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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Poema


Confissão

posso ser morto
tenho grande dívida com o sistema
não posso pagar
assim vou morrer de fome
fome de desejos novos
nos dejetos recolhidos no lixo
há fome na tevê
nos despejos
do artista sem ter onde morar
na família ressentida perdida
na praça ou debaixo da ponte
há fome mesmo
nas lavouras abandonadas
nas matas e nas queimadas
nos cenários das cidades esquecidas
há fome nos fornos de carvão
há crianças perdidas numa montanha de fezes
pintadas de preto
tornando-se polibandidos
massacrados inocentes aflitos
neófitos de mentes arrasadas
há fome de tudo quanto o choro
de todos derramado pela fome da vida
possamos ter ou seja quase nada
quando sabemos que muitos vivem muito bem
conservados nas distantes tradições oligárquicas
com seus bens absurdos e de mal gosto
cercados por um batalhão de escravos mal pagos
brancos índios negros e mestiços pouco importa
que comem de segunda a segunda
o resto desta industria suculenta
feijoadas e sangrentos churrascos
plebe ignara e arrependida desejando ser burguês
robôs que vagam nos diversos níveis do tempo eterno
nos labirintos palacianos e nas cachoeiras de serpentes
mundo que cai no lamaçal do seu espaço-tempo
remexendo a informação
dirigida aos débeis mentais
todos jornais e todas as mídias
mentem com a verdade dos fatos
maldosamente mentem
a favor do cruel capital
o maioral do norte
dando o troco para o otário de plantão
dementes nas primeiras flores do capital
nos juros invariavelmente mente até a morte
imenso e insano continente
ganância e dívida que não posso pagar
amém!

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