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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CRÍTICA DE CINEMA



ORÁCULO DE CINEMA

Dois Casamentos. Inusitado. Perturbador. Iconoclasta. Divisor de Águas. Filosófico. Futurista. Preciso. Precioso. Profundo. Contundente. Prosa Poética. Cinema de Autor e de Amor. Transgressor e Inventivo. Provocativo e Evocativo. Emissor de Reflexões Existenciais.  Enfim tudo que o bom cinema deve nos provocar quando se trata de uma obra de arte.
Rosemberg retira da caverna da alma um tesouro de conhecimento e percepção ao confrontar duas mulheres noivas, nos seus sonhos burgueses, redescobrindo o tempo e projetando a realidade de suas míseras existência, dos seus infortúnios, no palco da vida em busca do seu significado.  
Rosemberg constrói assim um magistral diálogo dramático, cheio de significantes, desnudando a trama burguesa da felicidade, desconstruindo o ideal e a moral, arrebatando psicologicamente dois personagens para que nós (“dentro de um único espectador”) pudéssemos imediatamente construir um novo olhar (“um olho por fora e milhões de olhos por dentro” diria o poeta Murilo Mendes) dentro da mesma personagem, da mesma pessoa em prosa libertária. Um espetáculo digno do bardo inglês vestido de noiva.
Rosemberg supera a si mesmo, retorna a Grécia para encontrar a suas musas, Gaia e Piton, no templo de Delfos e ambienta esse encontro criativo nas cavernas de Platão, entre sombras terrenas e luzes celestes, pois só assim pode observá-las, desnudá-las, amá-las, quando as dirigindo, com seu bordado criativo, barroco, retirando do caos as curvas sinuosas de todo dinamismo do movimento cênico, do ato perfeito, do equilíbrio e de todo prazer que  encontramos nessas duas extraordinárias atrizes, PATRICIA NIEDERMEIER e ANA ABBOTT, que há muito tempo eu não via no cinema brasileiro.  
Rozemberg, meu caro, não há texto que possa esboçar a beleza de um filme onde cabe um pedaço grande de todos os nobres sentimentos das mulheres em relação à liberdade e ao amor, que você, como que pintando um quadro, vai, em fortes pinceladas, desvendando o grande quebra-cabeça, a forma, uma a uma , peça por peça, até colocá-las nuas e provocativas buscando, neste eterno conflito da libido, discutir a sensualidade, a pulsão sexual, a energia vital, a paixão que só o cinema poesia pode nos permitir.
Rosemberg, além do excelente texto que constrói o diálogo, da direção competente e segura, das duas maravilhosas noivas, atrizes sem os véus do realismo novelesco, muito comum hoje na dramaturgia brasileira, você criou, com o seu cenógrafo, um cenário de fim de mundo, digno do Hamlet de Orson Welles, realçado com as cores fortes e equilibradas que o seu fotógrafo, VINÍCIUS BRUM (o seu Gregg Toland), conseguiu registrar e imprimir. A música/trilha de Rodrigo Marçal e Luciano Corrêa tem grandes momentos, assim como a edição da Joana Collier é correta, todas essas combinações de talentos conseguem a colagem cíclica que o filme pede e necessita.
Quero, para finalizar esses mal traçados comentários, quase críticos, parabenizar CAVI BORGES e os produtores do filme “Dois Casamentos”, que numa demonstração de coragem e sensibilidade artística deram a Rosemberg, esse talento cinematográfico que estava esquecido pelos meios que produzem cultura no país, a oportunidade, mais uma vez, de exibir na tela grande um filme único, uma obra-prima que todos deveriam assistir e que faltava na história do cinema poético, inteligente e de arte brasileiro.

Jose Sette - dezembro de 2014.

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