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quarta-feira, 29 de abril de 2015

TRABALHO E COERÊNCIA

Primeiro de Maio, uma data transcendente da humanidade

Havana (Prensa Latina) A celebração desde 1890 do Dia Internacional dos Trabalhadores, a cada Primeiro de Maio, data de festas, conserva fiel a sua origem o protagonismo das demandas de reivindicações sociais e trabalhistas. 
Nessas ocasiões, homens e mulheres de diversos lugares do mundo recordam também os cinco mártires de Chicago condenados a morte depois dos acontecimentos violentos que tiveram lugar nessa cidade, então a segunda dos Estados Unidos, nos dias 1 e 4 de maio de 1886.
Com o tempo, a mais que centenária convocação coloriu sua história com o sangue de participantes em muito distantes cenários, em choques com corpos repressivos, e deu novos motivos para voltar no próximo ano a encher ruas e praças.
A primeira jornada internacional foi acordada, em julho de 1889, pelo Congresso Operário Socialista de Paris, com o objetivo de organizar uma grande manifestação de trabalhadores, que em todos os países e povoados ao mesmo tempo, demandassem aos poderes públicos reduzir legalmente a oito horas a jornada de trabalho.
A data fixa -diz o acordo-, os trabalhadores das diversas nações levassem à prática estas ações de acordo às condições especiais que desfrutem em seus países.
Decidiu-se o Primeiro de Maio de 1890, tomando em conta uma similar convocada para esse dia pela Federação Americana do Trabalho (FAT), em seu congresso de dezembro de 1888.
A ela se somaram trabalhadores da Europa e um reduzido número de países de outros continentes; também o então jovem movimento operário cubano.
Em Cuba, o Círculo de Trabalhadores publicou a convocação, a 20 de abril de 1890, a celebrar uma manifestação pública pacífica, e um comício no final, "para que o governo, as classes elevadas e o público em geral saibam ou possam apreciar quais são as aspirações deste povo operário".
A manifestação de três mil trabalhadores partiu nesta capital do Campo de Marte -atual Parque de la Fraternidad- pela rua Reina para Galiano, San Rafael e Consulado, onde intervieram 15 oradores.
OS ACONTECIMENTOS DE CHICAGO
O movimento em defesa da jornada máxima de oito horas atingiu força nos Estados Unidos e países da Europa, nos anos 80 do século XIX.
O presidente estadunidense Andrew Johnson ditou uma lei sobre as oito horas diárias, mas 19 estados autorizaram até 10 horas, que na prática eram 14-16, insuportáveis para os afetados, entre eles milhares de crianças.
As longas sessões de trabalho impostas pelos patronos provocavam a rejeição dos operários com numerosos tipos de protestos, incluídas as greves e outros acontecimentos como os ocorridos o Primeiro de maio de 1886 e nos dias seguintes em Chicago.
Na planta Mc.cormik que se mantinha operando com fura-greves, seis grevistas resultaram mortos pela polícia e também dezenas de feridos.
Durante um comício a 4 de maio no parque Haymarket, um desconhecido lançou uma bomba com o saldo de um morto e vários feridos.
Foram presos os oradores e outros dirigentes operários; em um julgamento arranjado sete foram sentenciados a morte (duas mudadas a pena de prisão perpétua) e de um a 15 anos de trabalhos forçados.
Morreram na forca, no dia 11 de novembro de 1887: o estadunidense Albert Parsons (jornalista de 39 anos) e os alemães Adolf Fischer (jornalista de 30 anos), August Spies (jornalista de 31 anos) e Georg Engel (tipógrafo de 50 anos).
O carpinteiro alemão Lous Lingg, de 22 anos, suicidou-se em sua cela. Das páginas de seu jornal El Productor, o operário e jornalista cubano, Enrique Roig San Martín assumiu a defesa dos oito operários processados nos Estados Unidos (1886-1887) e denunciou o crime legal que se preparava, mediante seus artigos e de outros autores cubanos e estrangeiros.
Roig San Martín encabeçou uma grande campanha a favor dos futuros mártires de Chicago.
Ao protesto somaram-se os sindicatos de litógrafos, tabaqueiros, corregedores, cocheiros, gaveteiros, cigarreiros, mecânicos, passadores, alfaiates e sapateiros; trabalhadores tanto de Havana como de Matanzas, Cárdenas, Cienfuegos, Villa Clara e Puerto Príncipe.
Constituiu-se um Comitê de Auxílio com a participação de numerosas organizações proletárias de todo o país, que coletaram fundos para contribuir com a luta para lhes salvar a vida e de ajuda aos familiares.
Numa assembléia, efetuada a 8 de novembro de 1887, no circo Jané, mais de dois mil assistentes demandaram do Governador de Illinois o indulto dos condenados.
Outro cubano, José Martí, esteve vinculado ao caso com sua brilhante pluma; narrou com requinte de detalhes e cores a guerra social em Chicago, a anarquia e a repressão; o conflito e seus homens; o processo; o cadafalso e os funerais.
Nesta magistral crônica ao jornal La Nación, de Buenos Aires, publicada a primeiro de janeiro de 1888, pôs em boca de Spies a seguinte advertência: "a voz que vão sufocar será mais poderosa no futuro que quantas palavras eu poderia dizer agora".
Seus dois últimos parágrafos parecem atuais; diz o que pensa apoiado em outras fontes:
"Eu não venho acusar nem a esse carrasco a quem chamam alcaide, nem à nação que deu hoje graças a Deus em seus templos porque morreram na forca estes homens, sina dos trabalhadores de Chicago, que permitiram que assassinassem cinco de seus mais nobres amigos!", cita um anônimo, "que se adivinhava ser de barba espessa e de coração grave e irado".
E, ao jornal de Spies Arbeiter Zeitung: "Perdemos uma batalha, amigos infelizes, mas veremos no fim ao mundo ordenado conforme à justiça; sejamos sagazes como as serpentes e inofensivos como as palmas!"

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