários artigos e folhetos para defender entre os trabalhadores a teoria da emancipação, o materialismo histórico e a crítica da economia política marxista, como ele a entendia.
Por sua militância abnegada, Paul converteu o ciúme inicial do sogro em simpatia. Contra a supervalorização das diferenças entre Karl Marx e Paul Lafargue recomendamos a leitura do longo e apaixonado relato do próprio Lafargue entitulado "Recordações pessoais sobre Karl Marx", escrito em 1890, um documento tão magnífico que inspira-nos a colocá-lo no prelo das publicações da LC.
Obviamente, hoje o imperialista PS francês não reivindica a figura de Lafargue, o que nos dá um motivo a mais para celebrarmos por este combatente pela causa da luta revolucionária internacional dos trabalhadores e do comunismo.
Paul e Laura casaram-se em 1868, e se empenharam em várias décadas de trabalho político juntos, traduzindo a obra de Marx para o francês e na divulgação do marxismo na França e na Espanha. Na maior parte de suas vidas, assim como Marx, Laura e Paul foram apoiados financeiramente por Friedrich Engels, que os legou sua herança quando faleceu em 1895.
Em 1871, sob as perseguições políticas desencadeadas com a derrota da Comuna de Paris, o casal é forçado a fugir para a Espanha e se estabelece em Madrid, onde Lafargue é designado como dirigente da Internacional. Ao contrário de outras partes da Europa, onde o marxismo exercia maior influência no pós-Comuna, na Espanha a maioria da Internacional possuía uma forte tendência anarquista de Bakunin. Lafargue tratou de impulsionar as concepções marxistas sob a direção de Engels por meio de artigos assinados no jornal La Emancipación, onde defendia a atuação política dos trabalhadores na luta de classes e a necessidade de criar um partido político da classe trabalhadora contra as concepções anarquistas.
Todavia, a imensa força da Internacional foi conduzida à esterilidade porque os anarquistas rechaçavam qualquer atuação prática para além do mero anarco-sindicalismo e defendiam que não se devia intervir em nenhum processo revolucionário que não se encaminhasse imediatamente para a emancipação completa da classe operária, rechaçavam a participação organizada dos trabalhadores nas eleições burguesas e a luta pela tomada revolucionária do poder pelos trabalhadores se apegando ao fetiche da desaparição instantânea do Estado. Como diz Engels:
“A Espanha é um país muito atrasado industrialmente e por esse fato não se pode falar de uma emancipação imediata e completa da classe operária. Antes que isso possa acontecer, a Espanha terá que passar por etapas prévias de desenvolvimento e deixar para trás uma série de obstáculos. A República oferecia a oportunidade para tornar mais curtas essas etapas para liquidar esses obstáculos. Mas esta oportunidade só podia aproveitar-se por intermédio da intervenção política, ativa, da classe operária. A massa do operariado pensou desse modo e em todas as partes pressionou para que houvesse intervenção nos acontecimentos, para que se aproveitasse a ocasião para agir, em vez de deixar o campo livre para as manobras e para as intrigas. O governo convocou eleições para as Cortes Constituintes. Que posição deveria adotar a Internacional? Os dirigentes bakuninistas estavam mergulhados na maior perplexidade. O prolongar da inatividade política tornava-se cada dia mais ridículo e mais insustentável; os operários queriam fatos. E, por outro lado, os aliancistas [bakuninistas da Aliança Internacional de Democracia Socialista] tinham durante anos seguidos, pregado que não se devia nunca intervir em nenhuma revolução que não fosse encaminhada para a emancipação imediata e completa da classe operária, que o fato de empreender qualquer ação política implicava no reconhecimento do Estado, a grande origem do mal e que, portanto, e, muito especialmente, a participação em qualquer classe em eleições era um crime que merecia a morte. O referido relatório de Madri conta-nos como se saíram desta situação:
‘Os mesmos que desconhecendo os acordos firmados no Congresso Internacional de Haia sobre a ação política das classes trabalhadoras, e rasgando os Estatutos da Internacional, introduziram a divisão, a luta e a desordem no seio da federação espanhola; os mesmos que não vacilaram em nos apresentar aos olhos dos trabalhadores como políticos ambiciosos que, sob o pretexto de colocar no poder a classe operária, lutavam para tomar o poder em benefício próprio; os mesmos homens, esses mesmos que a si próprios se dão o título de anárquicos, autônomos, revolucionários, lançaram-se nesta altura a fazer política, mas a pior das políticas – a política da burguesia; não trabalharam para dar o poder político aos trabalhadores mas para ajudar uma fração da burguesia, composta por aventureiros e ambiciosos, que se denominam republicanos intransigentes.’” (Os bakuninistas em ação, Friedrich Engels, Publicado no jornal “Der Volksstaat” em 3 de Outubro, 2 e 5 de Novembro de 1873).
Esta conduta dos bakuninistas foi publicamente criticada por Lafargue no La Emancipación. Os bakuninistas que se proclamavam “libertários” e arautos defensores da “democracia socialista” trataram de expulsar Lafargue da Federação de Madri por delito de opinião, precipitando a partir de então a ruptura e liquidação da I Internacional.


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