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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Do nosso cineasta colaborador



MANHÃ 100% CINEMA
Fábio Carvalho



“Um homem sem profissão sob as ordens de mamãe”
Auto biografia de Oswald de Andrade


O que pode se querer mais da morte além do fim? Sempre esqueci lembrando. Temos que exercitar o músculo da imaginação como dizia DOM LUIS. De novo o plano de conjunto a entrar sem pedir licença e sem ser chamado. Que onda meu. Adieu COSTA AZUL. Como me avisaram não vi o JOEL BARCELOS. Ela me beliscou, começo a compreender esta minha queda pela orgia dentro do quadro, foi uma lição tomada na primeira pessoa fechada face a face que me fez, e ainda faz, desviar da detestável psicologia. E isto é somente o começo, soa como uma ameaça só que em tese não é. Apenas uma jogatina com várias personagens no mesmo cenário se movimentando nas suas individualidades. Ela tem que fazer a bailarina. Além de ter que ensaiar novas posições. Faça-me o favor eu preciso de você amanhã. Já disse que ela não é uma mulher cara é trabalhosa. Na varanda. Realmente esta música é boa para danar. Neste momento estou VALDICK SORIANO depois de ler sua entrevista no PASQUIM em 1972 na Ilha do Governador direto do Bar Taska. E me sinto muito bem. O que será SORIANO? Deve ter algum significado. Que música é esta? Melhorou. É uma festa, e eu estou dentro sou negro. O encantado do CAMARGO GUARNIERI. Gostei desta levada, devo e ainda posso melhorar. Vamos devagar, para que correr. Sem interrogação é muito melhor. Com este piano então. Que beleza de chuva. Na realidade a solidão nunca me deixou só. Descaradamente consegui roubar esta bela frase. Como fui o suficiente não tenho ido. Quem age deve ir às últimas conseqüências do seu ato sem se lamentar, disse o lobisomem KIMURA. Chove aos cântaros. Nesta manhã domingueira bastante escura revi pela primeira vez o filme que revi pela primeira vez em Caxambu, naqueles anos oitenta da mesma forma que antes já tinha revisto em outras ocasiões, como aquela visão à noite no extinto Cine PATHE. Eu era outro que ainda sem ser o mesmo, voltei a ser quem eu era quando nasci. Um adolescente púbere e priápico. Afinal. Mulheres mineiras lindas e nuas, que saudade. Todos nós lá reunidos no Cabaré. Entendi mais uma vez como este filme marcou minha retina pelas formas que me interessam. Lembrei de todos os filmes que vou fazer com a permissão da viagem necessária.Talvez tenha sido a primeira vez. Dizem que a segunda é melhor. De novo agora maturada em musgo de carvalho. Ela apontou o buraco da fechadura que estava logo ali com meus olhos a não enxergarem tal irrealidade. Duas voltas na utilidade da minha chave, a porta abriu e eu entrei muito bem. De repente ao telefone fiquei rouco, certamente esta rouquidão tem várias justificações. Todas incontestáveis. Que seria do ator se não fosse o medo. Sem sombra de dúvidas tinha que haver a interrogação. Deixamos temporariamente a Côte D’Azur por uma Via Lagos congestionada, obnubilada e bem molhada, com a discreta propensão aos acidentes trágicos que a imaginação realiza muito bem quando não é com você dormindo acordado neste mesmo trecho de antes. Dia 2, segunda-feira. Rumo ao Bosque do Peró, seguimos sem aparelho de som no carro, se o barco virasse ninguém ouviria música. Na seqüência acertamos o caminho. É uma boa. E que cantora estava ouvindo agora em francês no cenário pintado a óleo. A rúcula hidropônica vai participar do filé acrescido da pimenta viajada na garrafinha curvilínea. Vou ter que rever minhas restrições com relação aos Domingos, também nem sei para o que. Nem é uma pergunta é uma finalização. Piano. Piano. Pianíssimo. Como ninguém mais veio ao almoço de arroz com alecrim vou comer sem reservas. A BALADA DO VELHO MARINHEIRO. Novamente na varanda, enquanto uma chuva continuada sem vento teimava em não acabar, falamos sobre a bela morte do cineasta OSCAR MARON ao sol em Goa na velha Índia. A morte filmada. A extraordinária personagem GUARÁ veio nos receber no cais do porto quando lá aportou o transatlântico durante o carnaval. Não me diga mais quem é você. Ali neste instante me encontrei perdido na estrada que seguia até aquele dia. Variados sinais, tinha outra música mais para dentro, naturalmente fui lá sem pestanejar. Era só ouvir pelos olhos fechados na escuridão a musa. Eu que fugia dali não tive mais como fugir para a outra. É noite de carnaval, ninguém resiste. Só dá ela. Era o nome da chanchada. Milhões de diabinhos martelando as sombras do lado mais escuro. SIMÃOZINHO SONHADOR lá do Macapá. Durante estes dias dormindo de frente para o mar sonhei outros sonhos que ainda não tinha sonhado. Uma nova profusão de quadros que acendem e apagam, agora em outro patamar de maneira bem linear. Êxtase total, filmo quando chego lá. De manhã era Domingo.Vamos mudar de conversa. Falemos do fim que o Cinema procura, já que somos honestos. Convenhamos. A sequência é assim: uma pequena ajuda do The Balvenie temperado inesperadamente em uma garrafa de rolha, levitado pelo meu irmão CADU, especialista em aves que voam mais alto sem nenhum esforço. De noite a imagem é como um vento. Me volto para este filme que tenho que fazer. Porque o Cinema é uma arte extremamente singular, diferente de todas as outras - o Cinema é única arte noturna. Para se realizar é preciso que se apaguem as luzes e é na escuridão que o Cinema acontece. É o apelo à visão interior. E logo no início do Cinema esta coisa foi percebida. Disse o FERNANDO CAMPOS. Grande dois mil e doce para você. Continuo revendo este filme 100% deflagrador durante a madrugada desta segunda. Quem é o senhor o homem ou a natureza? Talvez seja ela a música. Diz a voz do filme. Flor oculta.

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