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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

DROPS REGIONAIS

Os vereadores da cidade de Cabo Frio e de toda essa região costeira do Rio de Janeiro, deveriam se mirar no exemplo de seus colegas da cidade de Juiz de Fora – Minas Gerais e copiar (copiar mesmo) o projeto de incentivo a cultura aprovado naquela câmara a mais de 10 anos e que alavancou, de forma definitiva, as manifestações criativas de seus artistas e artesãos. Falo da Lei Murilo Mendes (em homenagem ao grande poeta brasileiro) que libera do cofre público municipal a quantia de um milhão de reais por ano para incentivar projetos culturais: vídeo, teatro, literatura, música, dança, artes plásticas e arte popular. Isso acontece em Juiz de Fora, minha gente, cidade pobre que não possui as benesses do royalty do petróleo. Vocês sabem o que uma lei de incentivo a cultura pode fazer para melhorar a imagem e a vida de uma cidade?
Por falar em royalty do petróleo, quando passei um pequeno tempo flanando pelo gabinete do Prefeito de Campos Roberto Henrique, conheci dois diretores de uma empresa de marketing do Paraná, ligados ao Jaime Lerner, que me afirmaram e depois comprovaram que a arrecadação do royalty de Campos era maior que todo o orçamento da cidade de Curitiba, capital do Estado, onde o bom prefeito arquiteto fez, com pouca grana e em tempo recorde, uma revolução urbanística de dar inveja as grandes cidades européias. Meu deus! Porque a cidade de Campos, que esbanja dinheiro, está assim tão abandonada?
Que falta faz uma política cultural que dê opções da boa arte, dos valores maiores da criação serem mais apreciados por seus habitantes. Andando pelas ruas da cidade de Cabo Frio, pude notar que a música religiosa toca cada vez mais, e em alto volume, nos bares da orla do canal – é insuportável para quem tem ouvidos sensíveis. Vi e ouvi de dois argentinos que passavam, gestos e palavras de gozação com a cidade. Um chegou a tampar os ouvidos com as mãos. Mas, leitores/eleitores, não é pra menos, nos intervalos da programação dos canais de tevê essas músicas são tocadas, anunciadas e vendidas aos montões, um grande sucesso a cada intervalo comercial. Fica bem, pensam eles, tocar essas músicas, como fica também muito bem alguns político freqüentar se possível todas as igrejas em busca do voto. Pobre gente. Pobre Povo. Desliga-se o controle ou toma-se uma dose poderosa de cantoria divina. E assim, pouco a pouco, propaga-se a mecânica messiânica de que tudo é possível para alcançar a glória divina na terra, o milagre da multiplicação financeira pela graça da doação, da entrega, que assola as mentes inocentes de todo país, provocando a cobiça ou o fanatismo, parte da ignorância social e política que se manifesta de maneira incontrolável nas cabeças ocas desta sofrida sociedade. A igreja católica, que não quer ficar atrás, também participa dessa caótica imposição sonora religiosa com seus padres cantores. É uma festa no céu e um inferno na terra. Eu não sou contra a fé no oculto, em Deus, Santos e Orixás, Buda e Jeová, mas vamos combinar: tudo tem o seu lugar. E assim pensando disse para o cara do bar que estava invadindo, usurpando, degredando o espaço público, roubando o meu direito, a minha liberdade de ouvir o ruído do mar, de saborear a voz do silêncio, de meditar com o meu deus, de ficar sossegado contemplando o barquinho de pescador cortando as águas maroladas do canal: - Hei! Você! Você mesmo! Seu ignorante... (falei baixinho). Isto aqui por acaso é uma igreja? Se for me avise, por favor, que eu quero me batizar. Assustei com a cara que o sujeito fez para mim..., pareceu-me ser a cara do demônio em pessoa. Fiquei com medo. Afastei-me rapidamente e segui o meu caminho. Senti que poderia ser atacado abruptamente.
Pensando quais eram as principais necessidades que o povo da cidade de Cabo Frio e região deveria reivindicar aos políticos em época de eleição, cheguei à conclusão de que o que eu penso, talvez, por não ser de ação imediata, não deva interessar a ninguém. Mas para deixar claro para o leitor/eleitor, ou a quem possa se interessar, registro aqui às três propostas de luta que penso mudaria definitivamente a visão política e cultural da cidade e região e deveria ser a plataforma eleitoral de muitos desses candidatos que se dizem progressistas. Primeira: Nenhuma criança fora das escolas. A escola de tempo integral para todas as crianças da região. Segunda: A criação da Universidade Federal do Mar de Cabo Frio. Do curso técnico ao curso superior. Terceiro: A despoluição completa da lagoa de Araruama.
É preciso discutir, defender, fazer ver o governo municipal, estado e união, o Ministério da Educação, a necessidade de incentivar, de todas as maneiras, a potencialidade estratégica da cidade de Cabo Frio de reivindicar a criação de uma grande Universidade Federal, com cursos que incentivem o mercado náutico, de engenharia naval, biologia marinha, petróleo, pesca e a tudo aquilo que esteja ligado ao mar e as suas riquezas. Projeto esse de tal magnitude que chamará a atenção de todo país trazendo melhorias significativas, pela proximidade geográfica, a Arraial, Búzios e toda a região costeira do estado.
Aqui na cidade de Cabo Frio, onde o esplendor da natureza paradisíaca ainda conserva a pureza das suas águas cristalinas que banham as mais belas praias do país, se faz necessário um investimento sério em idéias que possam transformar a mesmice que hoje se observa com o desencanto dos turistas e de sua população. O que o governo e os administradores do bem público podem fazer em relação à melhoria da cidade e como reviver a sua antiga e propalada qualidade de vida cultural e de lazer existencial, hoje tão precária e desinteressante?
A Região dos Lagos tem no mar e na sua história o seu grande potencial turístico e econômico. Todo esse potencial ainda é muito mal utilizado. As cidades em crescimento desordenado estão se esquecendo de fortalecer a sua grande indústria que é a do turismo. A transformação constante de toda região, o grande aumento desordenado de sua população, com relação direta à descoberta das grandes reservas de petróleo e toda a riqueza que ele proporciona aos municípios produtores, nunca foram estudados, discutidos. Os recursos oriundos de uma ação que pode provocar graves riscos ambientais são muito mal utilizados e suas verdadeiras funções, se vale a pena correr esse risco de troca e benefícios, ainda carece de mais estudo e análise daqueles que tem conhecimento técnico-científicos do assunto. Eu sou a favor da energia limpa da biomassa. E penso que além do vazamento, o que pode mais acontecer nas enormes cavernas que sobram com todo esse óleo extraído?
No meu filme Amaxon, onde retrato uma escritora envolvida com a criação de sua obra, crio uma metáfora catastrófica para justificar a solidão do artista em conflito com o universo real de seus personagens. A premonição é anunciada pelo repórter presente na praia de Copacabana. Ouvi no rádio a notícia que o mar invade, cada dia mais, a praia famosa e se não tomarmos medidas sérias, corremos o risco de que a ficção que criei no filme Amaxon torna-se uma realidade sem volta.

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