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quinta-feira, 6 de junho de 2013

UM CONTO DE REIS


Eu me esqueço sempre nessa hora linda loura
 Fábio Carvalho     
                         
Um dia perguntei ansioso e confiante à minha estrela favorita,que brilha modestamente no firmamento:- Que dizes do meu futuro, do meu destino?Ao que me respondeu tímida e tremeluzente:- Que posso te dizer? Sou apenas uma estrela. Carlos de Alencar

Qual o gênero desta música? Se é que isso importa, nem precisamos responder. Foi só para começar. Qualquer um morreria para saber o que se passava na mente de Rimbaud quando ele escreveu “Le Bateau Ivre”, ou de Mozart, quando ele compôs sua sinfonia “Júpiter”. Qualquer um como nós, digo eu. Adoraríamos conhecer aquele processo secreto que guia o criador por entre suas arriscadas aventuras. Agradecidamente, o que é impossível ver na poesia ou na música, não é o caso da pintura. Para saber o que está acontecendo na mente de um pintor, a pessoa só precisa olhar para sua mão. Aqui está o que o pintor está sentindo. Ela está progredindo, começando com traço firme. Está seguindo uma curva a direita, um ponto à esquerda. Se ele errar e faltar sua harmonia, tudo estará perdido. O pintor falha como um homem cego na escuridão das telas brancas. A luz que lentamente aparece e paradoxalmente é criada pelo pintor que pinta uma curva negra após outra. Pela primeira vez, o drama particular e diário do gênio cego, será nos mostrado publicamente. Pablo Picasso concordou em mostrar isso hoje, na frente de vocês, com vocês. Bonita é ela, ando com certeza e com as incertezas. A rosa na glória. Com o texto falado acima começa um estranho filme do cineasta francês Clouzot. Não imagino para que, ainda me fiz cumprir mais esta etapa agora, revendo em seqüência alguns de seus inexplicáveis trabalhos fílmicos de chapéu verde na poltrona nova. Luz de Guignard. Também filmes não precisam de explicações, vou voltar a mim. Só quero e desejo chegar até o Renoir. Ainda acredito que além da imaginação como disse minha fonoaudióloga, passearei onde flana a bela excelência vocal com bastante conhecimento de causa. Ela falou isto depois que me deu uns canudinhos de pirulito, para exercitar minha prega vocal direita doentinha. A boca na forma de um beijo. Apenas como um selinho falando um u longuinho, sem esforço, não devemos cansar nossa emoção ou se ela merecer posso me esforçar um pouquinho mais. Devo estar pensando no Vinícius de Moraes, só tenho me referido as coisas e as pessoas no diminutivo. É bom pensar como fosse Vinícius. Portanto vou pensar agora no filminho que estou fazendo, que é o que me apetece neste momento, se bem que também algumas libélulas me atribulam, duvidando de mim naquele estado de êxtase só um tiquinho. Por vezes elas estão nos ouvidos ou no dedinho. Tenho que arriscar, afinal de contas, cinema sempre risco e ilusão e a longa escapada esperta para a Jamaica, não deixa de ser uma possibilidade entre mil, é lógico e ilógico ao mesmo tempo. Sempre detestei a lógica como o mais extraordinário Campos de Carvalho. Que tímpanos maravilhosos são esses, cruzo com todos os doidões pelos caminhos e ainda converso temporais com um por um, num aprendizado que jamais terminará. Para que tentar mais uma vez. Para que lembrar aquela vez. O que você Bebel me fez. Bonita. Tira essa saia logo ao vento. Começo a assobiar naturalmente sem controle, é melhor do que tentar entender Isabela. A narrativa não quer dar. Não vou insistir por enquanto, a sinfonia da milimétrica trova elaborada e lambida por mim, escamoteia para uma nova versão mais tenra. Sem endereço certo durante a mobilidade interna do carro movimentando-se na direção hidráulica do superior carinho vindo lá de cima das nuvens. Trepidando. A partir de agora, após esta música estou ferrado, o mundo já sabia enquanto de novo tocava: Autumn Leaves. Arranjo complicadinho apenas feito na cintilancia da luz da lua azul de maio, myself. Claro está, querendo ela a controversia, só por este inicio de noite depois sem mim se espalhará nas botas vermelhas enfiadas na bolsa marron da mamãe. Feito eu, para não dizer outra coisa diante de tantas que ela ampara, quebrando a esquina com suave tranqüilidade e desfaçatez. Aonde anda meu amigo negão. Gostei deste novo encontro e sem demonstrar, quero de novo. Sem facilidades. Vamos ao cinema. Subindo mais uns degrauzinhos bem subidos encontraremos o Roberto. Não menos que o Rossellini. Agora pintou uma curva e que curva, meu! Perdi minha rota e achei mais um filminho. Fui ao bar da luz vermelha ouvindo e vendo as cantoras do Sérgio Mendes no Youtube. Cada uma mais bela que a outra. Especialmente a que me colocou no lance imediatamente e dei mais uma aprendidinha com os velhos naquela curva tão conhecida, de novo uma manhã de carnaval com uma esperada encorpada tristezinha junto outra alegria leve incandescente. Vamos nos banhar e lavar os cabelos. Meu que resistência essa minha amiga domina. Parando um pouquinho com brincadeirinhas dessas palavrinhas, chegamos aos filmes para a televisão, feitos na busca da transmissão do conhecimento pelo mestre Rossellini, aí sim voltei a pensar então. Agostino D’Ippona, para nós Santo Agostinho. Sem se esquecer que Agostinho era africano nascido na cidade de Hipona e ensinou retórica em Roma e Milão. Sofisticado filósofo viveu o mundanismo e como o próprio Roberto, suas obras influenciaram muito o pensamento das respectivas matérias internamente: teologia e cinema. Pois bem, antes de falar do filme vamos ouvir algumas frases do Santo como ilustração de uma vaga pesquisa. “Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação do mundo animal diz respeito buscar o prazer e evitar a dor. Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você. A verdadeira medida do amor é não ter medida.” O Santo e o Vazio da Noite, quando fiz este filme ninguém viu muito bem, nem eu. Hoje sei que em todos esses belíssimos filmes da série dos pensadores realizada sem maneirismos por Rossellini, que já vi e revi, dormi muito bem e sonhei. Como ironizava em uma poltrona do lado oposto, Luis Bunnuel: os bons filmes te proporcionam um bom sono. Ainda para terminar vou transcrever aqui a fala do músico Luís Bonfá que vi novamente no Youtube, precedendo uma jóia rara de interpretação da nossa lady negra Eliseth Cardoso de Manhã de Carnaval. Assim ele diz: “o início da parceria com Antônio Maria foi com o nascimento do Orfeu Negro. Não no teatro e sim na versão cinematográfica. Eu procurei o Rubem Braga, a pedido do diretor Marcel Camus que tinha pressa de ver a letra pronta para uma melodia encomendada à mim, que mais tarde se chamou Manhã de Carnaval. Então o Rubem Braga me disse: olha, eu sou muito lento para escrever, telefona para o gordo. Eu não tinha feito músicas ainda com o Antõnio Maria, não tinha composto com ele. Assim nasceu nossa primeira parceria. Esta é a história real deste encontro.” Não sei bem por que essa pequena narração muito me agradou. Vou dormir.          

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