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sábado, 3 de março de 2012

Minhas Crônicas Caiçaras

Pequenos Compromissos

Nada é mais irritante do que você receber um convite e depois, quando vai cumpri-lo, ele é descumprido, sem desculpas, sem explicações, sem palavra nenhuma escrita ou falada, por um sujeito no mínimo descuidado e desrespeitoso. Não quero generalizar, mas o brasileiro é assim sem compromissos, pois todos se julgam o maioral, o mais bonito do bairro... Basta ser proprietário, ter um carrinho mixuruca, empresário de secos e molhados, morar em casa própria, ele já se sente o todo poderoso, já pode romper pequenos compromissos e enganar os outros. Todos nós conhecemos pessoas, indistintas da classe social, que são assim.
Um ano atrás, eu estava em casa lendo meus emeios, quando me deparei com um deles vindo da Universidade de Campinas. Era um estudante que me convidava para participar de um acontecimento no campus com ações ligadas ao cinema. Respondi que aceitava o convite. Ele me respondeu dizendo que o meu nome foi sugerido pelo professor Paulo e que esperavam de mim sugestões para o encontro e que em breve voltaria a se comunicar para marcar as datas da viagem, etc. Agendei-me para essa semana ficar livre e me despreocupei. Até hoje estou despreocupado e sem nenhuma resposta. Inacreditável!
Hoje me aconteceu outra mancada circunstancial aqui na cidade onde vivo. Outro dia, passando pelo café do bulevard canal, conheci um ex-deputado que me convidou para participar de um programa na sua rádio. Na hora aceitei o convite e me preparei para no dia combinado. Confesso que me arrependi, mas como havia assumido o compromisso... Hoje acordei mais cedo, coisa que não é normal, e sai para o encontro marcado. Debaixo de um sol escaldante (o dia mais quente do ano – 46 graus), sai procurando a rua indicada no centro da cidade. Achei-a no seu começo e o número indicado no cartão com o endereço era setecentos e oitenta. Comecei a longa caminhada sob o sol das onze horas e já suava bicas. Levava o meu chapéu panamá protegendo a minha careca, mas não adiantava, o calor era de matar. Cheguei ao prédio, entrei e fui ao quarto andar – de elevador, é claro! No corredor vazio fui até a última porta que estava fechada. Toquei varias vezes a campanhinha e nada. Telefonei, Bati na porta, nada. Desisti e fui embora. Na volta pensava no que o empresário me dizia quando fez o convite: - Você vai se impressionar com a minha rádio! Fiquei sim impressionado foi com a facilidade que as pessoas têm de esquecer os seus pequenos compromissos. Ao atravessar a rua movimentada, uma rajada de vento levou o meu chapéu para o meio da rua e eu, como um palhaço, corri para pegá-lo, parando os carros, arriscando a vida, todo molhado de suor e sendo observado pelos passantes, visto como um velho louco atrás do seu velho chapéu. Mais uma vez senti o inacreditável e vi o que as pessoas podem fazer acontecer por um pequeno compromisso.

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