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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Crônicas do Cotidiano

Até amanhã.

É uma sensação entrar, flanar, flertar nos salões da vida ao lado de quem a seu lado estiver quanto mais tempo melhor. Pode até ser quanto mais tempo de conhecidos apenas. Acredito que o que mais vivemos plenamente é um ciclo de gerações e realmente cada um no seu e na sua. Sempre defendi o conceito de geração desde que o aprendi na sociologia americana.Acho que é a única forma de recortarmos sem perdê-lo o conceito de classe, a grande criação do gênio humano nos estudos sociais. Ler Marx é uma revelação. Opositores pressurosos só sabem dizer besteira a respeito. Os usuários políticos para o bem ou para o mal tampouco não o conhecem ao todo, pescam ali e aqui o que lhes interessa no momento e mandam ver a seu modo e vício.O projeto, a perspectiva de uma vida igualitária elimina qualquer possibilidade em nenhuma instância de submissão de qualquer um a qualquer outro. A liberdade humana individual é intangível e irrefreável como a água que sempre corre para onde quer, debalde botar-lhe paredes.Não li tudo, na verdade muito pouco. Não posso ser massivamente inundado por revelações. De preferência uma a cada década. Não combina com os acelerados dias de hoje mas também não sou de agora. Nascido em 44 e socialmente em 64 mantenho a cabeça de lá neste corpo de cá. Vamos os dois muito bem, envelhecendo sem envilecer. Nem por um segundo fui vil.Errar é humano, perseverar no erro é ser burro, reza a tradição, as tradições me são muito caras. Não posso, ninguém deve arrepender-se de nada que vivemos, não seria justo, não se tem outra vida, é só uma, só essa. Estamos bem empatados com os desafios da vida.Perdi ganhei meu dia, diz o poeta. Tá de bom tamanho. Chega o tempo das reminiscências não para reclamar, nem para louvar, apenas para seguir na busca ao imaginário fio da existência, o fio da memória. Ajuda-me demais o fio marxista ele mesmo que, como se sabe, Marx precisou dizer a todos que não era marxista pois, claro, era ele o próprio, era o criador, não a criatura.Nunca li e provavelmente nunca lerei seus escritos de economia, conheço minhas limitações. Tive enorme prazer nos estudos históricos e sociais. É uma bem aventurança as palavras irem abrindo os escaninhos de nossas mentes e então podemos ver o mundo com todas as múltiplas cores sendo iguais que o compõem.Nada é apenas aquilo. Cada aquilo desdobra-se em miríades de aquilos que giram como planetas ou como átomos no sistema local, mundial ou planetário. Assim como as pessoas, as espécies, a vida e a natureza se transformam, uma coisa virando outra, por que seria diferente com as sociedades ou os grupos sociais?A história se move. Não como a queremos cada um mas no conluio bélico ou pacífico de todos os habitantes do planeta. Nem tudo é possível, há que contentar-se com o tempo e a hora. Nada acontece de fora pra dentro, a não ser a indesejada das gentes. A que não se deve nomear, sob pena de atraí-la, a morte.Destaco a simplicidade do 18 Brumário e sua descrição da consciência como surge na realidade. O real é a única instância do universo. Parente da outra peça notável que é a sua correspondência jornalística que narra a guerra de independência americana, aquele aqui e agora em que a colonia bate a metrópole. Dia a dia como o jornal podemos acompanhar a batalha da guerra econômica, é lindo.Superada para mim a questão do determinismo graças a Althusser, antecipado entre nós no Brasil pelo Giannotti. Não encontro o livro, aliás não encontro nada quando quero, papéis e livros espalhados e empilhados aleatòriamente pela casa. Depois achei, nem tudo está perdido: José Arthur Giannotti, ?Origens da dialética do trabalho?, DIFEL, São Paulo, 1966. Também de 66 é meu primeiro filme ?Paixão?.A determinação que é real se dá somente em última instância na composição das forças econômicas, históricas e sociais. Lance de gênio: é a sobredeterminação que não é previamente determinada, ela é a resultante. Quando duas pessoas distantes descobrem a mesma coisa é porque é real. E vê-la e ver-nos em movimento é preciso, senão ficamos como paquidermes no pântano, e nós humanos em certas horas ao invés deles nem devemos fazer marola senão nos entram as coisas pela bôca.O único luxo a que não pode permitir-se a civilização é estagnar-se e no entanto vivemos socialmente como há muito tempo, como há tanto tempo. Aqui e ali nada mudou. Corremos muito, somos muito mais velozes, mas para onde corremos? Para a indesejada das gentes, a que não se deve nomear, sob pena de atraí-la, a morte?Todo ser humano é em tudo e por tudo igual a qualquer outro ser humano em qualquer parte do mundo. Se isto não é uma premissa teórica indispensável, minha avó é bicicleta. Não deixa de ser; a bicicleta foi e volta a ser um veículo extensivo do corpo humano e dificilmente mata embora se bobear mate.Não me digam que também o é o carro ou o avião. Fossemos feitos para voar nasceríamos com asas. Inventá-lo foi a proeza extraordinária de um nativo visionário que morreu de desgosto ao ver sua invenção a serviço da indesejada das gentes, a que não se deve nomear, sob pena de atraí-la, a morte.Saio da vida para entrar na história: mané! Saímos todos da vida, otário, nós e você que em vida foi um matador cruel e minucioso de vidas. Entraste sim para a história, para a história do genocídio humano geral e individual a exclusivo critério destas mentes satânicas desviadas do mínimo respeito à convivência e à sociabilidade que são as mais básicas componentes da nossa condição humana.Ao promovermos a inominável deixamos de ser humanos, de ser animais. Viramos plantas ou pedras? Não! Nelas enxergo mais vida que nos carrascos, os que se atrevem ao maior pecado que é infligir violência ao semelhante e na vida sobre a terra somos em tudo assemelhados. Talvez até no sistema planetário, nas galáxias, enquanto houver luz ou até nos buracos negros além dos nossos.Escrevo a história de uma vida, a que mais e melhor conheço, a minha. Se não traí-me revelo para todos um pé da vida. Se trair-me, bem, também terá sido minha a vida. Descuidei-me, o cabelo cobriu-me a cara, pensei que estava sonhando.Um estalo com os dedos despertou-me como se tivesse sonhado. Não sonho. Dizem que sim, todo mundo sonha, apenas não lembro que sonhei. E se não lembrar, não sei. Despeço-me de quem sou? Não, de quem fui, sem deixar de ser o ter sido. Para mim está bom, está muito bom, está ótimo. Até amanhã.
Sergio Santeiro
(santeiro@vm.uff.br).

NOTÍCIA DO RIO DE JANEIRO

NEBLINA 68

Em 1968 jovens estudantes da Associação Cristã de Moços, da Lapa, Rio de Janeiro, fizeram um curta metragem em 16mm, intitulado Neblina. O filme foi premiado no Festival de Cinema do Jornal do Brasil - 68, realizado no Cine Paissandu.
Era uma obra de ficção mostrando o impacto dos primeiros anos da ditadura militar sobre a juventude brasileira. A maior parte das cenas foram rodadas onde hoje é o
Parque das Ruínas, em Santa Tereza.
Neblina sumiu. As cópias e os negativos sumiram... De repente, um dos atores do filme descobre, no armário do seu pai recém falecido, uma cópia em película.
No dia 12 de dezembro de 2010, às 16 horas,
42 anos depois, o Parque das Ruínas vai mostrar essa raridade.
Um filmemória que espelha o passado desse local encantado da nossa maravilhosa cidade.
Local que acolheu a magia de artistas inesquecíveis.
Espaço preservado, aberto como um presente, para cariocas e visitantes.

RUA MURTINHO NOBRE - SANTA TEREZA

Não percam.

NEBLINA

Ficha Técnica:
Obs. a cópia salva não tinha os créditos finais. Quem puder colaborar para completar a lista abaixo e também passar contatos de pessoas que participaram do filme, agradecemos.
Direção: Noilton NunesProdução: Anselmo Serrat - Luis Octávio - Fotografia: Flavio Chaves Musica: Paulo Cesar Willcox - Zé Bola

(Melhor Musica Original - Festival JB 68)

Elenco:
Ana Maria Belucci - Kleber Lesaige - Francisco José Freire - Ana Maria Freire - Ana Lúcia Avelino - Nely - Odilon Correa Noelton Nunes - Carmem - Nancy - José Luis - Geraldo Macarrão - Clarisse - Djalma - Cesar - Tetê - Tânia - Natan

noiltonunes@hotmail.com21
parquedasruinas@gmail.com

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