ABAIXO TEXTOS - CRÍTICAS - ENSAIOS - CONTOS - ROTEIROS CURTOS - REFLEXÕES - FOTOS - DESENHOS - PINTURAS - NOTÍCIAS

Translate

terça-feira, 12 de março de 2013

O REI DO SAMBA X TV BRASIL


Uma vida dedicada ao nada?

Nada me deixa mais acabrunhado do que ser desrespeitado no meu trabalho.
Tenho escrito sobre o destrato que venho sofrendo em várias ocasiões desde que optei na minha adolescência pelo fazer cinema. Aos dezoito anos já havia escrito um roteiro para um filme de longa metragem (Cidade Sem Mar) em parceria com dois amigos: o escritor Luiz Carlos Dolabela e o jornalista Marco Antônio de Menezes. Morava em Minas Gerais e convivia com os jovens diretores do cinema mineiro: Maurício Gomes Leite, Schubert Magalhães, Carlos Prates Correa e sonhava em realizar meu primeiro filme de ficção.
Saí do Brasil, no trágico ano de 1970 e só pude concretizar esse sonho no meu retorno, em 1975, produzindo, sem os recursos necessários, o longa-metragem “Bandalheira Infernal”. Nesta época já existia a Embrafilme, mas não se interessaram pelo projeto. Só em 1985, com a Empresa em profunda decadência, é que eles aceitaram produzir o meu roteiro “Um Filme 100% Brazileiro”, sobre o poeta modernista francês Blaise Cendrars, com o mais baixo orçamento que até aquela data a estatal havia liberado. O filme, premiado aqui em festivais de cinema, foi para Berlim e depois disso nunca mais consegui emplacar outro projeto, mas continuei a fazer cinema com muito pouco dinheiro.
No final dos anos 90, consegui em Juiz de Fora, com apoio da lei municipal Murilo Mendes e do Governo de Minas Gerais, produzir e realizar um longa-metragem sobre o compositor mineiro Geraldo Pereira. No dia 23 de abril, ano seguinte a sua produção, consegui convencer o Leonardo, na época diretor de programação da TV E do Rio a unir-se ao Rogério Brandão, diretor de programação da TV Cultura de São Paulo e mais a direção da TV Minas, a exibirem em cadeia nacional, no dia de São Jorge, Pixinguinha, Tia Ciata, o Rei do Samba, filme que fiz sobre o mineiro sambista Geraldo Pereira. O programa foi um sucesso que nada custou aos cofres das três emissoras – Não me arrependo - pensei em dar esse presente ao samba e acrescentar ao cinema brasileiro de baixíssimo orçamento o seu justo valor.
O tempo passou e uns anos atrás eu abro os jornais e vejo que a Tevê Brasil, que substituiu a TV E, lança um edital de aquisição de filmes brasileiros de longa metragem. Entro com o filme “O Rei do Samba” que numa grata surpresa é um dos escolhidos entre um grande número de escritos. Penso: Deus é justo! Finalmente vou receber o pagamento do meu gesto de desapego e de amor à cultura brasileira. Mas nada disso aconteceu. O tempo foi passando, mandei alguns e-mails, telefonei outras vezes, procurei saber o que estava acontecendo com o edital. Um dia me pediram para tirar o CPB na Ancine. Depois de muito trabalho e gastos financeiros tirei o certificado. Volto ao telefone, aos emails e nada. Vou falando com um e com outro e nada. O primeiro a tratar comigo foi o senhor Fernando Nascimento (email abaixo). Depois me informaram que ele não trabalhava mais na emissora e que em seu lugar entraria o Rogério Brandão. Puxa! Que bom. Pelo menos agora eu vou saber o que está acontecendo. O tempo passou e continuo navegando no nada. Só sei, porque vejo... Muitos filmes foram adquiridos pela TV Brasil, menos o meu. Confesso que hoje se esgotou a minha paciência. Ao ler às listas de cinema, os jornais, as revistas especializadas, eu percebo que ninguém tem reclamado de ser maltratado ou desrespeitado pelos burocratas do governo que ocupam cargos importantes e que muitas vezes não sabem o que fazem por desconhecerem completamente o universo e a importância da nossa obra cinematográfica. Puxa tenho 65 anos e estou a 45 anos vivendo do nada em que me meti.

Documento – email que nada significa.

De: Fernando Nascimento
Para: josesette
Enviadas: Sexta-feira, 4 de Novembro de 2011 14:46
Assunto: Re: FILME O REI DO SAMBA

Boa tarde, 
Após a realização, no primeiro semestre, de três editais visando cadastramento de obras audiovisuais para licenciamento e programação na TV Brasil (longas ficção, curtas e longas doc), e um próximo dedicado a séries, ainda não lançado, a EBC precisou fazer dramático esforço para adequar-se ao corte de R$ 76 milhões no orçamento para 2011. Por essa razão, foram suspensos sine die os licenciamentos de obras indicadas pelas comissões seletivas. Tão logo tenhamos condições de retomar as contratações, conforme as necessidades de nossa grade e a disponibilidade financeira da empresa, você será comunicado.
 Com relação a negociação de seu filme com outras empresas, informamos que os contratos de licenciamento com a TV Brasil não prevêem exclusividade, ou seja, você está livre para negociá-lo sem prejuízo.
Atenciosamente,
 Fernando Nascimento
Gerência de Licenciamentos Nacionais - TV Brasil

Nenhum comentário: