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domingo, 23 de setembro de 2012

MOMENTOS


Entre a Farsa e a Tragédia

Um pouco da história...
Meus amigos leitores e leitores amigos, eu estou de volta à vida...
Há dois meses assumi a criação do programa de tevê da campanha política do PSOL na cidade de Cabo Frio.  Escrevi aqui que não manteria mais a publicação diária dos textos, fotos, artigos, críticas, neste blog, por total falta de tempo. Os 19 programas e os vários comerciais necessários à campanha, ficariam em torno de 800 mil reais (o mais baixo de todos os orçamentos), mas no caso deste pequeno partido, por inexistência total de verba, os programas só poderiam ser realizados por uma equipe pequeníssima, de um só profissional: – Eu mesmo! Assim parti com o peito aberto para essa aventura. Primeiro pelo desafio de fazer o que nunca antes fora feito - um programa de televisão escrito, fotografado, dirigido, editado  e produzido por uma só pessoa - depois pela amizade ao Claudio Leitão, protagonista desta peleja e pela simpatia ao seu pequeno exército de aguerridos militantes, me fazendo, com esse trabalho quase cinematográfico, conhecer melhor os personagens políticos desta cidade onde hoje moro e vivo.  Fiz entre eles alguns amigos, mas o professor Babade, uma das mais puras e integras figuras do pensamento marxista e das lutas socialistas da humanidade contra o capitalismo, foi quem mais me encantou, embora eu já o conhecesse por sua amizade com Totonho, outro professor  que eu já conhecia. É como dizia o velho Marx: “A história se repete, às vezes como farsa e outras vezes como tragédia”. Realizei, desde que retornou a democracia brasileira, alguns filmes de publicidade e outros de programas políticos, mas nunca havia feito nada igual a essa campanha do PSOL. O esforço foi tremendo para um jovem como eu de 64 anos. Mas ganhei o desafio, derrotei a farsa daqueles que diziam que isso seria impossível e tenho certeza que fiz a cidade de Cabo Frio conhecer muito bem o pensamento do seu mais jovem político.
Os Fatos que antecederam a quase tragédia:
Estava eu no Rio de Janeiro no fim de semana visitando a minha mãe de 93 anos quando aproveitando a presença do seu enfermeiro tirei a minha pressão cardíaca – 18 por 11 – Ana e Raquel ficaram apavoradas e me levaram ao médico. Sai para Cabo Frio medicado com um remédio controlador da pressão arterial. Continuei com a minha vida normal. No dia 15 de setembro, depois de um debate promovido pelo sindicato dos professores, tomamos uma cerveja gelada e o Claudio me deixou em casa. Entrei no meu pequeno espaço de trabalho que fica no primeiro andar da casa onde moro, liguei o computador e redigi a página publicada no blog. Fumei um cigarro e já ia me levantar quando comecei a me sentir mal, achei que ia desmaiar... Comecei a suar bicas, fui para o banheiro e o meu segundo filho, José Luiz, apavorado com o meu estado, chamou Raquel que dormia no segundo andar da casa. Ela apareceu na porta do banheiro mais apavorada que ele. Achei que iria morrer, pois não parava de suar. Mas o pesadelo passou em pouco mais de uma hora. Recuperado subi para o segundo andar da casa e me sentei na poltrona em frente da TV. Estava me sentindo bem quando fui me deitar. Tudo estava calmo e assim dormi. Acordei lá pelas três horas da madrugada com a minha perna esquerda totalmente adormecida, pesada. Um  grande e doloroso pesadelo. Não conseguia dormir mais e fiquei acordado até o sol raiar no horizonte, acima da ilha do mar distante de Amaxon. A tragédia estava se anunciando mais fortemente e eu nada podia fazer. Raquel Ribeiro, companheira de mais de vinte anos de convivência, mulher suave como a brisa de uma manhã ensolarada de primavera, mas, ao mesmo tempo forte como uma deusa do Olímpio, foi quem tomava as decisões e assim me levou, contra a minha vontade, a cidade para procurarmos um médico. Passamos praticamente o dia todo neste périplo de um consultório médico a outro, de um hospital com a fachada arquitetônica da II grande guerra, onde o jovem médico com ares prepotente trazia no dedo o anel de doutor e nada sabia sobre a minha perna, ao horror do último profissional de saúde visitado, que me disse que eu estava prestes a perder a perna, exatamente igual a uma sua paciente que já havia perdido as duas e estava no CTI morrendo aos poucos. Eu já havia experimentado a incompetência médica que envolve os planos de saúde deste balneário tropical. Ficamos desesperados e voltamos para casa que fica situada em um bairro afastado. Resolvemos então, depois de consultar em São Paulo meu amigo e irmão Dr. José Rogério Nader, ir para Juiz de Fora onde ele já havia movimentado alguns médicos amigos. Preparado e carinhosamente avisados pela minha incansável companheira eu estava já informado dos acontecidos e me fortaleci sabendo que iriam me esperar no grande hospital. Raquel, com uma sinusite crônica e exausta, com febre, não conseguiria dirigir a noite os 300 km que separa uma cidade da outra. Ela liga então para a nossa amiga Jô Mureb, contando que precisaria de um motorista para dirigir o seu carro. Jô arrumou um taxi da sua confiança que imediatamente nos pegou e nós saímos como três malucos exaustos para esta viagem em busca do alívio de uma dor na perna que se tornava insuportável. Para mim foi à viagem mais longa de toda a minha vida.
Não tenho medo da morte, mas tenho horror da dor e da incompetência humana.
Não me lembro de como chegamos à cidade na qual vivi mais de dez anos e onde sou muito querido e respeitado. Sei que em pouco tempo estava em uma sala onde o simpático e alto-astral médico Jose Daher  já me esperava.
Lembro-me da sala de cirurgia, para onde fui levado imediatamente, e também da sua jovem e linda anestesiologista, que me deixou envergonhado com a minha nudez e com as minhas partes íntimas raspadas expondo a minha identidade de macho encolhida, escondida, enrugada, tal qual um caramujo aflorando a pele branca. Apaguei falando com ele, como fez o poeta Vinícius de Moraes, pedindo a deus que levantasse um pouquinho mais a minha moral latina oprimida... A dor passou e não vi mais nada.
Preparem-se meus amigos que estou voltando renovado e com sangue novo para o ato final das eleições municipais e posteriormente, em outubro mesmo, reunindo os atores e a equipe técnica na preparação do meu novo filme de longa metragem que realizarei nas praias de Cabo Frio ainda este ano antes da posse dos eleitos.
Obrigado a todos que de uma maneira ou de outra contribuíram para que eu superasse essa tragédia pessoal.

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