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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cineasta Colaborador

AS MULHERES NÃO MORREM
Fábio Carvalho

Tudo era muito forte, feito sob o signo da paixão.
Eu me deixava levar pela procura da beleza, com que Lúcio sonhara.
Monstros, sim, feitos com paixão e beleza.
Paulo César Saraceni

Depois que me mandei com a música, fui me deparar com O GERENTE projetado no centro do belo prédio do Arquivo Público Nacional, ao ar livre, cercado por altíssimas Palmeiras Imperiais, observado de cima por uma magnífica lua desconhecida, completamente cheia e amarela. A LUA VEM DA ÁSIA. Como todos sabem era sexta feira onze do onze do onze. Não sei se por sugestão, senti uns sinais estranhos. Continuo me sentindo estranho até hoje. Só encruzilhadas se abrem para mim, nunca sei em qual janela me enquadrar e adentrar. Sem dúvidas escolho e decido em qual delas, me aprofundar. Erro sempre decidido. Ontem era segunda feira. Depois de um hiato de uns sete meses, voltei ao Palácio das Artes para ver pela primeira vez SAGRADA FAMÍLIA e rever a figura genial do SYLVIO LANNA. Rhythm Blues. Que viagem, hem meu. Sofisticadíssimo. Eu já sabia e vivia, mas era criança e entendia tudo, mesmo sem saber este foi o problema que estava sendo criado. Recorrentes as motivações problemáticas e as atrações do choque. Tudo naturalmente natural. Guaraná aos Guaranys. A partir daquele momento a chuva de prata pegou para valer. Naquela outra noite sobramos eu, o OTÁVIO III e uma meia garrafa de um seleto Finca La Linda na Praça da BETH e de SÃO SALVADOR. Era Flamengo ou Largo do Machado? Bebemos um pouco no bico. Guiné Bissau, Moçambique e Angola. Numa relax, numa tranqüila, numa boa. Com uma olho de peixe nos meus olhos em movimento panorâmico, o desenho ficou completamente circular e as bordas ligeiramente deformadas. Anotou o professor PAULO AUGUSTO GOMES. A deformação necessária. Uma doença, velho. Nesta segunda no P. A. também revi, através do som, meu outro professor o doutor JOSÉ SETTE. Que privilégio. Sei que era para poucos. Não tive mais como fugir do sintagma que há algum tempo vinha me perseguindo. Depois de anos luz em pé, a população ali naquela praça mais que dobrou. Já passava da primeira hora do dia doze, quando a maravilha morena que figurava deitada no coreto pensou em ir embora. Resolvemos sentar um pouco e a garrafa continuou em pé no primeiro degrau abaixo de nós e acima do chão. Tão bonita. Falávamos do futuro do O MONGE DEVASSO. Claro estava. Tanto que vi de longe uma mulher negra de ombros nus carregada de sacolas de plástico se aproximar, e num gesto inesperado certeiro, pegar a garrafa, dar um grande gole e continuar sua marcha sem rumo em linha reta. Os vizinhos do banco lateral gritaram com ela, o OTÁVIO também. Ela parou se virou de frente para nós, estufou os peitos, sacudiu as cadeiras e deu outro grande gole e na seqüência outro, terminando com o líquido roxo da garrafa. Enfiou o vidro verde escuro vazio em uma das sacolas se virou e foi embora. Como poderemos descrever uma experiência mística e lisérgica?

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